Elizabeth Bishop: tinha um caju no meio do caminho
Por Patricio Pron Elizabet Bishop com seu gato Tobias, Rio de Janeiro. Sabe-se que não existem acontecimentos triviais, ou melhor dizendo, que mesmo os que poderíamos considerar triviais têm consequências enormes e de uma duração prolongada. Se Elizabeth Bishop não sabia, descobriu pouco depois de completar 40 anos, quando, durante uma escala no Rio de Janeiro num percurso de viagem, a poeta estadunidense mordeu um caju e sofreu uma reação alérgica que lhe deformou o rosto e esteve a ponto de sofrer uma asfixia. “É uma fruta sinistra. Ninguém deveria combinar fruto e castanha dessa forma indecente”, escreveu mais tarde. Fez do Brasil, porque nunca continuou viajando; e ficou nesse país durante 20 anos. Bishop não estava só quando padeceu da crise alérgica, o que foi uma sorte não só para ela: estava acompanhada de Carlota de Macedo Soares, Lota, uma herdeira que havia conhecido havia pouco tempo em Nova York. Era uma personagem singular: uma mulher rica, interessada em ar