Dez poetas necessários da nova literatura brasileira
Qualquer movimento
cujo interesse seja o de tentar colocar a poesia brasileira entre limites –
seja julgando forma, tema ou conteúdo – estará fadado ao fracasso. Mesmo as divisões
didático-pedagógicas que buscam reunir este ou aquele autor pelas correntes ou escolas
literárias, determinação mais ou menos homogeneizante, nunca conseguiram responder
adequadamente por essa organização sem deixar de ser questionada pela diversidade
de indagações que obrigam exceções frente às imposições das regras.
Quando o núcleo
temporal é o das últimas décadas, as dificuldades mais aumentam porque os critérios
criativos, formais, temáticos e de conteúdo dos poetas são bastante heterogêneos.
Reanimam com essa diversidade a natureza plural e multissignificativa da
literatura brasileira já não mais presa ao reduto nacional mas sempre em busca
de integrar-se ao lugar de criação universal.
Logo, a
lista de autores que cuidadosamente selecionamos abaixo jamais será uma lista completa,
tampouco responde pela totalidade da nossa riqueza poética e pode ser refeita
tão logo o leitor de poesia encontre a necessidade de acrescentar outros nomes
importantes nesse cenário. Mas, essa maleabilidade, se por um lado visa oferecer
da melhor maneira uma ruptura com certos determinismos de outras listas, por
outro visa estabelecer uma entrada para algumas das diversas linhas criativas
da poesia brasileira, além de servir de uma porta de entrada para que o leitor
encontre outros poetas que por hora ainda estejam escondidos.
Os critérios
que utilizamos para a escolha que não é um ranking de melhores ou piores –
embora tenhamos feito vista grossa para certo tipo de exercício criativo por
ser ainda duvidoso, incipiente ou não responder pelos estímulos essenciais do
leitor quando o assunto é poesia – foram a solidez do texto poético, o diálogo significativo
que buscam manter com a tradição literária brasileira e universal, o interesse
pela inovação estético-formal e temática, o espaço galgado pela obra dentro e
fora do país, as possibilidades que se encontram em se constituírem vozes
singulares da nossa literatura futura. A lista foi construída a partir de um trânsito
por vários catálogos de editoras brasileiras e do contato com obras publicadas
nos últimos anos cuja qualidade se mantém regular ou renovada desde quando da
aparição do poeta.
Ao modo de
um verbete para o dicionário decidimos copiar um breve resumo biográfico sobre
o poeta e algumas de suas obras.
- Alexandre Guarnieri (Rio de Janeiro,
1974): divide a atividade de poeta com a de historiador da arte. Seu livro
de estreia foi apresentado em 2011 pela Editora da Palavra: Casa das Máquinas, segundo Pedro
Fernandes, é “um conjunto de poemas
escritos pela letra da maturidade e com o cuidado e o zelo com a palavra a modo
do que fizeram os nomes da poesia concreta e toda a tradição brasileira da
objetividade verbal”. Em 2015, publicou pela Confraria do Vento o livro Corpo de Festim, com o qual recebeu o
Prêmio Jabuti.
- Ana Martins Marques (Belo Horizonte,
1977): Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Publicou em 2009 A vida submarina (Scriptum),
dois anos depois Da arte das armadilhas,
pelo qual recebeu o Prêmio Biblioteca Nacional, e O livro das semelhanças, em 2015, antologia que “parece ser a culminação
de um dos caminhos mais relevantes da lírica brasileira dos últimos anos”, conforme
se lê na capa da edição publicada pela Companhia das Letras, editora que cuida
da sua obre desde 2011.
- Casé Lontra Marques (Volta Redonda, 1985): O poeta que vive atualmente em Vitória, tem na concisão o apuro de sua lírica e na experiência de religação do indivíduo com o corpo uma matéria recorrente. Publicou Mares inacabados (2008), Campo de ampliação, A densidade do céu sobre a demolição e Quando apenas se aproximam os rumores de chuva (todos em 2009), Movo as mãos queimadas sob a água e Indícios do dia (em 2011).
