Boletim Letras 360º #258
Amigos, que acompanham o divulgam o trabalho do Letras in.verso e re.verso, somos só agradecimentos; nossa página no Facebook alcançou esta semana os 70 mil amigos. Será que chegamos aos 100 no fim de 2018? Será? Ansiosos. Bom, a seguir estão as notícias que esta semana circularam por lá; vejamos.
Tomas Tranströmer. Pela primeira vez obra do poeta Prêmio Nobel de Literatura ganha edição no Brasil. |
Segunda-feira,
12/02
>>> Estados Unidos: Um software
de caçar plágios de estudantes encontra uma possível fonte para peças de
William Shakespeare
Os
pesquisadores estadunidenses Denis McCarthy e June Schlueter publicam um estudo que aponta um manuscrito nunca publicado de finais do
século XVI como fonte para Ricardo III, Henrique V, Macbeth e outras oito
peças de Shakespeare. Para chegar a estas conclusões utilizaram um programa muito popular
entre pesquisadores universitários para buscar plágios: o software WCopufind. A
fonte é A Brief Discourse of the Rebellion and Rebels, de George North. O
professor emérito da Universidade de Chicago e editor da obra de Shakespeare,
David Bebington, considera esta descoberta uma revelação. Michael Witmore,
diretor da Biblioteca Folger Shakespeare em Washington também se mostra
entusiasta com a descoberta. É mesmo raro encontrar novas fontes para a obra do
bardo; em 1977, o investigador Kenneth Muir encontrou uma fonte para O
mercador de Veneza com uma só palavra – "insculp". Há uma grande quantidade de
trabalhos do gênero em andamento. Jonathan Hope, professor de Literatura da
Universidade de Strathclyde, Glasgow, trabalha no maior projeto sobre as fontes
criativas do bardo. O projeto é conduzido pela Folger Shakespeare Library,
instituição que possui a maior coleção das obras impressas do inglês.
>>> Brasil: Outra
escritora portuguesa entre os nomes de 2018 nas livrarias brasileiras: Isabela
Figueiredo.
Muito
recentemente a editora Todavia publicou Karen, da ganhadora do Prêmio Oceanos
2017 Ana Teresa Pereira; agora, é a vez de Isabela Figueiredo. A casa apresenta
A gorda. Sucesso em Portugal, o romance é uma poderosa sátira a
respeito de autoimagem e preconceito. Maria Luísa, a protagonista deste romance
tão engraçado quanto cruel, é uma moça inteligente, boa aluna, voluntariosa e
dona de uma forte personalidade. Porém, ela é gorda. E inapelavelmente gorda.
Essa característica física a incomoda de tal maneira que parece colocar todo o
resto em xeque: sua relação com o mundo, sua vida sentimental (a relação
complicada com David, seu primeiro amor), sua postura diante dos fatos.
Adolescente, sofre e aguenta em resignado silêncio as piadas e os insultos de
companheiros de escola. Divertido, cruel e desabusado.
Terça-feira,
13/02
>>> Brasil: Uma
antologia com poemas de Ernst Jandl chega às livrarias brasileiras até o fim do
semestre
Eu
nunca fui ao Brasil é uma seleção de poemas do poeta membro do grupo de
Viena que levou adiante, nos anos 1950, as experiências das vanguardas com seus
versos experimentais. Foi um dos precursores da poesia concreta e experimental
no pós-Modernismo, ricamente influenciado pelas vanguardas Modernas, como o
dadaísmo e a poesia sonora. Os poemas do livro são retirados de quatro obras
de Jandl: Laut und Luise, Ottos mops hopst, Idyllen e Vom vom zum zum. A tradução é de Myriam Ávila
e o livro sai pela editora Relicário.
