Boletim Letras 360º #184
Machado de Assis preside sessão na Academia Brasileira de Letras |
Enquanto fechávamos a edição deste boletim, encontramos a notícia publicada no Estado sobre a descoberta de um livro de Machado de Assis que nunca foi veio a lume (leia mais no fim do boletim). A descoberta alinha-se a outras três feitas recentemente em torno do escritor brasileiro: a da crônica desconhecida em que o autor chora a morte da mãe, a do poema "O grito do Ipiranga" e a desta fotografia, publicada no último final de semana na Folha de São Paulo: trata-se da primeira imagem que se tem notícia de Machado de Assis a presidir uma sessão da Academia Brasileira de Letras. Foi publicada na revista Leitura para todos, de 1905. E só é possível dizer que o escritor está na imagem por causa da descrição apresentada no rodapé que diz ser o escritor o espectro que está entre dois homens, na mesa, à esquerda da foto (cf. marcado). A foto foi encontrada pelo pesquisador Felipe Rissato, o mesmo, que em junho realizou a primeira das três descobertas. O registro mostrado na imagem é o da sessão da ABL que, em 1905, elegeu o escritor Mário de Alencar como imortal.
Segunda-feira, 12/09
>>> Brasil: Na lista de livros esperados para 2016, estava o novo romance de Milton Hatoum; agora com a divulgação das mais variadas publicações para o segundo semestre do ano, nada do escritor
Em
entrevista para jornal Correio de Uberlândia o escritor disse que o
livro só deve sair mesmo no ano que vem. "Esse ano não vou terminar nada,
mas quem sabe ano que vem? Antes que ele acabe comigo", diz. O último
romance de Hatoum foi publicado em 2008, Órfãos do Eldorado. E, desde então,
trabalha nesse novo projeto que já tem um título provisório: “O lugar mais
sombrio”. A obra é dividida em dois volumes: o primeiro é ambientado em
Brasília e São Paulo e tem como pano de fundo o período da Ditadura Militar
(1964-1985). "São histórias de vida de vários personagens. É uma pesquisa sobre
a vida desses personagens. A fórmula é bem diferente dos meus outros
romances", adiantou.
>>> Brasil: Uma edição definitiva de Os sertões, de Euclides da Cunha
A edição crítica de Os sertões que marca a estreia da editora Ubu.
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A obra seria publicada pela extinta Cosac Naify. E sai agora pela novíssima editora Ubu. O livro em questão, que é sem dúvidas marco fundamental nos estudos sobre a formação do Brasil, foi escrito a partir de um trabalho jornalístico sobre a rebelião de Canudos, liderada por Antonio Conselheiro e duramente reprimida pelo governo. Baseada em teorias deterministas em voga na época, a obra aborda cientificamente a influência do meio sobre o homem, como mostra a própria estrutura dos capítulos: "A terra", "O homem", "A luta". A edição recupera o trabalho crítico de Walnice Nogueira Galvão, e acrescenta uma extensa fortuna crítica, a reprodução de páginas das cadernetas de campo de Euclides da Cunha e um conjunto de imagens de Flávio de Barros, único registro fotográfico conhecido do conflito. Trata-se de uma edição comemorativa publicada por ocasião dos 150 anos de nascimento de Euclides da Cunha.
Terça-feira,
13/09
>>> Rússia: O Google, o
estúdio Mosfilm e Museu Mikhail Bulgákov se reuniram para celebrar duas ocasiões
especiais: o 125º aniversário de Bulgákov e os 50 anos desde que seu aclamado
romance O Mestre e Margarida foi
lançado
A ideia é
que qualquer pessoa possa fazer um teste para ser narradora de uma parte dessa
obra. Por meio do site “O Mestre e Margarida: Eu estava lá”, lançado pelo
Google, os interessados conversam em russo com dois dos personagens do romance,
Koroviev e o gato Behemoth. Após breve bate-papo, eles decidem qual dos locais
do romance mais combinam com o perfil do candidato, que é então
teletransportado – seja à mansão de Margarida, um hospital mental, ou um
apartamento. Já em seu possível posto, o internauta é então convidado a fazer
um teste, isto é, um pequeno vídeo lendo um trecho do romance. Este não é,
porém, o primeiro projeto do gênero. Uma leitura online recorde foi realizada
em 2014 (cf. divulgamos aqui), quando o romance Anna Karenina, de Tolstói,
foi transmitido ao vivo por três dias ininterruptos. O prazo de inscrição para
ser um dos narradores de “O Mestre e Margarida” é 5 de outubro. A transmissão
ao vivo pelo YouTube estreará o novo formato 360º do Google, que permite ao
espectador mudar o ângulo da câmera e observar o que existe ao redor do
narrador, e ocorrerá nos dias 11 e 12 de novembro.
