Abismo, brilho, destino e vento
Por Justo Navarro Sem precisar de bússolas, viajamos a bordo de uma nave que gira a mais de 100.000 quilômetros por hora ao redor do Sol: Terra é o nome da nave. Quem assim o faz é Rumford em The Sirens of Titan , um romance de ficção científica de Kurt Vonnegut. Mas, antes de nossa era, o filósofo épico Lucrécio comparou os recém-nascidos com náufragos, marinheiros jogados à costa por uma forte tempestade marítima. “Há 200 milhões de anos deixamos o mar e isso precisou ser um acontecimento traumático do qual não nos recuperamos”*, diz uma das personagens de O mundo submerso , de J. G. Ballard. Foi encontrado um remédio para o trauma: imaginar aventuras marítimas. Estou lendo Um ciclone na Jamaica , de Richard Hughes, um bom romance de 1929. Quando um furacão leva sua casa, os Bas-Thornton, ingleses numa ilha em ruínas depois da libertação dos escravos negros, decidem mandar seus dois filhos e suas três filhas para estudar em Londres. Os cinco caíram em poder dos pirat