Boletim Letras 360º #249
Os cheiros do fim de ano estão no ar. E, em nossa página no Facebook, já queremos saber qual livro marcou em 2017 você e por quê. As respostas serão compiladas numa lista de melhores do ano dos nossos leitores, tal como fizemos no ano anterior. Também no Instagram, iniciamos as dicas de presentes de fim de ano — livros, é claro! A seguir as notícias que copiamos em nossa página no Facebook.
Gabriel García Márquez, em 1976. Do arquivo do escritor na Universidade do Texas. A primeira parte foi digitalizada e está online. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
11/12
>>> Brasil: Um novo
projeto editorial para a obra de Clarice Lispector
Já havíamos
noticiado da ideia da Editora Rocco depois
do sucesso de vendas com a edição Todos os contos de reunir as
crônicas da escritora numa obra semelhante. Depois a ideia de reunir a obra em
caixas. E agora, eis que vem a lume um novo projeto gráfico e editorial para a
obra de Lispector. Felicidade clandestina, Água viva, A paixão segundo G.H. e Uma aprendizagem ou o livro dos
prazeres são os primeiros títulos de ordem minimalista apresentados
exclusivamente na Livraria Cultura.
>>> Brasil: Mais russos em terras tupiniquim. Entre eles,
uma nova tradução para Guerra e paz, de Tolstói
Foi em 2017
que a Editora
34 apresentou outra tradução para o clássico O mestre e
margarida — a realizada pelo jornalista Irineu Franco Perpétuo. Agora, a
casa editorial fecha contrato com o tradutor para uma nova tradução de Guerra e paz. É trabalho para mais de três anos, prevê o tradutor
que entregou, em outubro, sua versão de Anna Karenina que deve sair
em 2018, quando ela também lança Almas mortas, de Gogol, com
tradução de Rubens Figueiredo – dono, aliás, da outra tradução de Guerra
e paz feita diretamente do russo e que volta às livrarias agora pela
Companhia das Letras. Saem, ainda, Sobre isto, de Maiakovski, por
Letícia Mei; Humilhados e ofendidos, de Dostoiévski, por Fátima
Bianchi; e A Luva ou KR-2 — Contos de Kolimá Vol. 6, de Chalámov,
por Nivaldo dos Santos.
Terça-feira,
12/12
>>> Brasil: Max Jacob,
inédito por aqui, está entre os lançamentos da Editora Carambaia para
2018
O pintor,
romancista, poeta, amigo de Jean Cocteau e de Picasso e uma das figuras
centrais dos círculos de vanguarda do início do século 20 em Paris, terá seu
O gabinete negro. Cartas com comentários lançado em 2018 pela
editora. Trata-se de uma compilação de cartas fictícias publicada em 1922 e
ampliada em 1928 por este judeu convertido ao catolicismo, que foi preso pela
Gestapo em 1944 ao chegar da missa e que morreu de pneumonia e esgotamento no
campo de deportação de Drancy, dois dias antes da data em que seria enviado a
Auschwitz.
>>> Estados Unidos: A
Universidade do Texas colocou online os cerca de 27,5 mil documentos com
arquivos do escritor colombiano Gabriel García Márquez
O trabalho
já ocupava os pesquisadores desde a aquisição do arquivo em novembro de 2014.
Manuscritos, cadernos, cartas e fotos a partir de agora estão disponíveis para
o público geral. Um buscador em espanhol e inglês, disponível no site da
Universidade do Texas,
permite ter acesso de forma gratuita ao fundo e navegar por esses
arquivos, cerca da metade dos que a universidade possui e muitos dos quais são
inéditos. O trabalho de digitalização levou 18 meses e foi possível graças a
uma doação do Conselho de Recursos Bibliotecários e de Informação (CLIR, em
inglês), um organismo independente. Ainda não se tem previsão por enquanto de
digitalizar a segunda metade dos arquivos do escritor.
