Novos traços da última poeta maldita
Por Inês Martin Rodrigo Era noite, embora sempre seja na escuridão da alma. Não fazia muito frio, mesmo o clima em Buenos Aires no mês de setembro sempre ser severo. O dia anterior havia chovido e as ruas ainda conservavam a umidade do temporal. Alejandra Pizarnik (1936-1972) fazia horas deitada na cama fumando um cigarro depois de outro. Logo, se levantou, alisou o cabelo emaranhado pela modorra, apagou a última bituca no cinzeiro de sua mesa e caminhou, pausadamente, até o quarto de trabalho no apartamento que tinha em Buenos Aires, no edifício de Montevideo 980. Aí, pegou um giz e escreveu alguns versos no quadro-negro que tinha no local: “Não quero ir nada mais que até o fundo”. Foi o último rastro que a poeta deixou e só o encontraram apenas uma semana depois. Na madrugada de 25 de setembro de 1972, Pizarnik ingeriu uma overdose letal de barbitúricos e morreu. Acudiu-lhe uma amiga, que a levou já sem vida, ao Hospital Pirovano. A morte, tantas vezes insultada p