Boletim Letras 360º #244
Amigos, esta é a edição da semana que copia as novidades que foram trazidas esta semana na página do Letras no Facebook. Eis o convite para revê-las.
Mário Peixoto. Uma revista e um evento sublinham o talento e a obra do criador brasileiro. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
06/11
>>> Brasil: Uma
antologia para o leitor entrar na obra de Torquato Neto
Ele foi um
dos protagonistas do Tropicalismo. Ficou conhecido especialmente por suas
composições com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo e Jards Macalé, mas foi
também colunista de diferentes jornais: escrevia sobre a arte vanguardista e
marginal. Torquato Neto. Essencial é organizado por Italo Moriconi
e publicado pela Autêntica
Editora. A obra oferece uma amostra do essencial na obra de poeta,
reunida a partir de um legado textual disperso e fragmentário, proveniente de diferentes
fontes – jornais da grande imprensa e da imprensa alternativa, cadernos
pessoais, datiloscritos e manuscritos vários.
>>> Brasil: Depois de
uma caixa com a poesia completa, outra com as crônicas que Cecília Meireles
escreveu sobre educação
Mais de mil
páginas divididas em cinco volumes. Crônicas de educação reapresenta o trabalho de educadora engajada que foi a poeta. Formada pela
Escola Normal (Instituto de Educação) do Rio de Janeiro, Cecília começou a
exercer, em 1917, o magistério primário em escolas oficiais do então Distrito.
Preocupada com o estado da educação no Brasil, sempre militou na área,
participando ativamente dos debates acerca das reformas de ensino projetadas na
década de 1930. Naqueles instantes decisivos da história brasileira, Cecília passou
a colaborar para a seção que o Diário de notícias reservava
diariamente para assuntos relacionados a educação. Ela disserta com clareza e
profundidade nestes textos sobre temas como política educacional, currículo
escolar, métodos pedagógicos, espaço escolar, a formação dos professores e suas
atribuições em sala de aula, os desafios do ensino público, o movimento da
Escola Nova, as particularidades da infância e da adolescência, o papel da
família nos processos de aprendizagem, literatura infantil, entre outros.
Cumpre destacar o caráter de escritos de intervenção que estes textos possuem,
ao pautarem e proporem soluções para impasses candentes na época e que ainda
nos são consideravelmente familiares, demandando a atenção de todos que se
interessam pelos desafios do ofício de ensinar.
>>> Brasil: Maria
Valéria Rezende ganhou o São Paulo de Literatura por Outros cantos
Maria
Valéria Rezende era a única mulher na lista de finalistas que contava com,
entre outros, Silviano Santiago, vencedor do Jabuti na semana passada, Bernardo
Carvalho e José Luiz Passos. Esta é a segunda conquista literária recente da
autora; em 2015, ela foi a grande vencedora do Jabuti por seu romance
Quarenta dias. Outros cantos conta a história de Maria,
professora do Mobral que, em plena ditadura militar trabalhou com alfabetização
de brasileiros no interior do Brasil; a narrativa acompanha a viagem dessa
mulher de volta a Olho d’Água 40 anos depois de sua tentativa de primeiro
ajudar o povo a refletir sobre sua situação e, depois, a transformar o país.
Terça-feira,
07/11
>>> Brasil: Reedição
revista e atualizada do Livro das mil e uma noites
Sai pelo
selo Biblioteca
Azul, da Globo
Livros a tradução de Mamede Mustafa Jarouche. Esta que ficou
reconhecida como a primeira tradução integral e direta do árabe para o
português, do livro ganha ainda novo projeto gráfico. O Livro das mil e
uma noites é uma obra universal que atravessou séculos fazendo parte da
cultura do Oriente e do Ocidente. Mais do que um rico repertório de narrativas
fantásticas, é também uma homenagem à mulher e um reconhecimento de sua
inteligência. Sua heroína, a narradora Sahrazad, é um símbolo da infinita
capacidade feminina de contornar situações críticas e de salvar o mundo da
ruína. A tradução de Jarouche foi vencedora dos prêmios Paulo Rónai (Fundação
Biblioteca Nacional), Jabuti de Melhor Tradução e APCA (Associação Paulista dos
Críticos de Arte).
>>> Estados Unidos: Um leilão
vende 38 cartas de Harper Lee
A escritora
reclusa, que passou décadas sem oferecer sequer uma nesga de detalhe sobre sua
vida e avessa às entrevistas, começa a ter sua face revelada. Numa das cartas
leiloadas, datada de 20 de jun. de 2009, Harper Lee se refere à posse de Barack
Obama como presidente e recorda uma conversa entre Gregory Peck, o ator que
interpretou Atticus Finch na adaptação cinematográfica de O sol é para
todos, e o ex-presidente Lyndon B. Johnson, em que falavam sobre a possibilidade
de os Estados Unidos um dia eleger um presidente negro. "Neste dia me dou
conta da sorte que tenho. Também penso noutro amigo, Greg Peck, que era bom
amigo de LBJ. Greg lhe disse: 'acreditas que viveremos para ver um presidente
negro?' Y LBJ contestou: 'No, mas o desejo boa sorte'", diz a carta.