>>> Brasil: Publicada
nova obra de Serguei Dovlátov
O
ofício é uma novela em duas partes na qual o cultuado escritor russo
descreve com impagável (auto) ironia "as peripécias de seus
manuscritos" — sua biografia literária — em dois momentos da vida: na
União Soviética e nos Estados Unidos, após ter emigrado, em 1978. Na primeira
parte, "O livro invisível", escrita entre 1975 e 1976, retrata as
tentativas frustradas de publicação do jovem escritor na URSS, onde prevalecia
uma burocracia ilógica e absurda. Em "O jornal invisível" (1984/85),
Dovlátov narra o início de sua vida nos EEUU, os quiproquós de um jornal russo
nova-iorquino, e o começo de seu reconhecimento como escritor. A segunda parte
do livro mostra, de forma hilária, o estranhamento do refugiado soviético por
entre os arranha-céus de Nova Iorque. A tradução de Daniela Mountian e Yulia Mikaelyan
sai pela editora Kalinka.
Quarta-feira,
14/02
>>> Brasil: Uma nova
antologia com poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen
Ela é uma
das principais poetas portuguesas do século XX. Teve uma carreira literária
marcada pelo classicismo formal de suas composições e pela ação política — nas
décadas de 60 e 70, participou ativamente da resistência ao regime salazarista,
elegeu-se deputada e escreveu poemas de sentido político explícito. Esta
antologia agora apresentada pela Companhia das
Letras foi organizada pelo também poeta Eucanaã Ferraz e inclui poemas
de todos os seus livros, desde o de estreia, Poesia (1944), até as
últimas obras, como Mar (2001), passando por Coral (1950), Grades (1970), Dual (1972) e Musa (1994). É a segunda publicação do gênero apresentada por esta casa editorial
que há muito havia editado uma antologia então organizada por Vilma Arêas. A
edição chega às livrarias na primeira semana de abril; a editora Tinta da China
publicará a obra poética completa ainda em 2018.
>>> Brasil: A última
parte do romance em que Mia Couto acompanha a figura do imperador Gugunhana
O
bebedor de horizontes que retrata a saga final do imperador moçambicano
que o derradeiro grande governante de um império na África no século XIX. Neste
último volume da trilogia, os prisioneiros do oficial Mouzinho de Albuquerque
embarcam no cais de Zimakaze em um barco que parte em direção ao posto de
Languene. De lá, irão seguir para o estuário do Limpopo e então iniciar a
viagem marítima que conduzirá os africanos capturados para um distante e eterno
exílio, em uma das ilhas dos Açores. Com a comitiva segue Imani Nsambe, jovem
negra que estudou numa missão católica e serve como intérprete entre os nativos
e as autoridades portuguesas. Imani está grávida do sargento português Germano
de Melo, alocado em outra parte de Moçambique. A tradutora narra os trágicos
acontecimentos do final do império de Gaza, que se alternam no romance com as cartas
do sargento. A edição é da Companhia das
Letras.
>>> Áustria: O testamento
de uma secretária é o elemento central da rocambolesca história de um desenho
de Gustav Klimt que acaba de vir a luz depois de desaparecido do museu da
cidade austríaca de Linz há meio século
A obra Os
deitados foi localizada depois da morte em dezembro do ano passado de uma
antiga secretária do museu. Em seu testamento ela deixou determinado que o
desenho seria devolvido à cidade de Linz. A história começa em 1951 quando a
peça mais três quadros de Egon Schiele foram cedidos por sua proprietária à
então Nova Galeria de Linz. Em 1990, os herdeiros fizeram a primeira tentativa
fracassada de recuperar as obras; mas em 2006, ante uma nova demanda pela
devolução, o museu constatou que as peças ainda estavam desaparecidas e não se
sabia como nem quando isso havia ocorrido. Daí, começou uma batalha judicial
que envolveu várias instâncias do Supremo Tribunal que resultou em indenizações
aos herdeiros das peças na soma de 10,11 milhões de dólares; desse valor, 9,2
correspondiam à tela Cidade morta, de Schiele, apesar das dúvidas de alguns
especialistas sobre a autenticidade da obra. O testamento explica que quando a
documentação dos empréstimos não fora realizada corretamente; o diretor do
museu, então, pediu silêncio sobre o tema e ao que parece pagou esse silêncio à
secretária com o desenho agora reaparecido. O desenho agora será elemento
importante de uma exposição sobre o centenário da morte do artista. Os três
quadros de Schiele, artista que também chega em 2018 aos cem anos da sua morte,
ainda estão desaparecidos. Desde 2012 a cidade de Linz oferece uma recompensa
de 6,1 mil dólares por pistas que ajudem a recuperar as obras.
