Boletim Letras 360º #242
Uma semana marcada por muitas notícias sobre temas e nomes da linha editorial do blog. Das alegrias, como o Prêmio José Saramago a Julián Fuks e reedições de obras muito queridas, às tristezas, como a notícia que abre este Boletim, a da morte da escritora, poeta e ilustradora Angela Lago. Eis o que circulou pela linha do tempo da página do Letras no Facebook, que hoje, realiza um sorteio em que um leitor levará Zero K, de Don DeLillo e A família Manzoni, de Natalia Ginzburg.
Sylvia Plath em Veneza. Ganha reedição no Brasil os diários da escritora estadunidense. |
Domingo,
22/10
>>> Morreu
Angela Lago
A
ilustradora, poeta e escritora nasceu em Belo Horizonte em 1945 e seus trabalhos são essencialmente voltados para crianças e jovens. Foi mesmo uma das
autoras mais importantes da literatura infantil no Brasil. Recebeu diversos prêmios por
seus livros. São dela, por exemplo, livros como O bicho folharal (2005), João Felizardo, o rei dos negócios (2006) Um livro de horas (2008) e Menino Drummond (2012) – literatura infanto-juvenil; e em poesia O cântico dos cânticos (2013) e O caderno do Jardineiro,
editado no ano 2016 e seu mais recente trabalho.
Segunda-feira,
23/10
>>> Chile: Um novo
passo sobre a causa mortis de Pablo Neruda
Especialistas
e peritos, chilenos e estrangeiros, determinaram que o escritor Prêmio Nobel de
Literatura não morreu devido às complicações de um câncer de próstata, versão
oficial que se conhece para o fato que ocorreu um dúzia de dias depois do Golpe
de Estado e que começou a ser questionada publicamente há pelo menos quatro anos (cf. temos
acompanhado com várias publicações no blog). Mario Carroza, o juiz que conduz a
causa, manteve as pesquisas em torno dos materiais coletados depois dos
primeiros estudos afastarem a hipótese de morte administrada. Segundo ele,
"as conclusões apontam para uma condição que têm a ver com a descoberta de
uma nova toxina a qual requer novos exames para uma conclusão definitiva".
A descoberta também levará a compreender se a morte foi conduzida por terceiros
como se suspeita. "Se tudo correr bem, no prazo de um ano teremos uma
resposta concreta e clara dos estudos sobre o genoma bacteriano. É o perfil
genômico que definirá se a toxina agora encontrada nos exames foi proveniente
de uma bactéria cultivada em laboratório – se sim, é evidente que estaríamos
ante a intervenção de um terceiro que haveria administrado com a finalidade
criminosa", concluiu. O trabalho é em torno da hipótese de que a morte do
poeta estaria relacionada com a inoculação do "estafilococo dourado", uma
bactéria altamente agressiva e resistente à penicilina, que acelerou a sua
morte. Esta bactéria foi utilizada frequentemente pela ditadura militar de
Pinochet (1973-1990) para eliminar os opositores do regime. Os restos mortais
de Pablo Neruda foram enterrados em definitivo em 2016, na Isla Negra, como era de seu desejo.
>>> Brasil: Nova
tradução para um clássico da Literatura Russa: O mestre e Margarida
Redigido
entre 1928 e 1940, mas publicado integralmente na União Soviética somente em
1973, o romance de Bulgákov afirma-se ainda hoje como um dos mais
surpreendentes da literatura mundial. A narrativa se dá em torno fantástica
chegada do diabo em plena Moscou comunista dos anos 1930. Tudo começa em uma
tarde de primavera, quando Satanás e seu séquito diabólico decidem visitar a
cidade e encontram poetas, editores, burocratas e todo tipo de pessoas tentando
levar a vida em pleno regime comunista. Depois dessa visita, nada será como
antes: um rastro de destruição e loucura mudará o destino de quem cruzá-lo. A
brilhante narrativa de Bulgákov vai muito além de seus aspectos fantásticos e
cômicos. Com um estilo absolutamente original, Bulgákov aborda a liberdade da
escrita e a força do amor em tempos adversos, e faz uma sátira devastadora da
vida sob o regime soviético.A nova tradução, realizada por Irineu Franco
Perpetuo sai pela Editora 34.
