Boletim Letras 360º #230
Amigos que acompanham com muita ou pouca frequência a passagem de páginas deste blog, chegamos a um novo sábado com outra edição do Boletim Letras 360º.
Jane Austen inventora de maridos. Mais detalhes neste Boletim. |
Segunda-feira,
31/07
>>> Inglaterra: Quando Jane
Austen inventava maridos
A inglesa
Jane Austen, cujos romances retrataram com lucidez a sociedade de princípios do
século XIX, falsificou duas certidões de casamento com seu nome. Os documentos
foram encontrados nos arquivos da escritora no condado de Hampshire, sul da
Inglaterra. Austen, cujas heroínas viviam presas às convenções patriarcais da
época e buscam no casamento estabilidade financeira e status social, morreu
solteira, aos 41 anos, em 1817. Os documentos compõem parte de uma
exposição que marca o bicentenário sem a escritora; foram encontrados no
registro civil de Steventon, onde passou sua juventude. Neles, um casamento com
um tal de Henry Fitzwilliam, de Londres e com Edmund Mortimer, de Liverpool. A
facilidade da escritora na falsificação se dava porque ela tinha livre acesso
ao registro uma vez que seu pai era o cura de Steventon na época.
>>> Portugal: A peça
A Claraboia vai agora ser adaptada para televisão
Escrita a
partir do romance de José Saramago, a peça esteve em cena no Teatro da Barraca.
Agora, ganha a forma do teatro televisivo pela RTP, marcando um regresso desse
gênero televisivo cuja data remonta a 1957, com a obra de Gil Vicente. A apresentação
será feita em 2018 para o caso das celebrações pelos 20 anos de atribuição do
Prêmio Nobel de Literatura ao escritor português. O romance de Saramago
passa-se na Primavera de 1952, num prédio de seis apartamentos numa rua modesta
de Lisboa. Este é um romance da juventude do escritor - foi o segundo título do
gênero que escreveu e ficou inédito até sua morte, em 2010. Aí se passam os
dramas cotidianos dos moradores - donas de casa, funcionários remediados,
trabalhadores manuais - que tecem uma trama multifacetada, repleta de elementos
do consagrado estilo da maturidade do escritor, em especial a maestria dos
diálogos e o poder de observação psicológica.
Terça-feira,
01/08
>>> Brasil: Fragmentos
completos, de Safo, em nova tradução
Nascida na
ilha grega de Lesbos, a poeta viveu entre os séculos VII e VI a.C., e a
qualidade de sua poesia, elaborada para o canto ao som da lira, fez com que o
culto a seu nome permanecesse vivo até os dias de hoje. Como pouco se sabe
sobre a vida da poeta, cada época projetou em sua figura suas próprias
aspirações, de musa da poesia romântica a ícone do amor livre e da afirmação
feminina. No período helenístico, quase trezentos anos após sua morte, sua obra
foi recolhida e organizada em nove livros, cada um segundo uma métrica
específica, pelos sábios da Biblioteca de Alexandria, e Safo foi incluída na
plêiade dos maiores poetas líricos gregos. Entretanto, todos os livros se
perderam, e a obra de Safo só sobreviveu por meio de pedaços de papiros e
citações em tratados antigos, além de outros registros esparsos, tendo restado
um único poema na íntegra, o chamado "Hino a Afrodite".
"Fragmentos completos", em edição bilíngue, organizado, traduzido, apresentado
e anotado por Guilherme Gontijo Flores, poeta, tradutor premiado e professor de
Letras Clássicas da UFPR, reúne toda a produção de Safo que se conhece até
hoje, incluindo um poema encontrado em 2004 e dois poemas recém-descobertos em
2014. Para isso, o tradutor realizou um trabalho inédito, compilando as
contribuições dos maiores especialistas na autora grega, de modo a produzir o
conjunto mais completo possível dos fragmentos sáficos - tudo isso aliado à
recriação poética em alto nível de cada pequeno trecho que chegou até nós. O
resultado, que incorpora até graficamente as lacunas e os silêncios desse
corpus, oferece ao leitor uma visão renovada dessa que é talvez a maior poeta
da Antiguidade. A edição é da Editora 34.
>>> Brasil: Jamais
o fogo nunca, o primeiro romance da escritora chilena Diamela Eltit
traduzido para o público brasileiro
Com um
título que provém de um enigmático verso de César Vallejo, o romance se
constitui pela voz, em primeira pessoa, de uma mulher cujo dado biográfico
essencial é ter sido uma sobrevivente da luta política no período do regime
militar, luta que trouxe consigo a delação, o cárcere e a perda de um filho. A
partir de uma máxima ambiguidade, o romance se abre a diversas possibilidades,
nas quais oscila e se dissolve a fronteira entre a vida e a morte, entre o
corporal e o social. Narrar o fracasso a partir do interior da língua é um dos
principais méritos desta obra de Diamela Eltit. O livro sai pela Relicário
Edições e a tradução é de Julián Fuks.
