Livros para o Dia do livro
Ilustração Fernando Vicente |
Não podíamos
fazer melhor. Um blog cuja vida está em grande parte marcada pela presença dos
livros, encontra uma maneira à sua cara de celebrar uma data fundamental aos
amantes deste objeto artístico de maior interesse. O Dia do Livro começou a ser
celebrado na Catalunha em comemoração ao aniversário de Miguel de Cervantes,
isto é, no dia 5 de abril. As celebrações depois foram transferidas pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) para o dia 23. Isso
foi em 1995. No território de origem, a data já havia sido mudada para esta ocasião
em 1930. Nas duas situações a marca era, agora revista, o dia da morte do autor
de Dom Quixote. Sabe-se que Cervantes
morreu um dia antes. De toda maneira, restou ainda uma data marcante, a da
morte de William Shakespeare, embora ainda exista imprecisão sobre se este acontecimento
aconteceu mesmo num 23 de abril.
Com ou sem acontecimento
para assinalar este dia, o livro reúne todas as condições fundamentais para a
existência de uma data para sua celebração. Um dos objetos mais fabulosos já inventados
pela humanidade porque capaz de irmanar culturas das mais diversas e propor
diálogos dos mais profícuos entre saberes. Continuamente colocado em extinção,
seja pela criação de novos artefatos para o registro da escrita ou mesmo outras
maneiras de registro dos saberes, seja porque de tempos em tempos uma parcela da
humanidade o tenha como o mal que deve ser expurgado das sociedades pela capacidade
de propiciar uma revolução que coloque em questão os poderes dominantes, um dia
para celebrá-lo se justifica ainda pela necessidade de garantir sua presença com
elo indispensável à contínua reinauguração dos modos de ser e estar no mundo.
Obviamente
que nem tudo na história é testemunho de que os livros sejam sempre um objeto significativo
no processo de humanização; como criação cuja existência é modelada pelas mãos
do homem, e porque este é desde sempre a criatura fadada ao erro e ao fracasso,
é longa a história dos horrores justificada pelos livros e sobre isso não é
necessário citar títulos e situações para saber do mal que nos impuseram e nos
impõem. Uma visita, entretanto, nesta mesma história o colocará ainda em
vantagem se atentarmos que o desassossego de poucos pouco ou nada significaria
se fosse perdido algures. Se entre mortos e feridos aqui chegamos foi pela consciência
desses poucos sobre a necessidade de romper com determinados status quo, com certas forças unilaterais
que pela facilidade de se multiplicar em todas as consciências poderia nos ter conduzido
a um estágio de barbárie ainda pior. Nisso é possível que o livro continue
sendo um protagonista na nossa história por nos livrar em tempo recorde a
extinção de nós mesmos.
Se para o
bem ou para o mal, o livro é um artefato de transformações ou quiçá de manutenção
de existências, gostaríamos de selecionar algumas das leituras que de maneira
diversa nos transformaram e podem transformar outros ao propor enxergarmos o
mundo por outras lentes. Boa parte dos nossos colunistas reuniram-se para dizer
quais foram estes livros e no que os transformaram e por que agora os indicam. Bem
sabemos que a lista de todo leitor é sempre extensa e impossível de cumpri-la
ainda que gastasse toda sua vida em ler, mas esperamos mesmo contribuir para,
uma vez mais, ampliá-la – não se sintam angustiados com isso.
E você, que livros
nos indicaria ler? Os comentários estão em aberto.
FERNANDA FATURETO
Cristal, de Paul Celan
Edição
bilíngue (a da editora Iluminuras, de 2009) em português e alemão de alguns dos
principais poemas do romeno Paul Celan, com tradução e seleção de Claudia
Cavalcanti. Paul Celan foi um dos principais poetas em língua alemã e seus pais
foram vítimas do Holocausto. Recomendo o livro por se tratar de uma poética que
lida com a sombra do passado histórico sobre o homem e com a possibilidade de
se fazer poesia após Auschwitz. Nesta coletânea, encontram-se poemas escritos
entre 1952 e 1970. Também há um apêndice com o discurso de Celan proferido ao
receber o Prêmio Georg Büchner em 1960. O poeta teve um fim trágico, ao se
jogar no rio Sena em 1970.
