Boletim Letras 360º #219
Aproveitamos a ocasião em que falaremos sobre a reedição de dois novos títulos da obra de Lima Barreto para dizer que estamos com chamada aberta para a recepção de textos sobre o escritor e sua literatura. Os interessados devem fazer sua proposta até o dia 31 de maio. Leia mais aqui. E, ainda estão abertas as inscrições para concorrer a um exemplar de Contos reunidos, de Dostoiévski. O sorteio acontecerá quando confirmarmos a 200ª inscrição. Para participar da brincadeira basta pedir entrada no Grupo do Letras in.verso e re.verso no Facebook. Outros bons motivos de fazer parte deste espaço é poder melhor interagir com leitores de várias partes do globo e ficar por dentro das publicações do blog sempre em primeira-mão.
Segunda-feira,
15/05
>>> Brasil: O mais
recente romance de Haruki Murakami sairá por aqui em 2018
A edição de Killing Commendatore sairá, como na original, em dois volumes. O
interesse da Alfaguara
Brasil é publicar o primeiro ainda em dezembro do próximo ano, quando
o livro chega às livrarias nos Estados Unidos. A obra foi publicada no Japão em
fevereiro. Nessa ocasião, a editora havia revelado apenas o título e nada mais.
Mas, segundo o Asahi Shimbun, Kunio Nakamura, e dono do Rokujigen, café que
virou ponto de encontro dos fãs da obra do escritor japonês, o novo livro é: "Numa palavra, é o best hits album”. E acrescenta: “Imagens que só o Haruki
consegue revelar e que só podem ser encontradas através do seu trabalho. É um
tesouro de metáforas. Eu recomendo-o mesmo para leitores que nunca leram o
autor, porque o romance desenvolve-se numa forma muito suave e ritmada". A
narrativa de Killing Commendatore acompanha "um artista de
retratos que é desconhecido e que se muda do seu condomínio em Tóquio para uma
casa antiga nos arredores de Odawara, uma cidade japonesa localizada na
província de Kanagawa, isto depois da sua esposa pedir o divórcio. Entre muitas
questões que a personagem principal enfrenta, uma delas é o sentido de uma
pintura que encontra no sótão assim como o passado de um homem com um nome
estranho e que o artista acaba por conhecer".
>>> Brasil: O
último grito, um romance sobre as ameaças e contradições do século
digital
O mais
recente livro de Thomas Pynchon, volta ao tempo de meses antes do ataque
terrorista contra as Torres Gêmeas. A simpática Maxine, uma especialista em
fraudes fiscais, é contratada por um documentarista para investigar as
movimentações suspeitas de uma start-up. A trilha do dinheiro desviado parece
levar a Gabriel Ice, misterioso investidor que anda interessado em comprar o
código-fonte do DeepArcher, um novo videogame que transforma a deep web numa
realidade virtual habitável. Todas as pistas levam a mais pistas, e os
desdobramentos incluem o financiamento secreto de terroristas, contrabando de
sorvete russo proibido e os meandros do mundo nerd da virada do milênio. Meio
história de detetive, meio cyberpunk, híbrido de comédia familiar e thriller
sobre terrorismo, O último grito é apresentado como um romance
inesquecível, obra máxima de um dos escritores mais cultuados do nosso tempo. A edição é da Companhia das Letras.
Terça-feira,
16/05
>>> Brasil: No ano de
Lima Barreto, duas novas reedições da obra do escritor
Sai pela
conceituada Editora
Carambaia Numa e a Ninfa e Os bruzundangas. O
primeiro romance foi em 1915 como folhetim pelo jornal A Noite, no
Rio de Janeiro e reproduz de forma crítica o clima em que se deu o governo do
marechal Hermes da Fonseca, retratado pela personagem Bentes. Já o segundo, uma
de suas obras mais conhecidas, é uma sátira da vida brasileira nos primeiros
anos da Primeira República; Bruzundanga é um país fictício, onde havia, tal
como nesse contexto, diversos problemas sociais, econômicos e culturais, entre
os quais os títulos acadêmicos possuídos pelos ricos que eram não mais que
pseudo-eruditos.
>>> Brasil: Nova edição
para Os miseráveis, de Victor Hugo sai pela Penguin / Companhia
Do catálogo
da extinta Cosac Naify este talvez tenha sido o título que mais deu retornos
para a editora. Uma pesquisa em sebos levará o leitor a encontrar pelo menos
quatro edições com trabalho estético e gráfico diferenciados: uma caixa com
dois volumes em tamanho tradicional, outra em tamanho de bolso e mais outras duas
em tamanho tradicional, capa dura e num só volume. Agora, a tradução de
Frederico Ozanam Pessoa de Barros com apresentação de Renato Janine Ribeiro
ganha outra roupagem e é mais um título da antiga editora que reaparece para os
leitores. Considerado a obra-prima de Victor Hugo, este romance se desdobra em
muitos: é uma história de injustiça e heroísmo, mas também uma ode ao amor e
também um panorama político e social da Paris do século XIX. Pela história de
Jean Valjean, que ficou anos preso por roubar um pão para alimentar sua família
e que sai da prisão determinado a deixar para trás seu passado criminoso,
conhecemos a fundo a capital francesa e seu povo, o verdadeiro protagonista. Na
via crucis que é o romance sobre a vida de Valjean, são retraçadas as misérias
cotidianas e os dias de glória do povo francês, que fez das ruas seu campo de
batalha e das barricadas a única proteção possível contra a violência cometida
pela lei. Ah, a nova edição traz todo conteúdo num só volume!