Quarta-feira,
02/08
>>> Estados Unidos: Uma peça não
interpretada do autor de Peter Pan, J. M. Barrie, que ficou guardada
em um arquivo do Texas durante meio século, será publicada pela primeira vez
The
Reconstruction of a Crime foi encontrada nos arquivos de Barrie no Harry
Ransom Center em Austin, Texas; o catálogo a descreve como "uma peça
sensacional", na qual o público é convidado a ajudar um "Sr. Hicks ...
Na prisão do criminoso ". O texto ganha forma ao lado da nova ficção de
Ruth Ware, Jo Nesbø e Charles Todd na revista Strand, uma revista estadunidense
que já descobriu o trabalho de escritores como Mark Twain e Tennessee Williams.
A peça que foi coescrita com o amigo de Barrie, o historiador EV Lucas, estava
nos arquivos da Biblioteca Ransom há 40 ou 50 anos. "Não está claro por
que ele nunca teve essa peça estreada - pode ter sido durante um período em que
ele estava escrevendo dramas mais sérios", disse Gulli, responsável pelo
arquivo. Barrie é mais conhecida hoje como o criador de "Peter Pan",
uma narrativa sobre um menino que nunca cresce. O texto que aparece como peça
encenada pela primeira vez em 1904 foi depois adaptada por Barrie em uma novela
em 1911.
>>> Brasil: Duas
reedições de Henry Miller chegam às livrarias: Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, de Henry Miller
As tradução
de Marcos Santarrita e Angela Pessôa, respectivamente, saem pela José Olympio.
O primeiro título foi a obra de estreia de Henry Miller, em 1934; aclamado como
parte da revolução sexual e se tornou um dos grandes clássicos da literatura
estadunidense. A obra foi tão logo publicada imediatamente proibida em todos os
países de língua inglesa. Tachado como pornográfico, assim como seu sucessor
Trópico de Capricórnio, só foi liberado nos Estados Unidos e na
Inglaterra nos anos 1960. O livro foi celebrado pelos maiores intelectuais da
época, como Samuel Beckett, quem o saudou como “um evento monumental da
história da escrita moderna”, T. S. Eliot, Ezra Pound e Lawrence Durrell. O
livro é um relato autobiográfico e idiossincrático de Miller, que chega a Paris
após abandonar nos EEUU um casamento arruinado e uma carreira estagnada. O
segundo livro foi publicado cinco anos depois e mantém a sexualidade e o
erotismo em primeiro plano, porém não é simplesmente uma repetição dos temas e
do estilo apresentados em Trópico de Câncer. Por meio de uma
narrativa ainda mais densa e subjetiva, Henry Miller desfia seu passado em Nova
York durante os anos 1920 – antes de embarcar para Paris e fazer da capital
francesa a sua festa individual.
Quinta-feira,
03/08
>>> Brasil: Nova edição
para O último dia de um condenado à morte, de Victor Hugo. Um
libelo contra a pena capital
Quais as
sensações e os sentimentos de um prisioneiro que sabe que seu destino é ser
executado? "Condenado à morte!" É assim que começa a história, narrada
pelo próprio personagem, dos derradeiros dias de um homem que não nos diz seu
nome, nem o crime que cometeu, mas que tem uma única certeza: a de que logo sua
cabeça será ceifada. Ou caberá a ele um indulto? O condenado se vale da escrita
como meio de escape, retratando a mudança psicológica, quase física, que
vivencia no corredor da morte. Ao leitor, cabe prender o fôlego para acompanhar
o que se passa na cabeça do protagonista. Autor de "Os miseráveis",
entre várias outras obras de grande envergadura, e um dos maiores nomes da
literatura do século XIX, Victor Hugo mostra aqui sua faceta ativista e
política, fazendo deste romance, publicado em 1829, um protesto contra a pena
de morte. A edição da L&PM Editores e a tradução de Paulo Neves.
>>> Brasil: Reedição de Poemas
da recordação e outros movimentos
Fazendo uso
de variados recursos: uma rica visão poética emotiva e a tematização
sentimental, social, familiar e religiosa; com coragem, experiência, estilo bem
definido, são enunciadas pela autora a pobreza, a fome, a dor e “a
enganosa-esperança de laçar o tempo”; assim como há espaço para a paixão, o
amor e o desejo. Nada, porém, é superficial, gratuito ou excessivo na obra
agora relançada pela Editora Malê; trata-se de uma antologia que se sustenta em
crítica social e no profundo de cada experiência, a partir da produção de um
conjunto de poesias fortes e criativas, de belo senso rítmico, cuja leitura
desperta emoções, graças à empatia que se estabelece entre os que leem os
poemas e a expressividade emotiva e literária de Conceição Evaristo, quando faz
despontar os “mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra”.