O amante, de Marguerite Duras
Marguerite
Duras está inserida, para a crítica literária, no movimento Nouveau Roman (Novo Romance), em que
escritores buscaram novas formas de narrativas centradas no experimentalismo,
fragmentárias. O amante retrata de
maneira ficcional uma passagem real de sua vida – um romance que se pretende
biográfico porém suas camadas permitem questionar o próprio fazer literário.
Conta a história de uma jovem que se apaixona, aos quinze anos, por um chinês
rico de Saigon. Este é o mote que irá desencadear toda a trama memorialística.
Recomendo este livro porque a tensão entre o que é ficcional e o que é real
está presente a todo momento e por se tratar de uma das melhores escritoras do
século XX. No Brasil, o livro foi publicado pela coleção Folha e pela extinta
Cosac Naify.
Um erro emocional, de Cristovão Tezza
Neste
romance publicado em 2010 pela editora Record, Cristovão Tezza narra o encontro
entre um escritor e uma leitora, Paulo e Beatriz. E nos leva a um mergulho nos
pensamentos desse escritor e no encontro com a mulher que o faz cometer um erro
emocional. Esta é a confissão que abre a narrativa. Não à toa a personagem tem
o nome da musa de Dante Alighieri, que atesta a descida até o fundo das emoções
desse escritor em crise. Indico porque é um romance que mostra a maestria de
Tezza ao conduzir o leitor a um emaranhado de sensações, não deixando escapar o
agudo trabalho com a linguagem.
GUILHERME MAZZAFERA
Os ensaios, de Michel Eyquem de
Montaigne (1595)
O mais
pessoal livro já escrito é, também, aquele que de imediato entabula conversa
com seu leitor. Ao assumir-se como a própria matéria de seus escritos,
Montaigne, que de tudo nos fala – guerras, amizade, ócio, como educar os
filhos, sua semelhança com os pais, Plutarco e Sêneca e, essencialmente, da
experiência como veio de escrita –, concretiza em forma literária uma
perspectiva autorizada, inédita e que, assim, demanda nova forma: o ensaio.
Para ele, a leitura tem papel fundante, mas não dominador; a relação entre o
leitor e os livros deve ser a do mais honesto diletante, que flana com quase
volúpia pelo que lhe interessa, pondo de lado o que o aborrece. É graças a essa
visada antidogmática que ele não hierarquiza saberes, consciente de que “Não há
desejo mais natural que o desejo de conhecimento. Ensaiamos todos os meios que
podem nos levar a ele”. Lição preciosa. E urgente.
Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de
Cervantes Saavedra (1605/1615)
Pródiga
matriz do romance como forma, as duas partes de Dom Quixote reúnem alguns dos melhores diálogos da literatura,
protagonizados por sua mais famosa dupla. Construído a partir de um arcabouço
modernamente complexo em sua transitividade entre ficção e realidade, o romance
põe a nu o desejo humano de instaurar ficções sobre o real que, a contrapelo,
podem ser revertidas, produzindo consequências dolosas sobre quem as inventa.
Mais do que narrar as três saídas de Alonso Quijano, tornado Quixote por
inconformável idealismo em face de um mundo amesquinhado, a obra tem por herói
um desloucado leitor e figura em seu cerne os meneios do próprio ato de
leitura, compondo “a mais grandiosa e acabada expressão da mente humana” para
um insuspeito Dostoiévski, cujo veio quixotesco manifestou-se em O idiota, que
aqui não consta apenas por respeito à regra triádica.
