Boletim Letras 360º #220

Antes de apresentar as notícias publicadas durante a semana em nossa página no Facebook, é necessário registrar um esclarecimento aos nossos leitores mais atentos (e aos parceiros com os quais chegamos a entrar em contato diretamente por e-mail). Falamos da repentina mudança de nome do blog, que durou o intervalo de 24h, da quarta para a quinta-feira. Realmente não discordamos do que noticiamos nas redes sociais e pelos correios eletrônicos de que o nome Letras in.verso e re.verso é um bocado quarentão e complicado na hora de apresentação do blog aos novos leitores; também alguns dos nossos propósitos com este lugar online mudaram um pouco, desde quando aparecemos em 27 de novembro de 2007. Mas, a essa altura, 10 anos depois, descobrimos que já não é mais possível passar por crises de identidades. Tínhamos pela frente ao alterar o Letras pela sílaba-verbo-imperativo LÊ! um trabalho gigantesco de revisões e atualizações que talvez levassem outros 10 anos. Para se ter uma ideia disso: há 2 anos iniciamos uma revista apenas nas publicações aqui do blog e só agora ultrapassamos os 60% do trabalho. Mas, ainda assim estávamos dispostos a enfrentar todo esse transtorno, custasse o que custasse. Até que nos chegou o parecer do Facebook sobre a impossibilidade de fazer a alteração do nome de nossa comunidade - hoje com quase 65 mil habitantes. Ante o impasse e um problema ainda maior do que acreditávamos e calculamos passar, recuamos. Não por covardia - diga-se. Mas porque é preciso algum bom senso para certas atitudes. E isso recobramos.

Ted Hughes e Sylvia Plath. Foram encontrados novos poemas dos dois e outros materiais, como esta fotografia. Mais detalhes ao longo deste Boletim.


Segunda-feira, 22/05

>>> Estados Unidos: Nos cinquenta anos da publicação de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, chega online o único datiloscrito que sobreviveu às mãos do escritor no processo de composição da obra

Gabriel García Márquez descreveu Cem anos de solidão como "um romance muito longo e complexo no qual coloquei minhas melhores ilusões". O escritor concluiu a escrita da obra em agosto de 1966 e a Editorial Sudamericana imprimiu a primeira edição no dia 30 de maio de 1967. Meio século depois, o livro vendeu cinquenta milhões de exemplares em todo o mundo e se converteu no mais traduzido depois de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. O Harry Ransom Center, que mantém o trabalho de manutenção e digitalização do espólio do escritor colombiano, anuncia a disponibilização online de uma série de materiais sobre a obra, incluindo uma cópia datiloscrita com as últimas observações de García Márquez sobre a escrita do romance. Sabe-se que este é um dos poucos documentos que sobreviveu como registro sobre a composição da obra, já que as demais versões, incluindo o manuscrito original, foram destruídas pelo escritor. Disponível aqui.

>>> Brasil: Chega às livrarias livro do francês Gaël Faye

O romance foi vencedor do Prix Goncourt de Lycéens, Prix du Roman Étudiants France Culture-Télérama e Prix du Premier Roman. Petit pays narra a história de Gabriel, um garoto de 10 anos de Ruanda que, de repente, em 1992, é expulso de sua idílica infância: seu país está em guerra civil, sua família é separada e nada de bom vai acontecer tão cedo. A edição a sair no Brasil no 1º semestre de 2018 é da Rádio Londres.

>>> Brasil: Dai a Clarice o que é de Clarice

Um novo tratamento à obra de Clarice Lispector começou quando a Editora Rocco, responsável pela publicação da escritora no Brasil, decidiu publicar em 2016 a antologia organizada por Benjamin Moser, Todos os contos. Agora em 2017, quando se passam 40 anos da primeira edição de A hora da estrela, a casa editorial disponibilizou um trabalho gráfico de grande fôlego da obra (cf. noticiamos por aqui há alguns meses). Mas as novidades não acabam aqui. A editora sinaliza a intenção de relançar todos os livros de Clarice em edições repaginadas. No próximo ano, p.ex., será lançado o volume Todas as crônicas, que terá o mesmo formato da antologia de contos, com os textos ordenados por data de publicação.

