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Mostrando postagens de outubro, 2016

Os clássicos nos fazem críticos

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Por Carlos García Gual   Ulisses e as sereias. Otto Greiner Como destaca Alfonso Berardinelli (em Ler é um risco ), os livros que qualificamos como “clássicos” não foram escritos para ser estudados e venerados, mas, antes de tudo, para ser lidos. O renovado e largo fervor de seus leitores tem sido o que deu prestígio a alguns livros e os mantém vivos ao longo dos séculos. Talvez por isso há quem acredita que esses escritos de outros tempos não são de fácil acesso, são desatualizados e distanciados de nós e mantidos única e exclusivamente por uma retórica acadêmica. Contra tão vulgar prejuízo parece-me excelente o conselho de Berardinelli: “Quem ler um clássico deveria ser tão ingênuo e presunçoso como pensar que esse livro foi escrito precisamente para ele, para que ele se decidisse a lê-lo”. Cada clássico convida a um diálogo direto, porque suas palavras não se perderam com o tempo, e podem ser tão atrativos hoje como quando foram escritos, para quem se arrisca a viajar sob

Boletim Letras 360º #190

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As celebrações pelo Dia de Drummond começam hoje, 29, e seguem até o aniversário do poeta, o também Dia Nacional da Poesia, dia 31 de outubro. A data do Dia D faz parte da iniciativa do Instituto Moreira Salles em celebrar a obra do poeta. Falta exatamente um mês para entrarmos nos dez anos online. Uma maneira que encontramos de iniciar as celebrações entre nós leitores foi a realização desta promoção; entre os brindes oferecidos estão todos os livros do Valter Hugo Mãe publicados em 2016 pela Globo Livros / Biblioteca Azul (incluindo o novo romance anunciado neste Boletim) e a edição com a obra completa de Raduan Nassar publicada pela Companhia das Letras. Para saber sobre e como participar, basta acessar aqui . Segunda-feira, 24/10 >>> Brasil: A edição brasileira do livro O lagarto , de José Saramago sai em novembro No mês de setembro as livrarias portuguesas receberam o novo livro (cf. noticiamos por aqui). A crônica publicada há 40 anos na edição de

E os tais inéditos de Roberto Bolaño?

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Roberto Bolaño nem sempre foi escritor; primeiro trabalhou como lavador de pratos, lixeiro, cozinheiro e até vigilante noturno. Nem sempre morou no mesmo lugar: passou pelo México, El Salvador e vários países europeus antes de ir viver na Espanha. Era janeiro de 1981, quando chegou a morar na casa do bairro Las Pedreras, em Girona; antes, havia deixado seu quarto na rua Tallers, em Barcelona, cinco anos depois de seu itinerário por parte da América Latina. Estava ainda na casa dos vinte anos e a instalação ao norte da Catalunha foi numa habitação alugada pela irmã Salomé que logo regressou ao México deixando o escritor só com sua cadela Laika. Foi aí que começou a se dedicar melhor à literatura; foi aí que construiu uma contínua recepção para velhos amigos. “Toda vez que eu o visitava estava sozinho e fazia um frio que carcomia os ossos”, recorda Bruno Montané. “Roberto se agarrou com a biblioteca de livros de ciência de ficção que o cunhado Narcís havia lhe emprestado”

A aura dos livros perdidos

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Por Andrea Aguilar Ernest Hemingway, o trauma da perda dos primeiros escritos foi impulsão para sua obra? Os manuscritos perdidos tornaram-se um tema literário (ou metaliterário) recorrente, uma estrutura narrativa com a qual se tem construído um bom número de obras, e que escondem um número variado de escritores, como Cervantes. Como se um intricado jogo de espelhos que borra as fronteiras entre realidade e ficção ou como simples isca para impulsionar a trama de uma história, o capital criativo e as possibilidades de fabulação que se chama por desaparição (algo romântico, intuito desesperado, fruto do acaso, fato irremediável) de uma obra estão mais que provadas. Num plano mais terreno, encontra-se a erudita paixão acadêmica por incunábulos perdidos e demais peças impossíveis do grande puzzle literário. Também a ágil recuperação de livros “perdidos” em caixões ou sótãos empreendida por agentes, editores e parentes de insignes escritores tem se demonstrado como um ex

É isto um Prêmio Nobel de Literatura?

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Por Pedro Fernandes Quando saiu o Prêmio Nobel de Literatura 2016 escrevi, ironicamente, no Twitter: “Quer dizer então que o clube de leitura da Academia Sueca não leu nada neste último ano? Só estiveram ouvindo Bob Dylan”. A frase, antes de encerrar uma posição contrária ou um lamento sobre o desperdício de um prêmio, possui duas questões: uma, a convenção cristalizada desde a invenção da escrita de que a literatura é um artefato construído pela escrita e, logo, exercício para leitores; outra, a não tão firme linha que, também com a invenção da escrita, separou poesia da música embora da música nunca tenham separado a poesia. Entre gostar ou não gostar de para quem o prêmio foi dado e compreender as questões que ele reinaugura para leitores e, sobretudo, o pequeno grupo estudantes da literatura – essa selva de egos – há uma distância muito grande. Recordo uma consulta realizada pelo jornal português Sábado ao escritor António Lobo Antunes sobre seu ponto de vista acerca

Christopher Marlowe, de rival a coautor com William Shakespeare?

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William Shakespeare foi puro fogo. Seu nome de batismo lhe serviu de álibi para a identidade de suas conquistas, antes e depois de deixar sua companheira e sua primeira filha, Susana, em Stratford-upon-Avon e empreender uma vida de idas e vindas em Londres. A dupla vertente de um diminutivo – Will – que significa determinação ou vontade em inglês, lhe proporcionou muito jogo criativo. Tratava-se de um superdotado em duplos e triplos sentidos. Tanto como haver declarado amores de todas as vertentes, gostos e tendências em suas obras e sonetos com grande sucesso de vendas e de público. A homossexualidade masculina na época elizabetana não produzia apenas escândalo. Era castigo, contra a lei dos homens e a ira de Deus emanada dos púlpitos. Mas na sociedade, pelo menos em parte dela, diz Stephen Greenblatt em sua biografia Como Shakespeare se tornou Shakespeare não causava repulsa. Compreendia-se mais a atração de um homem por um homem que por uma mulher, principalmente se fos

A convergência dos ventos, de Nuno Júdice

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Por Maria Vaz Há dias em que os ventos convergem e, entre chuvas de dúvidas, lá nos levam a perder em palavras soltas, que nos respondem ou ampliam indagações. Sim: há palavras aglomeradas em estrofes em que – ainda que não nos revejamos totalmente em termos existenciais – trazem os ventos que nos levam a convergir para aquilo que vamos sendo. Sem esquecer essa mutabilidade do verbo ‘ser’: uma mutabilidade, tantas vezes, com bases fixas. Ontologias ou intelectualidades à parte, aquilo que extraímos do nosso interior não passa de uma narrativa subjectiva – com todas as críticas que a redução ao real-objectivo formalizam –, uma obra permite-nos sempre vislumbrar um pouco do seu autor de acordo com a nossa mundividência. Não obstante, procurarei enunciar as notas objectivas daquilo que ressalta na obra A  convergência dos ventos . Assim, podemos dizer que os ventos convergiram para questões e temas que perpassam a existência de todos os seres emocionalmente intensos. É assi