Boletim Letras 360º #197
Estamos em recesso. Mas abriremos sempre que um texto subir à superfície. É um remanso. Por quatro semanas assim estaremos. Aos amigos que nos visitam diariamente uma lembrança: estaremos ativos nas redes sociais. No Instagram, por exemplo, seguimos com as dicas de presentes de final de ano até o dia 24 de dezembro; no Facebook e Twitter todas as notícias de interesse do núcleo do Letras e muito em breve iniciamos a nossa retrospectiva de 2016. Aos amigos, fica ainda o convite para acessar no dia 31 de dezembro a lista de leituras e filmes do Letras, publicada aqui. No mais, é já tempo de deixar o registro de novas forças para ano de 2017 e nossos agradecimentos - do mais fundo do coração - por estar conosco.
Desenho inédito de Leonardo Da Vinci (recorte). Mais detalhes sobre a descoberta ao longo deste Boletim. |
Segunda-feira,
12/12
>>> Brasil: Um dos
títulos mais esperados de sempre, a biografia de Lima Barreto deve sair em maio
de 2017
Há dez anos
que Lilia Moritz Schwarcz tem trabalhado na ideia que estava planejada para vir
a lume no segundo semestre do próximo ano. A escolha do escritor para ser
homenageado na edição da Festa Literária Internacional de Paraty fez com que os planos fossem
antecipados. A questão racial é um dos fios condutores da biografia - partindo
do princípio que Lima Barreto sempre se definiu como pobre, mulato e morador do
subúrbio e fez de sua literatura uma expressão dessa condição. Até hoje, a
biografia considerada definitiva é A vida de Lima Barreto, de
Francisco de Assis Barbosa, publicada em 1952. O livro de Lilia sai pela Companhia das Letras e
deve ser um marco para outra geração.
>>> Estados Unidos: Parte
importante da biblioteca de Gabriel García Márquez vai para os Estados Unidos.
Ao todo 180 livros considerados de suma importância para a compreensão sobre
sua criação literária
O Harry
Ransom Center, o impressionante arquivo da Universidade do Texas onde repousam
o legado de alguns dos mais importantes nomes da literatura universal é o
novamente o dono de parte dos livros que pertenceram ao Prêmio Nobel de
Literatura colombiano. Os livros adquiridos pelo centro são aqueles que
incluem dedicatórias, assinaturas, anotações e revelam mais informações sobre
as relações pessoais do escritor e marcas para sua composição literária. São
livros de Isabel Allende, Richard Avedon, Bill Clinton, Fidel Castro, Pablo
Neruda, Carlos Fuentes, J. M. Coetzee, Toni Morrison e Mario Vargas Llosa,
entre outros. Grande parte dos livros são de Álvaro Mutis, de quem García
Márquez mais tinha exemplares em sua biblioteca pessoal; a ele se somam nomes
de mais de 15 países latino-americanos: grande parte de Cuba, Argentina, Chile,
México, Uruguai, Venezuela e Peru. O arquivo foi arrematado por US$ 2,2 milhões
em 2014; parte da biblioteca agora se somará a outras peças como originais,
manuscritos, dezenas de álbuns de fotografias, notas, cartas e papéis diversos.
Morreu
Shirley Hazzard
A aclamada
escritora australiana morreu em Nova York no dia 12 de dezembro. Hazzard nasceu
em Sidney no 30 de janeiro de 1931, filha de pais galês e mãe escocesa.
Frequentou a escola para meninas de Queenwood, mas deixou quando a família foi
embora do país, em 1947: primeira foram para a China, depois Itália e Nova
Zelândia até se fixarem em Nova York, onde ela seguiu carreira nas Nações
Unidas até os anos 1950. A obra que mais significou na sua carreira foi
O trânsito de Vênus, escrito em 1980 publicado no Brasil pela Companhia das Letras em
2009. O livro ganhou o National Book Award em 1980. Conta a história de
Caroline e Grace Bell, duas jovens irmãs que deixam a Austrália e vão para a
Grã-Bretanha em busca de um recomeço. Órfãs desde muito cedo, elas anseiam por
uma vida nova, enquanto a Europa começa a acordar do pesadelo da Segunda Guerra
Mundial. Outro título da escritora publicado no Brasil é O grande
incêndio; a narrativa passa-se em 1947, e é a história de um oficial
britânico que deixa a China conflagrada pela guerra civil e ruma para o Japão
ocupado pelos aliados. A personagem Aldred Leith é testemunha ocular do
desmoronamento de duas sociedades tradicionais, seja pela revolução comunista,
seja pela humilhação da derrota militar. Além de romances, escreveu contos e
ensaios.
