Boletim Letras 360º #262


No domingo, 11, noticiamos em nossa página no Facebook algumas novidades por vir aos que acompanham o Letras. Uma delas já está em andamento neste momento: as inscrições para o sorteio de um exemplar de Uma forma de saudade, livro que reúne textos autobiográficos, alguns inéditos, do poeta Carlos Drummond de Andrade. Tudo acontece no nosso Instagram @Letrasinverso. A outra novidade é a chegada do terceiro novo colunista, para breve. A seguir as notícias da semana.



Segunda-feira, 12/03

>>> Brasil: Novos autores portugueses do lado de cá

A coleção Trás-os-mares, publicada pela editora Circuito com o apoio do Direção-Geral dos Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas Públicas de Portugal (DGLAB) e com a coordenação editorial de Maria João Cantinho e Renato Rezende, apresenta ao público brasileiro prosadores portugueses contemporâneos da mais alta qualidade literária. A primeira leva, publicada em abril de 2018, compreende Até para o ano em Jerusalém, de Maria da Conceição Caleiro, Éter, de António Cabrita, A loucura branca, de Jaime Rocha, Adoecer, da ganhadora do Prêmio Camões em 2015 Hélia Correia e Noturno europeu, de Rui Nunes.

>>> Brasil: A tradução de Mário Cesariny de obra de Rimbaud será editada por aqui

Sairá pela Editora Chão da Feira. Provavelmente em julho. Iluminações / Uma cerveja no inferno é uma tradução de renome em Portugal. Composto entre abril e agosto de 1873, Une saison en enfer (título original em francês) foi impresso em Bruxelas nesse mesmo ano em que Verlaine atingiu Rimbaud com um tiro de pistola. São textos pejados de referências autobiográficas, escritos por um jovem de dezoito ou dezenove anos, sendo muito provável que alguns datarão de invernos anteriores, com uma existência frenética na demanda de uma utopia verdadeiramente poética.

>>> Inglaterra: Em homenagem ao 200º aniversário da publicação de Frankenstein, a editora britânica SP Books publica uma edição fac-símile do manuscrito original de Shelley

A maioria das edições de Frankenstein são de uma edição de 1831 que foi reiteradas vezes revisada, mas a edição fac-similar da SP Books é baseada nos cadernos originais de Shelley, que hoje são guardados na Oxford Bodleian Library. Esses manuscritos oferecem uma visão única de como o romance de Shelley evoluiu depois das contínuas revisões do texto. A edição mostra, por exemplo, que a autora suavizou o retrato do monstro quando se propõe apresentá-lo pelas descrições. O fac-similar preserva ainda as notas feitas por Percy Shelley, o marido de Mary e um proeminente poeta do romantismo inglês. Shelley tinha apenas 18 anos quando escreveu Frankenstein e, em sua introdução à edição de 1831, escreveu que muitas pessoas haviam perguntado a ela “como uma jovem, pensou e criou uma ideia tão horrível?” Shelley, minimizando seu trabalho, respondia que isso se deu pela “imaginação inabalável”, estava “possuída” pela ideia, mas os fac-símiles mostram outra resposta: que a escritora pensou meticulosamente sobre tudo com atestam as contínuas revisões.

Terça-feira, 13/03

>>> Brasil: Tolkien de casa nova

Foi anunciado ontem pelos canais oficiais da HarperCollins Brasil que a editora obteve os direitos, outrora pertencentes ao grupo Martins Fontes, para publicar as obras de J.R.R. Tolkien no Brasil. A HarperCollins Brasil é o ramo brasileiro da HarperCollins de língua inglesa, uma das maiores casas editoriais do mundo e editora oficial de Tolkien no Reino Unido. Ela promete um trabalho de referência que contemplará a obra completa do autor, boa parte ainda inédita no país, algo nos moldes do que já está sendo feito com os livros do amigo de Tolkien, C. S. Lewis, cujos diretos foram obtidos no ano passado. Já de início, a editora promete para novembro a tradução brasileira de Beren e Lúthien, o mais recente livro de Tolkien e possivelmente o último a ser editado por seu filho e herdeiro literário Christopher Tolkien. A tradução ficará a cargo de Ronald Kyrmse, o principal tradutor de Tolkien no país e autor do livro Explicando Tolkien. A editora promete ainda o esperado lançamento dos 12 volumes da série History of Middle-Earth, vastíssima obra editada por Christopher que acompanha os diversos estágios da produção do Legendarium tolkieniano, trazendo uma enorme variedade de esboços, versões alternativas e narrativas inacabadas que compõem um mosaico incontornável e precioso para os tolkienistas. Por fim, dando início à proposta de produzir novas traduções das principais obras do Professor de Oxford, foi anunciado hoje que o responsável pela nova versão brasileira de O silmarillion será Reinaldo José Lopes, jornalista de atuação múltipla, com especial interesse pelos campos da ciência e da religião, e fã de longa data de Tolkien, cuja obra foi tema de seu mestrado e doutorado, ambos realizados no Programa de Estudos Linguísticos e Literários em Inglês da FFLCH-USP, sob orientação da Prof. Drª Lenita Rimoli Esteves, uma das tradutoras da última versão brasileira de O senhor dos anéis. O protagonismo que a HarperCollins pretende desempenhar no país parece alinhar-se a um momento de possível renovação do interesse pelas obras do autor em função da cinebiografia Tolkien (ainda sem data de lançamento) e da série da Amazon baseada em O senhor dos anéis, com possível estreia em 2020. Resta torcer para que a editora possa oferecer ao público brasileiro a mesma qualidade editorial que os leitores de língua inglesa desfrutam há tempos e, assim, levar a literatura de Tolkien a um número crescente de interessados e, quem sabe, fazer com que ela atravesse os muros universitários.

