20 + 1 livros de contos da literatura brasileira indispensáveis
Machado de Assis, um dos nossos (também) melhores contistas. |
Reiteradas
vezes alguns críticos dizem que falta ainda à literatura brasileira um grande
romance e acusam os escritores nacionais a dedicarem mais atenção aos livros curtos.
A afirma encerra uma variedade de mal-entendidos. Primeiro, a grandiosidade de
uma obra literária não se mede por sua extensão – e mesmo que se meça, a acusação
finge esquecer da variedade de romances extensos em densidade e não em quantidade
páginas. Depois, a predileção de escritores por narrativas mais curtas, e na
literatura nossa há ao que parece isso, não faz um escritor tampouco uma
literatura menor e a prova disso encontra-se dentro e fora do país.
Se entre os
escritores brasileiros reside uma predileção pela narrativa curta – Julio
Cortázar destacava que esta é uma forma literária genuinamente comum à América
Latina – então somos privilegiados. Sim, porque nada é mais saboroso que sorver
um texto em pequenas doses e ser arrastado pelos volteios da imaginação no
desenvolvimento de possibilidades. Sim, a narrativa breve tem a vantagem de não
nos dizer tudo, de nos instigar fortemente à preencher lacunas e ampliar suas
fronteiras ou ainda de nos obrigar a parar para entrar noutra dimensão
temporal, a da reflexão.
E contemporaneamente,
uma era da pressa, o texto curto encontra o terreno ideal para sua constituição;
se somos mesmo a literatura que demonstra maior atenção para com as narrativas
de pequeno porte, então, estamos na corrente favorável de continuar na luta por
conquistar um público ainda tão carente e disperso na relação pelo objeto livro
e pela leitura. Somos a literatura do futuro!
Outras considerações
ainda podiam se apresentar, mas este não é um texto que visa construir uma
reflexão sobre os problemas acima enumerados; é a introdução para uma lista um
bocado vistosa, por sinal, que reúne algumas edições das mais nobres, de ontem,
de hoje e de sempre que se definem enquanto antologia de contos.
Os critérios
estabelecidos na organização da lista vão do reconhecimento assumido por alguns
nomes da nossa literatura para com as formas breves a aqueles que poderíamos chamar
de contistas bissextos, para fazer uso de uma expressão utilizada por Manuel
Bandeira acerca dos escritores que praticaram uma vez ou outra a poesia, no caso
dele, poetas bissextos.
Também
tentamos intercalar entre os sempre lembrados aqueles que ainda figuram muito à
margem e por isso ainda não ganharam o reconhecimento merecido. Entre clássicos
e não tão clássicos, repetimos só o mesmo alerta de sempre para com as listas
do gênero: não são rankings de melhores para menores obras e as descrições
sobre as obras incluem as informações fornecidas pelas editoras como sinopses
para apresentações dos livros em questão. E, claro, não é uma lista esgotável –
nenhuma o é.
50 contos de Machado de Assis, escolhidos
e organizados por John Gledson
O Bruxo de Cosme
Velho não é somente um dos maiores romancistas da literatura, foi exímio cronistas
e contista. Deste último deixou-nos preciosidades como “Missa do galo”, “O
alienista”, “A igreja do Diabo”, “Teoria do medalhão”, “A cartomante”, entre
outros. Habilidoso com as escolhas, Jonh Gledson faz uma acurada seleção que inclui
estes mais conhecidos e outros contos fundamentais de se redescobrir. A
antologia se apresenta, então, como a melhor maneira de estabelecer um panorama
do Machado de Assis contista, que a quantidade de narrativas curtas segue a
mesma força do prolífico escritor.
Obra completa, de Murilo Rubião
Em toda
literatura existem os escritores que escrevem apenas narrativas curtas; essa
predileção tem lugar entre o cânone do Prêmio Nobel de Literatura – a canadense
Alice Munro. No Brasil, seu melhor representante é Murilo Rubião. O escritor de
obra breve, apenas esses 33 contos que lapidou durante toda a vida até vencê-los
ou ser por eles vencido, se aventurou no universo do fantástico antes dessa
expressão se tornar comum entre os escritores latino-americanos. Os escritos do
mineiro são reconhecidamente uma maneira de fazer sublinhar o absurdo na
realidade cotidiana subvertendo temas como o desejo, a morte e falta de sentido
do mundo moderno.
