Sete pontos da filosofia da composição de Edgar Allan Poe
Edgar Allan
Poe sempre aparece em muitas listas e artigos literários não apenas porque
alcançou elevada popularidade com os seus escritos, mas porque foi um escritor
que muito teorizou sobre o que escreveu – seja o conto, seja a poesia.
Quando vivo, não
apenas por isso; na época em que se casou com sua prima aos 27 anos – ela tinha 13 – já
há muito circulava entre vários grupos de jornais artigos seus sobre fofocas do mundo
literário. Sim, estava atento de que o universo do qual fazia parte era diverso
e oferecia material de igual forma para tornar público e esse talvez seja o principal
valor que o levou tornar-se quisto então.
Agora, além dessa
última observação em tom de fofoca, é preciso voltar a compreender o lugar
desse Poe que deu forma a todo um universo literário e à maneira com a qual passou
para as gerações futuras – sim, porque não foram os textos de certa pitada
trivial aqueles que o fizeram a figura que se tornou para as gerações de
depois.
Poe é um dos nomes da literatura do século XIX cuja influência noutros escritores pode
se visualizar ao longo dos anos. É um dos renovadores do gênero gótico e para
muitos é o inventor dos contos de investigação (que aos olhos dos leitores de então
pareciam realmente arrepiantes).
E para conseguir capturar sua imaginação,
tinha que saber muito bem o que ia escrever. Nesse território é conhecida uma sentença sua que mais tarde passou a figurar com a mais misógina e macabra da literatura inglesa; a de que “a morte de uma linda mulher” é “sem dúvida o tema mais poético do mundo”. (Essa observação talvez tenha sido encarada de forma irônica por Sylvia Plath quando escreveu mais de cem anos depois ““A mulher está aperfeiçoada / Seu cadáver / Ostenta o sorriso da realização.”).
A frase de Poe é de 1846 do seu texto A filosofia da composição. E, nele Poe tem muito a dizer mais que sobre mulheres mortas. O ensaio cumpre a promessa do título. É nele que encontramos sua famosa teoria de que a boa literatura é se faz, conseguindo o que Poe chama de “unidade de efeito”; ele faz isso a partir da análise de seu próprio texto mais conhecido: O corvo.
O que ele chama de unidade de efeito consiste de uma “totalidade”, de um conjunto de elementos essenciais que o autor considera indispensável na “construção de uma história, seja em forma de poesia ou prosa”. Isto é, o escritor tinha certas linhas
mestras, podemos assim dizer, sobre como devia trabalhar um escritor, das quais
se pode copiar estes sete conselhos sobre como escrever boas histórias.
– Conhece antes o final da história. Sim,
este ponto polêmico porque alguns escritores preferem não saber como terminarão
suas histórias e que sejam as próprias personagens as que guiem a narrativa não
era algo com o qual Poe concordava. Acreditava que devia saber como ia avançar
a história para assim poder preparar o leitor para o seu desfecho. O escritor
tem que “dá ao seu roteiro esse indispensável ar de consequência”. O fim tem de figurar a todo tempo como se algo inevitável.
– Seja
breve. O mesmo que, deixa que seu leitor possa ler seu texto de só golpe. E
se o livro não pode ser lido de uma sentada, precisa ter em conta que poderá
perder o efeito conseguido ao apresentar uma unidade acabada. Existem exceções,
em que histórias são muito boas apesar de que não se possam ler de um só golpe
(o próprio Poe admite quando fala sobre Robinson Crusoé que é uma obra de arte que não exige unidade), mas você já sabe que grande parte delas apostam em
deixar os leitores toda a noite lendo. Além disso, a observação do escritor parece ser restrita às histórias curtas, sejam as em forma de verso ou em forma de prosa. Essa constatação será feita por Julio Cortázar mais tarde e, claro, está na admissão de Poe sobre o Paraíso perdido, de Milton, um poema que segundo ele falha em alcançar uma unidade de efeito.
– Precisa ter de antemão o efeito que quer
conseguir. Quer que seus leitores chorem
enquanto leem? Tem que saber antes o que escreve e como escreve; isso precisa
ser visível desde a primeira linha, para que eles possam entrar no texto e
sejam capazes de sentir o que você quer que eles sintam. Poe acreditava que os
escritores podem manipular os sentimentos de seus leitores.
– Estabelece
um tom para sua obra. E uma vez estabelecido é preciso mantê-lo e cumprir com ele (a quem quiser saber qual era
o tom preferido de Poe, ele acreditava que o melancólico era “o mais legítimo
dos tons poéticos). Para essa manutenção o autor de O corvo recomenda repetir sempre que possível uma espécie de refrão;
pode ser uma palavra, uma frase ou uma imagem. E ao citar o texto seu mais
conhecido, o leitor logo lembrará do “nevermore”, que nesse caso, diz o escritor haver
escolhido pelo som da palavra e o que ele transmitia; o efeito se completa quando coloca o termo na voz de um corvo, "a ave do mau-agouro".
– Escolhe um tema e as características que
marcarão sua obra. E tudo o que você fizer estará marcado por esse tema que
escolheu. Poe falava da morte e tudo girava em torno disso. E nessa ocasião que cita sobre a a morte de uma linda mulher.
– Estabelece um ponto que funcionará como clímax.
O mesmo que, dirige tudo para um só
ponto culminante que será, por assim dizer, o limite da história. Em O corvo é a história principal é mesclada
por duas histórias menores (o pobre homem que recebe a visita do pássaro e
lamenta a perda de Lenore e o corvo que repete a palavra-chave tema da
melancolia) para convergir no final e a narrativa funcionar em sua totalidade. Isto
é tão importante que Poe recomenda, voltando a ideia do desfecho da narrativa,
que antes de começar a escrever a obra, o escritor logo escreva o final.
– Determine o contexto. E como o escritor
deve saber como vai terminar a história, deve ir posicionando coisas e pessoas
para forçar a resolução do imbróglio da narrativa. Os detalhes, o contexto, o
espaço em que se desenvolverá as ações, tem que ser pensado para apontar o que
o leitor vai descobrir quando chegar ao momento determinante.
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