Boletim Letras 360º #263


Até o dia 30 de março os leitores que acompanham o Letras no Instagram poderão participar do sorteio de um exemplar do livro Uma forma de saudade, páginas de diário do Carlos Drummond de Andrade. E, nesta sexta-feira, 23, chegou o nosso terceiro colunista do ano, Wagner Silva Gomes. Só novidades, assim, excelentes! Ah, e nossa página no Facebook atingiu novo recorde de amigos: 71 mil! E, por falar nesta rede social, olha o que circulou de notícia por lá nesta semana.

Ted Hughes. Desenho de Sylvia Plath,que estava entre as peças de um leilão que sagrou a escritora como a nova queridinha dos fetichistas.


Segunda-feira, 19/03

>>> Estados Unidos: Uma das maiores coleções privadas de obras do escritor irlandês James Joyce doada à Morgan Library

São cerca de 350 peças, entre as quais se encontram um exemplar do primeiro livro publicado por James Joyce, The holy office, um poema satírico de 1904, do qual se acredita haver menos de 100 cópias. Também há um fragmento do manuscrito de Ulysses, seu romance mais célebre, considerado por muitos críticos como a obra inglesa mais importante do século XX. A coleção foi formada desde meados da década de 1990 pelo galerista Sean Kelly e sua esposa Mary. O museu pretende organizar uma exposição consagrada a James Joyce em 2022, ano do centenário da publicação de Ulysses. Além do James Joyce Centre, situado em Dublin em um casarão do século XVIII, existem outras coleções dedicadas ao escritor e poeta nascido em 1882 e morto em 1941: a da universidade pública de Buffalo, em Nova York, reúne centenas de objetos e documentos que pertenceram a Joyce, e é considerada por muitos como a mais importante do mundo. A Morgan Library é a antiga biblioteca particular do célebre banqueiro americano John Pierpont (J.P) Morgan, personagem central do mundo das finanças no começo do século XX. Após sua morte, seu filho abriu a biblioteca ao público. Depois se transformou em um museu com foco em literatura.

>>> Brasil: Uma antologia com poemas de Mário Cesariny

Não é só as traduções de Rimbaud feitas pelo poeta português que sairão no Brasil este ano pela editora Chão da Feira. A casa prepara para o segundo semestre uma antologia do poeta que é um dos principais nomes do surrealismo lusitano.Uma grande razão. Antologia poética de Mário Cesariny é apresentada no país depois que, em Portugal, é editada uma edição com sua poesia completa. O trabalho literário de Cesariny espraia-se por mais de duas dezenas de títulos que incursões, além da poesia, pelo ensaio e pela crítica literária.

Terça-feira, 20/03

>>> Brasil: O novo livro de Cristovão Tezza

Sozinho no carro, o economista Otavio Espinhosa toma uma decisão radical: abdicar do sexo. O que parece piada se revela uma profunda crise pessoal: um casamento falido, problemas com o filho militante político, o fim humilhante de sua carreira acadêmica e a experiência sui generis de ter tentado enriquecer como guru de autoajuda. Também a carreira de Otavio parece estar em perigo: tudo indica que ele será demitido da empresa de investimentos onde trabalha. O leitor vai aos poucos destrinchando a investigação de um esquema no qual Otavio pode ou não estar envolvido, desenhando o panorama de um país em ruína econômica, cultural e moral. No lugar da literatura ou filosofa que pautavam as obras anteriores de Tezza, é a matemática – esta "arte sem afetação", que promete uma forma lógica de pensar o mundo – que impulsiona as digressões de A tirania do amor. Otávio, porém, logo perceberá que nem a racionalidade serve para domar a vida, nem ele mesmo é tão racional quanto gostaria de acreditar. A obra é publicada pela Editora Todavia.

>>> Brasil: Caixa reúne obras de Fernando Pessoa

O poeta português dispensa apresentações; é um dos principais nomes da poesia moderna na literatura universal. Uma edição agora publicada no Brasil reúne três livros que podem ser fundamentais à introdução no amplo universo literário construído pelo poeta dos heterônimos: Livro do desassossego, Mensagem e Ficções do interlúdio foram reunidos numa caixa pela Editora Novo Século.

Quarta-feira, 21/03

>>> Escócia: Descobertas cartas inéditas de H. G. Wells, Rodin e William Morris

O anúncio foi da Escola de Arte de Glasgow, na Escócia. As missivas estavam nos arquivos da instituição e há pelo menos mais de setenta anos estavam desaparecidas. Haviam sido guardadas numa caixa de documentos que pertenceu a Francis Newbery, que foi diretor do centro artístico entre 1885 e 1918, período quando a escola ganhou grande prestígio internacional. A descoberta foi de Rachael Jones, encarregada do arquivo, enquanto trabalhava na classificação e digitalização do material. São quatro joias descobertas: duas cartas enviadas de Paris por Rodin em 1901 em que pergunta sobre a recepção de suas esculturas, "St Jean" e "Les Bourgeois de Calais", que enviou à Exposição Internacional sediada pela Glasgow nesse ano e que marcou a abertura do Museu Kelvingrove e da Galeria de Arte. Também figura um pacote com quatro cartas escritas pelo desenhista e escritor William Morris, figura de destaque do movimento "Arts and Crafts". Por fim, uma carta de H. G. Wells, autor de A guerra dos mundos. O material foi digitalizado e está disponível online.

