A linhagem de Thomas de Quincey
Por Antonio Muñoz Molina Que o conheças ou não, se você escrever com expressiva ambição num jornal e se deixa ir por uma cidade no grande rio dos desconhecidos, se você experimenta os mistérios do real e as truculências do imaginário, se você tem a tentação de abandonar-se à ebriedade das sensações da vida e dos paraísos artificiais, alguns mais tóxicos e mais viciantes que outros, você é discípulo de Thomas de Quincey. Inclusive não é imprescindível que a literatura seja tão importante para você: escuta a voz e as letras de Lou Reed naquele disco New York e uma parte do espírito de Thomas de Quincey estará infiltrando-se em você. Lou Reed pode invocar em suas canções a noite sombria de Saint Mark’s Place nos anos setenta, as ruas então envolvidas na negritude dos desfiladeiros do Soho: mas o pressentimento de excitação e perigo da vida noturna, o flanar de quem busca o proibido ou o impossível ou de quem segue caminhando porque não tem onde cair vivo nem morto, rem