Grande sertão: veredas, de João
Guimarães Rosa (1956)
Desaguadouro
da literatura brasileira e centro vivo da obra do autor, o único romance de Guimarães
Rosa é obra de fôlego e fluxo, composta pelo vasto monólogo dialógico do
ex-jagunço Riobaldo, que reconta, em narrativa inicialmente difusa e que ganha,
aos poucos, certa nitidez de contornos, suas agruras de amor, guerra e
formação. O dar forma à “matéria vertente” e, assim, a toda uma tradição
regionalista que há muito se digladiava com a assimetria de vozes rústicas e
letradas, é a busca perpétua deste livro, concretizando algo que Rosa já
ensaiara em textos como “Com o vaqueiro Mariano” e “Meu tio o Iauaretê”: o
falar de dentro da matéria que se narra. Inseparável dessa conquista de
perspectiva é a construção de uma linguagem altamente expressiva e
autoconsciente, mescla profusa do moderno com o arcaico, (re)criação de um
léxico esquecido chamado a dar voz ao que há muito se cala.
MARIA VAZ
O banquete, de Platão
O livro baseia-se numa série de elogios a Eros, proferidos no decorrer de um
banquete em que o vinho estava presente. Escolhi este livro porque me
deixou a pensar uns dias sobre a essência ou a aparência do amor, sobre
a sua origem ou, pura e simplesmente, sobre o que lhe serve de alimento.
Não fiquei maravilhada com o mito do andrógino, contado por Aristófanes,
mas gostei muito do diálogo entre Sócrates e Diotima. É um livro indicado
a qualquer ser que se sinta atraído pela compreensão da fenomenologia das
emoções ou da origem da vontade, na medida em que o amor se encontra
intimamente ligado ao desejo.
O guardador de rebanhos, de Alberto
Caeiro
Talvez tenha
sido o primeiro livro de poesia que me passou pelas mãos. Um livro simples, de
um poeta da natureza, mais voltado para o sensacionismo – a exaltação dos
sentidos –, do que para indagações filosóficas. Longe do normal modelo
civilizatório e sem recurso a conceitos clássicos e eruditos – que se
encontram, por exemplo, em Ricardo Reis –, este heterónimo de Pessoa
desvincula-se da problematização mente/racionalidade para aceitar como verdade
aquilo que brota de um sentir que se sobrepõe. Neste seguimento lógico,
"pensar é estar doente dos olhos" e o importante não é discernir no
sentido calculista de uma razão construída mas, antes, conseguir ter "o
pasmo essencial".
A relíquia, de Eça de Queirós
Um livro dinâmico: a história não cai no tédio meramente descritivo,
na medida em que o realismo acaba por se adornar de um sal ático em que a ironia,
muitas vezes, ressoa. A obra mostra, de forma expressiva, muitas
nuances criticáveis da sociedade portuguesa do século XIX – uma sociedade extremamente
desigualitária e castradora, em nome dos bons costumes, o que acabava por
fomentar o recurso à hipocrisia e à vida dupla de Teodorico (a personagem
principal da trama, que queria a fortuna da tia rica e extremamente
católica).
PEDRO BELO CLARA
Como um
qualquer meu confrade das leituras compreenderá, o que me foi gentilmente
pedido assume-se como uma tarefa de dificílima execução – e isto para não a
adjectivar de hercúlea, já que assuntos de índole mitológica não serão para
aqui chamados. Mas os pedidos de amigos raramente merecem rejeição (males do
coração, bem sei) e, após suar as estopinhas, partilho de bom grado, sem
qualquer ordem específica, o resultado do meu esforço de lembrança e, sobretudo,
de decisão:
A um deus desconhecido, de John
Steinbeck
Não foi o
primeiro livro do autor que li, mas o que mais me cativou durante as
explorações iniciáticas à sua obra, ao ponto de ainda hoje ser o meu favorito.
Nasceu numa fase inicial da carreira deste prémio Nobel, mas já ostenta traços
que se tornariam característicos em Steinbeck – além de certos temperos de
narrativa que, infelizmente, depois deixaria na despensa até que expirasse o
seu prazo de validade. Livro de fácil leitura, é recomendável a todos aqueles
que se desejem iniciar na obra do autor. Centrado num episódio que se tornou
comum a muitas famílias americanas do século XIX, a beleza do romance reside no
retrato da mística simbiose entre Homem e Terra, aqui elevada a uma dimensão
extraordinariamente poética, de laivos manifestamente metafísicos, num quase
paganismo bucólico que a todos remete ao fascinante mistério das nossas
origens.