>>> Brasil: A partir de
2018, Alan Pauls pela Companhia das
Letras
A editora
comprou quatro obras do escritor argentino incluindo seu romance novo, ainda
sem título, sobre uma história de amor entre Buenos Aires e Berlim. Dele, a
casa também publicará O fator Borges, ensaio sobre o autor de O Aleph, O passado e A vida descalço, estes
dois últimos estavam com a extinta Cosac Naify.
Terça-feira,
24/10
>>> Brasil: Três novos
títulos ampliam a coleção brasileira "A arte da novela", editada pela Editora
Grua Livros
São eles: Lady Susan, de Jane Austen; O quarto de Jacob, de
Virginia Woolf; e Na baía, de Katherine Mansfield. Este último
título sai no Brasil em edição própria pela primeira vez. Dividido em treze
capítulos curtos, o livro foi publicado pela primeira vez em janeiro de 1922 no
jornal London Mercury e depois na coletânea A festa ao ar
livre; Na baía é uma obra representativa da fase mais madura
da escritora. Já a história Lady Susan destoa das tradicionais
heroínas criada por Jane Austen e das protagonistas clássicas dos romances do
século XIX. Ciente de sua beleza e carisma, ela seduz e manipula, comporta-se
de forma egoísta, inclusive em relação à filha. Também não demonstra nenhum
arrependimento ao se envolver com um homem casado, sem sofrer punição moral por
isso. E na mesma linha do destoante, O quarto de Jacob é um ponto
fora da reta na coleção da Grua Livros. Trata-se do terceiro romance de
Virginia Woolf e o primeiro publicado na Hogarth Press, editora que havia
fundado com Leonard Woolf em 1917. A mudança de editora significou para
Virginia Woolf a libertação da escrita e da escritora. Obra inovadora, aí estão
presentes as sementes de um modernismo e de uma literatura que alia o rigor ao
experimental e que a colocaria no rol dos mais importantes autores do século
XX.
>>> Brasil: Duas caixas
reúnem todos os romances de Clarice Lispector
A ideia é
da Editora
Rocco, responsável pela publicação da obra da escritora no Brasil. Na
primeira caixa mais de mil páginas reúnem Perto do coração
selvagem, O lustre, A cidade sitiada e A
maçã no escuro; na segunda, A paixão segundo G. H., Uma
aprendizagem ou o livro dos prazeres, Água viva, A hora
da estrela e Um sopro de vida. Aqui, somam-se 674 páginas. O
projeto chega às livrarias no final do mês de outubro.
>>> França: As cartas de
Marcel Proust estarão online
Digitalizar
e disponibilizar online de forma gratuita cerca de 6 mil cartas escritas ou
recebidas pelo escritor francês; é o projeto das universidades estadunidense de
Illinois e francesa de Grenoble, entre outras. A relação entre o autor de Em busca do tempo perdido e a universidade do norte dos Estados
Unidos se encontra na figura de um de seus professores, Philip Kolb. Graças a
ele, toda a correspondência conhecida e acessível de Marcel Proust, cerca de
5.300 cartas divididas em 21 volumes, foi publicada, e outras centenas
identificadas. As trocas de correspondência do escritor francês foram muito
maiores, 20 mil documentos, segundo Kolb, mas a maioria foi destruída, ou
extraviada. A Universidade de Illinois já comprou 1.200 cartas e continuará
comprando enquanto o orçamento permitir, indicaram o professor François Proulx
e a bibliotecária responsável pela coleção, Caroline Szylowicz. As missivas
daquele que é considerado por muitos o escritor francês mais importante do
século 20 são regularmente leiloadas por dezenas de milhares de euros. O
projeto de digitalização começará por um lote de 200 cartas relacionadas à
Primeira Guerra Mundial, que têm a sua disponibilização online prevista para
novembro de 2018, para o centenário do armistício. As cartas serão acompanhadas
de uma indicação a fim de permitir que o leitor decifre a escrita de Marcel
Proust, que nem sempre é fácil de ler e também disponibilizará links para
artigos da imprensa aos quais as missivas fazem referência.
