A teologia de Tony Soprano e o discurso estereotipado do cidadão de bem
Por Rafael Kafka Num episódio da grande série The Sopranos , Tony Soprano está preocupado, pois seu filho AJ começou a ter contato com o pensamento existencialista e passa a exibir em seu semblante e em suas palavras o comportamento melancólico de quem sente a náusea, amplificado pela obrigação absurda – e qual não é? – de cumprir o ritual católico da crisma em poucos dias. Mesmo marcado pela violência diariamente infligida a outros, Tony se irrita em ver o garoto descrente dos valores católicos defendidos pela família e se mostra transtornado com a postura revoltosa do jovem com a condição humana. Há um paradoxo nessa cena e nesse episódio que se mostra presente em toda a série de forma implícita: a ética cruel da máfia com seu rastro de sangue coexiste com uma profunda crença no Deus cristão típica do povo italiano católico, de onde é oriunda a família Soprano. São dois discursos e práticas antagônicos entre si, ao menos no plano escrito, mas que existem lado a lado e