Uma lista de leituras a partir da biblioteca de Julio Cortázar
Julio Cortázar em sua biblioteca em Paris, 1975 |
Uma espécie
de anfíbio. Ou talvez um duende que toma forma de um literato importante. Poucos
sabem com certeza o que é um cronópio e, ao mesmo tempo, todos sabemos a quem se
refere a palavra: esta estranha conjugação de entendimento e incerteza só foi
possível na obra de Julio Cortázar, tão experimental até nossos dias num grau
superlativo de desafio e performance para o leitor.
Não há descrição
física destes seres; a única coisa que sabe é que são verdes e voláteis, um
tanto sensíveis e idealistas, beirando ao ingênuo e que protagonizam uma série
de contos reunidos no livro Histórias de
cronópios e famas.
Por que isso
vem em conta? Sensivelmente como um exemplo desse mundo cortazariano que o autor foi capaz de criar e mesclar com o que há de comum na terra e nós mortais
o experimentamos. Como uma mostra de criatividade frente a algo que tem
demandado um estudo profundo da crítica interessada em desvelar o mistério que hospedam
tais criaturas e sua nomenclatura, quando, na realidade, não há mais que um exercício
lúdico de criação vocabular e palavras e ideias que nada têm a ver, ao menos aos olhos do próprio escritor, com a metafísica
ou a análise humana.
Em alguma
ocasião, durante uma das várias entrevistas concedidas por Cortázar, ele se
referiu à sua obra como produto de uma necessidade individual: um desejo por
fazer viagens longas e sem qualquer relação com o tão sonhado problema de fundo e
forma que se discute em torno do labor da escrita.
Mario Vargas
Llosa, num artigo para o jornal El País
publicado em 28 de julho de 1991, reafirma essa possibilidade ao dizer que,
para Cortázar “escrever era jogar, divertir-se, organizar a vida – as palavras,
as ideias com a arbitrariedade, a liberdade, a fantasia e a irresponsabilidade
tal como as crianças ou os loucos”. Mas, justamente por isso, acrescenta, “abriu
portas inéditas, chegou a mostrar lugares desconhecidos da condição humana e a
roçar no transcendente, algo que seguramente nunca esteve disposto a se propor.
Bom, de
certa maneira, aí está uma proposição para a presença de criações como os cronópios.
Seu trabalho literário é autoconhecimento de temas e o exercício de modelá-los
da forma necessária; então, podemos distinguir certas personagens do escritor
numa estância e outra da sua obra, ele que criou figuras para contos e
romances.
Essa consciência
demonstrada pelo cronópio maior, numa delimitação herdada ou própria na ocasião
de quando se dedica a compor suas ideias mais geniais ao ponto de estas lograrem
autonomia e atividade extraordinária, é uma evidência de seu envolvimento com o
mundo visível e sensível. É produto, em outra parte, do estar atento a qualquer
coisa que suscite o interesse por transformar e gerar criações providas de
existência própria.
Outra parte
foi apreendida certamente do contato com as leituras e a vivência literária com
seus escritores e obras favoritas. Por isso, uma visita à biblioteca de Cortázar.
Nela, estão certamente alguns vestígios que dão sentido a extensa variedade de
sentidos produzidos pela obra do escritor.
Atualmente a
biblioteca de Julio Cortázar comporta 1162 autores entre escritores, pensadores,
artistas plásticos, músicos, historiadores de todos os países e épocas – visitá-la
é entrar numa vasta parte da criação do escritor e é também a oportunidade de se
aproximar de um leitor apaixonado e comum, quem gostava tanto de ler que não importava
se era uma edição de bolso ou um livro velho.
De uma visita a esse maravilhoso lugar, selecionamos entre a variedade de títulos aqueles que dialogam muito
proximamente com o universo criativo de Cortázar, inclusive quanto as suas criações-símbolo
que o colocou em destaque entre outros importantes criadores e outras peças que atestam o quanto o escritor foi atento às produções literárias suas contemporâneas; são mais de meia centena de obras indispensáveis
aos leitores mais apaixonados pela obra do argentino e, claro, com sua
importância para a formação cultural de todo indivíduo-leitor.