Terça-feira, 23/05

>>> Brasil: Alguém conhece a poesia de Jerzy Ficowski? Alguém conhece Jerzy Ficowski? Nós não conhecíamos nem uma e nem o outro

Mas, esse desconhecimento tem os seus dias contados. Ou melhor, começa a desfazer-se. A Editora Âyiné anuncia que publicará A leitura das cinzas. O livro data de 1979 e reúne poemas sobre o Holocausto. Segundo nota divulgada no Facebook da casa editorial, Ficowski é um dos mais importantes nomes da literatura polonesa e este livro também está entre os mais significativos daquele país. Jerzy Ficowski foi ainda um estudioso da obra de outro autor polonês, Bruno Schülz, e inclusive produziu uma biografia sobre ele. E, para aquecer a curiosidade há três poemas seus traduzidos aqui. 

>>> Brasil: Uma edição copia as cartas trocadas entre Manuel Bandeira e Gilberto Freyre

Um foi um intérprete do Brasil; o outro um dos maiores poetas desse país. Nascidos no Recife, Pernambuco, Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, duas figuras luminares da intelectualidade brasileira do século XX, trocaram cartas, postais e telegramas ao longo da terna amizade que cultivaram. Nelas, partilharam angústias e planos e também discorreram sobre os desafios e os encantos que o Brasil os proporcionava. Todo o material foi organizado e encontra-se minuciosamente anotado e analisado nesta edição publicada pela Global Editora por Silvana Moreli Vicente Dias.

Quarta-feira, 24/05

>>> Brasil: Companhia das Letras anuncia mais um livro de Thomas Mann no âmbito das reedições de sua obra

As cabeças trocadas é um ponto distinto - sob vários aspectos - no conjunto da obra de Thomas Mann. Nesta novela de 1940, publicada em Estocolmo, o autor alemão embrenha-se por terras indianas e reverencia a tradição védica para criar o triângulo amoroso entre Sita, "a das belas cadeiras", Shridaman, descendente de uma estirpe de brâmanes, e Nanda, vigoroso ferreiro e pastor de gado. Ao se aproximar da filosofia oriental, Mann experimenta temperos narrativos como o erotismo, a profanação e a mitologia. Por outro lado, não abre mão de elementos caros à sua prosa: a questão da identidade e o embate entre instinto e razão. A tradução é de Herbert Caro e o livro traz posfácio de Claudia Dornbusch.

>>> Brasil: Ethan Forme, romance da escritora Edith Wharton ganha nova edição

Wharton foi vencedora do Prêmio Pulitzer em 1921 e a primeira mulher a receber a honraria. Já esta obra estava sem edição no Brasil havia pelo menos 30 anos. A nova tradução do original é do escritor Chico Lopes e, ao texto foi acrescentado o prefácio escrito pela autora, ensaio do escritor Bruno Ribeiro e orelha é assinada por Maria Valéria Rezende. O livro sai pela Editora Penalux, em junho.

Quinta-feira, 25/05

>>> Brasil: Reedição de Khadji-Murát, de Liev Tolstói. Agora pela Editora 34

Em 1893, Tolstói anotava em seu diário: "A forma do romance acabou". Com isso o escritor não queria dizer que estava no fim de suas forças. Muito pelo contrário: iniciava-se aí uma luta que levaria o autor de Guerra e paz e Anna Kariênina à criação de uma nova forma literária, com a concisão da novela, mas a abrangência e a multiplicidade de linhas narrativas dos seus grandes romances. O resultado é Khadji-Murát, uma obra-prima redigida entre 1894 e 1905, publicada postumamente em 1912, e que se mostra de uma atualidade impressionante. Ambientada no Cáucaso, no front entre o exército russo de ocupação e a resistência armada dos povos islâmicos, ela acompanha - como num filme os movimentos do rebelde Khadji-Murát (1796-1852), empenhado na sobrevivência e na afirmação de seus valores. Em vinte e cinco capítulos curtos, a ação se desloca do campo tchetcheno para o russo e vice-versa, instaurando um jogo de perspectivas entre as duas culturas que torna o derradeiro livro de Tolstói um acontecimento revolucionário na sua estrutura e nos temas abordados. A antiga edição da extinta Cosac Naify ganha nova casa e se completa com o ensaio "Tolstói: antiarte e rebeldia", em que o tradutor Boris Schnaiderman, com base nos diários do autor e em extenso material crítico, faz uma síntese esclarecedora da vida e obra do escritor, destacando a posição ímpar que Khadji-Murát ocupa na sua produção.