>>> Brasil: Uma nova
editora. A Artes &
Ecos apresenta-se como um espaço para edição de livros de poesia,
ensaios sobre arte e psicanálise
Foram
apresentados os quatro primeiros títulos da casa. Todos de poesia, conciliando
autores experientes com destaques mais jovens. Ricardo Silvestrin e Celso
Gutfreind publicaram respectivamente Prêt-à-Porter e Tesouro secundário, enquanto Cristian Verardi marca sua estreia literária com O Diabo belisca meus calcanhares, e Lucas Krüger lança
seu segundo livro, Homenagem à nuvem. A editora não pretende
oferecer seus títulos em livrarias, mas diretamente aos leitores pela internet através do site arteseecos.com.br
Quarta-feira,
17/05
>>> Brasil: Três livros
de Jorge Luis Borges num só. O Martín Fierro, Para as seis cordas &
Evaristo Carriego
O Borges que
emerge das páginas destes três livros é um escritor profundamente embrenhado na
memória cultural argentina. Escrito em 1953, o primeiro título traz uma fina
análise do poema homônimo, composto no século XIX por José Hernández e
considerado obra fundadora da literatura de seu país. O segundo livro data de
1965, e nele Borges lida com a milonga, forma poética e musical precursora
do tango, calcada na tradição dos cantores populares. Já em Evaristo
Carriego, concluído em 1930, Borges discute a obra do poeta, a quem
conheceu pessoalmente e que se confunde com o bairro de Palermo, em Buenos
Aires, onde Carriego passou a maior parte da vida. A edição chega ao Brasil no
âmbito da organização de sua obra completa do escritor argentino pela Companhia das
Letras e da publicação pela mesma casa editorial de uma ambiciosa
enciclopédia sobre Borges (cf. noticiamos por aqui).
>>> Brasil: Duas obras
de Yasunari Kawabata ganham reedição
Saem pela Editora Estação
Liberdade, O som da montanha e Mil tsurus. No primeiro encontramos a
história de Shingo Ogata, quem a cada dia trava novos confrontos com a memória
que desvanece. Preocupado com a decadência moral de seus descendentes,
divide-se entre a difícil função de chefe de família e o clamor da beleza que o
traga a todo instante para paisagens que estão além de seu convívio com os
homens. Ao lado de O país das neves também editado pela Estação
Liberdade e a segunda obra ora reeditada, este romance forma a chamada
"trilogia dos sentimentos humanos", citada pela Academia Sueca na
ocasião da entrega do prêmio Nobel de Literatura a Kawabata. A presente obra
constitui um exercício estilístico de rara felicidade: resultado da busca de
vida inteira pela depuração total da arte romanesca, a simplicidade do narrar
aqui se apresenta plena, suave, homogênea. Mil tsurus foi publicado
originalmente em capítulos por revistas japonesas entre os anos de 1949 e 1951,
período de reconstrução de um Japão devastado pela Segunda Guerra. Nesse
contexto em que a sociedade japonesa se reestruturava e também se abria para o
Ocidente, Kawabata resgata valores tradicionais de seu país, fazendo da
cerimônia do chá o pano de fundo para a história aí contada. Kikuji Mitani é um
jovem que, durante uma cerimônia do chá, reencontra duas antigas amantes de seu
falecido pai, Chikako Kurimoto e a viúva Ota, e de repente se vê profundamente
envolvido com elas. Enquanto Chikako tenta arranjar um casamento para Kikuji,
este inicia um inesperado romance com a senhora Ota, que por sua vez tem uma
filha chamada Fumiko, de quem Kikuji também irá se aproximar. Mas há ainda
Yukiko, a delicada jovem pretendente a se casar com Kikuji, personagem que
representa serenidade num ambiente repleto de ressentimentos e intrigas. Não é
por acaso que a moça é descrita usando um lenço de seda ilustrado com tsurus,
ave que simboliza nobreza e felicidade na tradição japonesa. Nessa história em
que o passado, através da figura do pai do protagonista, desperta sentimentos
em conflito, Kawabata demonstra, mais uma vez, seu profundo conhecimento da
antiga cultura de seu país e enaltece a importância da arte oriental,
representada nas cerâmicas seculares do ritual do chá e nas alegorias singelas
dos elementos tradicionais de seu país. Ao mesmo tempo em que discorre sobre a
permanência da arte no decorrer dos séculos, sobrevivendo a gerações, o autor
nos mostra o lado efêmero da vida e das relações humanas.
