Boletim Letras 360º #174

Jorge Luis Borges. Um documentário brasileiro busca os passos do escritor.

Contamos assim mais uma semana online. E aqui estão as notícias que apresentamos durante ela no compartimento mais movimentado de nossa casa: a sala de estar no Facebook. 

Segunda-feira, 04/07

>>> Brasil: Nova obra de Heinrich Böll 

Pela Editora Estação Liberdade, que já havia publicado O anjo silencioso, também do escritor alemão. Heinrich Böll foi o ganhador do Nobel de Literatura, em 1972 e o romance ora publicado é Pontos de vista de um palhaço. A obra traz ao leitor as questões que tensionavam a Alemanha pós‑Segunda Guerra, uma nação em reconstrução, trespassada por sérios conflitos de ordem econômica, religiosa e ideológica. Hans Shnier, personagem central, é um palhaço abandonado pela companheira – fato que o coloca numa rota reflexiva e autodestrutiva até os níveis mais profundos e sutis do conflito alemão.

>>> Brasil: Nos passos de Jorge Luis Borges

O cineasta Cristiano Burlan é o autor do documentário "Em busca de Borges"; como se sabe, Borges escolheu Genebra para passar a fase final da vida, já na companhia de Maria Kodama. Tinha, com a cidade, uma relação estreita, pois lá vivera parte da juventude e, como gostava de dizer (e escrever), lhe parecia a cidade onde se podia ser mais feliz. Lá morreu, há exatos 30 anos, e lá está enterrado. E é daí que parte a viagem empreendida para a realização do roteiro do filme que passa ainda por Buenos Aires, Lausanne, Zurique e São Paulo, de onde parte o personagem (Henrique Zanoni) em busca de Borges. Não é um filme que busca "explicar" Borges; é um filme dedicado a ele faz a paráfrase de um dos seus contos mais conhecidos, "Em Busca de Almotássim", no qual o percurso parece muito mais significativo do que a chegada.

Terça-feira, 05/07

>>> Brasil: A poesia de Pedro Mexia transita quase sem espanto, desassombrada, por entre ruínas, lúcida e melancólica

A frase é do também poeta Eucanaã Ferraz que apresenta a obra Contratempo do escritor, cronista e poeta português. "Os versos fazem-se, sobretudo, com o diapasão da simplicidade. Os mistérios surgem então como resquícios, restos que emergem da lembrança, testemunhos silenciosos e confusos: casas, automóveis, livros, espingardas, fotografias, animais, canções." — acrescenta Ferraz. O título integra uma coleção de obras ainda desconhecidas (sobre as quais falamos já numa ocasião nesta página) do público brasileiro de figuras de Portugal.

Quarta-feira, 06/07

>>> Brasil: Uma nova tradução e edição para um clássico do romance francês, Graziella

A publicação é da jovem e já reconhecida interessante editora Carambaia. Graziella data do auge do romance na França; foi escrito por Alphonse de Lamartine (1790-1869), nome admirado por autores como Victor Hugo, Charles Nodier e Charles-Augustin Sainte-Beuve. Segundo o crítico literário Brito Broca, o livro inspirou gerações de escritores românticos no Brasil, sobretudo José de Alencar. Para afastar um jovem francês de 18 anos de um romance indesejado, sua família o envia para uma temporada na Itália – Roma, Florença e Nápoles. Após quase naufragar durante um passeio num barco de pescadores, ele aporta na pequena ilha de Procida, no golfo de Nápoles, e conhece Graziella. A moça o faria esquecer rapidamente do amor deixado na terra natal, e a história dessa paixão resultou numa das obras mais emblemáticas do Romantismo francês. Graziella não era editado no país desde os anos 1960. A tradução é de Sandra M. Stroparo, professora de Literatura na Universidade Federal do Paraná, que também assina o posfácio.