Quinta-feira,
15/02
>>> Brasil: O poeta
sueco e Nobel de Literatura Tomas Tranströmer chega pela primeira vez ao Brasil
com o livro Mares do Leste
Mesmo após
ter sofrido um derrame que afetou a sua fala e parte dos movimentos,
Tranströmer continuou escrevendo e tocando piano apenas com a mão esquerda.
Seus versos trazem à tona a poética da interrupção, mesclando ritmos secretos,
metáforas originais, imprevisibilidades e simplicidade cotidiana. Tranströmer
foi o poeta mais querido em seu país e mais reconhecido internacionalmente,
tendo seus poemas traduzidos em mais de 60 idiomas. Mares do Leste dá início à
publicação da obra completa de Tranströmer no Brasil. A tradução feita por
Márcia Sá Cavalcante Schuback, direta do sueco, sai pela Editora Âyiné.
>>> Portugal: Morreu a
escritora Natália Nunes
Nasceu em
Lisboa no dia 18 de novembro de 1921. Destacou-se nas letras através de
romances como Autobiografia de uma mulher romântica e Vénus
turbulenta, mas também como dramaturga e ensaísta, e construiu uma das
mais vastas obras, como contista, na literatura portuguesa, com títulos como Ao menos um hipopótamo, As velhas senhoras, Louca por sapatos. Resistente
antifascista, durante os anos de ditadura, membro da direção da Sociedade
Portuguesa de Escritores, foi presa pela PIDE, polícia política do regime. Sua
estreia como escritora se deu em 1952, com Horas vivas: memórias da minha
infância; vivia então em Coimbra, onde fez o curso de
Bibliotecária-Arquivista, depois da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas
na Universidade de Lisboa. Além de escritora, também foi tradutora, ao trazer
para o português obras de Dostoiévski, Tolstói, Balzac, entre outros. Natália
foi casada com o poeta António Gedeão. A escritora morreu no último dia 13 de fevereiro
em Ericeira.
>>> Estados Unidos: Morte
no Nilo será a próxima adaptação de Agatha Christie para o cinema
Após
Assassinato no Expresso do Oriente, a Twentieth Century Fox
anunciou que vai produzir mais uma adaptação de Agatha Christie. O roteirista
que cuidou da versão de 2017, Michael Green foi confirmado no projeto.
Morte no Nilo é uma das obras mais famosas de Agatha Christie, um
mistério envolvendo amor, ciúme e traição ambientados no Egito. Na trama, a
jovem herdeira Linnet Ridgeway parece conseguir tudo o que quer. No entanto,
quando rouba o noivo de sua melhor amiga e se casa com ele sem pensar duas
vezes, talvez Linnet esteja indo longe demais. Em sua viagem de lua-de-mel num
cruzeiro pelo rio Nilo, no Egito, o casal apaixonado se depara com uma série de
antagonistas interessados em sua fortuna e em provocar sua infelicidade. Então
Linnet é encontrada morta, com um tiro na cabeça. O detetive Hercule Poirot,
que por acaso também estava no navio, entra em ação para tentar montar mais
esse quebra-cabeça. Assassinato no Expresso do Oriente foi o
primeiro filme de Poirot sob a tutela do diretor Kenneth Branagh. A outra
adaptação chegará aos cinemas em novembro de 2019.
Sexta-feira,
16/02
>>> Brasil: Em 2017
falamos sobre o trabalho da Companhia das
Letras em reeditar a obra do Marquês de Sade; o primeiro título chegou:
Os 120 dias de Sodoma
A tradução
de Rosa Freire d'Aguiar para a principal obra de Sade e o mais conhecido e
inigualável registro da literatura pornográfica sai pelo selo Penguin. Neste
romance perturbador, quatro amigos se isolam em um castelo na Floresta Negra
para ouvir de quatro alcoviteiras histórias de sua vida nos bordéis e as taras
de seus clientes. Para encenarem esta experiência sadomasoquista da qual
ninguém sairá imune, os libertinos contam com as esposas, filhas e um séquito
de jovens, todos obrigados a se submeter às paixões ali descritas. Escrito em
1785 durante uma temporada de prisão na Bastilha, este escandaloso relato permaneceria
clandestino até 1904, ano de sua primeira publicação. Nem a perseguição de seu
autor, nem sua censura sistemática foram suficientes para conter a avassaladora
influência que tal catálogo de perversões teve sobre incontáveis leitores ao
longo dos dois séculos seguintes, entre eles Roland Barthes, Simone de
Beauvoir, Theodor Adorno e Samuel Beckett. Esta edição inclui um posfácio de
Eliane Robert Moraes, que levanta uma questão mais do que pertinente:
estaríamos nós, enfim, prontos para ler um dos livros mais controversos de
todos os tempos?
