Não confies no narrador
Por Marta Fernández Sabes que está aqui. Deste lado do papel. E parece inofensivo e pacífico. Um ser integralmente feito de palavras. Um ser todo olhos e dicionário. Que olha e que fala. E que nele confias. Porque sempre foi assim. Porque o narrador é teu cicerone. Porque te conduz, te revela, te abre a mente, te empresta seu corpo inventado para que possas entrar nessa dimensão alheia chamada ficção. Tu és um aliado. Às vezes, tu eres dele. Só podes ficar ao seu lado. Mas, já deverias saber que nem sempre merece tua confiança. Deverias ter aprendido que a voz que te fala, às vezes, te engana. Que nem todo mundo veio aqui para dizer a verdade. Talvez devesses suspeitar daquele menino cheirando a leite. Mas tu eras um leitor de primeira viagem também. E te pareceu familiar os seus titubeios. Sua bendita inexperiência. “Nunca vi nada mais que mentirosos, sempre”. E embora no primeiro capítulo Huckleberry Finn já te avisasse de que todo mundo mente, incluindo ele, decidiste