Quinta-feira,
18/05
>>> Brasil: Um texto
quase desconhecido do poeta modernista escrito em alemão ganha tradução pela
primeira vez para o português
Rassenbildung
und Rassenpolitik in Brasilien ("Formação e política racial do
Brasil") está nas mãos dos pesquisadores Niraldo de Farias, da Universidade
Federal de Pernambuco, que encontrou o livro numa biblioteca estadunidense, e
Antonio Dimas, da USP. A obra é vista pela dupla como "intrigante e
controversa", seg. noticia o jornal Folha de São Paulo. O
livro foi publicado na Alemanha, em 1934, e aqui, em 1951, sempre em alemão. O
prefaciador estrangeiro, Otto Schneider, não tem identidade conhecida. O nome é
o mesmo de um agente da SS nazista, mas pode ser um homônimo. Embora o texto
refute pensadores racistas então em voga, as ideias eugenistas prevalecem na
obra de Lima, que via na miscigenação uma solução para branquear o Brasil. Com
estatísticas, ele "prova" a preponderância dos brancos sobre negros e
índios no país. "Não devemos antecipar conclusões. Primeiramente, é preciso
traduzir o livro para a língua portuguesa e pesquisar o contexto em que ele
surgiu, relacionando-o a outras obras da época, para não cairmos em
anacronismos apressados", diz Farias, que vê o livro em contradição com a
obra literária do escritor.
>>> Brasil: Mais um texto para a coleção "Marginália" que começou a ser
editada este ano pela Editora Rocco
O primeiro
foi A aventura do estilo. Ensaios e Correspondências de Henry James e
Robert Louis Stevenson. O lançamento de agora reúne uma seleção
abrangente das cartas do francês Antonin Artaud (1896-1948), um dos mais
influentes artistas e pensadores do século XX, escritas em diferentes momentos
de sua vida a amigos como Anaïs Nin, André Breton, Jacques Rivière e outros.
Organizado pela professora da PUC-Rio Ana Kiffer, A perda de si
revela, por meio dessa correspondência rica em reflexões sobre teatro,
literatura, marxismo e psicanálise, entre outros temas, a gênese e as
transformações do pensamento de Artaud, um dos grandes renovadores da
dramaturgia do século XX, que influenciou não só nomes ligados ao teatro, como
Peter Brook e José Celso Martinez Corrêa, mas também escritores do movimento
beat e intelectuais como Gilles Deleuze e Jacques Derrida. A tradução é de Ana
Kiffer e Mariana Patrício Fernandes. A coleção Marginália é dedicada a textos
pouco conhecidos de grandes escritores modernos, apresenta pela primeira vez ao
leitor brasileiro.
Sexta-feira,
19/05
>>> Brasil: Antonio Candido póstumo. O crítico
literário deixou um texto por ser publicado
O ensaio,
intitulado "Os caminhos da leitura. Notas para saudar os oitenta anos de
um crítico ilustre", de cunho memorialístico, foi escrito em homenagem ao
seu aluno Alfredo Bosi e compõem uma edição comemorativa organizada por Augusto
Massi, Erwin Torralbo Gimenez, Marcos Mazzari e Murilo Marcondes de Moura.
Candido fala sobre suas primeiras leituras de Proust, além de outros
escritores.
>>> Brasil: Contos
da tartaruga dourada, antologia do século XV considerada o ponto fundador
da prosa coreana, ganha edição no Brasil
Conectadas
por ideias sobre o amor romântico, a interação entre o mundo dos vivos e o dos
mortos e comentários sobre política e religião, as histórias forneceram um
modelo de romance que seria usado em séculos por vir. O livro, recheado de
referências aos clássicos chineses, combina a prosa às poesias e canções, a
literatura fantástica à filosofia, a erudição à sensualidade. A qualidade
lírica das frases e a descrição sensível dos eventos rendem ao conjunto a
sofisticação de um romance. Outro ponto de interesse no estilo narrativo de Kim
Si-seup é o sincretismo entre elementos xamânicos, budistas, taoístas e
neoconfucionistas. Em meio às aventuras sobrenaturais, o autor também oferece
detalhes da sociedade da época e dos modos de vida considerados louváveis – que
os personagens apresentados nunca conseguem atingir e com os quais se chocam na
busca pelos seus desejos. O encontro entre o real e o irreal marca um
descompasso entre as formas de realização pessoal e a estrutura política e
simbólica vigente, conflito comum em épocas de ruptura, como a que os reinos
coreanos viviam. A tradução de Yun Jung Im sai pela Editora Estação
Liberdade.
.........................
Comentários