Nem autor nem autoridade
Por Luis Magriyà Ao longo do século XIX, o gênero romanesco foi estabelecendo uma aliança entre autor e autoridade que, já propiciada pela etimologia, passou pelas previsíveis fases de confiança, presunção, ceticismo e burla sem nunca renunciar um fim; é curioso, por isso, que agora já topicamente chamamos “o controle férreo do narrador”. De fato, tais fases não foram tão sucessivas como simultâneas, porque os romancistas, conscientes de ter o “controle”, se permitiam alternar, até numa mesma obra, o crédito com o descrédito, a satisfação com a frustração, a bravata com o ridículo. Como nada deles escapa, embora de fato se escapasse, podiam fazer ambiciosas histórias sérias como Balzac ou Zola, Tolstói ou Dostoiévski, engraçadas como Thackeray ou Dickens (e Dostoiévski também), ou delicadíssimas como Turguêniev... ou delicadamente cruéis como Flaubert. A consciência de que sim, pelo amor de Deus, sempre há algo que escapa talvez tenha sido responsável pelo caso de Tchek