Dezesseis obras imprescindíveis ganhadoras do Prêmio Pulitzer
Philip Roth. O escritor recebeu o Pulitzer em 1998 por Pastoral americana |
Agora em
maio, a HaperCollins disponibiliza aos leitores brasileiros o livro de Colson
Whitehead, The Underground Railroad - Os
caminhos para a liberdade, o ganhador do Pulitzer de Literatura de 2017.
Este autor é o primeiro em mais de 20 anos que com uma mesma obra ganhou dois
dos principais prêmios mais importantes para a literatura nos Estados Unidos.
Antes do Pulitzer, Whitehead havia ganhado o National Book Award. O livro
premiado conta a história de Cora, uma escrava de 15 anos que trabalha numa
plantação de algodão na Georgia. A vida é infernal para todos os escravos, mas
especialmente terrível para a adolescente porque sua chegada à maturidade significa
se tornar vítima de dores ainda maiores. Na ocasião, um recém-chegado da
Virgínia, Caesar, revela uma rota de fuga chamada ferrovia subterrânea e ambos
decidem escapar de seus algozes.
Para
assinalar essa ocasião, copiamos esta lista de livros, todos ganhadores do
Prêmio Pulitzer. O galardão foi criado por desejo de Joseph Pulitzer que,
na altura da sua morte, deixou uma herança para a Universidade de Columbia.
Parte do dinheiro foi usada para começar o curso de jornalismo em 1912 e depois
fomentar a existência de um prêmio em homenagem a Joseph. O primeiro foi
dado em 4 de junho de 1917, e depois passou a ser anunciado o ganhador sempre
em abril.
1. A época da inocência, de Edith Wharton.
No adorável mundo de convenções sociais estritas no qual se move, aparentemente
sem rusgas nem contrariedades, a alta sociedade de Nova York do século XX,
regressa da Europa a inquietante condessa Olenska. Independente, ousada, diferente, Ellen envolverá logo em seu
mistério o jovem primo Newland Archer e perturbará sem poder evitar o encanto
de uma vida social que ignora de maneira voluntária seu iminente fim. No fundo
desta extraordinária história de uma grande paixão reside o conflito entre dois
mundos: o das velhas famílias “patrícias” estadunidenses e o dos novos ricos,
quem, no fim do romance, terão se apoderado já dos costumes e dos espíritos.
Martin Scorsese extraiu da obra um belíssimo filme protagonizado por Michelle
Pfeiffer no papel da condessa Olenska e Daniel Day-Lewis e Winona Ryder.
2. As vinhas da ira, de John Steinbeck. O
escritor também sofreu os efeitos da Depressão: foi testemunha do êxodo rural
massivo que levou milhões do norte para o sul ao fazer parte nos anos 1930 dos
que escreveram sobre os explorados trabalhadores emigrantes. Este livro é a crônica
de uma família pobre em busca de uma terra prometida, ansiando por trabalho e
melhores condições de vida. Steinbeck sabe transcender o puramente
propagandístico ou moralizante ao construir personagens plenos de profundidade
e humanidade, autênticos lutadores que não hesitam em denunciar os abusos do
poder e a desapiedada crueldade e desamparo que sofrem os mais simples.
3. Uma fábula, de William Faulkner. Esta é
a verdadeira história do soldado desconhecido que está enterrado no Arco do
Triunfo em Paris contada pelo escritor Prêmio Nobel de Literatura. Sua mulher
[a do soldado] se chamava Magda. Fuzilaram-no entre ladrões. Ressuscitou. Era
cabo de um regimento francês durante a Primeira Guerra Mundial, se negava
atacar o inimigo na sua tentativa impossível de aplicar os princípios do
pacifismo em pleno campo de batalha. Uma fábula publicada pela primeira em 1954
e que ganhou logo o Prêmio Pulitzer, um dos romances maiores de William
Faulkner e uma das versões mais críticas, desapiedadas e lúcidas que o mundo e
a guerra nunca receberam. É um livro desolador (porque além de verossímil,
apesar da maneira absurda como se desenvolve sua narrativa) que transmite, sem
dúvidas, algum laivo de esperança. O homem prevalece. O destino se ocupa de
vingá-lo com um desfecho glorioso. Este é o romance que poderia acabar com
todas as guerras se os governantes ensandecidos a lessem com os olhos criados
por seu autor.
4. O velho e o mar, de Ernest Hemingway.
Com uma linguagem de grande e sensível força, este conto narra a história de um
velho pescador cubano a quem a sorte parece haver lhe abandonado e do desafio
maiúsculo que ele enfrenta: a batalha sem trégua com um peixe gigantesco nas
águas do golfo. Escrito em 1952 a pedido da revista Life, a obra serviu para confirmar o escritor estadunidense entre
os mais significativos do século XX; grande parte daquilo que é Hemingway,
inclusive o fato de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura dois anos depois se
deve à publicação dessa obra.