>>> Brasil: A nova edição de Vermelho amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós

Mais um título que estava com a extinta Cosac Naify volta às livrarias; Vermelho amargo sai pela Global Editora. Neste livro, o autor volta às marcas da infância que permanecem no adulto e podem iluminar sua vida ou ser um fardo pesado de conviver. A prosa poética de cunho autobiográfico de Bartolomeu Campos de Queirós narra as difíceis memórias afetivas de sua dolorosa infância. Ele, muito cedo, teve que aprender a lidar com a madrasta enquanto ainda sofria com a morte prematura da mãe. A casa editorial preservou o mesmo projeto gráfico da edição antiga.

>>> Estados Unidos: Encontrados poemas inéditos de Sylvia Plath e Ted Hughes

Os textos "To a Refractory Santa Claus" e "Megrims" ficaram escondidos por mais de cinquenta anos e foram encontrados quando os acadêmicos Gail Crowther e Peter K. Steinberg, especializados na obra da poeta, estavam organizando manuscritos antigos de Plath para a publicação de um novo livro. Datilografados em papéis carbono, os poemas estavam cuidadosamente guardados dentro de um dos inúmeros cadernos da autora, mas maltratados pelo tempo. A certeza de que os escritos pertenciam a ela veio quando os pesquisadores notaram que eles levavam sua marca d’água, o desenho de uma mulher olhando o próprio reflexo. O primeiro texto foi escrito logo que Plath e Hughes voltaram de lua de mel na Espanha. Ele trata do país e da diferença do clima local em relação ao inglês – tema para o qual a poeta voltou em outras obras, como "Fiesta Melons" e "Alicante Lullaby", da mesma época. O segundo poema foi mais difícil de decifrar, segundo os pesquisadores – que utilizaram técnicas digitais na tarefa. Maior e menos óbvio, o texto retrata um eu lírico paranoico que fala com um médico sobre uma série de acontecimentos estranhos, como uma aranha encontrada em um café, e o ataque de uma coruja. No mesmo papel carbono em que Plath escreveu os poemas, foi encontrado um índice de uma das publicações mais famosas de Hughes, The Hawk in the Rain (1957). Organizado e datilografado pela própria Plath, o índice incluía dois de seus poemas, que não chegaram a ser publicados na coletânea: "The Shrike" e "Natural History". Além dos manuscritos, os cadernos guardavam também fotos nunca vistas de Plath e Hughes, assim como alguns poemas do poeta, expressando sua perturbação depois da morte de Plath por suicídio, em 1963. Os versos de Hughes teriam sido escritos para sua última coleção, Birthday Letters (1998), na qual ele quebrou o silêncio sobre o relacionamento conturbado dos dois.

Sexta-feira, 26/05

>>> Estados Unidos: Morreu o escritor Denis Johnson

Ninguém se mexe, Árvore de fumaça e Sonhos de trem são alguns dos títulos de Johnson conhecidos do leitor brasileiro. Filho de Jesus, uma coleção de onze histórias, todas narradas pelo protagonista, Fuckhead (Cabeça de Merda, na tradução portuguesa, da editora Ahab) que fazem um retrato da América que não aparece nos postais, é uma de suas obras mais lembradas e pela qual ficou conhecido. O livro foi adaptado ao cinema, num filme de Alison Maclean com Billy Crudup (1999). Nascido em 1949 em Munique, na então República Federal Alemã, Johnson viveu também nas Filipinas, no Japão e em Washington, EEUU, tendo estudado na Universidade do Iowa. Publicou o primeiro livro, de poesia, em 1969, The Man Among Seals, e o primeiro romance, Anjos, em 1983. O escritor tinha 67 anos.

>>> Rússia: A história de Anna Kariênina contada pelo ponto de vista de seu amante

O filme do diretor russo Karén Shajnazárov estreia em junho. A história de uma paixão proibida é agora narrada pelo ponto de vista do amante de Anna Kariênina, o conde Vronsky e se omite o trágico desenlace. Situada nos finais do século XIX e início do século XX, Vronsky começa seu relato num hospital militar onde encontra-se com o filho da personagem principal, Serguei. Parte do filme recupera a guerra russo-japonesa, cenário onde é possível inserir num mesmo lugar os dois homens mais importantes da vida de Anna – um encontro que não existe na obra de Tolstói. A versão – como se vê, bastante livre – é a 30ª adaptação para o cinema dessa obra que foi levada às grandes telas em 1911 pelas mãos do diretor francês Maurice André Maître, ainda na época do cinema mudo. O filme recebeu críticas dos dois lados na Rússia antes mesmo de sua estreia já que Shajnazárov rodou uma minissérie para a televisão exibida em abril com o mesmo roteiro e atores.

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