Contos reunidos, de João Antônio
Foi a
extinta Cosac Naify que primeiro chamou atenção com uma reunião da obra completa
do escritor paulista. João Antônio publicou seu primeiro livro de contos em
1963; chamava-se Malagueta, Perus e Bacanaço.
Depois vieram Leão de chácara (1975),
Dedo-duro (1982), Abraçado ao meu rancor (1986) e Um herói sem paradeiro (1993). Esta
antologia citada aqui reúne todos estes livros mais textos dispersos; em 2018 é
um livro que ganha reedição pela Editora 34 incluindo outros inéditos do escritor.
João Antônio é sempre lembrado como um autor marcado pela origem proletária e
por uma obra literária protagonizada por vadios, golpistas, jogadores de
sinuca, cafetões e prostitutas; foi recebido com prêmios e afagos desde sua
estreia. Na opinião de Antonio Gonçalves Filho para o Estadão é um criador de momentos épicos na vida de seres
marginalizados.
Clarice Lispector. Livro reúne todos os contos. |
Contos completos, de Clarice Lispector
Assim como
Machado de Assis que escreveu alguns dos contos mais populares da nossa
literatura, Clarice também o fez. “A fuga”, “Uma galinha”, “Laços de família”,
“Feliz aniversário”, “O ovo e a galinha”, “A legião estrangeira”, “O primeiro
beijo”, “Onde estivestes de noite” “Via crucis”, entre outros títulos têm uma
estreita convivência com entre as leituras de todo leitor mais ou menos
interessado na literatura. Uma maneira de não deixar fora da lista momentos valiosos
da contística de Clarice – os textos citados aqui são parte entre os diversos
livros que reúne narrativas curtas – é a antologia organizada por Benjamin
Moser, o autor da pop biografia da escritora. Apesar das falhas da obra, por
reunir textos que não foram considerados contos pela autora, talvez num afã de
apresentar algum inédito de uma escritora em que tudo que se refere a material
literário já foi publicado, é um trabalho de extrema valia e de se levar em consideração,
uma pequena biblioteca de pérolas.
Os cavalinhos de Platiplanto, de José J.
Veiga
Não é preciso
recorrer ao estigma segundo o qual o escritor goiano não tem a visibilidade de
outros criadores brasileiros; é preciso sublinhar apenas no quanto José J.
Veiga foi original com sua prosa de brio fantástico e descarnada compreensão crítica
sobre os lugares mais obscuros da realidade humana. Este foi o livro de estreia
de Veiga; são doze contos que bebem das reminiscências da infância e apresentam
ao leitor um universo que mescla o embate entre os sonhos de suas personagens e
a realidade cotidiana.
Sagarana, de Guimarães Rosa
Muito depois
de publicar sua maior obra, Grande
sertão. Veredas, o escritor mineiro gostava de afirmar que seu processo criativo,
interessado no máximo de concentração de sentidos e de variações linguísticas,
passava por um desejo incontido de reduzir ao limite a narrativa. Logo, encontrava,
no conto sua melhor expressão – quando muito a variação com a novela. Das duas
formas narrativas Guimarães Rosa esculpiu preciosidades. O livro aqui indicado
reúne algumas dessas peças, como “O burrinho pedrês”, “A volta do marido
pródigo” e “A hora e vez de Augusto Matraga”. Se leitor se interessar em
ampliar a incurso pela contística de Rosa, vale a leitura de Primeiras estórias, Tutaméia. Terceiras estórias e o póstumo Estas estórias. Este termo recorrente nos três títulos foi um
empréstimo do escritor do vocabulário popular que sempre chamou as histórias de
forte incurso inventiva de estória. Guimarães Rosa sublinhava assim a distinção entre o imaginado e o documentado e
respondia pela preservação de uma forma oral da cultura brasileira.
Contos completos, de Lima Barreto
Quem
organiza esta edição é autora da biografia apresentada este ano sobre o escritor
carioca, Lilia Moritz Schwarcz. Tal como Machado de Assis, Lima Barreto
escreveu uma prolífica obra usando a forma breve de narrar, entre crônicas e contos.