5. O sol é para todos, de Harper Lee. “Atire
em todos os que você quiser, se puder acertá-los, mas lembre-se que é
um pecado matar uma cotovia.” Este é o conselho que o advogado de defesa da
verdadeira cotovia dá aos seus filhos; a cotovia em questão é um homem de cor
acusado de estuprar uma jovem branca. A partir do ponto de vista de Jem e Scout
Fich, Harper Lee explora com humor e uma honestidade insubornável a atitude
irracional que em questões de raça e classe social tinham dos adultos do Sul
profundo nos anos 1930. A consciência de uma cidade impregnada de preconceitos,
violência e hipocrisia enfrenta a fortaleza e o heroísmo silencioso de um homem
que luta por justiça. O livro ganhou vários prêmios, foi traduzido a mais
de quarenta idiomas e vendeu mais de quarenta milhões de exemplares ao redor do
mundo e deu fama ao filme interpretado por Gregory Peck no papel principal.
6. 68 contos de Raymond Carver. Esta é
maior coletânea de contos do grande contista estadunidense publicada fora de
seu país natal. O livro reúne vários contos que alcançaram enorme êxito de vendas
e o reconhecimento definitivo pela crítica que consolidou o seu autor entre os
mais importantes ficcionistas do século XX na literatura dos EE UU. Basta lembrar que parte dos textos
recebeu simultaneamente (no mesmo ano) o Prêmio Pulitzer e o National Book Critics
Circle. Carver disse certa vez sobre suas narrativas: “as vezes parecem
histórias de um mundo há muito perdido, quando a cidade de Nova York ainda
estava impregnada de uma luz ribeirinha, quando se ouviam os quartetos de Benny
Goodman no rádio da papelaria da esquina e quando quase todos andavam de chapéu.
Aqui está o último daquela geração de fumadores empedernidos que já pela manhã
despertavam o mundo com seus acessos de tosse que se mostravam cegos nas festas
e interpretavam obsoletos passos de salão, que viajavam a Europa de barco, que
sentiam autêntica nostalgia do amor e da felicidade e cujos deuses eram tão
antigos como os meus ou os seus, quem quer que você seja. As constantes que busco
nesta parafernália por vezes antiquada são certo amor à luz e certa
determinação de trazer algum efeito moral do ser”.
7. A canção do carrasco, de Norman Mailer.
O livro conta a história de Gary Gilmore, o homem que pulou para as manchetes
dos jornais pelo motivo de sua execução na Penitenciária Estatal de Utah. Porque,
mesmo tendo a oportunidade de enfrentar a luta das apelações e demais
subterfúgios legais para reduzir sua condenação, Gilmore preferiu a pena de
morte e não a angustiosa espera no corredor da morte. O magistral relato de
Mailer, baseado em diversas entrevistas, se concentra nos nove meses que começam
no dia em que Gary Gilmore sai em liberdade condicional, continua com os dois
absurdos assassinatos que cometeu de imediato e terminada com este novo herói americano ante o pelotão de
fuzilamento. Junto a Gilmore, pouco a pouco emerge outro protagonista, Nicole,
sua amante, uma jovem que enfrenta um mundo quase tão sujo e tão corrupto como
de Gary. A história de amor dos dois marginais emergirá finalmente com uma
insólita pureza em meio a sordidez circundante. “Se não fosse Norman Mailer,
ninguém se atreveria contar essa história”, disse Joan Didion ao The New York Times.
8. Uma confraria de tolos, de John Kennedy
Toole. Este é um exuberante, ácido e inteligentíssimo romance. Mas, não só isso:
também é tremendamente divertido e, ao mesmo tempo, amargo. A gargalhada escapa
por si só ante as situações desproporcionais desta grande tragicomédia. Ignatius
J. Really é provavelmente uma das melhores personagens criadas e que
muitos não hesitam em compará-la ao Quixote. Melhor ainda: é o anti-herói
perfeito para um romance repleto de excelentes personagens, todas situadas na
portuária cidade de Nova Orleans. Ignatus é um incompreendido, uma figura de
trinta e poucos anos que vive na casa de sua mãe e que luta por construir um
mundo melhor a partir do interior de sua casa. Mas, cruelmente, se verá arrastado
a vagar pelas ruas de Nova Orleans em busca de emprego, obrigado a fazer parte
de uma sociedade com a qual mantém uma relação de repulsa mútua para poder
sufragar os gastos causados por sua mãe num acidente de carro enquanto dirigia
bêbada. O autor John K. Toole consegue assim construir uma crítica ferrenha à classe
média estadunidense. Consegue manter o interesse do leitor (inclusive mais em
sua segunda leitura que na primeira) com uma gama de personagens cada qual mais
desagradável. Não resta títere com cabeça e, através da tortuosa e enviesada
personalidade de Ignatius, faz um percurso pela época que viveu em tom de escárnio
que contrasta com a triste visão das vidas das personagens retratadas. Não encontramos
só uma louca e angustiosa história de crítica social mas uma trama que nos
mantém presos desde o início – nunca sabemos qual a desagradável surpresa que
nos depara o destino.
