Os melhores de 2016

Por Pedro Fernandes




Há quem abomine as listas. Quem diga que elas se tornaram o clichê da nova web e de metidos a colecionar tudo e não terem contato com nada. Faço e copio listas no Letras desde quando lista era coisa vã e asseguro: elas têm um valor importante. Evidentemente que não discordo da posição dos rejeitadores – ardilosos estão em tudo –, mas no meu caso as listas são um norte entre tanta informação, uma meta entre tantos compromissos, um mea culpa entre tantos pecados cometidos.

Quando organizo uma lista de final de ano como esta eu posso rever as jornadas de leitura, os afetos e desafetos construídos em torno de determinadas obras, a abertura de outros rumos na minha formação de preceptor da arte e da criação, o quanto ainda é preciso aperfeiçoar para se ler mais e melhor e como ainda tem chão a ser percorrido. Mas nenhuma angústia; ao contrário, a lista é um antídoto contra a angústia.

2016 foi um ano de muitos planos e pouco ou quase nada de realizações – escrevi mais ou menos isso no Twitter. Aqui, para o Letras, por exemplo: planejei levar adiante um projeto de leitura de poesia online no Facebook, mas ninguém se interessou em participar e abortei a ideia; planejei me dedicar mais aos grandes romances que repousam serenamente entre minhas pequenas estantes, minha atulhada mesa de trabalho e caixas e caixas do meu lado e só li um – fiquei preso nas leituras para o trabalho, nas releituras para pesquisa, nos lançamentos que não pararam de chegar; planejei que esta lista seria ampliada, para dar oportunidade aos meus amigos de batente, dizer o que lhe marcou em torno de leituras e, dessa vez, sequer lembrei de fazer a consulta que deu em água em 2015; planejei. Mas, dizem sempre que quando num ano muito se planeja é porque no seguinte muito se realizará. Veremos. Ao menos no projeto de ler obras clássicas espero dedicar maior atenção e filtrar mais os contemporâneos.

A vantagem por ter estado com os contemporâneos foi descobrir muitos autores interessantes e para os quais terei um olhar mais atento daqui em diante: é o caso, entre outros, de Elvira Vigna (autora de quem me afeiçoei tanto ao ponto de comprar quase toda sua obra romanesca), José Luiz Passos (autor que já estava na estante mas pude conhecê-lo melhor neste seu novo romance), Maria Valéria Rezende (outro nome há muito entre os meus interesses e quem li este ano). Mais da metade dos autores citados aí chegaram-me às mãos pela curiosidade e pela coincidência de precisar ler alguma obra deles. Só tenho a agradecer ao espírito que me impulsiona nas descobertas, ao acaso e aos autores que em grande parte não me decepcionaram.

Agora sobre esta lista. Sempre foi uma lista que chamei de os 10+ e este ano, verão, não é mais. Há uma vantagem em montar esses itinerários: é que eles não precisam se ajustar criteriosamente numa camisa de força, mas permitir-se a cortes ou distensões. Uma lista, no meu caso, se adequa ao que está/ esteve ao meu alcance. Por isso, como li mais em 2016 que em 2015, tomei a liberdade de ampliar de 10 para 15 títulos marcantes.

Alguns títulos listados ainda não foram comentados no blog, mas os comentários poderão sair durante o recesso e no andar de 2017. Outros poderiam estar e não estão porque não quis me repetir nos mesmos autores: é o caso, por exemplo, de títulos da Elena Ferrante, num ano em que mais saiu coisas da autora no Brasil.

Como na lista de 2015, acrescentei outro adendo às preferências de leitura, com títulos de poesia lidos ou em leitura – já disse várias vezes sobre o ritmo de leitura de poesia ser, para mim, outro diferente do da prosa. E mais dois acréscimos.

O primeiro, talvez movido pelo sentimento de perda da Cosac Naify, editora que revolucionou, em parte, o jeito de dedicar-se ao livro no mercado editorial brasileiro. Então decidi acrescentar projetos editoriais cuja riqueza percebi ser de elevado valor seja pelo cuidado com o conteúdo e o significado deste para as letras seja ainda o zelo estético com o tratamento gráfico.

O segundo, é que decidi consultar os leitores do Letras – aliás sempre o faço todo ano no Facebook – mas desta vez quis fazer uma triagem de alguns dos seus gostos por aqui. Sim, as listas são um intercâmbio de vivências e aquilo que foi interessante para nós pode ainda ser desconhecido para outrem.  

No final de tudo, está a lista de filmes que me marcaram em 2016. Ao contrário do ano anterior, vi pouca coisa e, por isso, as produções citadas parecerão restritas ao âmbito da maratona pré-Oscar.




Comentários

MValéria disse…
Obrigada, de coração, Pedro, pela leitura e pela referência generosa! Bom ano faremos nós! Não vamnos parar, não é? Grande abraço! MValéria

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