Carolina Maria de Jesus, a escritora que catava papel numa favela
Por Sara Mesa Em 1960, o Brasil assistiu a um fenômeno editorial sem precedentes. Quarto de despejo , o diário de uma mulher que vivia na favela do Canindé em São Paulo e que mantinha os seus três filhos catando papel e restos de lixo, vendeu os dez mil exemplares da primeira edição em apenas uma semana. Logo vieram mais centenas de milhares de vendas, aparições na imprensa e na televisão e a tradução do livro para treze línguas, entre elas o inglês ( Child of the Dark , nos Estados Unidos vendeu trezentas mil cópias em uma década). Mulher, pobre, negra, mãe solteira e autodidata, a autora daquele diário, Carolina Maria de Jesus, se tornou símbolo da dureza da vida da periferia, alcançando uma fama inesperada, embora fugaz. Durante muito tempo Quarto de despejo foi livro de leitura obrigatória, convertendo-se no mais vendido no Brasil. Mas, quarenta anos depois de sua morte, Carolina Maria de Jesus parece caída no esquecimento – ao menos fora de seu país. Além-fronteiras s