Quarta-feira,
13/12
>>> Brasil: O melhor do
Millôr
Millôr
Fernandes ganhará uma ampla biografia em 2020. O jornalista, crítico e editor
Paulo Roberto Pires assumiu o projeto do livro que será publicado pela Editora
Todavia. Pires começou a pesquisar o acervo do intelectual em 2013, quando fez
a curadoria de uma exposição no Instituto Moreira Salles, que tem a guarda dos
documentos. O biógrafo calcula que, dos 70 anos de atividade profissional de
Millôr, 95% estejam documentados. Só com a produção publicada, são mais de cem
volumes encadernados, além de papéis cartas e anotações.
>>> Porugal: O Livro do desassossego agora numa plataforma na web
O Arquivo
Digital Colaborativo do Livro do Desassossego — ou, simplesmente, Arquivo LdoD — já está online. Foi apresentado no último dia 13 na Faculdade de Letras de
Coimbra. A ideia nasceu em 2009, segundo Manuel Portela, coordenador do projeto,
mas só começou a ser desenvolvido em 2012, por uma equipe de pesquisadores
composta por especialistas em literatura e computação da UC em estreita
colaboração com António Rito Silva, do Instituto Superior Técnico (IST) de
Lisboa, que desenhou e programou todo o sistema de software, e também com a
Biblioteca Nacional de Portugal, que tem na sua posse os manuscritos referentes
à obra de Bernardo Soares. Mesmo online, o trabalho continua. A previsão é o
desenvolvimento não só da edição, mas também da escrita virtual, permitindo que
os utilizadores escrevam variações com base em fragmentos, reconfigurando o Livro do desassossego como ambiente textual dinâmico. Também é de
interesse acrescentar as recepções do Livro — isto é, garantir
acesso aos principais ensaios críticos sobre a obra que serão depois
interligados com os textos da obra de Bernardo Soares. O Livro do
desassossego tem entre 500 a 700 textos e cinco transcrições para cada
texto. Além de imagens de documentos autografados, o Arquivo LdoD inclui ainda
novas transcrições dos manuscritos e das quatro principais edições — a de
Jacinto do Prado Coelho (1982), a de Teresa Sobral Cunha (publicada em dois
volumes em 1990 e 1991), a de Richard Zenith (1998) e a de Jerónimo Pizarro
(2010). Vá aqui.
Quinta-feira,
14/12
>>> Brasil: O mais
político de Antonio Callado
São os
últimos anos do governo militar, uma onda de desmandos e pessimismo paira sobre
o país. Entre 1978 e 1982, Antonio Callado escreveu crônicas semanais na coluna
Sacada da revista IstoÉ. O país que não teve infância reúne 86
desses textos, em uma seleção da jornalista Ana Arruda Callado, todos inéditos
em livro. Além do panorama político, retrato de um Brasil marcado pela
ditadura, a coletânea aborda também temas como religião, cultura, viagens,
movimentos sociais, amigos e causas indígenas, e revela a inquietação de
Callado: um perspicaz jornalista literário, intelectual antenado com seu tempo
e com as mudanças do mundo. E não se assuste, leitor: aqui você vai ler a
história, o que realmente acontecia, mas não pense que se trata de um livro
sombrio. É a escrita de um observador atento, que acreditava no Brasil.
>>>> França: A história
de uma recusa. Uma não; dezenove
Um excerto
de Le palace (O Palácio), romance da autoria do falecido escritor
francês Claude Simon, Prêmio Nobel da Literatura em 1985, foi recusado por
dezenove editoras, depois de um fã do autor, Serge Volle, ter enviado 50
páginas da obra originalmente publicada em 1962. A obra conta uma história
desenrolada durante a Guerra Civil Espanhola, na qual Simon participou, e cujas
cenas são descritas pormenorizadamente no livro. Segundo cita o The
Guardian, Volle disse à rádio pública francesa, na segunda-feira, que a
obra foi criticada por ter "frases extremamente longas" que "perdem
completamente o leitor". As editoras não pouparam nas críticas e, numa carta de
rejeição, argumenta-se que o livro não tinha "um verdadeiro enredo com
personagens bem concebidas". Ao todo, 12 editoras rejeitaram o livro e sete nem
chegaram a responder a Volle. O fã do escritor francês pretendeu mostrar, com
esta experiência, que as editoras estão a "descartar obras literárias que não
são fáceis de ler ou que não estabelecem recordes de vendas". Volle, que também
é escritor, afirma que vivemos "na era do livro descartável" e, citando Marcel
Proust, que hoje em dia é preciso ser "famoso para poder ser publicado". Claude
Simon pertence "Nouveau Roman", um conhecido movimento vanguardista
que se opões às noções de personagem e de trama e foi integrado por nomes como
Alain Robbe-Grillet, Michel Butor, Nathalie Sarraute, entre outros.
