Boletim Letras 360º #236
Uma semana muito especial para a literatura brasileira: depois de quase uma década e de muitas promessas, enfim temos a data de apresentação do novo romance de Milton Hatoum [imagem]. Esta e outras informações que copiamos no mural do Letras no Facebook estão aqui reunidas.
Segunda-feira,
11/09
>>> Brasil: Lima Barreto
pornográfico. O escritor teria assinado duas histórias picantes com o
pseudônimo de Pelino Língua
As mais
recentes descobertas foram divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo. Os
folhetos são provavelmente de 1912 e até então não se sabia qual nome o
escritor havia utilizado para assinar as histórias. O autor assinou "O
Chamisco ou o Querido das Mulheres" e "Entra, Sinhór!..." como
Pelino Língua. Pelino, não custa lembrar, é uma personagem do conto "A
nova Califórnia". Foi o pesquisador Felipe Rissato quem encontrou a
novidade. Agora, dos folhetos nenhuma notícia do paradeiro; sabe-se da
existência deles graças à biografia de Francisco de Assis Barbosa. Em Triste visionário, biografia recente de Lima Barreto escrita por
Lilia Schwarcz, publicou-se dois anúncios publicitários da época sobre os textos – mas eles não diziam o nome do autor. Rissato encontrou outros anúncios, no
jornal O Rio Nu, e estes sim traziam a assinatura de Pelino Língua.
Sob o título de "Leitura alegre", "O Chamisco" é descrito
como "historieta alegre, illustrada com excellentes gravuras".
>>> Brasil: A edição do primeiro volume da série "O lugar mais sombrio", de Milton Hatoum
Nove anos após a publicação de Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum retorna à forma da narrativa longa em uma série de três volumes na qual o drama familiar se entrelaça à história da ditadura militar para dar à luz um poderoso romance de formação. Nos anos 1960, Martim, um jovem paulista, muda-se para Brasília com o pai após a separação traumática deste e sua mãe. Na cidade recém-inaugurada, trava amizade com um variado grupo de adolescentes do qual fazem parte filhos de altos e médios funcionários da burocracia estatal, bem como moradores das cidades-satélites, espaço relegado aos verdadeiros pioneiros da capital federal, migrantes desfavorecidos. Às descobertas culturais e amorosas de Martim contrapõe-se a dor da separação da mãe, de quem passa longos períodos sem notícias. Na figura materna ausente concentra-se a face sombria de sua juventude, perpassada pela violência dos anos de chumbo. Neste que é sem dúvida um dos melhores retratos literários de Brasília, Hatoum transita com a habilidade que lhe é própria entre as dimensões pessoal e social do drama e faz de uma ruptura familiar o reverso de um país cindido por um golpe.
Terça-feira,
12/09
>>> Brasil: Um novo
livro de David Trueba
Blitz,
recupera a ausência do escritor entre as publicações no Brasil, onde até agora
só havia sido publicado Quatro amigos (pela editora Francis) e Saber perder (Rocco). Mas desde 2011, data da reedição do último
título por aqui, que não se publicava mais do David Trueba. O livro de agora
sai pela Tusquets, selo da Editora Planeta. trata-se de uma história de
encontros e separações, com humor e melancolia. Poderia ser uma tragicomédia
romântica qualquer, mas Trueba ignora o rótulo e tenta construir outra forma
textual. O leitor acompanha a maré da vida de Beto, um jovem arquiteto e
paisagista, que está Munique, onde vive à deriva, náufrago de um verdadeiro
desastre sentimental. Entre histórias de amores perdidos – e guiados por uma
escrita hábil e repleta de senso de humor, os personagens deslizam pela vida
como se estivessem dentro de uma ampulheta. E é exatamente a discussão a
respeito da passagem do tempo que conduzirá o protagonista até uma mulher de
outra geração, Helga, cerne de uma série de conflitos que, costurados, montam
uma trama delicada, atual e envolvente.
