Boletim Letras 360º #243

No início da semana, dois espaços virtuais do Letras premiou leitores: na nossa página no Facebook sorteamos Zero K, o novo romance do escritor estadunidense Don DeLillo, e A família Manzoni, da escritora italiana Natalia Ginzburg; no Twitter @Letrasinverso sorteamos a caixa Lewis Carroll da Editora 34, que reúne os livros As aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou lá. Alcançamos assim a marca de 181 livros distribuídos em cinco anos. Contas prestadas, vamos às notícias que copiamos durante a semana em nossa página no Facebook.

O romance inédito de Ariano Suassuna chega às livrarias brasileiras.


Segunda-feira, 30/10

>>> Brasil: A Editora Carambaia publicará um dos romances da lista de inéditos por aqui e que celebra 100 anos da primeira edição agora em 2017

Falamos sobre Húmus, de Raul Brandão. A obra considerada uma das mais inovadoras de literatura portuguesa do século XX, admirada por escritores como José Saramago, foi publicada em 1917. Mesmo assim, no mercado editorial brasileiro, falta-nos uma edição publicada por aqui. Para assinalar a data comemorativa e suprir essa lacuna, uma edição especial é apresentada pela Carambaia em meados de novembro. A obra-prima de Brandão é o primeiro romance existencialista português que inclui traços do expressionismo literário. Trata-se de um romance-monólogo, centrado em dois monólogos interiores: o primeiro orador, sem nome, e o seu alter-ego – um filósofo lunático chamado Gabiru. Ambos registram a vida que decorre numa pequena vila, ao longo de um ano, exprimindo o que veem e o que sentem, em perspectivas diferentes, expondo assim a contradição entre o mundo aparente e o autêntico. A edição brasileira traz prefácio de Leonardo Gandolfi. 2017 assinala ainda o 150º aniversário do escritor português.

>>> Brasil: O primeiro livro de Hernán Ronsino a ser publicado no Brasil, Glaxo

Saindo de uma sessão do cinema local, um grupo de rapazes reencena por brincadeira o momento decisivo do faroeste a que acabam de assistir: olho no olho, preparam-se para um duelo. Um fará as vezes de Anthony Quinn, o outro será Kirk Douglas. Poucos instantes depois, um deles rolará pelo chão, atingido por uma bala imaginária, para o riso de todos. Não sabem, mas estão ensaiando seu próprio destino, vivido entre o acanhamento de uma cidadezinha fabril e a vastidão do pampa argentino. Alternando entre as vozes de quatro personagens, Glaxo é um verdadeiro quebra-cabeça, que cabe ao leitor remontar. Nas poucas páginas desta novela vertiginosa, Hernán Ronsino à maneira de William Faulkner ou Selva Almada, traça com maestria os contornos trágicos de uma história em que se cruzam desejo e vingança, amizade e covardia, a violência política e o desmonte de um país. A tradução de Livia Deorsola sai pela Editora 34.

Terça-feira, 31/10

>>> Brasil: O escritor e crítico literário Silviano Santiago é o ganhador na categoria romance por Machado

Este ano, foram inscritos 2.460 livros. E há duas novas categorias na premiação: História em Quadrinhos e Livro brasileiro publicado no exterior. Em "Machado", editado pela Companhia das Letras, Silviano Santiago oferece uma perspectiva totalmente original e audaciosa dos últimos anos de vida de um dos maiores romancistas de todos os tempos, Machado de Assis. O livro concorre, ainda, ao Prêmio São Paulo e Oceanos. No Jabuti, em segundo lugar ficou Cristovão Tezza, com A tradutora, e em terceiro, Maria Valéria Rezende, com Outros cantos. A escritora Veronica Stigger venceu com Sul (Editora 34), na categoria contos e crônicas. Quase todas as noites, de Simone Brantes (7letras) ganhou na categoria poesia. Os vencedores das 29 categorias recebem os prêmios na cerimônia de entrega no 30 de novembro, no Auditório Ibirapuera, quando serão conhecidos os vencedores do Livro do Ano de Ficção e do Livro do Ano de Não-Ficção. Este ano, Ruth Rocha é a homenageada pelo conjunto da obra.

>>> Uma nova edição de Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe

Sai pela Companhia das Letras. São dezoito contos assombrosos de Edgar Allan Poe, com seleção, apresentação e tradução do poeta José Paulo Paes. Este livro traz, entre outras obras-primas do mestre do suspense e do mistério, "A carta roubada", "O gato preto, "O escaravelho de ouro", "O poço e o pêndulo", "Assassinatos na rua Morgue" e "O homem da multidão". O caráter macabro das histórias, dotadas de profundidade psicológica e imersas em uma atmosfera eletrizante, continua a conquistar novos leitores e a afirmar sua condição de clássico. Nas palavras de Paes, "Poe sempre consegue […] provocar-nos aquele arrepio de morte ou aquela impressão de vida que, em literatura, constituem o melhor, senão o único, passaporte para a imortalidade". A edição em capa dura e ilustrada inclui textos de Charles Baudelaire, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, que reverenciam o estilo hipnotizante do escritor mais sombrio de todos os tempos.