Sexta-feira,
04/08
>>> Argentina: Uma
visita ao lado criativo de Juan José Saer através de uma diversidade de
exercícios escriturais
Os leitores
de língua espanhola completaram com a publicação de Ensayos uma
tetralogia com textos inéditos e dispersos de Saer: uma compilação de sessenta
cadernos, vinte agendas e folhas soltas que passam a limpo o universo criativo
do escritor argentino. Esses rascunhos contam com manuscritos para os seus
livros, memórias, temas, leituras que deram o tom da sua literatura. Mas também
no conjunto da tetralogia o leitor encontra poemas, ensaios - grande parte das
produções - escritos durante a vida e desde a juventude de Saer. É preciso
dizer que o próprio escritor revisou tais cadernos, sem concluir, desde sempre,
sobretudo os ensaios e artigos.
>>> Portugal: A reedição
da obra de Agustina Bessa-Luís
No final de
julho, chegaram às livrarias as novas edições de A Sibila (com
prefácio de Gonçalo M. Tavares) e Dentes de rato (com ilustrações
de Mónica Baldaque), da escritora portuguesa. Estas são as primeiras duas
edições da Relógio D’Água que, em final de abril, anunciou que iria assumir a
publicação da autora. De acordo com a editora, nos próximos anos será
republicada toda a obra de Agustina, que inclui não só os romances pelos quais
ficou famosa, mas também peças de teatro, contos infantis e ensaios
biográficos, muitos deles esgotados ou fora do alcance dos leitores. Além das
reedições agendadas até ao final deste ano, a Relógio d’Água tem ainda
planejadas diversas iniciativas que pretendem assinalar os 95 anos da
escritora, no próximo mês de outubro. Estas incluem a projeção de filmes de
Manoel de Oliveira e João Botelho baseados nas suas obras, apresentações de
livros e debates em várias livrarias, designadamente na Lello no Porto. A
Relógio d’Água assumiu a publicação dos livros de Agustina Bessa-Luís depois da
polêmica em torno da Babel, grupo editorial que detinha, há muito, os direitos
de publicação da obra da autora. De acordo com um artigo da revista
Sábado, de março deste ano, o grupo editorial admitia não poder
continuar a pagar tanto a uma escritora que vendia tão pouco, tendo
inclusivamente mandado retirar todos os livros de Agustina da sua livraria na
Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa.
>>> Chile: Novos inéditos de Roberto Bolaño
Catorze anos depois de sua morte será publicada a nona obra póstuma – “Sepulcros de vaqueros" [Sepultura de vaqueiros, em trad. Livre]. O livro sai pela Alfaguara espanhola em todos os países de língua espanhola no próximo dia 14 de setembro. Nesta obra aparece Arturo Belano, um dos protagonistas de “Os detetives selvagens”, romance com o qual ganhou o Prêmio Rómulo Gallegos, em 1999. O livro reúne três contos escritos entre 1996 e 2001: “Pátria”, ambientada no Chile dos anos 1970, que combina o relato autobiográfico de Rigoberto Belano com a trama de suspensa sobre a morte da artista Patricia Arancibia; em “Sepulturas de vaqueiros” um jovem poeta, Arturo Belano, viaja do México ao Chile para reunir-se coma a oposição num itinerário que o levará a cruzar-se com um pastor, um executivo e um figurante; em “Comédia de horror na França”, o último texto, Diodoro Pilon tropeçará com um misterioso grupo surrealista clandestino que recruta novos membros por todo o mundo. A aparição inédita mais recente de Bolaño foi com “O espírito da ficção científica”, cuja tradução brasileira saiu em 2017. A obra do escritor chileno passou a Alfaguara que tem, aos poucos, reeditado os 21 títulos de poesia, ensaios, contos e romances.
>>> Chile: Novos inéditos de Roberto Bolaño
Catorze anos depois de sua morte será publicada a nona obra póstuma – “Sepulcros de vaqueros" [Sepultura de vaqueiros, em trad. Livre]. O livro sai pela Alfaguara espanhola em todos os países de língua espanhola no próximo dia 14 de setembro. Nesta obra aparece Arturo Belano, um dos protagonistas de “Os detetives selvagens”, romance com o qual ganhou o Prêmio Rómulo Gallegos, em 1999. O livro reúne três contos escritos entre 1996 e 2001: “Pátria”, ambientada no Chile dos anos 1970, que combina o relato autobiográfico de Rigoberto Belano com a trama de suspensa sobre a morte da artista Patricia Arancibia; em “Sepulturas de vaqueiros” um jovem poeta, Arturo Belano, viaja do México ao Chile para reunir-se coma a oposição num itinerário que o levará a cruzar-se com um pastor, um executivo e um figurante; em “Comédia de horror na França”, o último texto, Diodoro Pilon tropeçará com um misterioso grupo surrealista clandestino que recruta novos membros por todo o mundo. A aparição inédita mais recente de Bolaño foi com “O espírito da ficção científica”, cuja tradução brasileira saiu em 2017. A obra do escritor chileno passou a Alfaguara que tem, aos poucos, reeditado os 21 títulos de poesia, ensaios, contos e romances.
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