Boletim Letras 360º #241

Nesta semana, na página do Facebook do Letras, iniciamos uma nova promoção. O sorteio é realizado no dia 29 de outubro. Um ganhador. E dois títulos: Zero K, o novo romance do estadunidense Don DeLillo; e A família Manzoni, da italiana Natalia Ginzburg. As escolhas foram realizadas pelos próprios leitores do blog que nos acompanham no Instagram a partir de uma lista com alguns livros que ainda iremos ler neste restante de 2017. Para saber mais, divulgar e participar, clica aqui. 

Elenco principal de Guerra e paz, seriado da BBC que ganha estreia no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim.



Domingo, 16/10

>>> Estados Unidos: Morreu o poeta Richard Wilbur

A morte foi confirmada por seu filho Christopher; foi no sábado, 14 de out., em Belmont, Massachusetts. O poeta tinha 96 anos. Ao longo de mais de 60 anos foi aclamado como uma das mais importantes vozes da poesia estadunidense contemporânea. Wilbur seguiu uma musa que valorizava o virtuosismo tradicional sobre a auto-dramatização; por isso, ele muitas vezes se viu fora de listas nas quais as autoridades literárias preferiam o calor de artistas como Sylvia Plath ou Allen Ginsburg. Ele recebeu seu primeiro Pulitzer em 1957, e um Prêmio Nacional do Livro, também, para Things of This World. A antologia incluiu "A Wall-Fountain Baroque in the Villa Sciarra", que o poeta e crítico Randall Jarrell chamou de "um dos poemas maravilhosamente belos e quase perfeitos que qualquer estadunidense escreveu". Em 1989 voltou a receber o Prêmio Pulitzer. Anterooms, foi seu último livro de poemas publicado em vida; em 2010. Escreveu textos em prosa e traduziu ao inglês nomes como Molière, Racine e Pierre Corneille.

Segunda-feira, 16/10

>>> Brasil: O Macunaíma da Ubu Editora segue o padrão da extinta Cosac Naify e sai em duas edições distintas

Uma para colecionador. Ilustrada como monotipias de Luiz Zerbini, o livro traz posfácio de Lúcia Sá, um glossário feito por Diléa Zanotto Manfio, apresentação de Eduardo Sterzi e prefácios inéditos de Mário de Andrade. A outra edição é comercial. Mas reúne o mesmo conteúdo. As diferenças? A edição especial tem uma tiragem limitada de 250 exemplares em capa dura e a sobrecapa é uma monotipia original do artista que ilustra a edição, quem também numera e assina os exemplares. Desde que a obra de Mário de Andrade entrou em domínio público esta é, ao menos, a sexta edição de Macunaíma, publicada no Brasil em editoras diferentes.

>>> França: Uma edição de Fahrenheit 451 em que o leitor precisa queimar o livro para lê-lo

A obra de Ray Bradbury é talvez a que mais tem mexido com a criatividade de designers do livro. Há alguns anos foi realizada uma edição cuja lombada imitava a textura de uma caixa de fósforos e trazia a possibilidade de o leitor levar adiante atemática principal da narrativa: atear fogo ao livro. Agora, o coletivo de designers gráficos Super Terrain levou ao pé da letra a distopia em que os livros são matéria-prima para o fogo e desenvolveu uma versão de Fahrenheit 451 em que é preciso colocar fogo no livro para ler. Para que as páginas não sejam queimadas foi utilizado asbesto, um químico resistente ao calor, que suporta até 1000 °C. A ideia tem feito sucesso nas redes sociais e apesar da edição ainda não está à venda seus criadores aventam a possibilidade de comercializá-la em breve. Veja o vídeo aqui