Quarta-feira, 01/11

>>> Brasil: Poema-piada. Breve antologia de poesia engraçada reúne 27 nomes da poesia brasileira

A seleção realizada por Gregorio Duvivier traz vozes e humores muito diferentes para uma antologia que sai pela Ubu Editora: de Alice Ruiz a Zuca Sardan, passando por Alice Sant'Anna, André Dahmer, Angélica Freitas, Bith, Bruna Beber, Bruno Brum, Cacaso, Chacal, Eduardo Kac, Eudoro Augusto, Francisco Alvim, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Gregório de Matos, Hilda Hilst, José Paulo Paes, Leila Míccolis, Mano Melo, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Oswald de Andrade, Paulo Leminski, Pedro Rocha. Mas, afinal, o que seria um poema-piada? Nas palavras de Duvivier, "Tem poesia que nem conversa com o humor: do alto da torre de marfim, olha pro humor todo esfarrapado e finge que não vê. Tem humor que não quer saber de poesia: atropela a ingenuidade do poeta lírico com o trator do cinismo. Às vezes acontece da poesia e o humor se esbarrarem por aí e terem uma noite inesquecível. No Brasil, aconteceu tantas vezes que os dois gêneros se casaram – se é que se pode chamar de casamento uma união tão bem sucedida. O matrimônio foi celebrado com um hífen, nascendo assim o 'poema-piada'. Neste livro estão reunidos alguns dos seus filhos: poéticos como os vaga-lumes, engraçados como os vira-latas, insólitos como a fruta-pão."

>>> Brasil: Um conjunto de obras integrante de uma nova coleção publicada pela Editora 34 ganha seus dois primeiros títulos

Há alguns meses, havíamos notificado os leitores da série "Narrativas da Revolução", dirigida por Bruno Barreto Gomide. Publicadas na década de 1920, são cinco obras de ficção que dialogam diretamente com a Revolução Russa de 1917. Duas delas saem agora no início do mês: 1. Inveja, de Iuri Oliécha foi saudada como um acontecimento radicalmente novo no ano de sua publicação, em 1927. A trama vertiginosa que beira o nonsense, a ambiguidade psicológica dos personagens, a exaltação de sentimentos contraditórios (da arrogância à auto-humilhação, do amor à inveja desvairada), aliados a uma imaginação desenfreada e um domínio completo do tempo e do espaço narrativos, resultaram numa obra de grandeza ímpar, que contrapõe um jovem idealista e sentimental (possível alter ego do autor) a um poderoso diretor de indústrias do novo regime soviético. A tradução é de Boris Schnaiderman. 2. O diário de Kóstia Riábtsev é de 1926; foi uma das primeiras obras soviéticas de ficção a obter repercussão mundial. Seu autor, Nikolai Ognióv, foi pedagogo dedicado, militante bolchevique e autor de peças infantis. Neste romance de formação experimental, Ognióv desloca a ação para o ambiente escolar, que se torna uma espécie de microcosmo da União Soviética. Kóstia, o narrador do Diário, é um garoto impulsivo e franco. Seu estilo livre e sem cerimônias permite que o autor trate abertamente e com muito humor dos principais temas do período pós-revolucionário – a politização da juventude, o comportamento sexual, o alcoolismo e o problema dos órfãos desabrigados. A tradução é de Lucas Simone.

Quinta-feira, 02/11

>>> Brasil: A partir da primeira semana de dezembro as livrarias recebem o tão esperado último livro de Ariano Suassuna

Foi concluído poucos dias antes de sua morte. Anunciado para este ano, depois para 2018, e agora, de novo, para este ano. O Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores é uma espécie de testamento literário do autor, que procura integrar, na narrativa, elementos do seu teatro, da sua poesia, da sua prosa de ficção e do seu ensaio. Composto por cartas assinadas por Antero Savedra sob o pseudônimo de "Dom Pantero", publicadas em um suplemento de jornal, o romance conta a trajetória de um misto de escritor, ator, encenador, professor e palhaço que dedica a sua vida à realização de uma grande obra, intitulada A Ilumiara e escrita a partir das obras dos seus irmãos, o romancista Auro Schabino, o dramaturgo Adriel Soares e o poeta Altino Sotero. A edição sai pela Editora Nova Fronteira que tem aproveitado essa ocasião solene para reeditar a obra de Suassuna com novo projeto gráfico.

