Frida Khalo: do hieratismo perante a dor
Por Márcio de Lima Dantas Calo-me diante das telas de Frida Khalo. Silencio numa melancólica aquiescência dos que aprendem desde cedo a respeitar, e se identificar, com os assinalados, doadores de sangue e martírio para a sombria deusa Hécate, ergo a cabeça apenas para contemplar os que tomam a iniciativa inglória de se confrontar com um destino aziago, lançando exércitos suicidas contra o implacável poder das Parcas. Eis-me despido diante das cores fulgurantes da pintora mexicana, mulher que me despe de pronto, deixando-me frágil, nu, atirando-me em direção aos recônditos abissais do meu ser, arrancando flâmulas arquetípicas das minhas aras interiores, chafurdando no movediço do meu imo. A existência-obra de Frida é o discurso plangente do órfão que ama uma madrasta perversa chamada Vida. É o “sim” primoroso e ardente de quem aceita as migalhas atiradas com desprezo e parcimônia pelos deuses. Frida teve a coragem de desdenhar dos donos da situação, contrapondo-se a um