Boletim Letras 360º #187

Octavio Paz. Encontrados papéis inéditos do poeta mexicano no arquivo da censura na guerra civil espanhola.


Antes de apresentar as notícias que fizeram a semana do Letras no Facebook, apresentamos que estão abertas as inscrições para participação na promoção sobre os 10 anos do blog. Entre os brindes está toda a obra do Valter Hugo Mãe publicada em 2016 pela Biblioteca Azul e a obra completa de Raduan Nassar. Saiba mais aqui

Segunda-feira, 03/10

>>> Portugal: Flores, o romance de Afonso Cruz, ganha o Fernando Namora de 2016

"A elevada qualidade estética", "o domínio da linguagem de ficção, a capacidade de construção de uma história e das suas personagens, sabendo lidar com a introdução do aleatório numa estrutura bem montada", o "registo lírico de apreensão do real", a relação entre "a cultura clássica a referências correntes - através de uma assinalável compreensão do quotidiano e da sua riqueza multifacetada" - eis alguns dos motivos para a eleição que tinha no páreo outros importantes títulos da literatura portuguesa como O luto de Elias Gro, de João Tordo e Desamparo, de Inês Pedrosa. Afonso Cruz publicou o primeiro romance em 2008, A carne de Deus: aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites (inédito no Brasil). Flores foi publicado recentemente no Brasil pela Companhia das Letras.

>>> Itália: O jornalista italiano Claudio Gatti garante que descobriu quem é a verdadeira Elena Ferrante, autora da tetralogia napolitana

Nunca se viu uma fotografia sua; nem se soube o verdadeiro nome. Nos últimos anos tem concedido várias entrevistas a periódicos de jornais diversos ao redor do mundo – todas por escrito através de mediação da editora Edizione, casa que publica sua obra. Agora um artigo publicado simultaneamente em vários jornais do mundo afirma que a identidade de Elena Ferrante foi descoberta: ela seria Anita Raja, uma tradutora na Edizione. As investigações dão conta de que ela trabalhou como coordenadora para uma coleção que inclui as obras de Ferrante; os registros de pagamentos feitos pela editora a Anita dão contas de um aumento exponencial ao longo dos últimos anos, de 65% em 2014 a 150% nos anos seguintes; além do salto em seu patrimônio: Raja comprou um apartamento de luxo quando o primeiro livro de Ferrante foi adaptado para o cinema, depois uma casa de campo na Toscana e o marido, Domenico Starnone, comprou um apartamento em Roma avaliado em 2 milhões de dólares. Anita Raja é uma napolitana de 63 anos, filha de Golda Frieda Petzenbaum, uma judia alemã, que teve de fugir para Milão em 1937 com a família. Na Itália, após Mussolini ter entrado na Segunda Guerra Mundial, a família acabou por ser enviada para um campo de concentração. Os pais de Golda ainda conseguiram, contudo, enviar a filha para a Suíça. No fim da guerra, a mulher foi viver em Nápoles, onde conheceu um magistrado italiano, Renato Raja. Os dois tiveram Anita em 1953, e mudaram-se para a capital italiana em 1956. Desde que escreveu o primeiro romance, em 1992, que a autora nunca aceitou desfazer o seu anonimato. A editora não se pronunciou desde que o texto foi publicado; dois dias depois, a tradutora abriu uma conta no Twitter confirmando-se Elena Ferrante. Será?

Terça-feira, 04/10

>>> Brasil: O terceiro volume da tetralogia napolitana foi antecipado para o final de outubro

História de quem foge e de quem fica seria publicado só em novembro. Mas a Biblioteca Azul, selo da Globo Livros, antecipou para agora, quando chegam nas livrarias outros títulos da escritora italiana. A história das amigas Elena e Lila, contada pela primeira após o súbito desaparecimento da segunda ganha novas peças: agora, o que se apresenta é o início da fase adulta das duas, que após passarem a infância e a adolescência em Nápoles, vivem realidades opostas.

>>> Espanha: Papéis inéditos de Octavio Paz no arquivo de censura da Guerra Civil espanhola

O acontecimento está entre os do circuito do horror que povoa a história da humanidade. Há algum tempo publicamos aqui a notícia de que Octávio Paz havia sido vítima da censura da Franco (leia mais aqui). Agora uma série de novos papéis vem à luz e testemunha todo itinerário do escritor durante a visita que fez à Espanha em 1937. O escritor viajou ao país com outros diversos nomes para Congresso de Escritores Antifascistas: estavam figuras como Pablo Neruda, Nicolás Guillén e Alejo Carpentier. Na época, Paz tinha só 23 anos e estava recém-casado. Os papéis agora revelados assinalam o relevo que teve o encontro realizado em Valência naquele ano. Sabe-se agora que o mexicano leu o poema “Não passarão” ainda em Madri, depois seguiu para Salamanca até chegar ao destino do evento. A ocasião não foi apenas de celebração; o grupo havia perdido representações importantes como a de George Orwell que se voltava contra a esquerda; o tom do evento engrossou a condenação pública a André Gide, quem já algum tempo havia se posicionado contra os países membros da União Soviética. Outros papéis revelam os desdobramentos do encontro: uma edição do periódico “Hora de Espanha” em que figura uma cópia datilografada de um poema de Paz – “Elegia a um jovem morto no front”; gravações de emissões de rádio em que o poeta lê várias poemas e textos de apoio à causa republicana.

