Boletim Letras 360º #223
Aqui está mais uma edição do Boletim Letras 360º. Há 223 semanas que mapeamos notícias diversas sobre o universo literário e de interesse do blog e divulgamos em nossa página no Facebook, que agora respira com mais de 65 mil amigos. Antes de passarmos às novidades, deixamos impresso nossos agradecimentos pela companhia e, por levar o nome do Letras adiante.
Federico García Lorca na Residência de Estudantes. As novas cartas agora reveladas apontam como foram os anos do escritor no ambiente de efervescência das vanguardas na Espanha. |
Segunda-feira,
12/06
>>> Brasil: O livro
pouco conhecido de Julio Verne que a Editora Carambaia trará
ao país ganha data de publicação
O
testamento do excêntrico, anunciado por aqui noutras duas ocasiões, chega
às livrarias em agosto. De 1899 e um dos últimos títulos publicados pelo autor,
a obra apresenta os Estados Unidos como um jogo de tabuleiro. Um milionário
excêntrico e solitário de Chicago decide deixar toda a sua herança para o
vencedor de um jogo disputado por sete concorrentes. De trem, a pé ou a cavalo,
de barco ou de bicicleta, os participantes percorrem o país inteiro, pulando de
casa em casa, ou de estado ou estado, enquanto Verne descreve paisagens e dá
informações sobre as cidades e regiões visitadas pelos jogadores, fazendo um
verdadeiro retrato dos EEUU de seu tempo e influenciando autores como Julio
Cortázar e Georges Pérec.
Terça-feira,
13/06
>>> Brasil: Mais um volume da série "Minha Luta", de Karl Ove
Knausgård
É o quinto.
E intitula-se A descoberta da escrita. Agora, o autor percorre seus
anos de estudante de escrita criativa na cidade universitária de Bergen. Com a
honestidade que lhe é característica, explicita as dificuldades e frustrações
que permeiam o caminho de todo aspirante a romancista - "eu sabia pouco,
queria muito e não conseguia nada", confessa o narrador. Às intempéries da
formação de escritor somam-se os conflitos e inseguranças da juventude,
permeados por episódios de bebedeira, brigas, insucessos românticos e toda
sorte de golpes ao narcisismo pueril daquele que viria a se tornar o maior
escritor vivo da Noruega.
>>> Brasil: Chegou a
aguardada reedição de O arco-íris da gravidade, de Thomas Pynchon
Quando
anunciamos, no início de maio deste ano, a publicação do mais recente romance
do escritor estadunidense, deixamos a previsão de que a Companhia das
Letras, reeditaria O arco-íris... Esta é considerada a
obra-prima de Pynchon; desde o seu lançamento em 1973 é saudado como uma das
maiores realizações da ficção em língua inglesa de nossos tempos. É uma
narrativa picaresca, ambientada na Europa devastada do final da Segunda Guerra
e nos primeiros momentos do pós-guerra. A linguagem e a técnica narrativa
evocam o clima da contracultura norte-americana dos anos 1960 e 1970 - drogas,
rebelião, oposição à guerra do Vietnã. O estilo caracteriza-se pelo uso das
mais variadas técnicas da cultura de massas - o desenho animado, o filme B, a história
em quadrinhos, o livro pornográfico - e aproveita o jargão científico e
tecnológico com que os meios de comunicação nos familiarizam cada vez mais.
Narrativa pós-modernista que proporciona o prazer da imersão total num universo
completo, tal como os grandes romances clássicos.