9. Coelho cresce, de John Updike. O livro é
parte de uma série com mais de duas mil páginas composta por outros três
títulos: o último deles, Coelho se cala
foi publicado em 2000. Mas a tetralogia começou com Coelho corre em 1960, em que Harry “Coelho” Angstrom sai de casa sem
prévio aviso, abandonando Janice e Nelson em busca de novas perspectivas de
vida. Coelho em crise veio em 1971 e,
depois de Coelho cresce, publicado em
1981, as peripécias da personagem da vida de Updike se completa com Coelho cai, em 1990. No romance indicado,
Harry finalmente tem conseguido desfrutar de alguma considerável prosperidade como
chefe de vendas da Springer Motors, uma concessionária de Toyota na
Pensilvânia, embora o cenário não seja nada animador: o preço da gasolina sobre
vertiginosamente, o presidente dos Estados Unidos sofre uma parada cardíaca
enquanto corre uma maratona e a inflação alcança os mesmos picos do desalento
nacional vivido pelos estadunidenses. Mas, Harry se encontra em boa forma e
está agora disposto a desfrutar, enfim, a vida. Não fosse, é claro, a aparecimento
do filho que volta do Oeste e de um antigo amor.
10. Amada, de Toni Morrison. Uma mãe: Sethe,
a escrava que mata sua própria filha para salvá-la do horror, para que a
indignidade do presente não tenha futura possível. Uma filha: Beloved, a menina
que desde seu nascimento se alimentou de leite misturado com sangue e pouco a
pouco foi perdendo contato com a realidade pela vontade de um carinho muito
denso. Uma experiência: o crime como única arma contra a dor alheia, o amor como
única justificativa ante o crime e a morte com paradoxal salvação ante uma vida
destinada à escravidão. Com esta dor e este amor aparentemente indizíveis, Toni
Morrison construiu um romance soberbo que lhe revelou para o mundo como uma das
mais importantes escritoras do século XX.
11. Chegadas e partidas, de E. Annie Proulx.
O bonito da literatura é que revela sempre alguma surpresa, sobretudo num mundo
que tende a acreditar que esta vai perdendo seu poder de fascinação. É quando
tudo conflui em torno deste romance excepcional e sua autora que se reanima certa
aura mágica do literário. Agora, quem haveria de prever que E. Annie Proulx,
uma mulher de nome tão raro, que começou a escrever aos 50 anos e que viveu e
vive isolada num povoado perdido do estado de Vermont, se converteria com seu
segundo romance não só numa das escritoras mais apreciadas dos últimos anos
mas, sem publicidade, nem estudos de mercado e nem promoções especiais, numa
das mais lidas? Além do Pulitzer, este livro ganhou outros prêmios como Prêmio
Nacional. No ano anterior, seu primeiro romance havia ganhado o PEN Faulkner
Award. A obra narra a seguinte história: quando Pearl Bear morre em companhia
de seu amante num acidente de carro, deixa desnorteados e duas filhas e seu companheiro,
um pobre tipo, jornalista de terceira, sem futuro e esperança. De modo que, Quoyle,
fazendo das tripas coração, deixa Nova York e parte para o remoto lugar de seus
antepassados, uma pequena cidade portuária na desolada e brumosa costa de
Terranova. Ali, rodeado de personagens tão peculiares como seu arisco entorno,
ele vai trabalhar para um jornal local, The
Gammy Bird, especializado em histórias de abusos sexuais, do movimento
portuário e dos acidentes de trânsito inventados ou não. Ele compra um barco, começa
a namorar uma calada viúva e, enquanto o duro inverno o coloca recluso, começa
a arte de nós marinheiros e vai lentamente desatando aqueles outros que
atormentam sua alma e reatando alguns cabos soltos da sua vida. Dificilmente o
inesquecível humor negro de Annie Proulx terá encontrado expressão mais poética
que neste romance.