>>> Inglaterra: O mais
importante prêmio literário de língua inglesa celebra 50 anos de existência e
para assinalar a data, foi criado o Golden Prize, que será atribuído à melhor
obra de ficção das últimas 5 décadas
Numa primeira
fase, um júri (composto pelo escritor e editor Robert McCrum, o poeta Lemn
SissayMBE, a romancista Kamila Shamsie, o também romancista Simon Mayo e a
poeta Hollie McNish) irá ler todas os romances que venceram o Man Booker e
escolher aqueles que, na sua opinião, são os melhores de cada década. Os
cinco finalistas, que serão anunciados a 26 de maio no Hay Festival, irão
depois competir numa votação aberta ao público, que irá decorrer no site do
prêmio. Os leitores terão até 25 de junho para votarem na sua obra favorita. O
vencedor do Golden Prize será depois anunciado a 8 de julho, durante o festival
que pretende celebrar os 50 anos do Man Booker, no Southbank Centre, em
Londres.
>>> Brasil: O discurso
de recepção do Prêmio Nobel de Literatura de Kazuo Ishiguro ganha edição em
livro
Minha
noite no século XX e outros pequenos avanços sai pela Companhia das
Letras em abril. O discurso de Ishiguro transmite uma poderosa
mensagem de respeito às diferenças ao percorrer a própria história e, com ela,
a do século XX. Ao revelar o impacto que a leitura de Em busca do tempo
perdido teve em sua formação, Ishiguro assume o recurso de Proust como princípio
compositivo de seu discurso e coloca lado a lado memórias distantes e eventos
recentes, numa colagem em que as semelhanças abolem fronteiras de tempo, espaço
e linguagem e fazem transparecer uma brilhante síntese do projeto literário do
autor. Rememorando desde a relação com o Japão de sua infância e as lembranças
da terra à qual levou décadas para voltar até uma visita a Auschwitz, destila
uma poderosa reflexão sobre memória e esquecimento, sobre o dever de
preservarmos o passado e a tarefa — nem sempre fácil — de seguirmos adiante e
preservarmos o futuro. A tradução é de Antônio Xerxenesky.
>>> Brasil: Lincoln
no limbo é a tradução do livro ganhador do Prêmio Man Booker Prize de
2017; e chega às livrarias brasileiras na segunda semana de março
Em 1862, em
meio à Guerra Civil Americana, morre, aos onze anos de idade, Willie Lincoln,
filho do lendário presidente Abraham Lincoln. A tragédia leva a um luto
desesperado o homem que daria fim à escravidão nos Estados Unidos. Com a morte
do filho ainda na infância, o presidente mais importante da história da democracia
vê seu mundo desmoronar. Em plena Guerra Civil, esquece o país em conflito para
lamentar, no limite da loucura, essa perda. Noite após noite, dirige-se à
capela do cemitério para abraçar o cadáver do jovem Willie. A partir desse acontecimento histórico, o escritor George Saunders rejeita as
convenções literárias realistas e compõe uma narrativa passada no além. Lá,
acompanhamos a jornada do jovem Willie, incapaz de aceitar que está morto. Um
romance surpreendente, que reinventa o gênero de forma radical. Alternando registro metafísico e documentos históricos e sem medo de abraçar o
experimentalismo, Saunders coloca em movimento questões existenciais,
históricas e políticas e cria uma obra absolutamente única no cenário
contemporâneo. A tradução é Jorio Dauster e sai pela Companhia das
Letras.
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