Quarta-feira,
14/09
>>> Brasil: Uma caixa
com o conjunto de novelas de Corpo de baile, de Guimarães Rosa
Publicado
originalmente em 1956 e composto de dois volumes com sete novelas, na segunda
edição, o livro foi publicado num volume único e, em edições posteriores, o
autor mesmo tornou a dividir esses trabalhos em três livros menores:
Manuelzão e Miguilim, com as novelas "Campo geral" e
"Uma história de amor"; No Urubuquaquá, no Pinhém, com as
novelas "O recado do morro", "Cara-de-bronze" e "A
história de Lélio e Lina"; e Noites do sertão. A Editora Nova Fronteira,
que trabalhado numa reedição da obra de Guimarães Rosa em edições capa dura,
reuniu as três obras numa caixa refazendo a trajetória pensada pelo escritor.
>>> Brasil: Uma reedição
(econômica) de O Guesa, de Sousândrade, pela Demônio Negro
Em 2009, o
selo editorial havia publicado uma edição para colecionadores da obra: uma
recomposição do texto original com ortografia e projeto gráfico oitocentista.
Anos depois, o livro ganha uma edição para todos os leitores. O poema épico com
13 cantos e 176 estrofes cujo protagonista é um ser errante em travessia pelo
continente americano é uma obra-prima da nossa literatura, embora pouco
conhecida e com público bastante restrito dada a fama de texto difícil. A obra
inclui prefácio de Augusto de Campos.
Quinta-feira,
15/09
>>> Brasil: Obra com a
poesia completa de Oswald de Andrade
O livro
integra o trabalho de reedição da obra do modernista pela Companhia das Letras cf.
anunciamos por aqui em 2015. A poesia de Oswald de Andrade é de uma atualidade
que chega a ser atordoante. O poema-piada, o poema telegráfico, a lírica que
reencena — com sátira — nossa história, o deboche, o jogo verbal e a anotação
ferina. Em volumes como Pau Brasil, Primeiro caderno de
poesia do aluno Oswald de Andrade e Cântico dos Cânticos para
Flauta e Violão, Oswald se mostra o “pai” de manifestações como o
Concretismo, a Tropicália e a poesia marginal. Além das obras publicadas por
Oswald, o volume traz um grupo significativo de poemas nunca reunidos em livro.
A edição conta com textos em prosa com apreciações críticas do próprio Oswald e
de Carlos Drummond de Andrade, Mário da Silva Brito e Haroldo de Campos.
>>> Brasil: A editora
Rádio Londres apresenta mais um romance de Arnon
Grunberg
O
homem sem doença narra as desventuras tragicômicas no Oriente Médio de
Samarendra Ambani, jovem e idealista arquiteto suíço. Sam, como é conhecido
pelos amigos, mora em Zurique com a mãe e uma irmã deficiente da qual ele mesmo
cuida, e trabalha num pequeno estúdio de arquitetura montado com um sócio. Ao
participar de um concurso para a construção de um teatro de ópera em Bagdá,
lançado por uma obscura organização internacional chefiada pelo misterioso
Hamid Shakir Mahmoud, é selecionado e, posteriormente, convidado para ir ao
Iraque. A viagem, iniciada em clima de ingênuo otimismo, rapidamente se
transforma em uma experiência traumatizante: no país devastado pela violência,
Sam vivenciará a brutalidade da guerra na própria pele: enganado, absurdamente
acusado por alguns policiais – que também poderiam ser integrantes de uma
milícia – de ser espião, é preso, interrogado e torturado, conseguindo retornar
para Zurique graças apenas à inesperada intervenção da Cruz Vermelha. Uma vez
em Zurique, Sam tenta retomar a normalidade, mas, ferido no corpo e na mente,
não consegue e, pouco tempo depois, viaja para Dubai, a fim de acompanhar o
projeto de construção de uma grandiosa biblioteca. No emirado, nosso herói é
novamente acusado de espionagem e até de assassinato, acusações que o levarão a
um trágico e surreal epílogo. Uma história trágica contada com irresistível
ironia, O homem sem doença é um impiedoso ato de acusação contra o idealismo e
a hipocrisia do Ocidente, que logra, ao mesmo tempo, divertir e chocar o
leitor.