Terça-feira,
13/12
>>> Portugal: Conjunto de
cartas trocadas entre Herberto Helder e a pesquisadora brasileira Maria Lúcia
Dal Farra é doado para a Universidade da Madeira
O anúncio
veio durante a realização de um congresso em homenagem ao poeta português
naquela instituição. Os dois mantiveram contato entre maio de 1973 e abril de
1988. O tom das cartas, destaca Dal Farra, passa principalmente pelo ofício
literário – mesmo quando é para renegar textos. Surge também um desejo do poeta
de encontrar a harmonia – e por vezes a África e o Brasil aparece como um lugar
onde isso é possível. Esta é a segunda vez que cartas do recluso português (que
agora revelam-no insatisfeito com o auto-isolamento) vêm a lume depois da sua
morte: em março de 2015, a revista Relâmpago, dirigida pelo amigo Gastão Cruz
publicou algumas cartas trocadas entre os dois.
>>> Espanha: Descoberto
um novo documento com assinatura de Cervantes. Agora são 11 assinaturas
conhecidas. Mas a nova descoberta traz novidades e um enredo digno de uma de
suas novelas.
Primeiro,
parece ser a assinatura mais antiga entre as já conhecidas. Segundo, não se
refere a quando o autor de “Dom Quixote” trabalhou no interior da Espanha. A
raridade está relacionada com uma história policial em Valência. O documento
agora descoberto trata-se de uma declaração judicial dada por Cervantes à
justiça daquele lugar. Em maio de 1580 havia desaparecido em Valência Jeroni
Planelles, um pescador de 22 anos; corria boatos de que o jovem namorava a
amiga de um velho mercante de Mallorca e logo o seu desaparecimento foi motivo
para acreditar que fora assassinado. Abriu-se um processo e quatro suspeitos foram
presos. O julgamento dividiu a cidade: os que acreditavam na inocência dos
mallorquinos e os que os condenavam. Outros rumores deram contas de que
Planelles, na verdade, estava preso em Argel – e foi esse o motivo de se pedir
o testemunho de Cervantes. Como se sabe, depois da batalha de Lepanto e de
outras empresas militares, o escritor foi preso no cativeiro de Argel de onde
só saiu depois que o frei Juan Gil pagou fiança, em setembro de 1580. Em
Valência ficou durante todo o mês de novembro. A versão de que Planelles estava
preso foi dada pelos comerciantes e o testemunho de Cervantes foi para
corroborar com a história. Cervantes disse não conhecer o jovem mas saber da
história quando estava em Argel de um marinheiro desaparecido; o contato com os
redatores do processo de que Planelles estava vivo levou-o a se interessar pela
história a ponto de ser levado a conhecer à distância o jovem que estava para
ser deportado de volta para Valência. O depoimento de nada serviu porque o
processo só encerrou em abril do ano seguinte 1581 quando o jovem pescador
retornou, de fato, a Valência.
Quarta-feira,
14/12
>>> Brasil: Uma edição
de luxo de Macunaíma, de Mario de Andrade
A Ateliê Editorial trouxe
uma edição especial desse clássico da literatura brasileira. A tiragem é
limitada a 350 exemplares e foi preparada Gustavo Piqueira, da Casa Rex, um dos
mais premiados designers gráficos do país. A edição traz 16 ilustrações
impressas em serigrafia e coladas manualmente no livro, texto estabelecido pelo
Prof. José de Paula Ramos Jr., tomando como base o da última edição em vida do
autor (Martins, 1944), mas confrontado com o da segunda (José Olympio, 1937) e
beneficiado pelas sistemáticas consultas aos textos da referida edição crítica
(ALLCA XX, 1997) e da fidedigna (Agir, 2007).
>>> Brasil: Em janeiro
de 2017, as Edições
Jabuticaba prometem trazer uma edição com a poesia de Anne Carson
A poeta
canadense figura desde há muito entre as mais importantes vozes da poesia
contemporânea. Traduzida no mundo inteiro, a obra de Carson, exceto algumas
investidas particulares de periódicos e da academia, ainda é de um todo
desconhecida do leitor brasileiro. Não mais a partir de janeiro de 2017, quando
se prevê o lançamento de Método Albertine. A tradução de Vilma
Arêas sai pelo selo independente Jabuticaba.