Quarta-feira, 05/10

>>> Brasil: Mais clássicos da literatura universal ganharão edição nos próximos semestres

O investimento é da Autêntica Editora: anunciou o jornal Estadão. A casa decidiu criar uma série de clássicos cuja aposta será o projeto gráfico e a tradução. Ainda em 2016 estão programados As mais belas histórias, de autores diversos (vol. 1, por Ana Carolina Oliveira, e vol. 2, por Marcelo Hauck), e Heidi, clássico infantil de Johanna Spyri publicado em 1881 e que ganha agora tradução de Karina Jannini. Depois virão Alice no país das maravilhas e Alice através do espelho, O Mágico de Oz, Peter Pan, Tarzan e As viagens de Gulliver. Alguns dos títulos virão com ilustrações originais.

Quinta-feira, 06/10

>>> Brasil: Uma caixa reúne dois clássicos de Dostoiévski

Grandes obras de Dostoiévski traz Crime e castigo e Os irmãos Karamázov. Publicado pela primeira vez em 1866, o primeiro romance narra a história de um jovem que comete um assassinato por uma recompensa ridícula e acaba vivendo atormentado por sua própria consciência. Já Os irmãos Karamázov foi o último romance do escritor russo e sintetiza todas as possibilidades de sua arte. Concentrando em cada um dos quatro filhos do velho Karamázov uma qualidade humana, Dostoiévski reflete os problemas do século XIX e, como grande escritor, transcende o seu próprio tempo, apresentando um painel memorável dos dramas universais.

>>> Holanda: Anne Frank com um final feliz. Publica-se em Amsterdã livro com diário de uma sobrevivente do Holocausto

O livro é destinado aos visitantes da casa-museu Anne Frank. A obra sai nos 90 anos de Carmela Mass (Carry). Sua história tem um enredo similar ao da famosa autora do diário mais lembrado sobre o Holocausto: como Anne, escondeu-se com seus pais e sua irmã Rachel; como Anne, cuja família procedia da Alemanha, ela é de outro país, a Polônia, e tiveram ajuda de alguns vizinhos. Mas há uma diferença essencial: Carry sobreviveu à invasão nazista na Holanda. Tudo ficou registrado em sete cadernos que agora são editados com o título de Nachts droom ik van vrede (De noite sonho com a paz) pela editora Mozaïek.

Sexta-feira, 07/10

>>> Brasil: Uma antologia reúne alguns contos notáveis de Katherine Mansfield

Sua obra ganhou, entre os leitores brasileiros, uma grande dimensão. Graças a isso, sabe-se que a Autêntica Editora (cf. noticiamos aqui) prepara a publicação de toda sua produção literária. Até lá, outras editoras, depois da saída de circulação do conceituado projeto editorial da Cosac Naify que apresentou toda sua contística, se revezam para ganhar ainda mais o gosto do leitor. Depois da L&PM Editores, o Grupo Editorial Record apresenta sua antologia com 15 contos da escritora neozelandesa. São textos publicados entre 1915 e 1922, com narrativas ousadas, personagens bem-construídos a partir de acontecimentos triviais e descrição apurada.

>>> Brasil: Uma nova edição para O escaravelho de ouro, de Edgar Allan Poe

Com tradução do Cesar Alcázar, a edição sai pela Arte & Letra. A descoberta de um novo tipo de escaravelho por William Legrand é o início de uma caçada a um tesouro deixado por piratas na costa da Carolina do Sul. A principal pista é uma mensagem criptografada em um velho pergaminho. Usando a lógica, Legrand decifra a mensagem e segue as pistas com a ajuda de seu criado Jupiter, e um amigo. O conto mostra uma das grandes paixões de Poe, que chegou a colocar um anúncio em um jornal para que as pessoas enviassem mensagens criptografadas para ele decifrar. Pensando na paixão de Poe, a editora decidiu acrescentar um desafio a esta edição: ao final do livro encontra-se a tradução de Fernando Pessoa para o poema O corvo criptografada. Para poder ler o poema de Poe é preciso usar o mesmo mecanismo que Legrand usou para decifrar a mensagem do conto. A capa também está codificada e o nome do autor e do conto só são possíveis de ver quando se inclina o livro contra a luz. O escaravelho de ouro foi publicado no Philadelphia Dollar Newspaper, em 1843.

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