Quarta-feira,
14/06
>>> Brasil: De uma só vez - três novos
títulos de Charles Dickens ganham edição por aqui. O primeiro deles, a
tradução para A vida e as aventuras de Nicholas Nickleby
Este livro
foi publicado pela primeira vez numa série de vinte fascículos vendidos entre
31 de março de 1838 e 30 de setembro de 1839. Na época, Charles Dickens tinha
vinte seis anos e começava a colher os louros – inclusive financeiros – da
notoriedade que lhe haviam proporcionado seus "Pickwick Papers",
conjunto hilariante de retratos da vida inglesa publicado também em folhetim
dois anos antes. Como o próprio Dickens diria anos mais tarde, esse era o
momento de sua vida em que ele “subia como um foguete”. Basta dizer que o
primeiro número da obra vendeu 50.000 exemplares. Um dos ingredientes
fundamentais dessa obra é o melodrama, mesmo que Dickens defenda sua
credibilidade realista no prefácio à edição do romance em um só volume,
publicada em 1839. O romance trata de um ano na vida do jovem Nicholas,
dezenove anos, que se muda com sua mãe e irmã Kate para Londres depois da morte
do pai. Fora de catálogo no Brasil desde a década de 1950, a edição de agora é
publicada pela Amarilys Editora;
o livro traz os dois prefácios originais do autor (1839 e 1848) e uma nova
tradução realizada por Mariluce Filizola Carneiro Pessoa. Nicholas
Nickleby traz apresentação de Mariana Teixeira Marques-Pujol, professora
da UNIFESP. Em julho, a mesma casa editorial apresenta Oliver Twist
e Tempos difíceis; as traduções desses dois títulos são da Lúcia
Helena de Seixas Brito e todas trazem uma introdução escrita pela professora
Marques-Pujol.
>>> Espanha: Encontradas
cartas inéditas de Federico García Lorca que revelam mais detalhes sobre o seu
tempo na Residência de Estudantes
São missivas
eufóricas, carinhosas e desinibidas trocadas entre o poeta e seu amigo músico e
crítico Adolfo Salazar. As cartas foram levadas por Salazar para o México, onde
se exilou até sua morte em 1959 e depois para Madri, onde foram encontradas. Os
dois se conheceram em 1919 e desde então ficaram grandes amigos – afirma Roger
Tinnell, quem estudou o material inédito. O conteúdo das cartas revela
comentários sobre arte, a vida e os gostos entre homens (parte dos textos estão
marcadas pelos códigos linguísticos gays da época) e sobre o drama de Lorca em
ter de sair da Residência de Estudantes. Reclama não suportar a ideia de voltar
para casa ou de sair da companhia de Dalí, com quem namorava na época, Buñuel e
Pepín Bello. O grupo formava uma das forças significativas das vanguardas
espanholas. Sempre dramático, o conteúdo das cartas agora revelado não deixa de
soar o pressentimento trágico tão presente em sua obra. Numa das cartas
escreve: “Enquanto eu viver creio firmemente (como tu) que vim à terra para ser
Perseu, para ser Hércules, para ser Narciso, para ser Cristo”. Com Salazar,
Lorca compartilha outro de seus gostos: a música.
>>> Inglaterra: David
Grossman, o Prêmio Man Booker Internacional de 2017
A Horse
Walks into a Bar é um romance tragicômico que se passa num clube de comédia de
um pequeno povoado de Israel foi responsável por fazer com que David Grossman
ganhasse o prêmio mais prestigiado da literatura no Reino Unido. O escritor
israelita superou o favorito ao galardão deste ano, seu compatriota Amos Oz. O
júri reconheceu a proposta de Grossman como “um ambicioso equilíbrio na
corda bamba, executado de maneira espetacular“.
Quinta-feira,
15/06
>>> Brasil: Um novo
livro de Robert Walser chega às livrarias brasileiras: Os irmãos
Tanner
Esta obra, publicada originalmente em 1907, inaugurou uma série de três
romances que, juntamente com uma prosa curta sem paralelo, inscreveram na
história da literatura em língua alemã o nome do suíço Robert Walser. No
Brasil, a Companhia das
Letras havia publicado em 2011 Jakob von Gutten e depois a Editora 34, Absolutamente
nada e outras histórias. Com forte componente autobiográfico, Os
irmãos Tanner, agora traduzido por Sergio Tellaroli, acompanha a história
do jovem Simon Tanner, que tem quatro irmãos e perambula por quartos alugados,
pelas ruas da cidade grande e pela paisagem campestre suíça, ora em longas e
ociosas caminhadas, ora no exercício de pequenos empregos que vão do trabalho
como serviçal para uma dama ao de funcionário numa fábrica, passando por
temporadas sempre fugazes como ajudante de livreiro, empregado num escritório
de advocacia, bancário ou escrevente. Ele não sabe muito bem o que fazer da
vida, nem mesmo se quer de fato fazer alguma coisa dela.