- Fabiano Calixto (Garanhuns, 1973):
mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São
Paulo, instituição na qual trabalha nas pesquisas de seu doutoramento. Tem
poemas e artigos publicados em vários jornais e suplementos do Brasil e do
exterior. De poesia estreou em 1998 com Algum (edição do autor) ao que se seguiu Fábrica, em 2000, Um
mundo só para cada par, em 2001, pela Alpharrabio Edições; em 2006, integrou
a coleção Ás de colete da CosacNaify e 7Letras com Música possível; publicou Sanguínea pela
Editora 34 em 2007, com o qual foi finalista do Prêmio Jabuti e A canção do vendedor de pipocas,
antologia pela 7Letras, em 2013.
- Leonardo Chioda (Jaboticabal, 1986): Graduado
Letras pela Universidade Estadual Paulista. Estudou literatura italiana,
história do teatro e poesia portuguesa na Università degli Studi di Perugia, na
Itália. Tem poemas traduzidos e estudos sobre literatura e simbologia em
diversas publicações virtuais e impressas. Seu primeiro livro de poemas foi Tempestardes (Patuá, 2013). Em breve, a edição de PÓTNIA, o segundo título que reafirma o lugar alcançado com a obra anterior, é publicada pelo Selo Demônio Negro.
- Márcio-André (Rio de Janeiro, 1978): graduou-se
em Letras e é Mestre em Poética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi
poeta-em-residência em Monsanto, Portugal; ministrou curso de formação avançada
em escrita criativa e poesia sonora na Universidade de Coimbra e de
teoria literária na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou Poemas apócrifos de Paul Valéry traduzidos
por Márcio-André pela Confraria do Vento em 2014.
- Nina Rizzi (São Paulo, 1983): historiadora
e tradutora. Além de trabalhos apresentados em diversas revistas, jornais e
antologias, publicou tambores pra n’zinga,
seu primeiro livro, pela Orpheu / Multifoco, em 2012, e A duração do deserto pela Editora Patuá, dois anos depois.
- Ricardo Domeneck (Bebedouro, 1977):
figura atuante, seja na divulgação de outros poetas fora do país, onde vive,
seja na socialização de nomes estrangeiros no Brasil, o poeta publicou Carta aos anfíbios (Bem-te-vi, 2005), A cadela sem logos (em 2007), Sons arranjo: garganta,
pela (em 2009), ambos pela coleção Ás de colete. Cosac Naify; 7Letras. Em
2012, publicou Ciclo do amante insubstituível
e em 2016, Medir com as próprias mãos
a febre, ambos pela editora 7Letras.
- Rodrigo Petronio (São Paulo, 1975): editor
e professor; formado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo.
Recebeu prêmios nacionais e internacionais nas categorias poesia, prosa de
ficção e ensaio. De poesia, publicou História
natural (2000), Assinatura do sol
(2005), Pedra de Luz, finalista do
Prêmio Jabuti 2006, e Venho de um país selvagem
(Topbooks, 2009).
- Tarso de Melo (Santo André, 1976):
advogado e poeta, colabora em diversos jornais e revistas. Editou as revistas
Monturo e Cacto e entre 1999, ano em que estreia, com A lapso e 2014, quando editou a antologia Poemas foram sete livros publicados demonstrando ser um prolífico
autor: Um mundo só para cada par
(2001, com Fabiano Calixto e Kleber Mantovani), Deserto: 20 poemas (2001), Carbono
(2002), Planos de fuga e outros poemas
(2005), Lugar algum: com uma teoria da
poesia (2007), Exames de rotina
(2008), e Caderno inquieto (2012).
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Quando muita da gente que o Sudeste endeusa não tem obra. Qual é a obra de Oswald de Andrade?