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Mostrando postagens de junho, 2016

O reino, de Emmanuel Carrère

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Por José Luís Autor de obras que seus editores denominam “romances de não ficção”, Emmanuel Carrère parece haver optado por escrever livros entre o jornalismo “íntimo” e a investigação sobre um “tema” geral ou particular. São obras escritas em primeira pessoa e cujo protagonista é o autor; ainda que as vezes não pareça, como é o caso de O adversário , crônica indagadora sobre o insólito assassino Jean-Claud Romand, e de Limonov , biografia de uma personagem cuja peripécia, tão exagerada como real, Carrère chega a se identificar com o protagonista como se tratasse de um romance sobre o autor. Para a presente narrativa, ele, nascido em Paris em 1957, que fez uma carreira como roteirista na França, mesclou dois elementos narrativos: um biográfico, seu período de fervoroso religioso e leitor do Evangelho de São João; e outro hagiográfico, as figuras do convertido Paulo e de seu discípulo Lucas. Se na primeira parte da obra contém a memória de três anos de fervor cris

A literatura mascarada do Sr. Junichiro Tanizaki

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Por Manuel Lavaniegos Em 2009, a Companhia das Letras publicou reunidas num só volume as traduções de Dirce Myamura para duas novelas do grande escritor japonês Junichiro Tanizaki: A vida secreta do Sr. de Musashi e Kuzu , ambas publicadas pela primeira vez em 1931. Na ocasião, justificou-se brevemente que a edição conjugada reafirmava a predileção do escritor, dentre sua vasta obra, por esses dois títulos. Junichiro Tanizaki (1896-1965) é considerado por muitos como a pedra angular do romance contemporâneo no Japão ao lado de figuras decisivas como Mori Ōgai, Natsume Soseki, Ryūnosuke Akutagawa, Yasunari Kawabata, Yukio Mishima e Kobo Abe. Tanizaki tem contribuído com um papel de protagonista no dramático entrecruzamento da cultura e da arte do Oriente e do Ocidente, na modernização-devastação do século XX. Dos muitos livros já publicados aqui no Brasil até o presente vale mencionar As irmãs Makioka , Voragem , Há que prefira urtigas , Amor insensato , A chave ,

Memórias e consequências de uma noite tenebrosa

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Por Roberto Coría Mary Shelley, a autora de Frankenstein 1 Estabeleçamos o cenário desta história. Encontramo-nos em 1816. A erupção do Monte Tambora nas Índias Orientais, no mês de abril do ano anterior, alterou notavelmente as condições climáticas do planeta. Ele fez com que a época fosse lembrada como “o ano sem verão”. No mês de maio, George Gordon, sexto Barão de Byron (com 28 anos então), baluarte do romantismo britânico autoexilado de seu país depois da separação de sua esposa, chegou à comunidade sueca de Cologny, próxima do Lago Leman, e alugou o casarão conhecido como Villa Diodati – pertencido ao teólogo do século XVIII Giovanni Diodati – com a intenção de convertê-lo em sua residência de férias. Acompanhava-o seu médico e seu secretário particular John William Polidori, jovem entusiasta de 20 anos. Nesse momento, encontravam-se na região seus conterrâneos, o jovem poeta Percy Bysshe Shelley (de 23 anos), Mary Wollstonecraft Godwin – quem adotou o sobre

O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

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Por Élida Karla Alves de Brito Considerado como o nome do século XIX, vivenciando uma época em que a Inglaterra é marcada pelo desenvolvimento econômico e industrial, um momento de conquistas para o país, acarretadas principalmente pela segunda revolução industrial, atrelando-se a isso um período de expansão e conquistas coloniais, nesse contexto, o escritor Irlandês Oscar Wilde experimenta os dilemas e os conflitos próprios do homem de seu tempo ao se deparar com os costumes, a cultura, as crenças, a repressão e a rigidez dos valores morais típicos da chamada “Era Vitoriana”. Essa conjuntura de transformações e desenvolvimento econômico também se reflete nas artes como um período de expansão em todos os seus campos, sobretudo, na literatura, destacando-se nesse setor, a obra do escritor como um dos marcos da época. Tal reconhecimento é atribuído, sobretudo pela visão que o escritor tinha de seu tempo, sendo possível dizer que “[...] De diversas formas foi ele quem melhor o

João Chiodini: "A hora de escrever é quando a perturbação ultrapassa as barreiras do próprio corpo"

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João Chiodini nasceu em Jaraguá do Sul, SC, em 1981. Trabalha com projetos ligados ao livro, leitura e literatura desde 2005. É cronista e autor de livros infantis e biografias. Os abraços perdidos  (Editora da Casa, 2015) é seu primeiro romance e já recebeu várias impressões positivas de grandes escritores nacionais como Paulo Scott e Elvira Vigna. O livro também foi incluído na lista de Melhores do Ano de 2015 do Suplemento Pernambuco. A notícia de uma gravidez inesperada da namorada de Pedro desencadeia no jovem publicitário um processo revisitação ao seu passado, relembrando inúmeros momentos ruins e traumáticos que viveu com seu pai, um caminhoneiro alcoólatra. Ele vai contar como foi crescer lutando por um amor que nunca recebeu, cheio de mágoas e rancor e tenta, através dessa história, convencer a namorada de que essa gravidez não é, de forma alguma, algo aceitável em sua vida. Assim se constrói a narrativa de Os abraços perdidos . Nesta entrevista realizada pela Agên

Boletim Letras 360º #172

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O humor de um mestre literatura brasileira. Livro traz textos de Machado de Assis e de outros escritores sobre a verve do riso em suas obras. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Oi, caro leitor, que acompanha diariamente ou vez-e-outra o blog! Aqui está mais uma edição do Boletim Letras 360º. Para quem ainda não conhece esta publicação, ela é editada todos os sábados e traz todas as notícias que circularam na página do Letras no Facebook. Existe há, como denuncia o título, 172 semanas. Aproveitamos essa ocasião para informar que entre os dias 18 e 19 de junho realizamos nosso primeiro sorteio no Twitter! Isso mesmo! (Siga-nos em @Letrasinverso) Saíram mais duas edições de Alabardas, Alabardas , de José Saramago. Os livros do escritor são os mais sorteados por nós! Só desse texto, que seria o último romance do escritor português, com as edições agora sorteadas, são cinco exemplares. Bom, outra novidade, é que em breve tem mais promoções. Segunda-feira, 20/06 >>&

Zero Zero Zero, de Roberto Saviano

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Por Gerardo Ochoa  Logo quando da publicação de Gomorra , Roberto Saviano foi banido de Nápoles. A sentença “Livremo-nos de Saviano” resume o malquerer de sua cidade natal ante o retrato dos mafiosos que a governam. Mas nem as ameaças que o obrigam andar escoltado pelo polícia aonde vá não impediu que fosse mais além. E se essa obra, levada de imediato ao cinema por Matteo Garrone ainda ganhou em Cannes, foi um clássico instantâneo, Zero Zero Zero é o golpe no meio do sistema econômico e político global, o desnudamento das regras de diversas comunidades marginais, a meditação sobre a natureza do mal, o rebaixamento visceral frente a irremediável perda da esperança, o grito ante a contemplação da besta de incontáveis denominações: Neve, Branquinha, Neve Branca, Coca,  Pico, Lady C., Basuko, Brisola; o petróleo branco, a cocaína. A droga chega ao seu destino em ônibus, contêineres, aviões de pequeno porte, embarcações, submarinos, mulas. Transportada como artesan