>>> Brasil: Filme sobre a vida da poeta Cora Coralina chega em breve aos cinemas

O documentário Cora Coralina. Todas as vidas, dirigido por Renato Barbieri tem Tereza Seiblitz, Walderez de Barros, Beth Goulart, Maju Souza no elenco e mescla depoimentos, gravações antigas com a própria poeta e interpretações.

>>> Brasil: Outra lacuna a ser preenchida. A partir de 2018, leitores brasileiros terão alguma amostra da obra de Silvina Ocampo

Escritora, contista e poeta. Irmã de Victoria, casada com Adolfo Bioy Casares e amiga de Jorge Luis Borges  três outras estrelas que terão ofuscado o brilho de Silvina. Mas com o tempo sua obra tem sido reconhecida e é já considerada uma das autoras fundamentais do século XX. A Companhia das Letras publicará uma antologia de contos de Silvina Ocampo; são textos selecionados de três livros dela: Autobiografía de Irene (1948), La furia (1959) e Las invitadas (1961).

Morreu o romancista russo Vladimir Makanin

O escritor é considerado um dos mestres da literatura contemporânea russa. Obteve sucesso logo com o seu romance de estreia Linha reta, publicado em 1965, mas não chegou a fazer parte da União de Escritores da União Soviética até 1985. Durante as décadas seguintes, Makanin escreveu vários livros  além de romances, antologias de contos. Do primeiro, destaque para Azul e vermelho, Retrato e ao redor e Antilíder. Após a queda da União Soviética, escreveu Underground ou o herói de nosso tempo, considerado o seu melhor livro. Data de 2008. Várias de suas obras foram adaptadas pelo cinema, como O prisioneiro do Cáucaso, no qual aborda a difícil relação dos russos com a região-título da obra; suas influências aqui são claras a importantes nomes da tradição literária: Púchkin, Lermontov e Tolstói. Ao longo da carreira, Makanin recebeu vários prêmios no país e em 2012 recebeu o Prêmio Literário Europeu. Sua obra é ainda inédita no Brasil.

Sexta-feira, 03/11

>>> Brasil: Revista assinala a obra de um dos criadores mais significativos da cultura brasileira

Mário Peixoto. Ligado a nomes como Clarice Lispector, Lúcio Cardoso, entre outros; autor de um livro elogiado por Jorge Amado e do qual apenas o primeiro volume, de um total de seis, foi publicado, O inútil de cada um; autor do celebrado filme Limite, elogiado por nomes como Orson Welles e peça de culto da cinematografia brasileira; e exímio poeta. Todas as facetas do artista são exploradas por estudiosos de sua obra numa edição que traz, além de ensaios, material diverso de arquivo e inéditos; todas as facetas serão discutidas num evento no Rio de Janeiro alusivo à memória e à obra do autor. Mário Peixoto é o centro da atenção na edição n.14 da Revista 7faces, que estará disponível online neste mês de novembro e fará parte num simpósio onde, além do debate será possível ver Limite, a cópia recém restaurada pela World Cinema Foundation.

>>> Brasil: As cartas entre Antonio Candido e o uruguaio Ángel Rama serão publicadas

A edição sai pela editora Ouro Sobre Azul em parceria com a Edusp; são correspondências que cobrem o período de 1960 a 1983, ano em que Rama morreu em um desastre aéreo. Nas cartas, os dois críticos e amigos mostram-se interessados na integração das letras brasileiras ao panorama maior de literatura latino-americana, comentam o boom dos autores do continente, e falam de grandes acontecimentos do século XX, como as ditaduras e a Guerra das Malvinas.

>>> Brasil: Uma caixa reúne três das principais obras de Franz Kafka

O fabuloso romance A metamorfose, no qual Gregor Samsa, um caixeiro-viajante, certo dia ao acordar, descobre que se metamorfoseou em algo semelhante a um gigantesco inseto. O processo, considerado um dos maiores romances do século XX, e que narra a história de Josef K., um funcionário exemplar de um banco importante, que ao acordar na manhã de seu trigésimo aniversário, descobre-se réu de um processo sem, no entanto, saber os motivos que levaram a essa situação. E O castelo. O romance de 1922, mas lançado somente depois da morte de Frank Kafka, conta a história do agrimensor K. – mesmo sobrenome do protagonista do livro O processo –, que é chamado por um conde de um local não especificado para prestar seus serviços. Contudo, por mais que tente, não consegue entrar no castelo, ficando na vila de fora do castelo ao longo da narrativa.

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