>>> Brasil: Uma das
revelações recentes da literatura francesa, Edouard Louis começa a ser
publicado aqui no começo de 2018
O anúncio publicado no jornal Folha de São Paulo diz que a obra de
Louis sairá pelo Grupo Editorial Planeta. O escritor tem duas obras do gênero
auto-ficção: En finir avec Eddy Bellegueule (Acabar com Eddy
Belleguele, em tradução livre) e Histoire de la violence (História
da Violência, também em tradução livre). No primeiro livro conta como foi
crescer em uma cidadezinha industrial e conservadora, sendo pobre e gay. O
título traz o nome original do autor: Eddy era um cantor popular, e belleguele
significa algo como "bonitão". Após entrar em uma universidade de
elite e virar escritor, Louis mudou de nome. Já o segundo livro levou o autor
aos tribunais. Nele, Louis narra seu estupro sob a mira de uma arma, em 2012. O
autor diz apenas que o homem se chamava "Reda" e era imigrante.
Identificado via DNA três anos depois, o suposto estuprador move um processo
contra o autor, a quem acusa de atentar contra sua privacidade com o livro.
Sexta-feira,
16/06
Brasil: A Alfaguara Brasil inicia
reedição da Trilogia da Fronteira, do escritor estadunidense Cormac McCarthy
Formada por Todos os belos cavalos, A travessia e Cidades da planície todos títulos há muito esgotados por aqui, o
primeiro deles é o que chega às livrarias agora. John Grady Cole é o último
sobrevivente de uma longa geração de rancheiros texanos. Privado da vida que
ele acreditava que teria, parte em uma viagem para o México com o amigo Lacey
Rawlings. Encontrando um terceiro viajante pelo caminho, eles descobrem um país
muito maior do que imaginavam- devastado e belo, árido e cruelmente civilizado,
um lugar onde sonhos são pagos com sangue.
>>> Brasil: Três vezes
mais Lima Barreto
A Penguin / Companhia anuncia Numa e a Ninfa (livro também prometido
pela Carambaia cf. nos referimos aqui) e Impressões de leituras e outros
textos críticos. O primeiro título data 1915 e apareceu primeiro como
folhetim pelo jornal A noite; é um romance satírico que reproduz de
forma crítica o ambiente político do governo do marechal Hermes da Fonseca ao
contar a história de Numa Pompílio de Astro. A edição traz apresentação de
Antonio Arnoni Prado e um artigo de 1917 de João Ribeiro para o jornal carioca
"O imparcial". Já o segundo livro é organizado e apresentado por
Beatriz Resende e supre uma lacuna: reunir os textos de teor crítico do
escritor. A seleção traz novos textos à coletânea clássica organizada por
Francisco de Assis Barbosa com a colaboração de Antônio Houaiss e Manuel
Cavalcanti Proença. Agora, o terceiro título, que sai pela Ateliê Editorial, é Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. O romance é narrado pela
personagem Augusto Machado, que faz uma espécie de biografia do protagonista. O
narrador, mais jovem, tem nele um mentor ético e intelectual. O livro é em boa
parte dialético: Machado reproduz conversas tidas com Gonzaga, quando este
discorre sobre males do Brasil. Gonzaga é essencialmente um crítico das elites.
A discussão central é precisamente a constituição de uma elite imigrante (ou
que tenta se passar por européia), sem vínculo afetivo com os quatro séculos de
história nacional e com as camadas populares.
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