Nesta edição, por exemplo, contam-se 149 contos. Entre eles os famosos “A nova
Califórnia” e “O homem que sabia javanês”. Lima Barreto foi um dos primeiros escritores
a assumir sua negritude no Brasil e, por isso, tido como de segunda categoria
por longo tempo; os seus contos revelam esse dilema e estão marcados pela
oralidade e o pelo tom memorialista que remonta ao da crônica jornalística.
Cidades mortas, de Monteiro Lobato
Este é o
segundo livro do escritor paulista. Foi publicado em 1919. A grande preocupação
do escritor na composição das narrativas é a de retratar a decadência do Vale
do Paraíba em decorrência da abolição da escravatura. Esse tema se torna em
metonímia sobre outras formas de decadência, a das cidades e do homem do
interior do Brasil. Atrelado a uma produção regionalista e preocupado em
promover a nacionalização da literatura, esta obra alcança várias das características
mais marcantes do nosso modernismo; o livro é uma maneira de se aproximar de
aspectos temáticos e elementos inovadores para a criação literária nesse
período, sendo um dos principais a contribuir com a renovação das letras
brasileiras.
Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos contistas bissextos |
Contos plausíveis, de Carlos Drummond de
Andrade
Pode-se
dizer que o poeta de “No meio do caminho” é um contista bissexto. Embora tenha
se dedicado com bastante frequência à crônica, o mineiro só escreveu dois
livros de contos. Este e Contos de
aprendiz. Este foi o seu primeiro e nota-se uma estreita afinidade com os
modos de narrar de Machado de Assis e Mário de Andrade; aliás, sobre o
primeiro, Drummond sempre dizia que lê-lo era uma tentação permanente, quase como
um vício a que tivesse de resistir. Ele próprio, então não resistiu e é
possível que só tenha se aventurado na arte da contística motivado pelos
desafios impostos pelo Bruxo. Influências à parte, qual escritor não as tem, o
segundo título, o indicado nesta lista, tem mais de Drummond que o primeiro,
sobretudo, se consideramos a estreita relação entre o tom da narrativa e tom da
crônica. Foram publicados em 1981 numa tiragem limitadíssima – demonstrando que
o poeta sempre soube que se metia em território no qual não tinha a mesma
envergadura. São histórias breves, leves e engraçadas.
Insônia, de Graciliano Ramos
Murilo
Rubião deve ter aprendido com o escritor alagoano essa obsessão pela revisão contínua
do texto até encontrar a forma mais objetiva possível para a narrativa; ou com
Guimarães Rosa. Maneira de dizer, que o gesto da revisão acurada, é de todo escritor
que leva consigo o zelo com o trabalho que executa com a palavra. Graciliano
Ramos foi outro dos nossos mestres na arte do conto; a obsessão pela economia
vocabular fez, por exemplo, nascer um romance voltado para a narrativa curta; Vidas secas é um romance cujos capítulos
que o formam podem ser lidos como contos. Bom, além disso, escreveu famosos contos
infantis, como “A terra dos meninos pelados”, “Histórias de Alexandre” e
“Minsk” e das coletâneas Dois dedos e
Histórias completas, Insônia é o sempre o mais lembrado do escritor.
São treze contos em que estão presentes a secura emotiva e a economia vocabular,
suas características mais marcantes do estilo de Graciliano.
Contos d’escarnio, de Hilda Hilst
Sua obra é
valiosa em todas as frentes que se
propôs escrever – do teatro ao romance, da novela à poesia. Nesta antologia, a
escritora compõe uma espécie de pequeno Decamerão em que, no caso, reinam a
bandalheira, o mau gosto e o excessivamente medíocre. Composto em tom de
sátira, esses textos trazem todas as características que marcam a prosa
hilstiana: o enredo que não guarda qualquer linearidade, marcadamente pelo tom
lírico e pela recomposição do grotesco, personagens que conformam momentos de confessionalismo
com os de forte e radical crítica. A obra de 1990 foi há dois anos editada numa
coletânea que reúne os chamados textos da fase obscena de Hilda Hilst, Pornô chic (Biblioteca Azul) e fazem
parte da reunião com toda prosa da escritora a sair em 2018 pela Companhia das
Letras.
