O riso de Eça de Queiroz
Por Antonio Muñoz Molina Há paraísos possíveis, paraísos inesperados e acessíveis, paraísos terrestres ao alcance de quase qualquer pessoa, espaços e lugares de tempo que se abrem de imediato e que não necessitam durar muito para preencher as horas ou os dias que ocupam. Quando era jovem, intrigava-me muito isso que diz Borges – não me recordo onde – que não há dia em que não passemos ao menos alguns momentos no paraíso. Quando jovem, alguém tem uma predileção literária e às vezes insensatamente literal pelos infernos. Agora, cada vez que me encontro neste estado de serenidade, de júbilo contido e muitas vezes secreto, me recordo daquelas palavras sábias da velhice de Borges, e me dou conta de que os passatempos contemplativos favorecem muito essas epifanias. (Procuro evitar a palavra “experiência” porque os publicitários tornaram-na ao mesmo tempo onipresente e a esta altura já quase depreciável). Um contemplativo não é um místico. É alguém que se vê extasiad