Boletim Letras 360º #248
Neste dia 9 de dezembro de 2017 passam-se 40 anos da morte de Clarice Lispector. O Letras tem apoiado a iniciativa do Grupo de Estudos Sobre o Romance da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (divulgado numa edição deste boletim e, logo, nas mídias sociais do blog) que assinala a data de hoje e outra, a de também quatro décadas da publicação de A hora da estrela, uma das obras mais importantes da escritora brasileira: a realização do simpósio SIM, CLARICE!. Justamente nesta data o leitor encontrará na nossa biblioteca online um catálogo preparado para este evento em que se copiam fotografias, manuscritos e um texto de Milton Hatoum sobre a escritora traduzido do espanhol e apresentado pela primeira vez aqui no Letras. Depois de visitar as notícias desta semana na página do Letras no Facebook, você pode conferir este material indo aqui.
Clarice Lispector, de norte a sul do Brasil. Eventos, novas edições e projetos ampliam o conhecimento sobre a obra e a escritora. Agora, o anúncio sobre a adaptação de A paixão segundo G. H. para o cinema. |
Segunda-feira,
04/12
>>> Brasil: Revelado
livro de Vinicius de Moraes inédito publicado em italiano
Até agora
ninguém – nem mesmo os familiares de Vinicius de Moraes – sabiam sobre este livro.
Só Marilia Freidenson quem está de posse de uma raridade que foi antes um mimo
dado de presente pelo próprio poeta ao Jaime, companheiro dela. Poesie é uma
compilação de luxo de cinco poemas de Vinicius: "Pátria minha", "Poética", "A
vida vivida", "O mergulhador" e "Soneto do amor total" – todos em português e
italiano, nacionalidade do livro. O exemplar agora revelado é o de n.1 de uma
tiragem limitadíssima a 44 cópias impressa na Gráfica Romero, de Roma. Foram
traduzidos, os poemas, pelo poeta italiano Giuseppe Ungaretti e ilustrado em
água-forte por Piero Dorazio. Jaime conheceu Vinicius de Moraes na Bahia,
quando o poeta se separa da sua sétima companheira, Gessy Gesse. E foi Jaime
que comprou a casa de Vinicius então e, de brinde, recebeu o livro raro que foi
passado às mãos do filho mais velho, Fernando, quem vendeu a obra por algo em
torno de 5 mil dólares aos próprios irmãos, Michel e Roberto – num gesto de
deixar a obra entre os da família. (via: Estadão)
>>> Brasil: Mais russos no país em 2018
A Editora
Kalinka, especializada em literatura russa vai aquecer, se seguir o prometido,
as publicações no Brasil. O prometido O ofício, de Serguêi Dovlátov,
que não saiu agora como se previa deve sair no início do ano com tradução de
Daniela Mountiann e Yulia Mikaelyan. A este título acresçam A Cidade N, de
Leonid Dobýtchin, com tradução de Moissei Mountian, Aulas de literatura russa
(textos reunidos), de Aurora Fornoni Bernardini, A troca, de Serguêi
Dovlátov, com tradução de Daniela Mountian e Yulia Mikaelyan e O elefante, de
Aleksándr Kuprin, com tradução de Tatiana Larkina.
Terça-feira,
05/12
>>> Espanha: Toda a
pintura de Salvador Dalí à distância de um click
A fundação
que guarda o legado do artista, Gala-Salvador Dalí, completa o catálogo
composto por 1000 peças – levou 17 anos todo trabalho de identificação e
catalogação. O trabalho começou a ser disponibilizado na web em 2004. O
percurso pela obra do pintor parte de 1910 e vai até o ano seguinte à morte de
Gala. São aquarelas, pinturas e desenhos divididos em cinco períodos; cada peça
é apresentada em suas características e procedências. Deleitem-se aqui.
>>> Brasil: Ler e
escrever, um ensaio de V. S. Naipaul sai pela editora Âyiné
Naipaul mais
de uma vez retomou com a memória ao tempo em que, ainda criança em Trinidad,
ele sonhava em se tornar um grande escritor. Mas jamais nos havia contado com a
vibrante força destas páginas como se aproximou à escrita e, antes ainda, à
leitura; como conseguiu criar, em uma colônia na periferia do Império
Britânico, um mundo só seu, alheio à literatura na qual se formou. Nem jamais
havia confessado em que medida a relação com a Índia – "a grande ferida"
de todos os emigrantes indianos nas ilhas do Novo Mundo – agiu em profundidade
na sua vida, suscitando um jogo dramático de atrações e resistências. Aos
poucos, Naipaul entendeu que a tarefa da sua obra literária era a tenaz
exploração daquelas "áreas de escuridão" que marcaram sua infância e juventude.
E, enquanto isso ocorria, mudava e se definia cada vez mais claramente nele o
significado das obscuras potências que respondem pelo nome de ler e escrever.