>>> México: A escritora
Marina Colasanti ganhou o Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil e
Juvenil
O galardão
é entregue em novembro durante a Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara. Autora de mais de 70 livros publicados no Brasil e no
exterior, Marina considera um dos maiores privilégios escrever para o público
infanto-juvenil, uma vez que, através dessas narrativas é possível exercitar
livremente “o imaginário, a metáfora e o simbólico” pelos quais pode-se tratar
de assuntos de natureza delicada. Tais características foram retomadas pelo
júri que considerou “seu trânsito e domínio sobre diversas formas literárias e
sua trajetória como impulsionadora e defensora dos espaços próprios da
literatura infanto-juvenil como fundamentais à formação de leitores” como
qualidades do seu trabalho. Vinte autores de dez países ibero-americanos
concorriam ao prêmio que é concedido anualmente em colaboração com quatro
instituições culturais internacionais: UNESCO, IBBY, OEI e CERLALC em
colaboração com a FIL. Este ano a escritora celebra 80 anos com novas
publicações e homenagens pela Global Editora.
Quarta-feira,
13/09
>>> Brasil: Mais um
texto do escritor alemão E. T. A. Hoffmann ganha edição por aqui
Depois de Reflexões do gato Murr e O reflexo perdido e outros
contos, ambos editados pela Estação Liberdade, ganha edição Princesa Brambilla. A narrativa nos leva à Roma do século XVIII. Às
vésperas do carnaval, Giglio Fava, um ator vaidoso e pobre, e Giacinta Soardi,
uma linda costureira, rompem seu namoro. Ele deseja mais, é claro: nada menos
que uma princesa. Mas, graças à intervenção do mago Celionati, a história toma
rumos inesperados. Rumos que dizem respeito não apenas aos destinos desses dois,
mas à maneira de pensar e viver o teatro, a arte e a vida. Será que devemos
apenas representar os papéis que nos são atribuídos (por um autor ou pela
sociedade)? Ou será mais nobre – e, sobretudo, mais divertido – exercermos a
liberdade de brincar, de jogar, de improvisar (com o público ou com a vida)?
Composta a partir de gravuras de Jacques Callot (1592-1635) feitas a partir das
máscaras do carnaval italiano , este título, publicado em 1820, é uma
declaração de amor à Commedia dell’arte. A edição é da Editora Cultura e
Barbárie e tradução de Maria Aparecida Barbosa.
Quinta-feira,
14/09
>>> Brasil: Reedição de O rei da vela, de Oswald de Andrade
O lançamento
integra as reedições da obra do escritor brasileira que têm sido realizadas
desde 2016. O rei da vela é marco de diversos movimentos culturais
do Brasil e neste ano completa 80 anos. A peça faz uma autocrítica sobre a
identidade nacional e põe em prática as ideias antropofágicas modernistas.
Escrita em 1933, publicada em 1937 e encenada pela primeira vez trinta anos
mais tarde pelo Teatro Oficina, esta é a peça fundamental de Oswald de Andrade.
Ao retratar um país mergulhado na crise financeira de 1929, às vésperas do
Estado Novo, O rei da vela aponta a utopia de um projeto político
que não viria a se concretizar. Oswald apresenta uma peça de teatro
profundamente anarquista, que explora a força soberana do imperialismo
americano em toda sua dimensão caricata e grotesca. No centro do palco está o
escritório de agiotagem Abelardo & Abelardo, em um enredo que tem como pano
de fundo a ambição tacanha e desenfreada de um país subdesenvolvido, as
falcatruas, a decadência, o desprezo pela moralidade e o sexo estapafúrdio. O
volume inclui textos inéditos de Décio de Almeida Prado e de Renato Borghi,
além de um manifesto de 1967 de José Celso Martinez Corrêa, que assina também
um pós-escrito para esta edição.
>>> Brasil: Uma nova
edição para As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain
Órfão desde
bebê, Tom Sawyer vive com sua tia Polly, seu irmão, Sid, e sua prima, Mary, num
vilarejo às margens do rio Mississipi, nos Estados Unidos. Menino de bom
coração, de bom caráter, Tom é também muito levado e esperto, e vive
aprontando, sozinho ou com seu melhor amigo Huckleberry Finn, um garoto que
mora nas ruas, dorme em barris vazios e come o que lhe dão. O tempo todo, os
dois vivem aventuras emocionantes, na maioria das vezes, imaginárias.
Frequentam cavernas, cemitérios, casas mal-assombradas e ilhas desertas.
