Boletim Letras 360º #224
Neste domingo, 25 de junho, encerramos a promoção que sorteia um exemplar dos Contos completos, de Dostoiévski; como dissemos no Facebook, alcançando ou não a marca dos 200 inscritos, meta que havíamos estipulado para a realização do sorteio. Interessados em participar, basta ir aqui. Bom, sem delongas, eis, então, as notícias que copiamos esta semana no mural do Letras no Facebook. Muita novidade boa – diga-se.
Uma polêmica palestra de Anthony Burgess inédita ganha edição em livro. Mais detalhes ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
19/06
>>> Brasil: A Sesi-SP
Editora lança o Auto da Sibila Cassandra, de Gil Vicente
A peça foi
representada pela primeira vez no Mosteiro de Xabregas nas matinas do Natal à
rainha viúva D. Leonor, provavelmente em 1503 ou 1513, embora a Compilação não
dê nenhuma indicação sobre a data. Segundo as próprias palavras do autor, o
auto trata "da presunção da Sibila Cassandra, que como por espírito
profético soubesse o mistério da Encarnação, presumiu que ela era a virgem de quem
o Senhor havia de nascer. E com esta opinião nunca quis casar". Ou
seja, ao saber da profecia do nascimento de Jesus, quis manter-se solteira e
virgem na esperança de ser a Mãe de Deus.Esta peça tem sido destacada como uma
das primeiras obras a desenvolver temas relativos à emancipação feminina. A
edição agora publicada é mais uma remanescente do catálogo da extinta Cosac
Naify; como esta sai no castelhano original e em português com tradução de Orna
Levin e Alexandre Soares Carneiro.
Terça-feira,
20/06
>>> Brasil: Uma
antologia de contos da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie
Já conhecida
dos leitores brasileiros pelos romances e textos de intervenção, é a primeira
vez que uma obra compila a prosa curta dessa grande autora consagrada.
Publicada em inglês em 2009, No seu pescoço é uma excelente
oportunidade de entrada na obra de Ngozi Adichie: aí estão todos os elementos
que fazem dela uma das principais escritoras contemporâneas. Ao todo são doze
contos que compõem o volume; neles encontramos a sensibilidade da autora
voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos
religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional
com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro — escrito em segunda
pessoa —, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal
que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência
da empatia, bem escassa em nossos tempos. A edição é da Companhia das
Letras que tem reeditado toda obra da nigeriana já publicada no
Brasil.
>>> Espanha: Anos e anos
guardados, obra compila textos de Aurora Bernárdez
Por uma
parte da vida ela ficou conhecida como a mulher de Julio Ccortázar; depois, a
viúva de Julio Cortázar. Com esta publicação, Aurora é Aurora. Responsável por
cuidar da obra do escritor argentino, ela também escreveu poesia, ensaios e
prosa breve. Estes escritos são reunidos pela primeira vez e ganham edição
graças ao amigo Philippe Fénelon. O material foi catalogado por ele ao longo de
muitos anos e organizado logo depois da morte de Aurora; Vargas Llosa, lembra
Fénelo, sempre esteve seguro de que ela não apenas fora tradutora, mas também
escritora, "mas se abstinha de publicar por uma decisão heroica: que
houvesse apenas um só escritor na família". A obra sairá pela Alfaguara e
é a recompilação que traz melhores luzes sobre o pensamento criativo de Aurora;
a edição está organizada por temas e segue suas viagens a Santiago (1956), ao
argentino rio Belgrano (1960), aos lugares espanhóis de Deià (1979), Sanlúcar
(1989) e Barcelona - a última entrada para os cadernos, em fev. de 2002.