>>> Brasil: Dois novos títulos de Kazuo Ishiguro ganham reedição

Trata-se de Noturnos e Quando éramos órfãos. As reedições fazem parte do projeto iniciado pela Companhia das Letras tão logo a publicação de O gigante enterrado, neste ano de 2017. O primeiro título é uma reunião de cinco narrativas onde o escritor britânico deixa de lado a solenidade distendida dos romances para dedicar-se à concisão, à leveza e ao humor concentrado dos relatos curtas. São histórias tocantes e divertidas sobre o contraste entre a genialidade e as exigências cotidianas de instrumentistas e amantes da música, em lugares como Veneza, Londres e Estados Unidos. Já Quando éramos órfãos é um romance que conta a história de Christopher Banks, um garoto inglês nascido na Shangai do início do século que fica órfão aos nove anos de idade, quando seus pais desaparecem misteriosamente. De volta à Inglaterra, torna-se um detetive de renome e circula nos meios mais refinados. Depois de rever sua cidade natal – agora palco da guerra sangrenta entre China e Japão – sua busca pelos pais passa a confundir-se com a busca pela ordem num mundo órfão, vitimado pela sombra.

Terça-feira, 17/10

>>> Brasil: Sor Juana Inés de la Cruz por Octavio Paz

Difícil de classificar, este alentado ensaio de Octavio Paz mistura biografia, história, antropologia e crítica literária para dar conta da relevância da figura de Sor Juana Inés de la Cruz, considerada a primeira escritora de língua espanhola na América. A visão de Paz sobre Juana de Asbaje, seu nome laico, nos permite vislumbrar uma fase da história do México pouco conhecida no Brasil, mas também pouco estudada pelos mexicanos do nosso tempo. Em quatro partes, trinta capítulos e um apêndice, a tradução de Wladir Dupont em mais de 600 páginas Sor Juana Inés de la Cruz ou As armadilhas da Fé nos possibilita observar simultaneamente seja a própria Sor Juana – insuficientemente conhecida no panorama universal da literatura, onde deveria se situar, em sua justa dimensão e complexidade –, seja a sociedade da Nova Espanha, um mundo encoberto pelo barroco espanhol e pelo sacrifício dos povos indígenas, cheio de dogmas e tradições, sincrético e injusto.

>>> Reino Unido: George Saunders venceu o principal prêmio da literatura em língua inglesa, Man Booker Prize, por Lincoln in the Bardo.

Trata-se do primeiro romance desse escritor estadunidense, autor de livros de contos, ensaios e livros infantis. O livro de Saunders parte do fato real da morte de Willie, filho de 11 anos de Abraham Lincoln, em 1862, e imagina que a criança fica retida no "bardo", uma espécie de limbo na religião budista tibetana. Outros mortos, no mesmo cemitério, recusam-se a aceitar o fim de sua existência, assim como Willie, que espera pelo regresso de seu pai. A obra mescla textos históricos, biográficos e cartas mas é, primordialmente, escrito em diálogos. Saunders é o segundo estadunidense a ganhar o prêmio, que existe desde 1969 e que é considerado o mais importante da literatura em língua inglesa. O primeiro foi Paul Beatty, autor de O vendido, no ano passado. Concorriam pelo prêmio, além de Saunders, os estadunidenses Paul Auster, com 4 3 2 1, e Emily Fridlund, com History of Wolves; o paquistanês Mohsin Hamid, com Exit West; e as britânicas Fiona Mozley, com Elmet, e Ali Smith, com Autumn. A obra de Saunders será publicada no Brasil em 2018 pela Companhia das Letras. Pela mesma editora, o leitor pode ter acesso aos seus contos em Dez de dezembro.

