Baudelaire, um obcecado pela revisão
Detalhe da folha de rosto de uma das provas de As flores do mal . Personagem de distraída modéstia, Charles Baudelaire sabia ser chamado à glória. “Rejeito tudo, o espírito de invenção e inclusive o conhecimento da língua francesa. Rio desses imbecis e sei que este volume, com suas qualidades e seus defeitos, encontrará um lugar na memória do público letrado, ao lado das melhores poesias de Victor Hugo, Théophile Gautier e talvez Byron”, escreveu para sua mãe em julho de 1857, depois de publicar As flores do mal , a antologia poética que revolucionaria as letras francesas. Se essa história é mais ou menos conhecida de todos, outra também não deixa de ser muito famosa: o poeta francês sempre soube que, antes de se inscrever na posteridade, devia construir uma obra sólida e irreparável. Por isso, passou quase uma década corrigindo suas provas para impressão, reescrevendo uma e outra vez seus 150 poemas com uma persistência quase patológica, a em que todo autêntico perfecci