>>> Brasil: O único
livro para crianças do escritor britânico H.G. Wells
Em 1898,
Wells foi obrigado a parar sua produção literária por conta de um forte
resfriado. Decidiu percorrer um longo trajeto de bicicleta entre duas cidades
inglesas e foi surpreendido por um temporal. De cama, na casa de um médico
amigo, o autor repousou por alguns dias, mas não acusou melhora – na verdade,
também descobriu que estava com problemas renais. Seis semanas desfalecido era
tempo demais para um dos nomes pioneiros – e dos mais ativos – na ficção
científica, criador de histórias como A máquina do tempo, A
Ilha do Dr. Moreau e A guerra dos mundos. Alguns lápis de cor
furtados do quarto das crianças da casa e Wells mergulha na história As
aventuras de Tommy, livro escrito e ilustrado por ele que ganha sua
primeira edição no Brasil pela editora gaúcha Piu, com tradução de Eduardo
Bueno. Wells endereçou a obra a Marjory, filha de Henry Hick – mas sem
expectativas de publicação, que só aconteceu 1929, quando a jovem pediu
autorização para fazê-lo e, com os recursos, pagar o final da faculdade de
medicina. As aventuras de Tommy parte do encontro de um homem rico,
orgulhoso e desastrado com um menino que se torna seu salvador. O milionário
iria morrer afogado, mas o garoto consegue ajudá-lo, resgatando-o com seu
barco.
Quarta-feira,
21/06
>>> Irlanda: José Eduardo
Agualusa venceu, com o romance Teoria geral do esquecimento, a
edição 2017 do International DUBLIN Literary Award, a que concorriam também o
turco (e Nobel da Literatura) Orhan Pamuk, o moçambicano Mia Couto e a
irlandesa Anne Enright (Man Booker Prize em 2007), entre outros autores
Este é, em
termos pecuniários, o maior prêmio literário para uma obra de ficção publicada
em língua inglesa e é a primeira vez que o prêmio, criado em 1996, elege um
livro originalmente escrito em português. Teoria geral do
esquecimento acompanha o destino de Ludovica Fernandes Mano, uma
portuguesa que permanece em Angola após a independência do país, barricando-se
no seu apartamento por 30 anos, ao longo dos quais escreve a sua história nas
paredes de casa. Agualusa ocupou-se do romance durante dez anos. No Brasil, o
livro foi publicado em 2012, pela Editora Foz. O escritor angolano, que nasceu
no Huambo em 1960, junta-se assim a uma lista de premiados que inclui Javier
Marías, Michel Houellebecq, Colm Tóibin, Herta Müller e ainda Orhan Pamuk, que
também estava na corrida este ano.
>>> Brasil: É publicada
uma edição de A casa das romãs com os contos e as ilustrações
originais
Oscar Wilde
apresentou A house of pomegrands pela primeira vez em 1891. É um
livro composto de contos repletos de análises e parábolas morais e produzidas
durante o período mais feliz e menos turbulento da vida do escritor. A editora
Landmark preparou uma edição em formato bilíngue da obra e com as ilustrações
originais. São contos que abordam principalmente um dos temas preferidos de
Wilde: os seres humanos e os seus duplos e a imagem nem sempre fiel que se
espera dessa imagem que adquire uma força e vida própria e passa a existir
graças ou apesar daquele que a originou. Apresentado como um livro infantil, na
época de publicação alguns críticos julgaram "A casa das romãs" como
muito complexo para o universo infantil, enquanto Wilde claramente tinha
ambições mais amplas e julgou ser um absurdo que "o vocábulo extremamente
limitado à disposição da criança britânica [fosse] o padrão pelo qual a prosa
de um artista pudesse ser julgada".
>>> Brasil: Autobiografia de George Sand ganha edição brasileira
Descrita por
Fiódor Dostoiévski como ocupante do "primeiro lugar nas fileiras dos escritores
novos", George Sand, pseudônimo de Amadine-Aurore-Lucile Dupin, teve importante
posição entre os romancistas franceses do século XIX – escreveu noventa
romances, diversos contos, artigos em jornais, peças para o teatro e uma vasta
correspondência com personalidades da época, como Liszt, Alfred de Musset,
Balzac, Delacroix, Pierre Lerroux, Lamennais e Victor Hugo. Agora, os
brasileiros têm a oportunidade de conferir uma das mais relevantes obras de
Sand: História da minha vida é um lançamento da Editora Unesp.