Sexta-feira,
16/09
>>> Brasil: Uma coleção
que é marco para a literatura brasileira: as tradicionais histórias orais de
quatro etnias indígenas da Amazônia foram cuidadosamente transcritas para o
português
O trabalho é
fruto de pesquisas de vários colaboradores importantes da área. E o resultado é
a Coleção Mundo indígena. São, no total, sete livros de contos vindos das
tribos Caxinauá, Guarani, Yanomami e Hupdäh. Mais de cinco centenas de textos
com ilustrações e projeto gráfico inovador. Uma publicação da Editora Hedra.
>>> Brasil: Três novos
títulos da Elena Ferrante chegam às livrarias entre outubro de novembro
Já falamos
aqui sobre a aquisição dos direitos de publicação da escritora italiana pela
Editora Intrínseca. É dela, os dois lançamentos para o mês seguinte: A
filha perdida é descrito como um relato de verdades dolorosas e perturbadoras.
Publicado originalmente em 2006 este é o terceiro romance de Ferrante e é
considerado um divisor de águas na sua escrita; o outro é Uma noite na
praia, narrativa em que ela retoma o universo do romance agora citado
para contar uma fábula sombria a partir do ponto de vista de Celina, uma boneca
que é perdida em uma praia. O terceiro título é a tão aguardada continuidade da
tetralogia napolitana, que sai pela Biblioteca Azul.
Sábado, 17/09
>>> Brasil: O livro de
Machado de Assis que nunca foi publicado.
Essa
informação faz parte da descoberta de agora pelo professor Wilton Marques – o
mesmo que apresentou o poema inédito “O grito do Ipiranga” (cf.
falamos aqui) – da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e divulgada pelo Estado. A descoberta se dá numa ocasião em pesquisa sobre a presença de
literatos em jornais. Numa altura lê no Mercantil: “Mais um volume de versos
se anuncia, e podemos já dizer mais um poeta se vai revelar. Modesto e muito
jovem são, além de felizes inspirações, qualidades bastantes para recomendarem
o nome do Sr. Machado de Assis, autor do livro cuja publicação se nos anuncia”.
Machado era, então, um garoto de 19 anos. Um ano e meio depois sem que nada
tivesse ocorrido, outra menção ao volume, em janeiro de 1860: “Vai publicar-se
uma coleção de versos com o título de Livro dos Vinte Anos. O autor é um moço
que enceta apenas a carreira das letras. Talento viçoso e original, o Sr.
Machado de Assis promete mais um poeta e um prosador distinto no país. Nas
poesias ligeiras ou ensaios de prosa que tem publicado até hoje, revela o Sr.
Assis qualidades notáveis que recomendam o seu nome. O público receberá sem
dúvida o seu livro como merece o talento do autor, que tem tanto de real como
de modesto. Na atualidade é uma associação rara”. Um mês e outro anúncio, agora
no Correio da Tarde: “Livro dos Vinte Anos por Machado de Assis. Um volume de
200 a 240 páginas; 2$. Assina-se nas lojas de costume e na tipografia do Sr.
Paula Brito, onde é impresso”. E 156 anos depois, nunca mais se ouviu falar
sobre o assunto. Por que o livro nunca foi lançado? O número de assinantes não
foi suficiente para bancar a impressão nesta espécie de vaquinha do século
19? Machado não gostou do resultado do trabalho? Brigou com o editor? Por que nunca
se falou nesta obra? Wilton Marques fica com a hipótese da consciência
literária de Machado e da mudança de interesse. “Tem uma expressão de
Jean-Michel Massa que diz que Machado tinha uma autocrítica vigilante muito
forte. Exigia muito do texto na busca de um comprometimento com o dado
estético, com a formalidade do texto literário. E por isso ele jogava muita
coisa fora”, comenta o professor. Vale lembrar que quando organizou Poesias completas (1901) – porque, como disse em carta ao editor Garnier, queria deixar
esta obra como sua bagagem poética –, ele excluiu muitos poemas de outros
títulos que ele mesmo tinha organizado. “Esse exercício de autocrítica é muito
forte e mais um indício de que ele abandonou o livro”. (Via: Estado)
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