Boletim Letras 360º #210
Obrigado, Derek Walcott! É tudo o que um leitor pode dizer por um escritor e sua obra (imagem). Era 11h30 da manhã de 17 de março quando soubemos da morte do autor de Omeros, divulgada no nosso Facebook dez minutos depois. Não importa o que se diga nessas ocasiões, porque é sempre o vazio que fica. Mas, no caso dos escritores, fica também uma obra para ser lida e seus reflexos estarão vivos nas produções mais adiante.
Segunda-feira,
13/03
>>> Brasil: Parte do
acervo de Rachel de Queiroz, com 3.063 obras (entre livros e periódicos),
estará disponível para visitação a partir de maio na Biblioteca Central da Universidade
de Fortaleza
Depois que a
escritora morreu, em 2003, as obras foram adquiridas pelo Instituto Moreira
Salles (IMS), que acaba de doar o acervo para a universidade cearense. A
maioria dos títulos que ficarão expostos traz dedicatórias para a autora de O
quinze; são obras de nomes que vão de Carlos Drummond de Andrade, Manuel
Bandeira a Jô Soares. Entre outras preciosidades, o acervo guarda escritos do
poeta Mário Quintana, que antecipou de próprio punho para ela, ainda em 1980,
um poema dele que só viria a ser publicado em 2005, nove anos após a morte do
escritor gaúcho, e Cartas a Heloísa, escrita por Graciliano Ramos para a sua
esposa. Com letra bonita – exceção em meio a tantas grafias pouco legíveis – a
própria Heloísa Medeiros Ramos escreve para Rachel, cujas palavras demonstram
uma amizade antiga.
>>> Inglaterra: Jane Austen
teria morrido por contaminação com arsênico
Em 2017 se
passam os 200 anos da morte de Jane Austen. E não será uma data tranquila. Para
além das celebrações pensadas para marcar esse acontecimento eis uma versão que
tem dado o falar entre os especialistas de sua obra. Sandra Tuppen, comissária
principal de manuscritos de 1601 a 1850 na Biblioteca Britânica, disse que
Austen morreu envenenada por arsênico – uma teoria que havia sido levantada há
cinco anos pela escritora de romance de mistério Lindsay Ashford quem inclusive
escreveu uma história de ficção com sua hipótese. Tuppen se baseia nos três
óculos de Austen que fazem parte do acervo da escritora na BB desse quando uma
descendente da escritora levou-os à instituição. Os óculos apresentam distintos
graus, o que leva Tuppen a concluir que a escritora padeceu de cataratas
provocadas por envenenamento com arsênico. A hipótese foi buscada com um
especialista em óptica. Sam Barnard recorda que na época o arsênico era
presente na água, no vinho caseiro, no papel de parede das casas, nas roupas e
em tratamentos médicos. Austen se queixava em suas cartas de problemas de vista
nos seus últimos dias. A Sociedade Jane Austen dos Estados Unidos recusa a
teoria: há muitas causas de catarata que não o envenenamento por arsênico.
Comumente diz-se que Austen teria morrido aos 41 anos vitimada por um câncer,
lúpus, tuberculose ou a doença de Addison – esta última a mais aceita. A doença
trata-se de uma desordem neuro-renal que provoca fadiga, perda de peso,
palidez, depressão e dores abdominais. Numa das cartas,de então, Austen
escreveu: “Estou bem melhor agora e recuperando um pouco meu aspecto, que foi
bastante mal, branco e negro, com minha cor mudada”.
Terça-feira, 14/03
>>> Brasil: A próxima
obra de Haruki Murakami a ser publicada por aqui
Haruki
Murakami é um dos mais conhecidos autores contemporâneos do Japão. Ícone da
escrita fluida, sua obra transita bem em diversos estilos narrativos: ficção,
ensaio, reportagem, nada parece estar fora de seu talento literário. Romancista como vocação é uma série de proposições sobre a escrita,
a literatura e a vida pessoal do recluso escritor. Escrito na linguagem
acessível típica de Murakami, este livro é um convite a todos que desejam
habitar o mundo dos romancistas, bem como uma declaração de amor ao ato da
escrita. O livro sai em abril - acrescenta a Alfaguara Brasil, editora
responsável pela obra do escritor no Brasil.
>>> Brasil: Uma nova
edição de O corvo, de Edgar Allan Poe
Sai pela
independente Edições
Barbatana e numa ocasião em que várias editoras têm demonstrado
reiterado interesse pela obra do estadunidense. Muito recentemente noticiamos
aqui sobre uma edição com traduções inéditas para contos de Poe e a inclusão
das famosas versões oferecidas em língua portuguesa por Fernando Pessoa e
Machado de Assis. Em 2015, quando se passou 150 anos da publicação do conhecido
poema, entre as várias edições, estava uma trilíngue que apresentava as
versões citadas mais a de Baudelaire. Agora, a edição que sairá recupera as
também famosas ilustrações realizadas para a edição preparada por Mallarmé: as
de Édouard Manet. O corvo foi publicado pela primeira vez em 29 de
janeiro de 1845, no New York Evening Mirro. Aqui, em 2012,
falamos sobre essas ilustrações.