Quarta-feira,
25/10
>>> Portugal: Por A
resistência, Julián Fuks é o vencedor do galardão que leva o nome do
escritor Prêmio Nobel de Literatura
Em 2016, A
resistência foi um dos livros nacionais mais celebrados: lançado em 2015, foi
eleito o Livro do Ano de ficção pelo Prêmio Jabuti e ficou também com o segundo
lugar no Oceanos (antigo Portugal Telecom). Agora, ele coloca mais uma
importante premiação na sua lista: o Prêmio José Saramago, anunciado nesta
quarta-feira na sede da Fundação José Saramago. Criada em 1999 e entregue
bianualmente, a premiação já elegeu nomes como Adriana Lisboa, José Luís
Peixoto, Gonçalo M. Tavares e Valter Hugo Mãe, e é destinado a jovens
escritores, com menos de 35 anos. Para Ana Paula Tavares, membro do júri,
"o livro de Julián Fuks é uma história com várias histórias dentro e o ato
de narrar desvela o nó das convergências que só se percebe pelo alinhamento da
palavra em torno do que diz e do que esconde esse pacto da memória que toda a
família transporta e passa de geração em geração". Já para António Mega
Ferreira, que também compõe o júri, "há tantas coisas neste curto romance,
tantas e tão desafiantes, que, às vezes, parece que a narrativa vai implodir.
Mas não: com mestria literária notável, o autor suspende os momentos
suscetíveis de desencadear as catástrofes à beira de qualquer desenlace, porque
o romance não deve ser mais cruel do que a vida". Leia notas sobre a obra publicadas no Letras.
>>> Brasil: O primeiro
livro da parceria entre a Editora Moinhos e
a Sagarana
editora forlag chega às livrarias em novembro
Nona
manhã, de Carl Jóhan Jensen, poeta cuja literatura não segue várias das
tendências contemporâneas: sua poesia é quase barroca com sua linguagem
torneada e seus floreios verbais. Quando se trata de criar novas palavras e
novos significados a partir dos antigos, Carl Jóhan Jensen é influenciado pelo
seu antecessor, o poeta Regin Dahl (1918-2007). Regin era, da mesma forma que
Carl Jóhan, um profundo conhecedor do idioma feroês, criado que fora num
ambiente que lhe proporcionou uma enorme riqueza linguística. A poesia de Carl
Jóhan Jensen lança um desafio ao leitor. A poética dele é tão meticulosa que,
para a maioria dos leitores, se mostra enigmática à primeira vista. Porém, se o
leitor se entregar à leitura repetida dos poemas, eles se tornam prenhes de
significados e atmosferas infinitas. O livro é o primeiro da língua feroesa a
ser traduzido e publicado no Brasil. A tradução é de Luciano Dutra.
>>> Brasil: O Arquivo
Lima Barreto foi selecionado para ser incluído no Programa Memória do Mundo da
Unesco
A informação
é da Fundação Biblioteca Nacional, detentora do arquivo do escritor carioca,
que inclui, dentre os 1.126 documentos, recortes de jornais, originais
literários, anotações sobre literatura, material relativo à publicação de
livros (contratos, recibos, faturas...), documentos pessoais e correspondência
enviada e recebida pelo titular e terceiros. É mais uma grande notícia para a
memória de Lima Barreto, que neste ano foi homenageado na Festa Literária
Internacional de Paraty. O programa internacional Memória do Mundo foi
estabelecido pela Unesco em 1992, com o objetivo de aumentar a conscientização
sobre a condição lamentável de preservação e o acesso ao patrimônio documental
em várias partes do mundo. Bem preservado por seu primeiro biógrafo, o
jornalista Francisco de Assis Barbosa, o acervo do escritor tem cartas com
personalidades importantes de seu tempo, como Monteiro Lobato, Olavo Bilac,
Pascoal Carlos Magno, Carlos Sussekind de Mendonça, Herbert Moses, Mário
Pederneiras, Francisco Schettino, entre outros. Inclui pelo menos uma crônica
inédita ("Portugueses na África") e os originais dos Diários do Hospício.
