Flannery O'Connor se molha
Por Patricio Pron “Sou dessas pessoas que antes morreriam por sua religião que tomar um banho por ela”, escreveu Flannery O’Connor a uma amiga: não falava de um banho qualquer, mas da imersão nas águas da Cave Spring Lourdes, a que os enfermos de todo mundo atribuem propriedades curativas desde quando, segundo a lenda, a Virgem apareceu ali a uma jovem em 1858. O’Connor tinha trinta e três anos no momento de realizar sua viagem; apesar de jovem, já era considerada uma das escritoras estadunidenses mais importantes de sua época graças principalmente a dois livros: o romance Sangue sábio , publicado em 1952, e os contos de Um homem bom é difícil de encontrar (1955). O primeiro é a história de Hazel Motes, um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial que, depois de perder a fé em detrimento da experiência, a recupera fundando uma seita, a Igreja Sem Cristo. Os outros textos estão povoados por assassinos piedosos, falsos pastores, aleijados, idiotas, vendedores de bíblias, ceg