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Cara a cara com Juan Rulfo

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Por Juan Villoro “Estou sentado junto ao esgoto esperando que as rãs saiam”, assim começa o primeiro conto de Chão em chamas (1953), de Juan Rulfo. De maneira simbólica, um virtuoso do estilo se serviu de uma voz incerta para esse primeiro conto. Um rapaz com uma deficiência metal olha o mundo com inocente surpresa. Macario, o protagonista, bebe leite de uma mulher e ela lhe assegura que isso o converteria num demônio. Nos sons da natureza, ele busca uma chave para os enigmas do bem e do mal; decide que, quando os grilos se calam, fogem as almas. Essa profecia antecipa o romance Pedro Páramo (1955), onde todas as personagens estão mortas. “Na madrugada”, outro conto de Chão em chamas , anuncia isso: num lugar onde os despossuídos não intervêm nas situações, as notícias saem das tumbas: “Vozes de mulheres cantavam no semissono da noite: ‘Saiam, saiam, saiam, animas de penas’ com voz de falsete”. A ronda dos fantasmas rulfianos não deixou de acontecer. Sua longa sombra