>>> Brasil: Reedição de Carta a D., de André Gorz

Uma das declarações de amor mais conhecidas e emocionantes de nosso tempo, este livro é também uma afirmação comovente de companheirismo entre duas pessoas apaixonadas. "Você está para fazer 82 anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que 45 quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz 58 anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca." Assim André Gorz inicia sua carta de amor a Dorine, mulher ao lado de quem ele passou a vida e que há alguns anos sofria de uma doença degenerativa incurável. Como um dos principais filósofos do pós-guerra francês, Gorz escreveu inúmeros livros influentes, mas nenhuma de suas obras será tão amplamente lida e lembrada quanto esta carta simples e bela, em que ele rememora tanto a história de companheirismo, amor e militância do casal como a trajetória intelectual que percorreram juntos. Um ano após a publicação de Carta a D., um bilhete encontrado na casa onde moravam fez as vezes de pós-escrito à narrativa: André e Dorine tiraram a própria vida juntos, numa renúncia comovente a viver sozinhos. A tradução de Celso Junior Azzan, antes publicada pela Cosac Naify ganha reedição pela Companhia das Letras.

>>> Brasil: Livro considerado um dos principais romances da literatura latino-americana ganha tradução

Por Antônio Xerxenesky e sai pela Companhia das Letras na segunda semana de abril. Trata-se de O romance luminoso, de Mario Levrero. Este é um romance sobre o desejo de escrever um romance. Um romance sobre manias, transtornos do sono, vício em computadores, hipocondria, o amor e a morte. Um romance sobre as experiências luminosas e sobre tudo aquilo que não se pode narrar. No ano 2000, Mario Levrero recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim para terminar de escrever a obra. O livro tinha sido iniciado em 1984, na mesma época em que o autor, endividado, se mudou de Montevidéu para Buenos Aires à procura de trabalho. Com a bolsa, em vez de se dedicar ao romance, no entanto, Levrero se lançou à escrita febril de um diário da escrita do romance, diário este que se tornaria, ele mesmo, o seu magistral O romance luminoso. O livro narra em detalhes as confusões cotidianas de um homem de sessenta anos. Estão aqui todos os tiques de um narrador obsessivo tomado por fobias e superstições. Para o autor uruguaio, a possível transcendência só poderia surgir da repetição de manias que atribui à vida real sua condição de permanente adiamento.

Quarta-feira, 14/03

>>> Brasil: Maria dos canos serrados, de Ricardo Adolfo ganha edição no Brasil

Ricardo Adolfo nasceu em Angola em 1974, ele cresceu em Portugal, viveu na Inglaterra, China, Holanda e atualmente reside no Japão. Seus seis livros foram traduzidos e publicados na maior parte da Europa e, para além da literatura, ele se dedica também a uma carreira como roteirista que inclui um filme premiado em Veneza e uma parceria com Wong Kar Wai. Definido como um romance múltiplo e que se espalha como um tiro de espingarda Baikal, a um só tempo engraçado, desaforado, sério, crítico e de grande qualidade literária. Maria, uma mulher independente, de sexualidade explosiva e ética bastante peculiar, no seu modo particular de referir-se a si mesma no plural, conta sua história de amor, do seu emprego ao mesmo tempo falcatrua e kafkiano, no qual se é demitida e se segue trabalhando, da paixão por armas de fogo e das reviravoltas de quem um dia sonhou ser diretora. Até que simplesmente cansa de levar porrada da vida e, depois de uma noitada em um clube de tiro, resolve brigar pelo que é seu, ao melhor e mais absurdo estilo tarantinesco. O romance é publicado pela Dublinense.