Quinta-feira,
26/10
>>> Brasil: O novo
título de Patricia Portela por aqui
A
coleção privada de Acácio Nobre, obra que dissemos aqui noutra ocasião
que chegaria ao Brasil, aí está. Sai pela Editora Dublinense.
Lindando com a ideia de que algumas vezes, o personagem que todo mundo deveria
conhecer é justamente aquela que acaba apagada da história, Patricia Portela
explora a figura do gênio português Acácio Nobre, alguém que sempre esteve
muito à frente de seu tempo e não por acaso teve quase todos os seus
rastros destruídos pela ditadura salazarista. Artista, cientista, matemático,
bioengenheiro, poliglota, apoiador de tudo que pudesse ser genuinamente
revolucionário, conviva de Fernando Pessoa, Herman Melville e até Einstein,
Acácio construiu quebra-cabeças geométricos, projetou construções impossíveis,
inventou o que pode ser considerado um precursor do vídeo-game, planejou e
lutou sozinho por uma refundação do sistema educacional português, envolveu-se
nas vanguardas artística e literária. Tudo isso está captado pela narrativa de
Patricia Portela.
>>> Brasil: A Editora Hedra e
o Selo Demônio
Negro preparam um conjunto de plaquetes com traduções e poemas
inéditos no Brasil
Para começo,
a coleção apresenta quatro plaquetes. Em Meninas que vestiam preto,
uma amostra da lírica de cinco grandes autoras da geração beat: Anne Waldman,
Diane di Prima, Elise Cowen, Marie Ponsot e Denise Levertov. A seleção e
tradução dos poemas é de Vanderley Mendonça. Em retrato de Maiakóvski
quando jovem, Augusto de Campos traduz cinco poemas escritos entre 1912 e
1915, às vésperas da Revolução Russa, dando a conhecer um Maiakóvski ainda
muito influenciado estilisticamente pela geração anterior dos simbolistas, sem,
todavia, deixar de exprimir o seu comprometimento com a causa proletária e o
desejo de erigir um novo mundo e uma nova arte. O terceiro título é Dito
ao anoitecer, da alemã Ingeborg Bachmann tem tradução de Matheus Guménin
Barreto, que apresenta o leitor brasileiro a grande potência lírica de uma
autora cujo trabalho com a linguagem converge para as oposições entre claro e
escuro, sombra e luz, conhecimento e instinto, novo e antigo, em empenhado
apuro estético. E, por fim, Cântico de Orge, de Bertolt Brecht -
canto aos prazeres diários e fisiologicamente imprescindíveis, em óbvia sátira
antiburguesa. A tradução deste é de Matheus Guménin Barreto.
>>> Itália: O
Diário de Anne Frank será lido em estádios de futebol
As
autoridades do futebol italiano, reagindo a manifestações de antissemitismo de
torcedores da Lazio, ordenaram que os estádios façam um minuto de silêncio em
suas próximas partidas enquanto uma passagem do famoso livro de Anne Frank, uma
vítima do Holocausto, é lida em voz alta. Adesivos mostrando Anne Frank com a
camisa da Roma, rival da Lazio na capital italiana, foram encontrados em
paredes e banheiros de um setor do Estádio Olímpico de Roma usado por torcedores
da Lazio durante uma partida do time contra o Cagliari no Campeonato Italiano
no domingo. O incidente foi duramente criticado por políticos e pela mídia da
Itália, e o presidente italiano, Sergio Mattarella, o classificou como
"desumano e alarmante para nosso país".