Quinta-feira,
15/12
>>> Brasil: Ana Miranda
continua seu trabalho de reconstrução de alguns retratos da cultura brasileira
Gregório de
Matos, Clarice Lispector, Augusto dos Anjos e agora Xica da Silva. Xica
da Silva: a Cinderela negra é o novo romance da escritora. O canto dos
escravos dá o tom nesta obra e nos transporta para o Brasil do século 18: uma
realidade de fidalgos e pés-rapados, de cantos africanos e rezas católicas, um
quadro vivo e riquíssimo de detalhes do violento ciclo do diamante, por meio do
qual Ana Miranda reconstrói a biografia de uma personagem que nos fascina há
gerações. Com narrativa colorida e vibrante, a autora revela as facetas e
interpretações por trás da figura de Xica da Silva: da sedutora, capaz de
dominar os homens com astúcia e sensualidade, à concubina amorosa, fiel ao
marido e dedicada aos filhos, passando pelo papel de mecenas do Tijuco, de dona
de cem escravos e administradora da maior riqueza de seu tempo. Uma mulher
vitoriosa, revolucionária mesmo para os dias de hoje, irreverente e mandona,
que superou com majestade a sua condição de escravizada, criando a lenda de uma
Cinderela Negra.
>>> Brasil: Romance de
William Burroghs ganha edição no projeto de publicação de sua obra pela Companhia das Letras
Queer foi escrito em 1952, mas só veio a público mais de três décadas depois por
conta de sua explícita temática homossexual. Ambientado na Cidade do México do
início dos anos 1950, o romance acompanha William Lee durante uma crise de
abstinência de drogas, que ele tenta superar com álcool e com uma paixão
obsessiva pelo ambíguo e indiferente Eugene Allerton. Juntos, os dois
partem para a América Latina em busca da ayahuasca, a nova droga do momento. A
atmosfera frenética e o ritmo alucinado marcam a narrativa e os monólogos do
protagonista, antecipando o estilo visceral que estaria presente em toda a
produção literária de Burroughs. O livro agora publicado traz a introdução do
autor à primeira edição do livro, de 1985. A Companhia já publicou Junky e Almoço nu.
>>> Brasil: Para marcar
o centenário da Revolução Russa, ocorrida em 1917, a Companhia das Letras preparou
uma série de lançamentos para 2017 que ajudam a entender o impacto desse evento
determinante na construção dos séculos XX e XXI.
Os
lançamentos reúnem livros inéditos, coletâneas de ensaios e ficção, reimpressão
de livros do catálogo da editora, biografias e reportagens que vão completar
suas leituras sobre a Revolução Russa. Entre eles, vale destacar: Anna
Kariênina, de Liev Tolstói - a tradução de Rubens Figueiredo do catálogo
da antiga Cosac Naify sai em junho; no segundo semestre sai Doutor
Jivago, de Boris Pasternak; e em janeiro de 2008 sai Dostoiévski, a
biografia, de Joseph Frank - a monumental biografia publicada
originalmente em cinco volumes e considerada por David Foster Wallace a melhor
já publicada em língua inglesa, sendo elogiada também por autores como J. M.
Coetzee, Nadine Gordimer, A. S. Byatt, Michael Dirda e James Wood.
Sexta-feira,
16/12
>>> Estados Unidos: O jornal The New York Times anunciou no último dia 12 de dezembro a
descoberta de um desenho inédito de Leonardo da Vinci.
A afirmativa
partiu do Museu Metropolitano de Artes (MET), que divulgou parecer de um longo
estudo agora apresentado por Thaddée Prate, diretor de arte antiga da casa. Foi
no mês de março quando um médico aposentado foi a uma casa de leilões em Paris
com 14 desenhos que pertenceram à coleção de seu pai. Dentre eles, o que chamou
logo atenção foi um esboço do martírio de São Sebastião. Suspeitavam-se
que o desenho fora realizado por um surdo (e Da Vinci era). Mandado para
estudo, descobriu-se outros rascunhos no verso da folha. Eram dois esboços da
luz de velas acompanhados de notas manuscritas à direita e esquerda do papel.
Levado para Nova York, o material foi analisado por especialistas em arte
italiana e espanhola do MET, entre eles, Carmen C. Bambach, quem preparou a
exposição de 2003 Leonardo da Vinci, o mestre do desenho, mostra que incluía
dois esboços (um realizado na cidade alemã de Hamburgo e outro em Bayona, na
França) dos oito São Sebastião registrados por Leonardo em seu Códice. A peça
apresentada pela casa de leilões completava o São Sebastião de Hamburgo, com
caligrafia idêntica e estudos no verso. A confirmação fez os leiloeiros dispor
à peça ao valor de 15 milhões de euros.
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