Quinta-feira,
22/06
>>> Estados Unidos: A palestra
controversa sobre arte e pornografia que Anthony Burgess deu na Universidade de
Malta em 1970 vai ser publicada pela primeira vez em livro, através de uma
pequena editora independente.
De acordo
com o The Guardian, a edição, que será publicada com o título
Obscenity and the Arts pela Pariah Press, irá incluir fotografias
inéditas, um ensaio do autor sobre os anos passados em Lija entre 1968 e 1970 e
ainda um ensaio de resposta à palestra, escrito pela feminista Germaine
Greer, que o conheceu pessoalmente. No discurso que fez perante uma plateia de
cerca de mil pessoas na Universidade de Malta, Burgess defendeu que a
pornografia e a obscenidade deviam ser julgadas de acordo com o mérito
artístico. Além disso, afirmou que a censura e a proibição de livros constituía
um atraso no progresso humano. A escandalosa palestra aconteceu logo depois de
a censura maltesa ter confiscado vários dos seus livros quando ele tentou levar
a sua biblioteca para a ilha. Esta é a primeira vez em 20 anos que se publica um texto inédito do escritor. A
edição será feita em colaboração com a The International Anthony Burgess
Foundation para assinalar o centenário do nascimento do escritor. Burgess
nasceu a 25 de fevereiro de 1917, em Lancashire, em Inglaterra.
>>> Brasil: Reedição de
uma das obras mais importantes da literatura de Conceição Evaristo: Becos
da memória
Este é
também um dos mais importantes romances memorialistas da literatura
contemporânea brasileira; traduz, a partir de seus muitos personagens, a complexidade
humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo,
o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio.
Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora discute, como poucos, questões
profundas da sociedade brasileira. "Becos da memória é uma criação que
pode ser lida como ficções da memória. E, como a memória esquece, surge a
necessidade da invenção. Escrevi a ficção como se estivesse escrevendo a
realidade vivida, a verdade. No fundamento da narrativa de Becos, está uma
vivência, que foi minha e dos meus", declara a autora.
Sexta-feira,
23/06
>>> Brasil: O polêmico
livro de Paul Beatty, vencedor do Man Booker Prize de 2016, ganha edição do
Brasil
A trama de
O vendido é descrita como a história de um afro-americano, Bonbon,
criado no gueto agrário de Dickens, nos arredores de Los Angeles, que decide
restaurar a escravidão e dinamizar a segregação na sua terra, que de tão
problemática foi erradicada do mapa dos Estados Unidos. O livro foi descrito
como a sátira mais dilacerante dos últimos tempos ao ponto de ser o seu
autor comparado a Jonathan Swift, de As viagens de Gulliver; o New York Times discorreu sobre a obra enquanto um “caldeirão multicultural
metafórico, quase demasiado quente para se conseguir tocar”. O livro chega às
livrarias no mês de julho, quando o autor participa da Festa Literária
Internacional de Paraty e é um dos primeiros lançamentos da nova editora todavia.
>>> Brasil: Antologia
reúne crônicas inéditas de Rubem Braga
A edição
O poeta e outras crônicas de literatura e vida é organizada por
Gustavo Henrique Tuna, doutor em História Social pela USP, que empreendeu para
a concepção deste volume um minucioso trabalho de pesquisa no amplo acervo de
Rubem Braga disponibilizado pela Fundação Casa de Rui Barbosa. São 25 crônicas
que saem pela primeira vez em livro. Foram escritas entre os anos de 1948 e
1988 e saíram em diversos órgãos de imprensa como Diário de
Notícias, Correio da Manhã, Diário de Pernambuco,
O Globo, Manchete e Revista Nacional. Há
crônicas sobre figuras do meio literário como Alcântara Machado, Carlos
Drummond de Andrade, Clarice Lispector, José Lins do Rego, José Olympio, Manuel
Bandeira, Monteiro Lobato, dentre outros. O volume também conta com um caderno
iconográfico que traz preciosidades como datiloscritos do autor.
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