Quarta-feira, 18/10

>>> Brasil: Cama de gato, de Kurt Vonnegut

A sua obra mais reconhecida é sem dúvida Matadouro 5, mas Vonnegut é também autor de diversos outros títulos. Até nós chega esta história onde o narrador acredita ser, incontestavelmente, providência divina e modela o encontro de diversas personagens pitorescas de várias nações. Suas interações engraçadas e perturbadoras são parte do caminho que todos eles compartilham até seu destino inexorável. A ciência pode mudar o mundo, para o bem ou para o mal. É com isso em mente que um despretensioso escritor começa a trabalhar em um livro sobre um dia que mudou o curso da história: o bombardeio atômico no Japão. O ponto de partida da pesquisa é o próprio inventor da bomba, o falecido cientista Felix Hoenikker, mas, ao tentar descobrir mais sobre essa figura histórica, o escritor acaba se envolvendo com o legado de Hoenikker e com a família do cientista. Seu trabalho o guia então a inusitadas descobertas e reflexões sobre diversos aspectos da sociedade. Enquanto conhece novos personagens e até um desconhecido país caribenho com uma religião banida pelo governo , o protagonista passa por transformações pessoais e por reflexões sobre política, filosofia e religião. A tradução de Livia Koeppl sai pela Editora Aleph.

>>> Brasil: Um novo título de Haruki Murakami chega às livrarias

A tradução de Eunice Suenaga sai pela Alfaguara Brasil. Em Crônica do pássaro de corda, Toru Okada é um jovem casado e sem filhos, que leva uma vida banal em Tóquio. Quando seu gato desaparece, ele vê seu cotidiano se transformar. A partir disso, personagens cada vez mais estranhos começam a aparecer, transformando a realidade em algo digno de sonho. Com seus fantasmas invadindo o mundo real, Toru Okada é obrigado a enfrentar os problemas que carregou consigo por toda a vida. Conjugando os elementos mais marcantes da obra de Haruki Murakami, a obra fala sobre a efemeridade do amor, a maldade que permeia a sociedade moderna e o legado violento que o Japão trouxe de suas guerras. Cativante, profético, cômico e impressionante, é um tour de force sem paralelos na literatura atual.

>>> Brasil: Dois anos depois da estreia internacional, chega-nos Guerra e Paz, minissérie em seis episódios adaptada a partir do livro de Liev Tolstói

Trata-se de uma produção suntuosa da rede britânica BBC, com locações na Rússia e um elenco cheio de estrelas. Quando da estreia no Reino Unido, vários jornais russos criticaram série porque a narrativa televisiva inclui um incesto que não aparece no romance e por conter muitas cenas de sexo. Dirigida por Andrew Davies e o seriado teve mais de 6 milhões de telespectadores só no primeiro capítulo. No elenco, estão nomes como Paul Dano (Pequena miss Sunshine), Pierre Bezukhov, James Norton (Rush: No limite da emoção), Andrei Bolkonsky e Lily James (Cinderela). Ainda na Rússia, a revista cultural Afisha diz que "o romantismo de Tolstói foi transformado numa novela barata de Jane Austen". Para a revista, a série "se destina aos que não leram o livro e não têm a intenção de fazê-lo". Teremos a oportunidade de conferir numa ocasião em que o romance de Tolstói ganha reedição no Brasil pela Companhia das Letras. Os oito episódios são exibidos no canal Arte 1, aos sábados pelas 21h30 (horário de Brasília).

Quinta-feira, 19/10

>>> Brasil: Uma edição com missivas de importantes figuras da cultura brasileira

Seguindo o modelo da aclamada edição Cartas extraordinárias, organizada por Shaun Usher e Hildegard Feist, Sérgio Rodrigues reúne para a Companhia das Letras missivas de importantes figuras da cultura brasileira. Intrigas, confissões, ameaças, estratégias, declarações de amor. Um universo inimaginável que se descortina quando se lê a correspondência dos personagens marcantes da história do Brasil. Dando um novo olhar aos fatos já conhecidos e trazendo à luz cartas inéditas ou pouco difundidas, a edição Cartas brasileiras é uma saborosa coletânea de oitenta missivas recebidas ou enviadas por escritores, artistas e políticos — de Elis Regina a Olga Benário, de Chico Buarque a Santos Dumont, de Renato Russo a Dom Pedro I —, entre outras personagens. Ilustradas por fac-símiles e dezenas de fotos e acompanhadas por breves textos que contextualizam cada carta, as missivas conduzem o leitor por um deleitoso passeio pelos grandes momentos de nossa trajetória.