Apesar de reclusa, as cartas revelam que Lee estava atenta ao que diziam sobre
ela e sua obra; refere-se, por exemplo, às críticas de Eudora Welty por haver
publicado um só livro: "Ouvi uma vez que falou sobre 'o caso Harper Lee',
sobre escritores com um só romance. Eu podia ter lhe contestado: 'ao que
parece, não necessitei de escrever outra'". As cartas, que foram dirigidas
entre 2005 e 2010 à sua amiga Felice Itzkoff, que morreu em Nova York em 2011,
foram vendidas com preço muito inferior a outro conjunto de cartas vendidas
pela casa Christie's en 2015. A coleção então composta por apenas seis cartas
foi vendida por US$ 90 mil; estas, saem com cotação de US$ 10 mil.
Quarta-feira, 08/11
>>> Brasil: Encontro
celebra a obra do criador Mário Peixoto
A Revista 7faces apresenta
sua nova edição nos dias 13 e 14 de novembro de 2017. É nestes dias quando
acontece no Centro
Cultural Ibeu, no Rio de Janeiro, o simpósio Mário
Peixoto. A poesia que reside nas coisas. No programa, além do número da
revista dedicado ao Peixoto, com ensaios, material de espólio e inéditos, são
apresentadas várias conferências cujo interesse é realçar a obra e a figura do
brasileiro: Geraldo Blay Roizman (da USP), Filippi Fernandes (da UFF / Arquivo
Mário Peixoto) e o premiado cineasta Joel Pizzini, estão entre os nomes. O
participante ainda poderá ver a exibição de filmes, entre eles, a cópia
recém-restaurada pela World Cinema Foundation de Limite, obra-prima
de Mário Peixoto e da cinematografia brasileira. Todas as informações estão
disponíveis aqui.
>>> Brasil: Ganham
edição obras inéditas de Luigi Pirandello por aqui
As mais
recentes edições da obra do escritor por aqui são as da Companhia das
Letras. O leitor tem agora a chance de ampliar essa biblioteca. No final do
mês chega às livrarias uma coletânea que reúne cinco peças do aclamado
dramaturgo: O torniquete, Limões da Sicília (1910), A patente (1917), O homem com a flor na boca e O
outro filho (1923). A edição sai pela Editora Carambaia.
É ilustrada com fotografias de objetos que remetem aos textos e é apresentada
num evento dedicado a Pirandello na USP. A tradução é de Maurício Santana Dias.
Em 2017 se passam 150 anos do nascimento do italiano.
Quinta-feira,
09/11
>>> Brasil: A poesia da
portuguesa Cláudia Lucas Chéu
Ratazanas é o primeiro livro de Chéu por aqui; um livro que se situa algures entre a
poesia e a dramaturgia – um híbrido literário. Os textos que o compõem surgem
na continuidade, temática e atmosférica, dos seus livros anteriores: um universo
lexical característico da decrepitude, da caducidade, da decadência, do
esboroamento, da ruína, em suma, da putrefação e da abjeção. A edição é da
Demônio Negro. A escritora nasceu em Lisboa em 1978 e tem vasta obra como
poeta, dramaturga e argumentista.
>>> Brasil: O selo Biblioteca Azul,
da Globo
Livros apresenta livro de dissidente norte-coreano que se tornou um
libelo contra o regime ditatorial em seu país
"Este
livro enfatiza o valor de uma sociedade aberta na qual muitas vozes podem ser
ouvidas - não apenas uma voz autoritária." Assim, a escritora Margaret
Atwood indicou a leitura de The accusation para Donald Trump. O
livro escrito sob o pseudônimo de Bandi reúne 7 contos que traçam um poderoso
retrato da vida sob o regime norte-coreano e será publicado no Brasil no começo
de 2018. Este livro não passava de um manuscrito antigo, com 743 páginas
encadernadas, mas graças à campanha realizada por Do Hee-Youn, ativista que faz
campanha pelos direitos humanos na Coreia do Norte, ganhou novos ares. Vendido
como o primeiro manuscrito de um escritor dissidente vivo da Coreia do Norte
contrabandeado para fora do país The accusation (A acusação, trad.
livre) foi escrito de forma meticulosa no grosseiro papel marrom usado no país.