>>> Brasil: Mais um título nas reedições da obra da escritora Adalgisa Nery, uma das personagens mais fascinantes da história cultural brasileira

A obra da poeta, jornalista, política, escritora e musa de artistas como o pintor modernista Ismael Nery e o poeta Carlos Drummond de Andrade começou a ser reeditada em 2015 pela José Olympio | Grupo Editorial Record. Depois de A imaginária (1957) a reedição continua com Neblina (1972). O título é o segundo romance de Nery. Na narrativa, uma mulher em seu leito de morte, vegetativa após uma complicação cirúrgica, entrega-se a um fluxo de consciência que recupera os momentos definidores de sua vida em um surreal diálogo com uma segunda cabeça que, em seu delírio, ela enxerga projetada de seu ombro.

Quinta-feira, 07/07

>>> Brasil: A cabra vadia, o próximo título reeditado da obra de Nelson Rodrigues

O trabalho conduzido pela Editora Nova Fronteira traz de volta aos leitores a seleção feita por Nelson Rodrigues em 1970 das crônicas públicas no jornal O Globo entre 1967 e 1969. São 84 textos dotados de uma sinceridade inabalável, que estremece nossas certezas e que fez do autor um incômodo para a intelectualidade de uma época marcada pela radicalização de posições políticas. Voz dissonante na imprensa desabituada à complexidade, Nelson não tinha medo de expor suas radicais e polêmicas opiniões. Atacava personagens nos quais via a hipocrisia da época - o padre de passeata, a grã-fina de nariz de cadáver que faz pose de socialista - e não perdoava nem os amigos.

Sexta-feira, 08/07

>>> Brasil: Livro desconhecido por aqui e de grande importância para a literatura francesa ganha tradução e edição no Brasil

Foi em 2015, depois que o jornalista e editor Mateus Kacowicz saiu do cinema que veio o interesse pela obra. O filme O diário de uma camareira lhe deixou com várias dúvidas, entre elas, como podiam ter feito um filme tão ruim a partir de uma história tão boa; e por que, tanto tempo depois (o romance é de 1900), a obra não havia sido publicada no Brasil. Para a primeira dúvida descobriu que obra já tinha inspirado outras três adaptações cinematográficas bem melhores, incluindo uma do espanhol Luis Buñuel e outra do francês Jean Renoir. E para a segunda, ele próprio traduziu, diagramou, prefaciou e publicou a primeira edição brasileira da obra de Octave Mirbeau. O diário de uma camareira é considerado o romance mais importante de Mirbeau, que também foi jornalista e crítico de arte. Pelos olhos da narradora, a criada Celestine, o escritor faz um retrato impiedoso da burguesia francesa na virada do século XIX para o XX.

>>> Brasil: Breve, textos de Kurt Vonnegut ainda inéditos no Brasil virão a lume

Kurt Vonnegut se tornou um clássico da literatura estadunidense com Matadouro-5; mas ele foi um dos mais populares – e disputados – paraninfos na história das formaturas universitárias dos EEUU. Seus discursos ficaram conhecidos pela leveza, pela graça e pela sabedoria. Em 2013, esses textos foram reunidos numa coletânea com o título de If this isn't nice, what is? The Graduation Speeches and Other Words to Live. Vendeu horrores! E agora sai mais uma edição com textos inéditos; é esta a edição que chegará ao Brasil pela Editora Rádio Londres.

>>> Brasil: O romancista Ignácio de Loyola Brandão foi anunciado nesta quinta-feira como o vencedor do prêmio Machado de Assis, outorgado pela Academia Brasileira de Letras

O prêmio outorgado a Brandão marca a reformulação das gratificações da ABL, que até 2015 concedia prêmios nas áreas de poesia, ficção, ensaio, literatura infanto-juvenil, tradução, cinema e história e ciências sociais. A partir deste ano, o Machado de Assis se torna a única premiação da instituição, intercalando as áreas de literatura e de humanas.

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