Contos novos, de Mário de Andrade
“Primeiro de
maio” e “O peru de Natal” talvez sejam os contos mais conhecidos do escritor
modernista. Principalmente este último, sempre repetidamente comum nos livros
didáticos brasileiros. Exímio poeta, romancista, teatrólogo e cronista, neste
livro se reúnem todos os contos que Mário de Andrade escreveu ao longo da vida
e são textos, como não poderia ser diferente, marcados por traços estilísticos
que vão do contato com as vanguardas europeias e exercícios criativos em que se
visualiza claramente a maturidade do escritor. Ao todo são nove contos marcados
pela inserção da oralidade e pela linguagem objetiva.
Contos ilustrados, de Jorge Amado
O escritor
baiano imortalizou-se pelos romances. Mas, foi, ao lado de Carlos Drummond de
Andrade, um contista bissexto. Embora pouco conhecida a contística de Jorge
Amado reúne boa parte dos temas recorrentes na sua prosa: o microcosmo da
Bahia, a malandragem, a prostituição, a religião, o erotismo, a morte etc. No
âmbito da inteira reedição da sua obra, a Companhia das Letras preparou três
edições primorosas desses textos, ilustradas por artistas gráficos consagrados
e comentados por importantes nomes da literatura brasileira. “De como o mulato
Porciúncula descarregou seu defunto”, “O milagre dos pássaros” e “As mortes e o
triunfo de Rosalinda” são reunidos numa caixa que recebeu o título de Contos ilustrados. É claro que ainda
poderíamos acrescentar à lista alguns textos da literatura infantil como “O
gato malhado e a andorinha Sinhá” – talvez o seu mais conhecido nesta forma
narrativa.
O vampiro de Curitiba, de Dalton
Trevisan
Dos escritores
contemporâneos que se dedicam à narrativa curta, o curitibano talvez seja o
melhor. Esta coletânea publicada em 1965 rendeu-lhe o apelido que carregará consigo
para a eternidade, qual o Bruxo de Cosme Velho se refere a Machado de Assis. O
livro reúne quinze textos que apresentam apenas um fio condutor quanto aos aspectos
temáticos, personagem, linguagem e estilo: Nelsinho, o “vampiro” propriamente
dito. Ele é um curitibano obcecado por sexo que vagueia pela provinciana capital
do Paraná em busca de suas vítimas.
Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu
Este é o
quarto livro de contos do escritor. E considerado pela crítica sua melhor obra do
gênero. Dividido em três partes, “O mofo”, “Os morangos” e “Morangos Mofados”,
o contista reúne dezoito títulos, entre eles, “Sargento Garcia”, “Aqueles dois”
e “Eu, tu, ele”, alguns dos textos mais conhecidos da contística de Caio
Fernando Abreu. Publicado no período de abertura política do Brasil e de democratização
em consequência do fim ditadura, o livro reúne peças fortemente marcadas pelo contexto
recém-saído do país e os temas da predileção de Abreu, tais como, o
estranhamento, a solidão, a dor e o sentimento de marginalização. De tons
fortemente urbanos, as narrativas de Morangos
mofados se debruçam sobre as vidas de alguma maneira degradadas, seja pela
droga, pela loucura, pelo desencanto, pelo desamparo, pela AIDS – este último,
aliás, foi Caio F. um dos pioneiros a tratá-lo na literatura.
O cego e a dançarina, de João Gilberto
Noll
Este livro,
tal como escreve Fábio Figueiredo Camargo, na apresentação que faz da obra, é
uma projeção das bases da literatura singular do escritor gaúcho. É seu o livro
de estreia e nele há uma linguagem depurada que se pode ver em títulos
posteriores. Os narradores nômades, marca principal da sua obra, por exemplo,
aí se apresentam. São vinte e cinco textos que mapeiam, no ponto alto da
ditadura brasileira, o surgimento de uma geração abandonada, a dos filhos dos
guerrilheiros mortos pelo Estado. A solidão, os afetos e as relações em
fragmentos – obsessão também recorrente em Noll – estão neste livro que reúne,
segundo a crítica o melhor conto da literatura brasileira publicado desde 1980,
“Alguma coisa urgentemente”, texto que serviu de inspiração ao cineasta Murilo
Salles para a composição do filme Nunca
fomos tão felizes.
