Algumas coisas que você talvez não saiba sobre a obsessão de Edith Wharton por cães
Por Emily
Temple
Se você
conhece alguma coisa sobre Edith Wharton – além do fato de ser uma escritora
brilhante e a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pulitzer de Literatura,
por A época da inocência – é provável saber que ela talvez fosse
uma amante dos cães, assim, um pouco acima da média. E ela estava – quase chegando
à obsessão e, aposto que, alguns ombros bem arranhados. Alguns dizem que
Wharton, que teve um casamento conturbado e sem filhos, substituiu esses pelos,
o que pode ter algum fundo de verdade – mas não apenas isso, que seu amor pelos
companheiros caninos começou com a tenra idade de quatro anos, quando seu pai
lhe deu um Spitz chamado Foxy, um cachorro que, segundo ela disse mais tarde, “transformou-me
numa ciente e consciente pessoa”. Bom, parece justo honrar a memória da Wharton
com algumas coisas que você talvez não saiba sobre seu caso de amor ao longo da
vida com o melhor amigo da/do mulher/ homem.
Na casa
de Edith Wharton tem um cemitério de cães
Mount, a
casa de Wharton em Lenox, Massachusetts, tem um cemitério de animais de
estimação com seis pequenas lápides em uma colina arborizada, marcando os
túmulos de Mimi (m. Janeiro de 1902), Toto (m. 18 de novembro de 1904), Miza (m.
12 de Janeiro de 1906) e Jules (m. 1907), quatro das dezenas de cães que a
Wharton possuiu ao longo da vida. Wharton podia ver o cemitério de sua
janela enquanto escrevia (todos os dias até pelas 11, deitada na cama), cercada
por seus cães vivos e olhando para seus mortos. Conta-se que, desde a
morte de Wharton, vários fantasmas foram vistos em Mount, incluindo fantasmas
caninos – alguns dos quais foram fotografados por visitantes1.
Edith
Wharton escreveu a história de um cachorrinho fantasma
Wharton
escreveu muitas histórias, e até muitas histórias de fantasmas, mas “Kerfol”,
publicado pela primeira vez na Scribner's em 1916, é o único texto
a girar em torno dos cães. “Kerfol” conta a história de uma mulher, Anne,
acusada de assassinar seu marido Yves – embora de acordo com Anne, foram os
cães fantasmas (os cães que ela amava e ele matou por despeito), que voltaram para
se vingar de sua crueldade – cães cujos espíritos ainda vagam pela propriedade
anos depois. Como um crítico coloca:
“Wharton
argumenta contra o tratamento tirânico das esposas, apelando para o sentido do
século XX de como os animais devem ser tratados: se os leitores reconhecem que
o comportamento de Yves de Cornault em relação aos animais faz dele um ser não
totalmente moral, eles podem ver esse tratamento de Anne como parte da mesma
veia da imoralidade. Mais sutilmente, Wharton sugere que a cultura ocidental
desvaloriza os cães tanto quanto as mulheres e, para ela, ambas as opressões
são igualmente preocupantes.”
Edith
Wharton também escreveu poesia sobre cães
Em 1920, ela
publicou uma série de “Epígramas Líricos” na Yale Review; no
primeira dos quais se lê:
My little
old dog:
A
heart-beat
At my
feet
Meu pequeno
velho cão:
Um coração-que-bate
aos meus pés.
Edith
Wharton era ativista de animais
Tanto
Wharton quanto seu marido Teddy foram membros fundadores da Sociedade de Nova
York para a Prevenção da Crueldade contra Animais, e participaram ativamente de
uma campanha para equipar as ruas da cidade de Nova York com tigelas para
cães. Ela também costumava contratar um “dog-knitter” para fazer casaquinhos
para seus animais de estimação – embora não saiba dizer exatamente se isso
conte como ativismo ou opressão. Você teria que perguntar ao cão em
questão se ele estava com frio.
Edith
Wharton sentiu que realmente podia conversar com seus cães
Em seu
ensaio autobiográfico inédito Life & I, ela escreveu:
“Eu sempre
tive uma compreensão profunda e instintiva dos animais, um desejo de segurá-los
em meus braços, um desejo feroz de protegê-los contra a dor e a
crueldade. Esse sentimento parecia ter sua fonte em um curioso sentido de
ser, de alguma forma, uma criatura intermediária entre seres humanos e animais,
e mais próximo, em geral, das tribos peludas do que do homo sapiens. Eu
senti que sabia coisas sobre eles – suas sensações, desejos e sensibilidades –
que outros bípedes não podiam adivinhar; e isso parecia me impor a
obrigação de defendê-los contra seus opressores humanos.”3
Em 1937,
quando seu cão favorito, Linky morreu, Wharton escreveu a William
Royall Tyler que ela sempre “entendeu” o que os cães “disseram”. “Eu sempre sou
assim com os cães, desde que eu era pequena. Nós realmente nos comunicamos
– e ninguém tinha coisas tão sábias a dizer como Linky.”
E numa
entrada no diário, de meados da década de 1920, ela escreveu:
“Eu tenho um
medo secreto de animais – de todos os animais, exceto cães, e até de
alguns cães. Acho que é por causa da Verdade em seus olhos, com
a Não-verdade subjacente que a desmente, e é um trágico
lembrete da era perdida quando nós, seres humanos, nos separamos e os
deixamos; restou-lhes à eterna inarticulação e servidão. Por quê? Seus
olhos parecem nos perguntar.”2
Notas do
tradutor
1
Neste texto de 26 de setembro de 2014 publicado no site sobre Mount é possível
ler e ver fotografias sobre.
2 Refere-se
a autora ao texto publicado no Journal of the Short Story in English, “The
Dogs of ‘Kerfol’: Animals, Authorship, and Wharton”, de Jennifer Haytock.
3
Citado a partir do texto de Jennifer Haytock, referendado na nota anterior.
* Este texto é uma tradução de Some “Things
You May Not Have Known About Edith Wharton’s Dog Obsession” publicado aqui, em Literary Hub.
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