>>> Brasil: Uma antologia reúne três livros do poeta Marcelo Montenegro

Orfanato portátil (2003), Garagem lírica (2012) e o inédito Forte apache sai na coleção de poesia brasileira contemporânea da Companhia das Letras. Na totalidade, o leitor encontrará um inventário de imagens mundanas, repletas de referências da cultura pop: comprar jornal na esquina e na volta conferir a caixa postal telefônica; morder o ponto do dente onde já se sabe que a dor dói com exatidão; guardar dinheiro antigo na carteira; olhar as lombadas dos livros numa estante desconhecida à espera de alguém; errar as medidas do café fora de casa; Estar perto de perceber alguma coisa; pisar de meia no quintal molhado pela chuva de ontem. Para Chacal, quem assina a quarta capado livro, Marcelo "ilumina as pequenas cenas do dia a dia dos dias".

Quinta-feira, 22/03

>>> Portugal: Poesia falada. Projeto português com discos de poesia ganha reedição e receberá novos poetas

Entre 1959 e 1975, a coleção "A voz e o texto" editou em vinil, em EP, as gravações de poetas a dizerem a sua própria poesia. O projeto ressurge agora em CD, numa coleção a que foi dado o título "…Dizem os Poetas". Começa com David Mourão-Ferreira e segue-se com Alexandre O’Neill, António Gedeão, Mário Cesariny com Graça Lobo, Sophia de Mello Breyner Andresen & Jorge de Sena, Natália Correia & Ary dos Santos e dois poetas das novas gerações: Golgona Anghel (poeta e pesquisadora romena, nascida em 1979, que vive há vários anos em Portugal) e Nuno Moura (poeta e editor, nascido em Lisboa, em 1970). Um CD por mês. As gravações trarão com os originais vários outros poemas gravados na altura mas não publicados: no caso de David Mourão-Ferreira, mais 13, num total de 21 peças.

>>> Brasil: Proust contra a degradação, de Joseph Czapski

Entre 1940 e 1941 no gulag de Grjazovec, quatrocentos quilômetros ao norte de Moscou, um grupo de oficiais poloneses detidos encontra uma maneira decididamente incomum e extremamente eficaz de resistir à aniquilação moral e intelectual. De maneira alternada entretinham os companheiros de cativeiro – amontoados em uma sala, exaustos depois de horas passadas trabalhando ao ar livre, na feroz geada do inverno russo – discorrendo sobre tópicos com os quais eram particularmente familiares. O resultado é uma série de lições reais, quase clandestinas, sobre os temas mais dispares: da história do livro à da Inglaterra, do alpinismo à arquitetura. Joseph Czapski, pintor e escritor, conversa de pintura francesa e pintura polonesa, bem como de literatura francesa. E, acima de tudo, recorda e comenta – citando de cabeça, sem consultar qualquer fonte material, e ainda com uma precisão surpreendente – páginas inteiras de Em busca do tempo perdido de Proust, uma obra que a União Soviética havia colocado no índex como uma expressão paradigmática da literatura burguesa decadente. E o resultado – que agora temos acesso graças à transcrição em francês que o próprio Czapski fez "no calor do momento" – não é apenas uma demonstração do poder da memória e o testemunho de um modelo muito singular de resistência, mas também uma leitura de Proust de suprema fineza. A tradução sai pela Editora Âyiné.

Sexta-feira, 23/03

>>> Inglaterra: Num leilão com objetos de Dickens, Wordsworth e Adam Smith, a estrela foi Sylvia Plath

O leilão foi da Bonhams – o paraíso dos fetichistas literários. Objetos do casal Plath e Hughes renderam o total de 1,7 milhões de euros; na ocasião peças de maior valia, na opinião dos leiloeiros, estiveram em disputas como manuscritos do autor de Oliver Twist. Uma cópia de A redoma de vidro, único romance de Sylvia, autografado e primeira edição, p.ex. saiu por 100 mil euros. A edição traz a data do Natal de 1962, algumas semanas antes do suicídio de Plath. Outro exemplar do mesmo romance, este com correções de próprio punho da estadunidense, alcançou 85 mil euros. E a máquina de escrever em que se compôs boa parte de sua obra - uma Hermes 3000 verde menta – alcançou 37 mil euros, um preço maior que o pago pela máquina de escrever do lendário Jack Kerouac. Dentre outros objetos de Plath leiloados por sua filha, Frieda Hughes, está uma carteira (10 mil euros), um desenho que a poeta realizou de Ted (17 mil) e um livro de receitas favoritas do casal (5 mil). Alguns manuscritos de Dickens alcançaram apenas a cifra de 2 mil euros. Sylvia Plath é agora a rainha dos fetichistas.

>>> Brasil: Na natureza selvagem, de Jon Krakauer ganha reedição

Há muito fora catálogo este relato de corte historiográfico do escritor estadunidense volta às livrarias brasileiras. O corpo em decomposição de um jovem é encontrado no Alasca. A polícia descobre que se trata de um rapaz de família rica do Leste americano que largou tudo, se internou sozinho na aridez gelada e morreu de inanição. Quem era o garoto? Por que foi para o Alasca? Por que morreu? Para responder a essas e outras perguntas, Jon Krakauer refaz a trajetória de Chris McCandless, revelando a América dos que vivem à margem, pegando carona ou circulando em carros velhos, vivendo em acampamentos e cidades-fantasmas. Mergulha no mundo da cidadezinha rural, onde homens rudes bebem e conversam sobre o tempo e a colheita. Compara a história do jovem com a de outros aventureiros solitários que tiveram fim trágico. O resultado é uma narrativa envolvente, por vezes amarga, em que os sonhos da juventude se transformam em pesadelo.

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