Boletim Letras 360º #200


O primeiro Boletim do ano de 2017. Nesta semana, além das notícias publicadas em nossa página no Facebook, iniciamos a releitura de algumas das principais matérias de destaque no blog durante o ano que findou: é a #RetrospectivaDoLetras2016. Também adiantamos a segunda parte de uma promoção que se iniciou com a enquete aos leitores do Letras sobre os melhores de 2016; com essas respostas publicamos uma lista de leitura dos nossos leitores e sortearemos (de surpresa) alguns que levarão livros de sua preferência. Deixe está - o ano só está no começo e pensamos sempre em novos agrados aos amantes dos livros. 


Apresentado como um dos mais importantes ficcionistas da literatura argentina recente, morreu Ricardo Piglia.

Segunda-feira, 02/01

>>> Brasil: Prometido para 2016, Sátántangó sairá em 2017.

Considerado um dos favoritos ao Prêmio Nobel de Literatura, este é o romance mais conhecido do húngaro László Krasznahorkai. Tango de Satã como se chamará em português na tradução de Paulo Schiller é uma intersecção de narrativas: no sótão de sua casa, uma menina apaga as luzes e luta ferozmente com seu gato. Misto de anjo e demônio, ela, depois, morre ao vagar pela paisagem de frio e neve, provocando o sentimento de culpa em todos na sua comunidade rural. Um falso profeta aproveita a situação e lança os habitantes, atônitos, bêbados, desesperados, numa busca pela redenção e por uma vida melhor. Quem descreve tudo, passo a passo, minuto a minuto, numa prosa de “loucura disciplinada”, é um médico, que observa de sua janela, a dinâmica caótica da aldeia, uma soma de pecados mesquinhos, regida pela covardia e pelo egoísmo. O trabalho do escritor chegou a ser comparado ao de Franz Kafka e o de Samuel Beckett quando em 2015 ganhou Man Booker Prize. A obra foi adaptada para o cinema em 1994 por Béla Tarr. A esperada edição é da Editora 34.

>>> Reino Unido: A vida de um dos mais lúcidos críticos de arte do século XX, de um romancista que soube plasmar como poucos a vida dos camponeses chegou ao fim depois de 90 anos de idade.

John Berger nunca renunciou ao marxismo e com ele descifrou o mundo; nunca deixou de um todo sua vocação como pintor ainda que foi na leitura lúcida da arte que melhor tenha se expressado. Poeta,romancista e autor de vários roteiros o cinema e a televisão (onde alcançou seu maior sucesso). No Brasil, entre os títulos que escreveu, foram publicados Bandeira e Lilás, O dia do casamento, Aqui nos encontramos, Terra nua, G. (romance picaresco de caráter experimental com o qual ganhou o prêmio Booker e o James Tait Black Memorial Prize), Fotocópias, Modos de ver (livro de ensaios que explora nossa relação com as artes plásticas), e De A a X. Uma história contada em cartas.

Terça-feira, 03/01

>>> Brasil: A Com-Arte, casa de editoração dos alunos  da USP, e o resgate de obras raras sobre a produção editorial.

Há algum tempo anunciamos aqui a ideia da casa editorial em preparar uma coleção com clássicos da literatura brasileira fora de catálogo e esquecidos do público leitor. A coleção Reserva Literária é um projeto de alta qualidade editorial produzido em parceria com a Edusp e foi inaugurada em 2011. Outra ideia interessante de então é a coleção que visa recuperar a memória tipográfica de nosso país. Entre as pérolas em preparação para breve está uma tradução do pai de Lima Barreto para Manual do aprendiz compositor (1888), de Jules Clay, Dicionário de termos gráficos (1936) e Revisão de provas tipográficas (1925), estes últimos de Arthur Arezio.

Quarta-feira, 04/01

>>> Brasil: Pelo menos dois novos títulos de Haruki Murakami devem chegar às livrarias neste ano.

Um deles é Romancista como profissão, uma obra em que o escritor japonês aproveita para refazer um retrato próprio composto por muitos trechos inéditos e textos publicados em três revistas distintas nos últimos anos, para dissertar de maneira profunda sobre o seu ofício. O outro A canção do pássaro de corda. O livro tem como personagem central Toru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade e vê a sua vida transformada após o telefonema anônimo de uma mulher. Começam a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida.

Quinta-feira, 05/01

>>> Brasil: Nova edição de A bagaceira, romance de José Américo de Almeida considerado marco inicial do romance regionalista do Modernismo no Brasil.

Publicado em 1928, a reedição está no projeto de revitalização do catálogo da José Olympio. O enredo de A bagaceira gira em torno de um triângulo amoroso entre Soledade, Lúcio e Dagoberto. Soledade, menina sertaneja, uma retirante da seca, chega ao engenho de Dagoberto, pai de Lúcio, acompanhada de vários retirantes: Valentim, seu pai, Pirunga, seu irmão de criação e outros que fugiam da seca. Lúcio e Soledade acabam se apaixonando. A relação entre ambos ganha ares dramáticos no momento em que Dagoberto, o dono da fazenda, violenta Soledade e faz dela sua amante. Essa história trágica de amor serve ao autor como interesse para que denuncie a questão social no seu estado e no Nordeste, em especial, o aspecto da seca e da necessidade da população.

Sexta-feira, 06/01

>>> Brasil: Anunciado aqui em meados de 2016,esta é a nova edição de A cabana do Pai Tomás

Tido por muitos como um dos estopins da Guerra Civil Americana, que culminou com a derrota do Sul escravocrata e a consequente abolição legal do cativeiro de africanos e descendentes em todo o território dos Estados Unidos, A cabana do Pai Tomás tornou-se um testemunho fundamental no convencimento de que a escravidão não era natural. O próprio Abraham Lincoln teria se dirigido à autora, a abolicionista estadunidense Harriet Beecher Stowe, congratulando-a como a pequena mulher que escrevera um livro capaz de iniciar uma grande guerra. A obra, que narra o drama do velho Tomás, escravo humilde e religioso cuja vida sob cativeiro mudou drasticamente depois de súbitas trocas de dono, discute assuntos e problemas ainda incômodos. Assuntos capazes de explicar o interesse despertado pelo romance mais de um século e meio depois. Esta edição tem tradução inédita de Ana Paula Doherty e prefácio crítico do historiador Ricardo Alexandre Ferreira (UNESP). Sai pela Amarilys Editora.

>>> Argentina: Morreu Ricardo Piglia

Leitor, crítico, editor, roteirista, professor de literatura e, sobretudo, um contador de histórias, Piglia nasceu em Adrogué, província de Buenos Aires, em 1940. Viveu entre Argentina e EE UU; passou seus últimos meses em Buenos Aires por causa de uma esclerose lateral amiotrófica (ELA) que afetou os movimentos musculares mas não lhe levou a lucidez intelectual e criativa. O escritor argentino publicou, entre outros textos de ficção, A invasão (contos, 1967), Nome falso (contos, 1975), Respiração artificial (romance, 1980), Prisão perpétua (novelas, 1988), A cidade ausente (romance, 1992), Alvo noturno (2010) e Dinheiro queimado (romance, 1997); de não-ficção, Crítica y ficción (1986, com edição ampliada em 1990), Formas breves (2000), Tres propuestas para el próximo milenio (y cinco dificultades) (2001) e O último leitor (2005).

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