>>> Brasil: Uma caixa
que é um verdadeiro passaporte para o melhor da poesia do habitante de
Pasárgada
Nascido no Recife
em 19 de abril de 1886, Manuel Bandeira é considerado um dos maiores poetas da
língua portuguesa, tendo se destacado também como cronista, professor,
tradutor, ensaísta, crítico de literatura e de artes plásticas. Estreou em 1917
com A cinza das horas, seguido de dezenas de outros livros
essenciais da poesia brasileira, como Libertinagem, Estrela
da manhã, Estrela da tarde e outros. Bandeira residiu a
maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Amigo de vários participantes da
Semana de Arte Moderna de 1922, principalmente de Mário de Andrade e Ribeiro
Couto, manteve com alguns deles uma vasta correspondência, como se vê em seu
livro Itinerário de Pasárgada. Em 1940, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras, instituição que atualmente preserva sua biblioteca
pessoal. A Global Editora preparou uma caixa que reúne, além dos livros aqui
citados, Belo Belo; tiragem limitada.
Sexta-feira, 15/12
>>> Itália: O engajado
Gabriel García Márquez. O dia em que o escritor colombiano escreveu ao papa
João Paulo II em nome das vítimas da ditadura militar na Argentina
A morte de
João Paulo I deixou GGM triste porque já não podia cumprir o desejo de ter uma
audiência com o papa para tratar sobre os desaparecidos durante a ditadura na
ARG. Mas, graças ao apoio do cardeal Paulo Evaristo Arns conseguiu um encontro
com o novo papa. Em 1979, o escritor chegou ao Vaticano. O lugar lhe causou "tristeza" tal como conta numa parte inédita de suas memórias que agora vem a lume graças
à digitalização de parte de seu arquivo pela Universidade do Texas. Depois de
longa espera numa "sala pequena, com poltronas e colunas douradas e tapetes de
veludo" apareceu em cena o papa polonês. O primeiro surpreendeu João Paulo II
foi sua "inquietante semelhança" com Milan Kundera, além de seu aspecto físico
– em seus gestos e no timbre de sua voz. A conversa começou espanhol porque o
papa queria exercitar seu domínio do espanhol – estava para ir ao México. "Contou-me de início que havia estudado espanhol na escola secundária porque
estava escrevendo uma tese sobre San Juan de la Cruz e queria lê-lo no
original". Depois de uns cinco minutos conversando sobre o poeta místico
entregou-lhe a carta em que resumia o drama dos desaparecidos na Argentina que
ele estimava passar dos 10mil. "Como estava escrita em francês, ele assentia
com a cabeça à medida que lia dizendo: ‘Ah oui, ah oui’. Embora fosse uma
leitura dramática, não perdeu nenhum instante seu bom sorriso, e no final me
devolveu a carta como se tivesse regressado de uma viagem que conhecia o
bastante e me disse num francês fluido: ‘Isto é idêntico ao que se passa na
Europa oriental’". Foi a única resposta que obteve sobre o tema. Enquanto o
papa tinha problemas em abrir a porta, tomou consciência da transcendência
daquele momento: "Que tal se minha mãe soubesse – pensei – que estou trancado
com o papa em seu escritório!", exclama GGM no final do relato. "À medida que
aquela recordação se sedimento em minha memória o evoco menos como uma derrota
sem batalha e mais como uma lembrança da infância que merece ser contada",
termina.
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