>>> Brasil: O primeiro título de Haruki Murakami dos que sairão em 2018 no Brasil e anunciamos por aqui noutra ocasião chega às livrarias

Trata-se da coletânea com dezessete contos. Aqui, o universo fantástico se abre mais uma vez. Com a mesma genialidade com que escreveu seus romances mais famosos, 1Q84 ou Crônica do pássaro de corda, por exemplo, Haruki Murakami usa esta antologia de contos para tomar o senso de normalidade de assalto. Um homem vê seu elefante favorito desaparecer, dois recém-casados sofrem de uma fome avassaladora que os faz roubar uma lanchonete no meio da noite, e uma jovem mulher descobre que a forma de se livrar de um pequeno monstrinho verde pode estar ligada a seus próprios pensamentos: esses são apenas alguns dos contos que integram essa seleção de dezessete histórias. Por vezes assustador, por vezes hilário, O elefante desaparece é mais uma prova da habilidade que Murakami tem de ultrapassar as fronteiras da realidade — e de voltar carregando um tesouro.

Quinta-feira, 15/03

>>> Brasil: A musa em exílio, de Joseph Brodsky

Como nasce a poesia? De qual misterioso labor é êxito? E qual é a sua tarefa? Quem quer que tenha se colocado, ao menos uma vez, algumas dessas perguntas poderá finalmente encontrar nessas entrevistas respostas de uma clareza audaz. Assim essas conversações servirão também como um guia à melhor poesia: esse “esforço estético” capaz de frear a “nossa bestialidade”. A tradição de Cynthia L. Haven sai pela Editora Âyiné.

>>> Brasil: A edição brasileira de O homem que plantava árvores, de Jean Giono

Certa vez, caminhando sozinho pelo sul da França, um rapaz se vê em maus lençóis: a paisagem é desértica, o vento ruge como uma fera, os vilarejos estão em ruínas e não se encontra água em nenhum lugar. Quando já vai perdendo a esperança, vê ao longe uma silhueta, que talvez seja um tronco isolado — mas é, na verdade, um velho pastor de ovelhas, que lhe dá água e abrigo. Só que esse não é um pastor como os outros. Quieto e calado, Elzéard Bouffier dedica-se mais que tudo a semear árvores: carvalhos, bordos, faias, bétulas e salgueiros, que planta em toda parte. Os anos passam, os encontros se repetem, a região vai cobrando outros ares e vida nova, sem que ninguém saiba como se produziu tamanha transformação — ninguém, a não ser os leitores desta fábula inspiradora de Jean Giono. Escrito em 1953, O homem que plantava árvores esperou até 1980 para ter sua primeira edição em livro na França; e em 1988 uma adaptação da obra dirigida por Frédéric Back ganhou o Oscar de melhor curta de animação. A tradução de de Cecília Ciscato e Samuel Titan Jr. sai pela Editora 34.

>>> Brasil: Nova tradução para a poesia de T. S. Eliot

Deve sair ainda em 2018 pela Companhia das Letras uma antologia com poemas do poeta inglês. Na coluna mensal que mantém no blog da editora, o tradutor Caetano Galindo, responsável pelo projeto, ao tratar sobre o trabalho de traduzir Eliot, diz que vem se ocupando desse exercício desde o ano passado, segredo revelado, aliás, no mesmo canal então como “uma nova antologia, grande, cheia de coisas inéditas, da poesia de T. S. Eliot”. Eliot é, entre os poetas de língua inglesa do século XX, um dos mais importantes e fundamentais.

Sexta-feira, 16/03

>>> Brasil: Livro reúne inéditos de Carolina Maria de Jesus

Trata-se de uma antologia Meu sonho é escrever. Contos inéditos e outros escritos que sai pela Ciclo Contínuo Editorial. O trabalho cuidadoso de organização, preparação e revisão dos textos é fruto de uma extensa pesquisa de Raffaella Fernandez. Os textos que agora apresentados são “reveladores da criatividade, do senso crítico e da inteligência de uma figura que manejava a linguagem em toda sua potência, borrando as fronteiras entre os gêneros literários e tendo a experiência como ponto de partida para a criação literária”, cf. sublinha Fernanda Souza em texto sobre a obra para o site da Ciclo Contínuo Editorial.

>>> Brasil: Novo título na coleção Narrativas da Revolução, da Editora 34 é do crítico russo Viktor Chklóvski

Viagem sentimental é o título que Chklóvski emprestou de Sterne para dar nome às suas memórias dos turbulentos anos de 1917 a 1922. Escrito durante a guerra civil russa, o livro trata da Primeira Guerra Mundial, da revolução de 1917 e da vida literária no início da república soviética. O autor, hoje reconhecido como o fundador da escola formalista de crítica literária, foi também instrutor de direção de carros blindados, comissário de guerra, conspirador anti-bolchevique e especialista em bombas. Para narrar essa vida que mais parece um romance de aventuras, a prosa digressiva e coloquial de Viagem sentimental está sempre no limite entre a memória e a ficção, entre o testemunho lacônico e as explosões de lirismo. Esta é a primeira tradução em português da obra. A edição inclui ainda um ensaio inédito de Galin Tihanov, professor da Universidade de Londres, que esclarece os vínculos entre a teoria formalista e a prosa modernista de Chklóvski. A tradução é de Cecilia Rosas.

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