Siddhartha, de Hermann Hesse
Um livro
publicado há quase cem anos, mas que exerceu em mim um fascínio imenso. Da
autoria dum outro prémio Nobel, relata a história de Siddhartha Gautama, o
Buda, conforme a tradição oral a conta. A leitura é fluida e acessível a
qualquer um, somente as sugestões da narrativa poderão implicar uma maior
reflexão no leitor. O grande ponto de interesse está, obviamente, na figura
central do romance e na sua ânsia de libertação das amarras mundanas, o
decisivo impulso na sua caminhada, que iremos acompanhar de bem perto, de
príncipe brâmane até “homem iluminado”, como no oriente gostam de chamar aos
seres que despertam (os Buddha, claro está) do imenso sonho em que a humanidade
ainda se imerge.
Poesias, de Alberto Caeiro
Não foi o
primeiro livro de poesia que li, talvez o primeiro que veramente me cativou. À
época, já rabiscava os meus próprios ensaios de poema, e o contacto com a
revolucionária, de tão simples, escrita e pensamento dum dos mais notáveis
heterónimos de Pessoa teve o condão de fazer germinar sementes que nem sabia
que o meu coração albergava. Sendo um apreciador do género, além de criador,
dentro das medidas que me são possíveis, a referência tinha invariavelmente de
ser feita. Para quem nunca leu poesia ou julga não apreciar o género, uma
abordagem aos poemas do “mestre” Caeiro poderá mudar as suas ideias. Com um
grande sorriso deixo no ar o desafio a todo aquele que lhe deseje dar a devida
resposta.
PEDRO FERNANDES
Vidas secas, de Graciliano Ramos
Quando li
este livro pela primeira vez estava nos primeiros anos de formação como leitor,
se é possível existir isso, porque toda vez quando descubro uma nova obra e um
novo escritor de grande valia parece-me sempre que estou reaprendendo a ler, ou
seja, isso me leva a concluir que ser leitor, assim como é ser escritor, não consiste
em construir níveis melhores que outros se enquanto vivermos e formos capazes
de ler e escrever estaremos em aprendizagem. Mas, enfim, o que quero dizer é que
esta era uma época quando descobria os clássicos da literatura brasileira – Machado
de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Aluísio Azevedo e Graciliano Ramos,
para citar alguns. Este livro diz muito de quem nasceu no sertão nordestino descrito
pela narrativa e viveu muito de perto os dramas aí apresentados e pode chorar
de maneira sincera com eles. Recordo que li Vidas
secas em voz alta e toda vez que a voz ameaçava embargar pela emoção
passava adiante e só depois lia comigo a passagem. Eu não queria que me vissem chorar
por um livro, embora minha mãe, quem me ouvia, mais sincera, deixasse correr
uma lágrima.
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
Aqui eu
poderia listar quase qualquer título deste escritor e cumpriria com o
interesse; poderia citar o primeiro livro que li de Saramago, O evangelho segundo Jesus Cristo, que
mudou tão radicalmente minha vida: depois de ler as primeiras páginas levou-me
a decidir qual obra eu me dedicaria a estudar e qual o sentido de minha
formação em Letras. Em José Saramago encontrei um cúmplice porque curiosamente,
apesar das distâncias, das culturas, das gerações, nascemos debaixo da mesma
sentença de condenados a perecer, mas pelas forças que não sabemos de onde, conseguimos
escrever alguma coisa capaz de subverter o fracasso. Óbvio que pareço jovem
para dizer isso, mas tenho algo que me diz já ter chegado aonde não sonhava chegar.
Ensaio sobre a cegueira é o tempo de
transição civilizacional porque atravessamos. Estamos cegos – não viverei para
ver o pós-cegueira, que existirá, quiçá tragicamente porque não deposito
grandes esperanças na humanidade.