O autor escreveu sobre viver "como uma máquina que falava, um humano
oprimido". Já foi traduzido em 18 línguas e publicado em 20 países. Bandi
(Vagalume, em português) é um pseudônimo escolhido pelo autor. Em um dos 50
poemas contrabandeados com o manuscrito de The accusation, ele
explica a opção. Bandi foi "destinado a brilhar apenas em um mundo de
escuridão", diz. No livro, a Coreia do Norte é um país em que uma mulher é
programada para mostrar sua tristeza pela morte de Kim Il Sung com flores,
lágrimas caudalosas e um grito desesperado de "Grande Líder, Pai!" –
mesmo quando seu marido está definhando em um campo de prisioneiros políticos.
Sexta-feira,
10/11
>>> Brasil: Clarice
Lispector tradutora de Edgar Allan Poe
Com Os
crimes da rua Morgue o escritor estadunidense inaugurou, em 1841, a
moderna literatura policial e criou um de seus mais célebres detetives, o até
hoje reverenciado Auguste Dupin. O conto, que narra a memorável investigação do
assassinato de duas mulheres em um quarto fechado, é o carro-chefe desta
reunião de histórias de terror e mistério traduzida Clarice Lispector. Grande
leitora e fã da literatura policial, a escritora, que também verteu para o
português os livros de Agatha Christie sob o pseudônimo de Mary Westmacott,
empresta seu talento invulgar ao gênio de Poe, trazendo para o leitor
brasileiro histórias como a vingança de um gato preto contra o dono cruel; as
tormentas de um sobrevivente em um aterrorizante navio-fantasma; a paixão pelo
vinho como armadilha para uma atroz cilada; a misteriosa doença que destrói os
últimos descendentes de uma rica família; a tétrica obsessão de um homem pelos
dentes da prima; e a amada que retorna da morte para ocupar o seu lugar de
direito.
>>> Brasil: Uma
caixa com a ficção completa de Guimarães Rosa
No próximo
dia 19 de novembro passam-se cinquenta anos da morte do mestre de Grande sertão:
veredas. Para assinalar esta ocasião formam-se eventos para discutir a
obra de Rosa e um deles será marcado pela reapresentação de uma caixa com toda
sua obra. Os vários e famosos contos reunidos em coletâneas como
Sagarana e No urubuquaquá, no pinhém, entre outras; as
novelas e ainda os romances integram a biblioteca que a editora Nova Fronteira
apresenta como "Ficção completa". O leitor deve lembrar as várias
edições apresentadas pela casa no novo projeto editorial sobre a obra do
escritor. Então, esta é mais uma.
>>> França: Em Paris, publicam-se as cartas de
amor entre Albert Camus e sua amante
Ele a chama "Mon amour chéri"; ela responde "Mon cher amour". A correspondência amorosa
entre o escritor francês e a atriz franco-espanhola María Casares vem a lume. E
arde de paixão. "Suas cartas fazem com que o mundo seja mais vasto, mais
luminoso, o ar melhor respirável, simplesmente porque existiram", escreve
Catherine Camus, filha do escritor Prêmio Nobel de Literatura, quem promoveu a
apresentação das 865 cartas inéditas agora publicadas. Os dois, Casares e Camus
se conheceram em Paris no dia 6 de junho de 1944, dia do desembarque aliado na
Normandia da Segunda Guerra Mundial. Ela tinha 21 anos, ele 30 e estava casado
com Francine Faure, mãe dos gêmeos Catherine e Jean. Quando se conhecem
Francine está na Argélia e regressa a Paris em setembro – destroçada, María Casares rompe com
o amante. A separação dura 4 anos, mas no dia 6 de junho de 1948 os dois se
encontram por acaso numa rua em Paris e recobram o amor que não mais será
rompido. Nas cartas os dois falam muito de seus trabalhos, das viagens e da
paixão amorosa vivida por eles. Camus escreve à sua "pequena gaivota", sua "truta negra", sua "saborosa": "Estou impaciente. Imagino o momento em que
fecharemos a porta de teu quarto", escreve ele. "Estou que ardo, por dentro e
por fora. Tudo arde, alma, corpo, em cima, embaixo, coração, carne [...]
Entendes? Entendes bem?", escreve Casares. Foram 12 anos de cartas. Mais de 1300
páginas. A última carta de Camus é de 30 de dezembro de 1959. "Última carta",
escreve o autor de forma premonitória em sua casa do sudeste francês desde
novembro desse ano; anuncia que finalmente voltará "de carro" a Paris no dia 4
de janeiro. "Até logo, minha preciosa. Estou tão contente com a ideia de voltar
a te ver, que rio enquanto escrevo". Camus nunca chegou a Paris. Morreu num
acidente de carro no caminho para a cidade. María Casares morreu em 1996, aos
74 anos.
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