>>> Brasil: Uma nova tradução para O jogador, de Dostoiévski

Realizada por Rubens Figueiredo para a Penguin / Companhia das Letras o impressionante retrato psicológico do vício destrutivo do jogo, compulsão que o próprio Dostoiévski conhecia intimamente, ganha outra edição e tradução no Brasil. O jogador retrata com perfeição a busca incessante por uma lógica que norteie o acaso e a necessidade de controle que acometem todo jogador inveterado. Numa estação de águas na sugestiva cidade alemã de Roletemburgo, Aleksei Ivánovitch, jovem professor de origens humildes, vivencia a emoção do jogo e o infortúnio amoroso enquanto tenta entender as confabulações que definirão o seu destino e o de seus próximos. Num ambiente em que fortunas se dilapidam e o futuro se decide ao sabor da sorte, a tentação do risco e a necessidade imperiosa de experimentar o abismo são o motor deste que continua sendo um dos romances mais perturbadores que o século XIX viu nascer.

>>> Brasil: Criado durante a Festa Literária Internacional de Paraty, cf. falamos aqui noutra ocasião, o livro Novos Mafuás é apresentado pela Lote 42 para todo Brasil

A obra traz crônicas de Lima Barreto e narrativas de quatro artistas. O livro foi criado na Casa do Papel, espaço voltado para as artes gráficas durante a Flip de 2017. A pesquisadora Daniela Avelar, o designer Henrique Martins, o quadrinista João Montanaro e a artista visual Vânia Medeiros foram hospedados no local para criar o livro, lançado em Paraty na manhã do quinto e último dia do evento. A coordenação da residência foi feita pelo autor e designer Gustavo Piqueira. A antologia reúne textos do escritor Lima Barreto, homenageado da Flip deste ano, publicados na imprensa em seus últimos cinco anos de vida (1918 a 1922). Os quatro residentes fizeram intervenções como ilustrações de seguranças em papel vegetal intermediando a leitura, impressões em tipografia com nomes de barcos de Paraty, uma crônica sobre uma performance durante a Flip e um ensaio fotográfico do livro submergido no mar. A obra, que está à venda para todo o Brasil pela Banca Tatuí, tem encadernação artesanal e tiragem total de 420 exemplares. A pesquisa dos textos foi realizada pelo pernambucano Yuri Pires, autor do romance A Pedra (Lote 42). Pires também assina um prefácio na obra da residência gráfica.

Sexta-feira, 20/10

>>> Brasil: Uma HQ para O velho e o mar, de Ernest Hemingway

Havia tempos que Santiago não pescava um só peixe. Sozinho, sem a companhia de seu melhor amigo — um menino que o ajudava e que muito o estima —, o velho pescador rema mar adentro e se vê cercado por água cristalina e animais marinhos. Até que fisga um peixe especial: o peixe que mudaria sua vida. Dias se passam enquanto a batalha dos dois é travada. Apesar dos sonhos e pensamentos que transcorrem em meio à solidão do alto-mar, o pescador não esmorece. A história é já conhecida de vários leitores. E agora ganha uma versão em HQ por Thierry Murat. A edição é da Bertrand Brasil.

>>> Brasil: O novo livro de Bernardo Kucinski

A adoção de um bebê por um casal que não consegue ter filhos é o fato fundador de Pretérito imperfeito, romance em que B. Kucinski conta a história de uma paternidade que começa intensa e amorosa e termina em destroços. A derrocada tem início na adolescência do menino, marcada pelo envolvimento com maconha, crack e anfetaminas, um processo descrito pelo narrador como uma busca frenética de um paraíso artificial. Entrelaçam-se nessa história de vida três situações limite: a adoção, a dependência química e o racismo. O pai narrador se pergunta: “Teria sido possível em algum momento barrar o curso dessa história? Ou estava tudo escrito no livro do destino?”. A abordagem é minuciosa e sutil, porém o estilo é seco e duro. O resultado é um texto pungente, que confirma o lugar de Kucinski como um dos escritores mais destacados da atualidade.

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