Lygia Fagundes Telles. Seus contos lindam com os mistérios da realidade |
A estrutura da bolha de sabão, de Lygia
Fagundes Telles
Dentre as
diversas metáforas propostas para uma definição sobre o conto, este livro
inaugura uma das mais imagens mais interessantes. A natureza do conto se
assemelha a da bolha de sabão – pela brevidade, pela capacidade de captar
apenas enquadramentos breves da realidade e pela expectativa de explosão num
final cujas impressões ainda reverberam pela percepção do leitor. São oito contos
escritos em contextos diversos que revelam a beleza da criatividade imaginativa
da escritora e sua condição de notável “pesquisadora de almas”, como definiu o crítico
Nogueira Moutinho. Secretos podres familiares, desenganos amorosos, vocações
frustradas, desejos extraviados, estão distribuídos em narrativas que alternam
descrição objetiva, discurso indireto livre e fluxo de consciência.
64 contos de Rubem Fonseca
Não é apenas
Dalton Trevisan nosso melhor contista contemporâneo. Rubem Fonseca pode ser chamado
de nosso “grão-mestre” do gênero. Peças como
“Os prisioneiros”, “A coleira do cão” e “Pequenas criaturas”, por exemplo o
destacaram pelo fôlego narrativo para situações extremas, marcadas pela violência
e pelo erotismo. Depois, “Feliz ano novo”, “Passeio noturno” e “O cobrador” são
como curto-circuitos que desnudam personagens de todas as origens e pretensões sociais
e colocam marginais e figurões em pé de igualdade. Avesso ao sentimentalismo e
à cor local, Rubem Fonseca inspira-se na economia de linguagem do cinema e da
literatura de nomes como o estadunidense Ernest Hemingway ou o russo Isaac
Bábel para forjar uma dicção própria e inconfundível. Mais que isso: o autor
traz para o seu próprio estilo a contundência e desencanto dos ambientes e
figuras dos quais se ocupa.
Você vai voltar pra mim e outros contos,
de Bernardo Kucinski
Este é o
livro de estreia no gênero do jornalista e cientista polícia. Antes havia escrito
o romance K. O título foi inspirado
em depoimento que o autor ouviu no final de 2013 ao assistir a uma sessão da Comissão
da Verdade em São Paulo – espécie de arremedo do exercício de passar a limpo um
dos períodos mais sombrios da história recente do Brasil. Os vinte e oito contos
têm a ditadura como pano de fundo e são raros exemplos da produção ficcional
feita no país sobre o tema – aliás, as produções literárias sobre, se comparadas
em relação a outros países da América Latina, são muito tímidas.
O voo da madrugada, de Sergio Sant’Anna
Dezesseis contos
marcados pela experimentação formal, pela dimensão psicológica do sexo e pela
indagação filosófica sobre a existência. Com este livro, outro dos nossos
melhores contistas contemporâneos, ganhou o Prêmio Portugal Telecom. As narrativas
de O voo da madrugada interseccionam
desejo e alucinação que conduzem as personagens a zonas sombrias, em que predominam
figuras femininas como sedução, volúpia, fantasia e morte.
Amar é crime, de Marcelino Freire
O livro foi
integramente revisto; a primeira edição data de 2011. Quatro anos depois sai o
que pode ser a edição definitiva. Nos textos, o escritor pernambucano demonstra
ser um fiel herdeiro do estilo de economia das palavras que, na literatura brasileira,
tem seus antecedentes, como já exposto nesta lista em literaturas como a de Graciliano
Ramos e Guimarães Russo. Os contos desse livro estão marcados pela oralidade –
um gesto estilístico marcante na criação de Marcelino Freire. Cada uma das
narrativas coloca no centro de interesse figuras que foram tragadas pelas imposições
sociais: a prostituta, o gay, o negro, o nordestino etc. Da novíssima geração essa
obra é um suprassumo.
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