Desamparo, de Inês Pedrosa
Por Pedro Fernandes A vida é trânsito fugaz de existências. E Inês Pedrosa elegeu, através da sua literatura, a tentativa de captá-las. Por isso, cada livro seu se constitui numa reunião bastante heterogênea e, portanto, complexa de fotogramas cujo núcleo são os elementos que nos acompanham e participam para o bem e para o mal do enforme desse universo convencionado por todos como realidade. Nos dois títulos mais recentes da escritora – Dentro de ti ver o mar e este motivo destas notas, Desamparo – é cada vez mais visível tamanha preocupação. Nesse sentido, a escritora lida com materiais extremamente delicados e capazes de fazer com que suas narrativas se tornem, muito cedo, objetos obsoletos: é o grande risco que corre os escritores imersos demais nas vagas de seu tempo. No caso específico da escritora portuguesa, os indícios do falhanço não são verdadeiros nem tampouco evidentes. Isso porque, magistralmente, as tais questões ainda não assentadas não estão no plano p