- Homero, Odisseia; Ilíada
- Franz Kafka, A metamorfose
- Milan Kundera, Risíveis amores
- Clarice Lispector, Legião estrangeira
- Flannery O'Connor, Contos completos
- Roy
Abernethy, Portrayal: portraits of
Nicholas Treadwell (1969-1975)
- Joaquín
Balaguer, Guía emocional de la ciudad
romántia
- Brian
Case; Stan Britt, The illustrated
encyclopedia of Jazz
- Rosalba
Campra, America Latina: l’identità e la maschera
- E. M.
Forster, The longest journey
- Federico
García Lorca, Romanceiro cigano e outros
poemas; Llanto por Ignacio Sánchez
Mejías
- Henry
Miller, Colosso de Marussia
- Agusto
Monterroso, Relatos fantásticos latino-americanos
- Alejandra
Pizarnik, El deseo de la palabra
- Arthur
Rimbaud, Ébauches
- Apollinaire, Caligramas
- Juan José
Arreola, Mujeres animales e fantasias mecânicas
- Roland
Barthes, O rumor da língua
- Samuel
Beckett, Film
- Walter
Benjamin, Tentativas sobre Brecht
- Jorge Luis
Borges, O livro dos seres imaginários;
O Aleph
- Bertolt
Brecht, Poesia
- J. D. Salinger, O apanhador no campo de centeio
- Octavio
Paz, Remedios varo
- Luis
Cernuda, La realidad y el deseo
- Douglas
Cooper, Paul Klee
- H. R.
Ellis Davidson, Gods and myths of
Northern Europe
- Raúl
Deustua, Arquitectura del poema
- Ernesto Sábato, Cartas a jovem escritor
- Bob Dylan,
Tarantula
- Adolfo Bioy Casares, Diário da guerra do porco
- Alejo Carpentier, El acoso
- T. S. Eliot, Quatro quartetos
- William Faulkner, O som e a fúria; As palmeiras selvagens
- Maksim Górki, Infância; Ganhando meu pão; Minhas universidades
- Eurípides,
Teatro completo
- César Fernández
Moreno, Buenos Aires me vas a matar
- James
Rorimer; Margaret B. Freemn, The nine
heroes tapestries at the cloisters
- Luisa
Futoransky, Babel, babel
- M. León-Portilla; Maria Ángel G. K., Visión
de los vencidos: relaciones indígenas de la conquista
- Nikolai Gógol,
Tarás Bulba
- Carlos Drummond de Andrade, Poesia reunida
- Isaac Bábel, Contos escolhidos
- Saul Bellow, Herzog; O legado de Humboldt
- Michael
Hardwick; Mollie Hardwick, The Sherlock
Holmes companion
- William
Fryer Harvey, The beast with five fingers
and other tales
- Nathaniel
Hawthorne, Contos de terror
- Bartolomé
Hidalgo; Hilario Ascasubi, Poesía
gauchesca
- Hölderlin,
Hinos
- R. Thurston
Hopkins, Cavalcade of ghosts
- Aldous
Huxley, As portas da percepção
- Sara de
Ibáñez, Poemas ecogidos
- Alejandro
Jodorowsky, Les yeux du chat – Moebius
- James
Joyce, Ulysses; O gato do diabo
- Philip Roth, The Ghost Writer
-
Kierkegaard, Antígona
- Ángel
Leiva, Cenizas y señales: las edades y la
muerte. Poemas
- H. P.
Lovcraft, Contos de terror
- Thomas
Mann, O santo pecador
- Diana
Morán; Ramón Oviero; Dimas Lidio Pitty et al Poesía joven de Panamá
- José
Emilio Pacheco, No me preguntes cómo pasa
el tiempo. Poemas
- Horácio
Quiroga, El más allá
- Quino, La buena mesa. Introucción a la gastronomia
- Juan Ruiz de Alarcón, La verdade sospechosa
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