Esse emaranhado de questões encontrou voz em 2000, no ensaio que dá o título ao
volume e, no ano seguinte, como uma espécie de conclusão natural, em seu
discurso em ocasião do Prêmio Nobel. A tradução é de Sandra Martha Dolinsky e
Rogerio Galindo.
>>> Brasil: Hilda Hilst
é a homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty em 2018
Nascida em
Jaú, São Paulo em 1930, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo e,
aos 35 anos de idade, mudou-se para a chácara Casa do Sol, próxima a Campinas.
Lá, na companhia de dezenas de cachorros, se dedicou integralmente à criação
literária, entre livros de poesia, ficção e peças de teatro. Nos anos 1990,
irritada com o parco alcance de sua escrita, anunciou o "adeus à literatura
séria" e inaugurou a fase pornográfica, com os títulos que integrariam a
polêmica "tetralogia obscena". Hilda morreu em 2004, em Campinas. Em 2017, a Companhia das Letras iniciou a reedição de sua obra com a publicação do volume Da poesia, que reúne todos os livros de poesia de Hilda Hilst e inéditos.
Quarta-feira,
06/12
>>> França: Morreu o
escritor Jean d’Ormesson
Tinha 92
anos e vivia em Neuilly-sur-Seine, periferia de Paris. Escritor de renome,
jornalista e editor, professor de Filosofia e antigo alto funcionário na
Unesco, D'Ormesson foi uma figura pública de primeira magnitude na França e um
dos intelectuais mais respeitados da última metade do século XX. Ficou
conhecido por sua irreverência e elegância. Escreveu obras como Ao prazer
de Deus, O vento do entardecer, Quase nada sobre quase
tudo e A história do judeu errante, todas estas já publicadas
no Brasil. Desde 2015 sua obra havia sido reconhecida pela Plêiade, a
prestigiosa coleção que reúne um cânone da literatura universal. Nasceu em
Paris em 1925; filho de embaixador, viveu os primeiros anos entre a Romênia, o
Brasil e Alemanha, onde assistiu, ainda adolescente, o nascimento do nazismo.
Apaixonado pela leitura e pela escrita desde pequeno, preencheu a juventude
entre a literatura e o jornalismo; colaborou com o Paris-Match desde finais dos anos 1940 e depois dirigiu a revista de filosofia
Diogène, enquanto começava a escrever seus primeiros livros que são
publicados a partir da década seguinte. Foi diretor do Le Figaro por três anos, onde também escreveu até os últimos dias de vida. Sua obra
alcançou grande êxito na França nos anos setenta e oitenta; feito que não
conseguiu repetir no estrangeiro.
>>> Paris: A paixão
secreta de Émile Zola. Um leilão redescobre o interesse do escritor
pela fotografia
A primeira
fez que posou para uma câmera fotográfica foi em 1894; havia terminado a saga
dos Rougon-Macquart, conjunto de vinte romances escritos em menos de vinte
anos. A partir de então a fotografia se tornou um hobby. Instalou dez câmeras e
criou um laboratório de fotografia numa de suas três casa. Ao todo, chegou a
realizar 7 mil registros dos quais cerca de 2 mil chegou até nós. Um
leilão promovido pela casa Artcurial trouxe à luz este arquivo fotográfico:
centenas de registros em tons de sépia captados por uma câmera Eastman Kodak. O
material foi propriedade do neto do escritor, o médico François Émile-Zola até
sua morte em 1989. Agora, a viúva decidiu colocar tudo à venda. São fotografias
que dão conta da sua mais restrita intimidade, como por exemplo, os registros
que captou da amante Jeanne Rozerot, com quem passava a maior do tempo na sua
segunda residência em Vernuil-sur-Seine e dos filhos que teve com ela, Jacques
e Denise. Além do seu entorno familiar, o escritor também retratou Paris dos
anos 1890 – a construção da Torre Eiffel, seu exílio em Londres depois do
escândalo pelo caso Dreyfus, paisagens marítimas, cenas de rua – este último
gesto semelhante ao do fotógrafo Eugène Atget, um pioneiro de registros dessa
natureza e que foi lida por grandes escritores do século XIX, como Baudelaire,
como artifícios da modernidade.
>>> Brasil: A nova
tradução para Finnegans wake, de James Joyce
Desde 2015,
num texto para o blog da Editora
Iluminuras, Dirce Waltrick do Amarante havia anunciado sobre o seu novo
trabalho enquanto tradutora: Finnegans wake, de James Joyce.
Trata-se do romance mais experimental do escritor irlandês e, por isso mesmo,
sempre apresentado como de tradução impossível. A edição mais recente deste
livro no Brasil é a primeira tradução completa que levou quatro anos de
trabalho de Donaldo Schüler; havia sido publicada pela Ateliê Editoria. Agora,
a Iluminuras apresenta Finnegans wake (por um fio). O novo título,
uma via de entrada na intrincada obra de Joyce, amplia no catálogo da casa
editorial os títulos de Joyce – sobretudo aqueles pouco conhecidos no Brasil,
como as cartas, poemas e textos para teatro.