Não entres tão depressa nessa noite escura,
de António Lobo Antunes
É o livro
que melhor me desafiou. Na primeira indicação falei que as grandes obras são
aquelas que nos obrigam a reaprender a ler – nos realfabetizam, posso dizer.
Esta tem sido a principal delas. Quem ler os primeiros livros do escritor e se
encantar apenas com o que se narra, terá um choque quando atravessar algumas
fases desse projeto labiríntico e fascinante em contínua construção – ainda que
o seu autor não venha escrever mais – e encontrar uma obra que coloca em
questão tudo aquilo que já foi determinado pela crítica e pela teoria do texto
literário. Ninguém discordará que depois de William Faulkner, outro escritor cuja
obra é sempre de minha admiração e um desafio para todo leitor, não existiu
alguém como António Lobo Antunes a reinventar os processos de narrar. Possivelmente
não existirá outro depois dele.
WAGNER SILVA
Livros,
recomendá-los no Dia Mundial do Livro lembra certamente marcos da nossa
trajetória, como estradas trilhadas, placas que simbolizam determinada direção,
pedras no caminho, o reflexo na água ou em outro meio que possibilite etc.
pois: “Tropeçavas nos astros desastrada/ Quase não tínhamos livros em casa/ E a
cidade não tinha livraria/ Mas os livros que em nossa vida entraram/ São com a
radiação de um corpo negro/ apontando pra expansão do universo”. E como este último elemento da enumeração
acima indica, os livros nos possibilitam um encontro com nós mesmos, e o que
une as estradas do verso, o universo, é o nosso subjetivo.
Em Miguel de
Cervantes, no famoso autor do Dom Quixote,
descubro-me mais e mais. Talvez o gesto do fidalgo que lia e lia a ponto de se
ver como sagrado cavaleiro é o mesmo gesto que sinto quando leio um bom livro e
quando me aventuro a escrever sobre bons livros. A fantasia de desnaturalizar
coisas me remete a um ato infantil que me acompanha ao longo da vida, e se hoje
penso nisso de forma elaborada é pelo gesto simbólico dos Dons Quixotes, afinal
se o moinho era empecilho para a sociedade moderna que então soprasse outros
ares. E o que dizer do primeiro amor, a Dulcinéia que não está nem aí para a
gente e a gente mesmo assim daria o mundo para ela. É uma leitura que a gente
ri por gesto de maturidade.
Mas o
primeiro livro que eu me apaixonei foi pelo O
amor natural, de Carlos Drummond de Andrade. Como canta a Rita Lee “Se amor
é prosa, sexo é poesia (...)” “Sexo antes, amor depois”. Eu tinha 15 anos e
havia passado um pouco a fase de metaforizar a vida sexualmente querendo
“pegar” o colega em um jogo inusitado com as palavras. Mas ainda havia como
hoje ainda há, muitas imagens da natureza e da natureza objetada, que me
fascinavam de o homem ter tornado aquilo objeto mesmo ou objeto de poesia.
Drummond me mostrou que isto em si era uma sacanagem muito bonita. E com ele
levei essa intuição a sério.
Já em
adulto, O livro das ignorãças, de
Manoel de Barros, mostrou minha vocação para o português, o seu lado
experimental, o que eu aprendi por prática de vida no subúrbio meio mato meio
urbano com o que a gente vai juntando de um monte de brincadeiras dando sentido
ao quintal; de um monte de vizinhos: o baiano, o mineiro, o carioca, dando
sentido ao bairro. Afinal para que serve a língua senão para ser usada conforme
a interação social e o reflexo geográfico, econômico, expressando o jeito de
ser de indivíduos e grupos sociais que encantam a língua e a vida como num
beijo de língua. Sei, serve para passar nos concursos, para ser bem-visto ou malvisto.
Mas isso é ignorância que se faz com as ignoranças, esperanças, bonanças,
aventuranças.
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