Os melhores de 2016: poesia
- Um amor feliz, de Wislawa Szymborska.
O
primeiro livro da poeta polonesa cativou tanto o público brasileiro e logo se
apressaram em trazer mais de sua poesia em português. Quem acompanha o Letras
sabe que alguns outros títulos da poeta estão no prelo e devem sair muito em
breve por aqui. Enquanto não vem, a publicação desta antologia é, possivelmente,
um dos acontecimentos literários mais importante do ano para a poesia. Leia
mais aqui.
- Inventário. Poesia reunida e dispersos,
de Heleno Godoy.
O livro está entre um rico catálogo que começa a se integrar
às publicações brasileiras, o da martelo casa editorial. E é uma arrojada
edição com a poesia do poeta goiano publicada entre o seu livro de estreia, em
1963 e o mais recente, em 2015. O caprichada volume, necessário a todo leitor
apaixonado por boa poesia, reúne ainda uma extensa e variada quantidade de
informação sobre a fortuna crítica de Godoy para uma introdução completa à obra
do poeta.
- O vento da noite, de Emily Brontë.
Há
muito que o livro estava fora de catálogo no Brasil. Trata-se de um conjunto de
poemas da autora de O morro dos ventos
uivantes realizado pelo escritor brasileiro Lúcio Cardoso e agora organizado
pelo crítico Ésio Macedo Ribeiro quem, não apenas trabalhou numa revisão das
traduções como acrescentou à obra a versão original dos poemas. É uma maneira
excelente de ter contato com três trabalhos em simultâneo: o do crítico que
organiza a edição, o de Lúcio enquanto tradutor e, claro, visualizar algumas
influências da obra de Brontë na literatura do escritor brasileiro. Leia mais
aqui.
- A casa de ler no escuro, de Maria
Azenha.
A poesia dessa portuguesa de Coimbra chegou-me através da organização
de uma das edições do caderno-revista
7faces. E, depois, aconteceu de ler este livro editado no Brasil. Trata-se
de uma poesia com dicção muito individual e atenta às imagens do mundo social.
Numa conjuntura em que esse universo nos parece cruel, perigoso e uma prova
definitiva de que o homem tem dado errado no mundo, é possível ainda extrair,
do acaso ou das situações mais invisíveis algum alento para o fim. A estética
de Maria Azenha cumpre esse papel de ser uma lufada de ar numa existência
árida.
- Alarido, de Bruno Molinero.
A proposta
do poeta é muito bem elaborada. É este um daqueles livros cuja estrutura se
mostra que dependeu do poeta um processo de composição e afinação para enfim
todas as peças encontrarem aí uma harmonia e possam sim responder por uma
unidade. Cada poema é uma espécie de retrato pelo qual se filtra uma série
diversa de temas sobre indivíduos cujas identidades estão semirreveladas no
título de cada um dos poemas. Não é um livro editado em 2016, mas foi neste ano
que tomei conhecimento da sua existência e, claro, esta não é uma lista de
obras publicadas no ano corrente e sim das que li neste ano.
-
Briggflatts, de Basil Bunting.
Apontado em muitos países como um dos cem
melhores poemas do século XX este é um épico inspirado na
vida do autor inglês (1900-1985), que imagina, 50 anos depois, como teria sido
sua história, caso houvesse permanecido junto à moça por quem se apaixonara na
adolescência. Único britânico inserido no movimento modernista de língua inglesa,
liderado por Ezra Pound e T. S. Eliot, Bunting contou em suas memórias que
escreveu 20 mil versos, reduzidos para 717 em sua versão final, publicada em
1966. Esta primeira edição brasileira com tradução de Felipe Fortuna.
- Explicação das árvores e de outros animais,
de Daniel Faria.
A este título posso incluir Homens que são como lugares mal situados editado em simultâneo pela
luso-brasileira chão da feira. Os dois livros datam de um ano antes da morte do
poeta português, quando tinha só 27 anos. A poesia de Daniel Faria é uma contínua
indagação sobre o mundo e as coisas, de corte entre a realidade profana e o
sagrado.
- A mesma fome, de Marize Castro.
Já fazia
algum tempo que a poeta não apresentava um trabalho novo. O último havia sido
publicado em 2011, Habitar teu nome.
Agora, pela mesma casa editorial de costume, sua Una Editorial, sai este que continua
a revelar um trabalho de contínuo amadurecimento e justifica a urgência de se
reconhecer a obra de Marize entre as importantes vozes da poesia brasileira contemporânea.