Quinta-feira,
07/12
>>> Brasil: A Companhia das
Letras inicia o processo de reedição da obra completa de José Saramago
O novo
projeto gráfico segue o mesmo padrão adotado pela casa portuguesa Porto Editora – com alguma variação. Aquele em que cada capa da obra foi escrita por uma
caligrafia da cultura luso-brasileira. Os primeiros volumes que ganharão a nova
forma são: Claraboia (Fernanda Torres); Memorial do
convento (Raduan Nassar); A jangada de pedra (Ana Maria
Machado); História do cerco de Lisboa (Álvaro Siza Vieira); O
ano da morte de Ricardo Reis (Milton Hatoum); O evangelho segundo
Jesus Cristo (Sebastião Salgado); O homem duplicado (Lídia Jorge); Ensaio sobre a cegueira (Chico Buarque); Ensaio sobre a
lucidez (Julián Fuks); A caverna (Eduardo Lourenço); As
intermitências da morte (Valter Hugo Mãe) e Caim (Daniela
Thomas).
Sexta-feira,
08/12
>>> Brasil: A
editora Arte
& Letra, que edita pequenas pérolas em formato artesanal prepara uma
nova coleção – a Alfaiate
Dentre os
primeiros destaques da coleção, além dos ensaios A leitora incomum,
da Virginia Woolf, está o livro da escritora russa Elena Guro: Assim a
vida passa. A autora traz em sua obra muitos elementos do populismo
russo, movimento literário que buscava encontrar uma identidade genuinamente
russa, excluindo as influências europeias e aproximando os temas do
cotidiano. O foco das narrativas sai da aristocracia e desloca o olhar para o
povo russo, as classes mais baixas e desfavorecidas. No entanto, Guro, como
tantas mulheres na literatura, estava à margem do movimento, essencialmente
masculino. O que por um lado pode ter sido prejudicial para sua obra e
reconhecimento, também é uma possibilidade de ruptura dessa estética vigente – o que é visível nos textos de Guro, principalmente em relação à linguagem que
ela usa. Elena Guro foi uma das poucas mulheres no início do futurismo russo, e
publicou três livros em vida, The Hurdy-Gurdy (de onde foi retirado o texto
“Assim a vida passa”), Autumnal Dream e The Poor Knight. The Last Camels
of the Sky (que contém os textos “Manhã” e “Primavera”) foi publicado em 1914,
pouco depois de seu morte. A tradução é de Gabriela Soares. Os livros da
coleção Alfaiate seguem o padrão da editora: são costurados a mão e com capa em
serigrafia sobre tecido montados um a um.
>>> Brasil: O romance
A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, será adaptado para o
cinema
Depois de A hora da estrela, adaptado em 1985 por Suzana Amaral, quase ninguém se
arriscou a uma releitura de uma obra de Clarice como longa-metragem. A pouca
ação dos romance é um dos elementos favoráveis a esse medo em torno de uma
leitura obra para projetos maiores; o livro 1964, por exemplo, foi considerado
por muitos como de difícil adaptação porque o relato prende-se aos pensamentos
e à consciência de uma mulher depois que demite sua empregada doméstica e em
seguida vai limpar o quarto de serviço da casa. G. H. será vivida pela atriz
Maria Fernanda Cândido, segundo o jornal O Globo.
>>> Estados Unidos: Filme sobre
o amor entre Virginia Woolf e Vita Sackville entra em fase de pós-produção e
deve chegar aos cinemas no início de 2018
As revistas,
os escritos e as cartas de ambas as artistas permitiram que historiadores
mantivessem viva essa história até os dias hoje, mesmo depois de 100 anos
desse amor e amizade. Em Virginia & Vita a atriz Elizabeth Debicki interpreta o papel da
Virginia Woolf e Gemma Artenton o da amante, poeta e escritora
de grandes obras como The Lady Dolloday. Isabella Rossellini também aparece
no filme, embora ainda não tenha sido revelado a quem ela dará vida. Chanya
Button dirigiu este filme baseado no roteiro de Eillen Atkins, que se baseia,
por sua vez, na peça do mesmo nome que estreou em Nova York há 25 anos.
>>> Brasil: O selo para
obras da literatura infantil da Companhia das Letras já se prepara para
reedição da obra de Monteiro Lobato
É só em 2019
que a obra do escritor entra em domínio público; atualmente é a Globo Livros
que detém os direitos de publicação. Mas, no primeiro semestre do ano em
questão, a nova casa editorial do mestre da literatura infantil brasileira já
se prepara para apresentar quatro de seus livros, entre eles Reinações de
Narizinho.
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