Quarta-feira,
15/03
>>> Brasil: Novos textos
de Max Blecher e de outros escritores ganham edição gratuita pela
Zazie Edições
O romeno de
obra breve ganhou espaço entre os leitores brasileiros. Primeiro foi a publicação
pela extinta Cosac Naify de Acontecimentos na irrealidade imediata;
depois, a Carambaia edita Corações cicatrizados; e, muito recente,
a Benfazeja apresenta poemas de Blecher na antologia Corpo
transparente. Agora, a Zazie Edições, que disponibiliza os livros gratuitamente
em seu site apresenta uma coletânea de textos curtos do escritor. A tradução é
de Fernando Klabin. Nessa mesma coleção, sairá Sobre a beleza das imagens
feias, ensaio de Max Brod, de 1913 - a tradução deste é de Mariana Simoni,
Quatro ensaios sobre Aira, obra organizada por Laura Erber e Victor
da Rosa e Sobre arte contemporânea do próprio Aira na tradução de
Victor da Rosa. Tudo estará disponível aqui.
Quinta-feira,
16/03
>>> Japão: Os japoneses
querem dar continuidade ao projeto inacabado de Akira Kurosawa na adaptação de
texto de Edgar Allan Poe
Ao lado de
nomes como Federico Fellini, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni e Stanley
Kubrick, o cineasta japonês Akira Kurosawa é considerado um dos maiores
diretores de todos os tempos. Basta lembrar que o diretor foi responsável por
clássicos da sétima arte como Ran (pelo qual foi indicado ao Oscar
de Melhor Diretor), Rashomon e A fortaleza
escondida. Depois de sua morte, foram encontrados vários roteiros
inéditos, entre eles, The mask of the black death, baseado em A máscara da morte rubra, conto do mestre do terror, Edgar Allan
Poe. O roteiro conta a história de uma família de aristocratas que se refugia
em seu castelo quando uma praga fatal atinge suas terras, vitimando toda a
população que vive nos arredores da fortaleza. A companhia encarregada pela
produção do longa é a chinesa Huayi Brothers Media, que produziu filmes como
Corações de ferro e O reino proibido. A previsão é que
saia o filme em 2020.
>>> Brasil: A obra de Enrique Vila-Matas vai ser publicada pela Companhia das Letras
Depois do fim da Cosac Naify, editora que publicava a obra do escritor, todos esperam por saber qual casa passaria a ter os direitos sobre a publicação de Vila-Matas no Brasil. A Companhia absorverá mais essa para o seu catálogo. Será reeditado para já Bartleby e companhia e publicado o romance mais recente do autor, Mac y su Contratiempo.
Sexta-feira,
17/03
Morreu Derek
Walcott, o primeiro escritor caribenho a receber o Prêmio Nobel de Literatura
O poeta,
dramaturgo e ensaísta Derek Walcott nasceu em 1930, em Castries, na ilha de
Santa Lucia. Formou-se na Universidade das Índias Ocidentais, na Jamaica, e em
1957 obteve uma bolsa para estudar teatro nos Estados Unidos. Recebeu o Nobel
em 1992. Viveu em Londres e em Trinidad, e durante muitos anos dividiu seu
tempo entre a ilha de Santa Lucia e os Estados Unidos, onde lecionou na
Universidade de Boston até se aposentar, em 2007. No Brasil, a Companhia das Letras publicou
Omeros, livro apresentado como misto de poesia, mito, romance,
roteiro de cinema e uma meditação sobre questões cruciais do mundo
contemporâneo, como a destruição da natureza, a identidade das minorias e o
desenraizamento individual e coletivo.
>>> A editora
Kalinka apresenta aos leitores brasileiros um dos poemas mais conhecidos das
crianças russas, Tarakã, o Bigodudo, do jornalista, crítico e
escritor russo Kornei Tchukovski (1882-1969), pseudônimo de Nikolai
Korneitchukov
O poema de
Tchukovski, publicado em 1923, foi escrito em 1921, depois de uma aula de
escrita criativa oferecida pelo escritor russo, na qual ele e seus alunos
pretendiam escrever um livro engraçado para crianças. O escritor sugeriu que
se começasse com uma cena de caos, em que os animais corriam para todos os
lados por nenhuma razão aparente. Cada estudante formulou uma frase e o
escritor as reuniu num só poema. Mais tarde, Tchukovski acrescentou a essa
história uma barata, representando um ditador que estabeleceria a qualquer
custo “ordem” à anarquia dos bichos. A edição traz prefácio de Franco Perpetuo;
desenhos Fabiola Notari e Fabio Flaks; a tradução é de Maria Vragova e Aurora Fornoni
Bernardini.
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