Sexta-feira,
26/10
>>> Brasil: O Selo Biblioteca Azul anuncia
a tão esperada reedição dos Diários,de Sylvia Plath
Nesta nova edição,
a Biblioteca Azul traz os diários de uma das poetas mais aclamadas do século
XX, traduzidos dos manuscritos originais do Smith College, além de um caderno
de fotos com imagens de vários períodos da vida da autora. Sylvia Plath começou
a escrever memórias e diários aos onze anos, o que fez até sua morte, aos
trinta. A narrativa central desta edição abrange oito diários de sua vida
adulta, de 1950 a 1962, dispostos separadamente, em ordem cronológica, além de
quinze fragmentos de diários e cadernos de anotações, escritos entre 1951 e
1962, organizados também cronologicamente como apêndices. Os relatos de seus
anos como universitária, no Smith College, em Massachusetts, e no Newnham
College, em Cambridge, o casamento com Ted Hughes e dois anos de sua vida como
professora e escritora na Nova Inglaterra, além de rico material para os
leitores interessados na vida da poeta, lançam uma nova luz à vasta produção
poética e em prosa da autora, amplamente autobiográfica.
>>> Brasil: Lembram das
prometidas edições das novelas do Marquês de Sade anunciadas pela Editora
Carambaia e divulgadas por aqui? Ei-las!
A primeira
singularidade das chamadas Novelas trágicas é que são textos do
Marquês de Sade destituídos de descrições de atos sexuais e torturas. Foram
escritos entre 1787 e 1788, enquanto ele estava preso na Bastilha, onde se
originaram também algumas de suas obras libertinas mais conhecidas, como
120 dias de Sodoma. Ao que tudo indica, Sade escreveu essas novelas
em busca de reconhecimento literário e para tentar convencer seus leitores de
que não era o autor de livros obscenos que circulavam clandestinamente e sem
assinatura. O projeto de narrar histórias “contidas nas regras do pudor e da
decência” rendeu dezenas de novelas, das quais onze foram publicadas apenas em
1799, com o título de "Crimes do amor: novelas heroicas e trágicas".
Cinco desses textos, inéditos no Brasil, compõem o volume, além do ensaio que
Sade escreveu sobre a história e as características do gênero romance, que
serviu como prefácio ao conjunto original. Luciana Facchini assina o projeto
gráfico que traz ilustrações de Zansky e propõe um jogo que remete às atitudes
dissimuladas dos personagens das Novelas trágicas e também aos
disfarces do próprio autor. O livro vem inserido numa luva que funciona como
uma máscara: quando sobreposta aos desenhos, tanto das capas como internos,
revela traços escondidos nas ilustrações.
>>> Brasil: Depois da
reedição de Contos de horror do século XIX, ganha reedição a
antologia que reúne contos de amor
Passadas as
revoluções e guerras que, a partir de 1789, deram origem ao mundo burguês,
urbano e individualista, o século XIX vê-se às voltas com a invenção de novas
formas de organização da política, das idéias e, é claro, também do amor. É o
século vibrante do romantismo desabrido, da moral vitoriana, da paixão
melodramática, dos dramas intimistas no recesso do lar ou do inconsciente – caminhos díspares do sentimento amoroso que entretanto não param de se cruzar
de modo surpreendente. É esse o território que Alberto Manguel mapeia os textos
da antologia Contos de amor do século XIX. O ponto de partida são
Kleist e Sade, que anunciam essa era de ambiguidades. Daí, Manguel percorre
dois grandes veios. De um lado, a paixão romântica em suas modalidades
sentimentais, perversas, conjugais ou fantásticas – o universo de Balzac,
Nerval e Bécquer. De outro, o decoro vitoriano, feito de reservas, meandros e
casuísmos, tantas vezes cômicos – e aqui estamos no terreno preferido de
autores menos conhecidos no Brasil, como Elizabeth Gaskell e Ronald Firbank,
mas também de mestres como Henry James, Kipling e Jacobsen. Com sua leitura
vasta e heterodoxa, Manguel amplia ainda o raio da antologia. A escritora
canadense Tekahionwake nos apresenta o amor no âmbito não-ocidental, ao passo
que R. L. Stevenson narra o destino de uma nativa do Pacífico Sul sob o império
(literalmente) da moral européia. Por fim, numa breve obra-prima de 1903,
"Depois do baile", Tolstói estilhaça as últimas ilusões sentimentais
do século XIX e nos conduz às vésperas do turbilhão do século XX.
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