Brincam de pirata, de pele-vermelha, de Robin Hood, caçam tesouros, planejam
formar uma gangue de ladrões e ficar ricos. E é numa dessas brincadeiras que
suas aventuras se tornam bem reais e assustadoras. Considerado um dos mais
importantes clássicos da literatura para crianças e jovens, esta é uma obra que
permanece no imaginário de inúmeras gerações, desde a publicação original, em
1876, até os dias de hoje. A tradução de Márcia Soares Guimarães, ilustrada por
True Williams, sai pela Autêntica
Editora.
Sexta-feira,
15/09
>>> Brasil: A Alfaguara Brasil prepara
a edição de O dom, de Vladimir Nabokov
Este é um
livro sobre memória, amor e literatura. Considerado por Vladimir Nabokov sua
melhor obra escrita em russo — ele mesmo revisaria sua tradução para o inglês,
décadas depois —, O dom condensa, com extrema virtuose estilística, o melhor de
sua produção no período. Ele capta, com riqueza de detalhes, a difícil vida dos
emigrados no país que lhes é hostil. Com ironia, reconstrói os círculos literários
da época, onde todos, por menor que fosse o grupo de escritores, se tratavam
com gentileza para depois se criticarem mutuamente pelas costas. Sem dinheiro,
com aspirações a se tornar um grande escritor, o poeta iniciante e sonhador
Fyodor navega por esse mundo vago e sombrio. Enquanto sonha com versos, com sua
juventude perdida e com o pai, desaparecido anos antes, ele nos conta duas
histórias de amor. Por Zina, a filha do senhorio que aluga um quarto para ele,
e pela própria literatura russa, que permeia todo este grandioso romance.
>>> Brasil: Uma
visita ao pensamento de Machado de Assis. Pela primeira vez uma antologia de
aforismos e reflexões do escritor a partir de seus textos não ficcionais
A edição
organizada por Hélio de Seixas Guimarães é composta por trechos selecionados de
correspondências, crônicas e textos críticos escritos por Machado de Assis
entre 1858 e as vésperas de sua morte, em 1908. A obra traz à luz a posição do
escritor diante das principais questões de seu tempo. Divididos em assuntos, os
excertos que compõem cada seção estão dispostos em ordem cronológica, de modo a
se poder acompanhar o tratamento por ele dispensado a cada tópico ao longo dos
anos. Aí estão a agilidade, precisão e graça de sua escrita. Relacionadas a
contextos específicos, as reflexões de Machado de Assis são dotadas de extrema
atualidade. A edição de Máximas, pensamentos e ditos agudos é da Penguin / Companhia das Letras.
>>> Brasil: Chegou o
tempo de apresentação da versão de O diário de Anne Frank para HQ
e, em breve, animação
Há algum
tempo havíamos apresentado aqui a ideia. Agora, na passagem dos 75 anos do
diário íntimo de uma menina de 13 anos que revelou ao mundo a trajetória de
vida e morte de oito judeus-alemães, eis novas maneiras de redescobrir este que
um dos maiores clássicos da literatura sobre o holocausto. A obra com 50
milhões cópias vendidas escrita entre 12 de junho de 1942 e 1.º de agosto de
1944 ganha agora duas novas versões adaptadas ao século XXI. Os criadores de A valsa de Bashir, animação indicada para o Oscar e vencedora do
Globo de Ouro de filme estrangeiro em 2009, o roteirista e diretor de cinema
Ari Folman e o desenhista David Polonsky lançam trazem O diário de Anne
Frank em quadrinhos. Folman prepara ainda uma versão em animação para o
cinema. A adaptação para HQ será publicada em mais de 50 países ao longo de
setembro e outubro. No Brasil sai este mês pelo Editora Record [veja imagens]. A adaptação
traz a essência do texto, sintetizado e adaptado por Folman. Sua maior riqueza
em relação ao texto original talvez seja o fato de ter sido imaginado e
traduzido para os quadrinhos pelos traços de Polonsky, às vezes divertidos, não
raro oníricos e trágicos – como era o próprio "Kitty", o diário escrito por
Anne Frank até sua morte, no campo de concentração de Bergen-Belsen, em março
de 1945, no apagar das luzes da Segunda Guerra.
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