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Mostrando postagens de agosto, 2017

Potnia, de Leonardo Chioda

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Por Pedro Fernandes Em diversas culturas a água se apresenta como a origem da vida. No mito bíblico sobre a criação do mundo, para citar ao menos uma dessas recorrências, se diz que no princípio de tudo só o espírito pairava sobre as águas. A filosofia de Tales de Mileto numa de suas primeiras formulações sobre a unidade de todas as coisas teria compreendido que tudo é água. E, mesmo a ciência, reitera que a origem da vida na terra se deu a partir de um único elemento e que este se formou e se transformou na água. Pela água também é que o homem se descobre homem. O encantamento de Narciso por sua imagem nos diz que pela água conseguimos pela primeira ver a nós mesmos ou o outro de nós. Eis então a primeira condição para a reflexão. Para a alteridade. Pela nossa imagem, desenvolvemos as primeiras compreensões sobre uma interioridade e uma exterioridade a nós. A água é um elemento de fora e de dentro de nós porque tanto participa de nossa composição químico-biol

Graham Greene, paixão pelos sonhos

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Por Rafael Narbona Graham Greene foi um grande pecador obcecado pela santidade e pela virtude. Segundo a minuciosa e exaustiva biografia de Norman Sherry, The Liefe of Graham Greene , o escritor visitava sua amante Lady Catherine Walston, quando estava havia convidado a sua mansão um padre católico. Deste modo, podia cometer adultério e pedir imediatamente a absolvição por meio do sacramento da confissão. Apaixonado pelos excessos e o luxo, Greene visitou a China durante a Semana Santa de 1957. Antes de partir, escreveu às autoridades católicas irlandesas para oferecer seus serviços como espião num país que tratava sem contemplações os missionários. Seu propósito de servir à Igreja não o desviou de seus costumes. Pediu aos seus guias chineses que o ajudassem a conseguir ópio e lhe proporcionassem para sua companhia jovens mulheres que preenchessem a ingrata perspectiva de uma cama vazia. Afetado pelo transtorno bipolar, Greene fantasiou desde jovem o suicídio. Sua mort

O “Lowry” que sobreviveu ao fogo

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Por Juan Tallón Malcolm Lowry em Tlaxcala, México. Foto: Raúl Ortiz As versões que alguns escritores escrevem algumas vezes de seus romances, como se não fosse possível concluí-los ou abandoná-los, podem ser uma salvação. Ninguém como o britânico Malcolm Lowry (1909-1957) para melhor falar sobre manuscritos perdidos e prodigiosamente encontrados depois. No dia 7 de junho de 1944, em sua cabana próximo à praia de Dollarton, no Canadá, costa do Pacífico, o escritor se levantou e logo enquanto preparava o café gritou: “Está queimando alguma coisa!” Ao sair de casa, viu o teto em chamas. Enquanto corria em busca de ajuda, Margarie Bonner (1905-1988), sua segunda companheira, salvou a maioria dos manuscritos, entre eles Debaixo do vulcão . Também resgatou os discos, mas não o fonógrafo. Os vizinhos a detiveram quando tentou salvar Rumo ao mar branco [título na versão portuguesa]. Era o mais extenso dos romances em realização de Lowry, quem havia começado a escrever uma dúzia

Alguns dos melhores começos de romances

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Gabriel García Márquez, o escritor de começos memoráveis. Isto que agora mesmo você está lendo, a palavra que justamente agora está lendo e que colocada ordenadamente com as demais formam esta frase, a pausa que acaba de fazer nesta última vírgula e todo o percurso de letras que seus olhos seguem neste mesmo instante até este outro, é o último parágrafo que escrevi deste texto. Logicamente – continuo –, agora terei que refazer um pouco os seguintes para adaptá-los ao anterior. Sua compreensão leitora, no fim de tudo, só exige um mínimo de coerência. Faltaria algo mais.  Não é incomum. Salvo que alguém tenha realmente claro como vai contar o que vai contar, a redação de um texto não costuma ser uma viagem em linha reta da primeira à última palavra. Naipe, cavalo e rei. Normalmente há que voltar atrás variadas vezes, mudar de direção às vezes, tomar desvios imprevistos e inclusive desandar, como eu fiz, a primeira rota do caminho. Imagine as dimensões do caos se ao inv

Boletim Letras 360º #233

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No dia 3 de setembro a página do Letras no Facebook realiza mais um sorteio: Os Bruzundangas / Numa e ninfa , de Lima Barreto, edição especial da Editora Carambaia. O livro foi escolhido depois do resultado da votação realizada no grupo também na mesma rede social. Então, interessados em dar uma chance à sorte, basta nos visitar e seguir as metas necessárias e, claro, fazer sua inscrição. Nos 30 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade, uma edição especial recupera diários do poeta. Segunda-feira, 21/08 >>> Brasil: Novo livro de Milton Hatoum deve sair em outubro Nos últimos dois anos sempre a mesma expectativa: a publicação do novo romance de Milton Hatoum. Mas, agora, parece que vai. A notícia foi divulgada no jornal “Folha de São Paulo” de que a Companhia das Letras publicará a obra em outubro. “O lugar mais sombrio” é uma trilogia que se passa em três lugares diferentes: o segundo será em São Paulo e o terceiro, em Paris. A narrativa cobre pelo men

Coisas que não quero saber, de Deborah Levy

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Por Fernanda Fatureto A escritora sul-africana Deborah Levy esteve na Festa Literária Internacional de Paraty 2017 e apresentou Coisas que não quero saber publicado pela Autêntica Editora. Também sua mesa na Flip, dividida com o escritor e surfista William Finnegan, teve um público considerável. Deborah Levy tinha, antes da Flip, apenas um livro traduzido no Brasil – Nadando de volta para casa , romance editado pela Rocco em 2014. Toda essa curiosidade pelo universo de Levy se dá, em parte, pela temática: Coisas que não quero saber é uma resposta ao ensaio Por que escrevo , de George Orwell, escrito entre 1928 e 1949. Uma resposta pela perspectiva da mulher e em diálogo com algumas escritoras que antecederam, em seus discursos, o movimento feminista como Simone de Beauvoir e Virgínia Woolf. De Woolf, mais especificamente o ensaio Um teto todo seu, de 1929, numa época em que era raro uma mulher frequentar as universidades na Inglaterra. Responder à questão “por que escr

O deserto do amor, de François Mauriac

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Por Pedro Fernandes O que somos para nós? O que somos para os que são próximos a nós? E para aqueles que só sabem de nós pelo que os outros dizem de nós? O deserto do amor , de François Mauriac, uma história de amor, é também uma investigação sobre essas questões. A essas perguntas, numa certa ocasião, uma das personagens do romance, se vê entregue a um sofisma: “Assim que ficamos sós, somos loucos. Sim, o controle de nós próprio por nós próprio só funciona mantido pelo controle que os outros nos impõem”. Raízes da máxima existencialista que atribui ao outro o inferno de nós mesmos, a compreensão de Paul Courrèges, mantém diálogo com as indagações anteriores num ponto: nossa identidade nunca é definida como se um todo isolado, mas na relação entre nós e o mundo. Como François Mauriac se insere no amplo debate que nos compreende enquanto trânsito? Raymond Courrèges é um que se orgulha do fato de se bastar no mundo e de não desenvolver quaisquer tipos de apegos emocionai