No novo livro, a poesia parece revigorar-se dos primeiros momentos em que a
poeta se vez conhecida entre os leitores e acenando a possibilidade de uma
viragem sobre alguns temas que já circulavam na sua pauta criativa.
- Poemas completos,
de Herberto Helder.
As vendas quase instantâneas das edições da obra do poeta
em Portugal atestaram um fenômeno raro na poesia contemporânea, sempre de poucos
leitores, grupos e acanhada nas livrarias. Unanimemente considerado o maior
poeta português do século XX, ao lado de Pessoa, Herberto Helder escreveu
intensamente até ao fim de sua vida, construindo aquilo a que chamava um “poema
contínuo”. Editado pela primeira vez no Brasil, há um só defeito na obra: não
haver incluído os poemas do último livro de Herberto, Poemas canhotos e Letra
aberta, edição com seleção de textos inéditos realizada pela companheira do
poeta. A edição baseia-se na antologia incompleta, portanto, publicada em
Portugal em 2014. Ainda assim é um privilégio para o leitor que ficou sem acesso
direto à poesia de Herberto por longa data.
- Poemas escolhidos, de Mia Couto.
Há leitores que preferiam esta face do escritor
moçambicano significativa para sua obra visto não ser uma mera incursão do acaso.
A obra poética de Mia segue o rastro em proporção a da prosa. Não raras vezes o
próprio tem declarado sobre o gosto que lhe apraz a escrita de poesia. Mas, era
uma das grandes lacunas para o leitor brasileiro o contato direto com essa
vertente da sua obra. Apesar de quase toda sua prosa ter livre circulação por
aqui. Uma amenizada na falha foi dada com a apresentação desta antologia
preparada por Mia. Aí estão poemas de seus livros Idades cidades divindades, Raiz
de orvalho e outros poemas e Tradutor
de chuvas.
- Antropofagias
e outros escritos, de Roberto Piva.
Editado pela Córrego num projeto de arrecadação de fundos para a organização da Biblioteca do poeta, o livro é composto dos textos escritos entre 1984 e 1986 num mesmo
caderno. O volume inclui produção ensaística (com destaque para "Poesia e
delírio" e "São Paulo: Flor e memória"), três reuniões de
poemas ("Pongo dombo", "Benevolente baderna do Espaço
& Tempo" e "Antropofagias") e alguns poemas avulsos ("Dizzy Gillespie", "Estados Unidos do Fogo", "Trapézio
de Eros", "Poema"). A edição é de uma coleção que também editou neste ano, carta aos alunos, também de Roberto Piva.
- Tudo (e mais um pouco). Poesia reunida (1971-2016), de Chachal.
Aqui estão reunidos do seu
primeiro livro, Muito prazer, Ricardo às produções mais recentes como Murundum, Seu
Madruga e eu e Alô poeta, incluindo ainda a versão
teatral da autobiografia Uma história à margem.
- A poesia
hermética de Paul Celan.
O livro é uma seleção abrangente de uma das obras mais importantes da lírica moderna e contemporânea em
edição bilíngue. Tem-se no início uma cronologia biográfica do autor e uma
apresentação geral de sua obra. A parte mais significativa dos poemas está
aqui, acompanhada pelo ensaio "O Meridiano", discurso que
proferiu quando recebeu o principal prêmio literário alemão. Cada poema recebe
comentários sobre a tradução e pistas interpretativas, para facilitar o acesso
do leitor. Organizada por Fávio Rene Kothe.
- Cancioneiro,
de Ferreira Gullar.
O livro ilustrado pelo xilogravurista Ciro Fernandes saiu em edição
limitada, de 300 exemplares numerados, para marcar os 25 anos da editora
Topbooks, completados em agosto de 2015, reúne 13 criações do poeta Ferreira Gullar
como letrista de canções. A compilação é do poeta Antonio Carlos Secchin e do
poeta Augusto Sérgio Bastos, especialista na obra de Gullar. As letras foram escritas para compositores famosos, a começar pelo “Trenzinho
do caipira”, parte integrante da peça Bachianas Brasileiras nº 2, do maestro
Heitor Villa-Lobos, criação de Gullar para o Poema sujo, seu mais importante livro. Maria Bethânia, Adriana
Calcanhoto, Zé Ramalho, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola e
Fagner estão entre as figuras que gravaram as canções presentes na edição, que
reúne ainda todo em material em versão manuscrita.
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