12. Independência, de Richard Ford. Neste romance
o escritor estadunidense recupera Frank Bascombe, o protagonista de O cronista esportivo. É o verão de 1988;
Frank continua vivendo em Haddam, Nova Jersey. Mas, agora, se dedica ao negócio
imobiliário e, depois do divórcio, mantém uma relação sentimento com outra
mulher, Sally. Enquanto busca uma casa para uns clientes insuportáveis, Frank
aguarda iludido a chegada do fim de semana do 4 de julho, Dia da Independência,
quando vai passar em companhia de Paul, seu conflituoso filho adolescente. Ford
retoma seu anti-herói e o lança numa nova aventura cotidiana, na qual se
entrelaçam desolação, melancolia, humor e esperança.
13. Pastoral americana, de Philip Roth. Qualificada
pela crítica como a “obra-prima” do escritor estadunidense, este romance é a crônica
lúcida e desapiedada sobre a queda do entusiasmo, da derrocada da fé em toda uma
geração. Seymour Leyoy é o modelo a seguir por todos os rapazes judeus de Nova
Jersey: é um grande atleta, o melhor filho, um sólido herdeiro da fábrica que
seu pai levantou do nada. Seymour chegou a passar a metade do século XX sem conflitos
que possam destruir a vida tranquila que compartilha com sua companheira, Dwan,
uma ex-Miss Nova Jersey, e com sua filha Meredith. Mas, justamente agora, tudo
que lhe rodeia, começara (obra do acaso?) a ruir estrepitosamente.
14. Intérprete de malês, de Jhumpa Lahiri.
Foi com este romance que a escritora indo-estadunidense iniciou sua fulgurante trajetória
literária. Com apenas trinta e dois anos, a jovem de ascendência bengali obteve
o Pulitzer e ganhou elogio unânime da crítica e dos leitores com sua prosa diáfana
e precisa como um bisturi. Os nove contos que compõem este livro revelam a
mestria da Lahiri e traçam uma cartografia emocional complexa a partir de uma
série de personagens em busca da felicidade, movência que ultrapassa fronteiras
geográficas, culturais e de geração. Ambientadas tanto na Índia como nos
Estados Unidos, as narrativas aqui reunidas revelam a riqueza e a profundidade
do olhar de Lahiri, capaz de detectar os mais sutis conflitos nas relações humanas
e plasmá-los com uma delicadeza incisiva e comovedora. Ninguém que, por
qualquer motivo imaginável, tenha se sentido estrangeiro e isolado do mundo
poderá deixar por esquecido nestes contos. A escritora tece um complexo tapete
de emoções e desassossegos, percorre a intimidade das pessoas que, indefetivelmente,
são cativantes por sua beleza, seu poder de evocação e a perenidade de seu discurso.
15. A estrada, de Cormac McCarthy. Uma
demolidora fábula sobre o futuro do ser humano destinada a se converter em
obra-prima do escritor – assim definiu a crítica quando da aparição deste romance
ganhador do Pulitzer de 2007 e Best-Seller neste ano nos Estados Unidos. A
narrativa percorre pela imensidão do território estadunidense, uma paisagem
desolada pelo que parece ter sido um recente holocausto nuclear. Neste mundo
apocalíptico onde chove cinza, um homem e menino cruzam a pé o país em direção
ao sul. A fome é muito mais que uma preocupação diária: é a medida de todas as coisas
e bandos de canibais tomam conta de um país convertido de ponta a ponta num
inferno, onde só imperam a barbárie. O amor de um pai por seu filho é, sem
dúvida, a única luz nessa terra perdida de tudo e talvez o fogo da civilização não
tenha sido apagado de uma vez por todas.
16. O pintassilgo, de Donna Tartt. A escritora
que colocou em dia as regras dos grandes mestres do século XIX; para escrever
este romance seu os modelos literários de Dickens e também os que deram forma
às personagens de Breaking Bad. Este
é provavelmente o primeiro clássico do século XXI. Theo Decker, num quarto de
hotel em Amsterdã recupera, entre quatro paredes, fumando sem parar, bebendo vodca
e remoendo medos narra sua longa história que nem ele próprio sabe os rumos que
tomou até chegar nessa situação do escritor que rememora. As memórias partem de
um atentado terrorista no Metropolitan Museum há dez anos, quando perdeu a mãe,
única figura familiar mais próxima e onde rouba um fragmento de tela de um
pintassilgo de penas douradas, um quadro esplêndido do século XVII. O envolvimento
com as drogas, a indiferença do pai, as amizades que o levaram à delinquência,
a possibilidade do fim definitivo no deserto do Nevada, tudo se repassa da cabeça
para a caneta.
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