Boletim Letras 360º #165

Marcel Proust numa das fotografias do conjunto de objetos últimos do escritor que vai a leilão. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Foto: Soteby's.


Antes de passar às notícias que fizeram a semana do Letras in.verso e re.verso nas redes sociais, gostaríamos de deixar os leitores na expectativa sobre nossa próxima promoção. Depois do sorteio da edição de Todos os contos, de Clarice Lispector, já temos novas ideias. Fiquem atentos! No mais, uma visita às novidades do rico universo literário.

Segunda-feira, 02/05

>>> Brasil: Toda obra de Katherine Mansfield ganhará publicação por aqui

Uma das edições mais recentes da obra de Mansfield no país foi publicada numa coleção editada pela Cosac Naify, a Mulheres Modernistas; era uma antologia de contos. Agora, toda bibliografia da escritora neozelandesa ganha edição no Brasil pela Autêntica Editora. O trabalho é do brasileiro Rogério Bettoni que foi selecionado para a edição 2016 do programa de residência de tradutores do Banff International Literary Translation Centre. Numa pensão alemã, livro de contos de 1911, o primeiro da escritora marcará a estreia do catálogo. O livro sai ainda este ano com prefácio de Ali Smith e posfácio com o conto "Teu obituário, bem escrito", de Conrad Aiken. Depois, deve sair um por semestre obedecendo a sequência: Bliss and other stories, The garden party and other stories, The dove’s Nest and other stories e Something childish and other stories.

>>> Brasil: Chega às livrarias o mais recente romance de Inês Pedrosa

Desamparo foi publicado em Portugal no início de 2015 e chega ao Brasil através, não da Alfaguara, editora que vinha publicando sua obra por aqui, mas pela LeYa. Original e abrangente, o romance é a saga de uma mulher que se mistura à história de seu país de origem; ela foi levada do colo da mãe para o Brasil aos três anos, e regressa para a conhecer mais de meio século depois. A partir de escrita inteligente, límpida e repleta de humor, a autora cria um universo singular, em um típico povoado português onde se cruzam personagens e histórias de vários continentes. Entre emigrações e imigrações de ontem e hoje, personagens solitários e exilados procuram novas formas de vida, enquanto tentam sobreviver à maior depressão econômica das últimas décadas. Com um enredo cheio de força e originalidade poucas vezes vista na literatura recente, este livro é atravessado por amor, traição, poder, inveja, crime, medo, vingança e – sobretudo – pela constante presença da morte. É a partir dela, e de um enredo que une as tradições e idiossincrasias de diversos países em um pequeno povoado, que Inês Pedrosa faz a radiografia do Portugal contemporâneo e, por extensão, do mundo em que vivemos.

Terça-feira, 03/05

>>> Brasil: A poesia de Viatchesláv Kupriyánov em Luminescência – antologia poética

Conhecida em diversas línguas, a poesia do poeta russo é agora apresentada ao leitor brasileiro pela tradução de Aurora Fornoni Bernardini e publicada pela Kalinka Editora. Nascido em 1939 em Novosibirsk, na Sibéria, Kupriyánov começou a publicar nos anos 1960 enquanto cursava a Faculdade de Tradução do Instituto de Línguas Estrangeiras de Moscou. Se no início de sua carreira seus versos livres (e satíricos) causaram estranhamento aos críticos russos (à diferença dos europeus), hoje Viatchesláv é reconhecido em seu país justamente por ser um dos pioneiros desse estilo. Dono de uma escrita interessante e engenhosa, com flechadas de ironia em momentos de puro lirismo, Kupriyánov nos coloca diante de questões intrinsecamente humanas, como o tempo, o amor e a morte, sem deixar de lidar com elementos da atualidade.

>>> Brasil: Divulgada a programação da Festa Literária Internacional de Paraty 2016

Além de homenagear Ana Cristina Cesar e receber nomes como a jornalista bielorrussa ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura 2015, Svetlana Aleksiévitch, outros destaques da programação para o ano são a presença de Karl Ove Knausgård e Benjamin Moser, que volta ao evento no ano em que se publica a edição que organizou com todos os contos de Clarice Lispector. Esses detalhes e tudo referente ao evento pode ser conferido no site.

Quarta-feira, 04/05

>>> Brasil: Livro recorda a relação de Machado de Assis com a Itália

Conhecido pela admiração que tinha pelo francês Stendhal, por querer escrever com o humor e a liberdade do inglês Laurence Sterne e pela birra com o português Eça de Queiroz, um novo livro chama a atenção para um aspecto menos lembrado das relações machadianas com outros escritores: seu diálogo com a cultura italiana. Machado de Assis e o cânone ocidental: itinerários da literatura (EdUerj), da pesquisadora Sonia Netto Salomão cumpre o fechamento dessa lacuna. A obra lembra desde menções clássicas à Itália na literatura de Machado (como o capítulo de Quincas Borba que traz uma tradução do Canto XXV do Inferno de Dante), a sinais mais discretos, como o nome de sua personagem mais célebre: Maria Capitolina Santiago, a Capitu. Na biblioteca do escritor, a professora encontrou um ensaio sobre o monte Capitolino, uma das sete colinas de Roma, onde, reza a lenda, foi enterrada Tarpeia, uma jovem condenada à morte por traição. Para a pesquisadora, muito do interesse de Machado pela Itália surgiu no círculo da Livraria de Paula Brito, seu editor. Lá batiam ponto imigrantes como os desenhistas Luigi Borgomaineiro e Angelo Agostini, fundador da irreverente Revista Ilustrada. Também acompanhou a passagem de grandes produções italianas pela cidade, como a versão de Verdi para o “Otelo” de Shakespeare. No conto “Curta história”, Machado registra o sucesso das peças com o ator italiano Ernesto Rossi, “um homenzarrão, que uma noite era terrível como Otelo, outra noite meigo como Romeu”. O livro mostra ainda a recepção de Machado na Itália, onde ele começou a ser traduzido cedo. “Dom Casmurro”, p. ex., ganhou uma versão já em 1914, pelo professor e líder socialista Antonio Piccarollo, que vivia em São Paulo. E pelos menos oito traduções de “Memórias póstumas de Brás Cubas” saíram por lá desde 1928. (Via: O Globo)

>>> Brasil: Últimas peças referentes a vida e a obra de Marcel Proust vão a leilão

A correspondência íntima de Marcel Proust, atualmente de propriedade Patricia Mante-Proust, herdeira das últimas joias de um legado entre o lendário e o escandaloso, é uma dessas peças. Nenhum do material é inédito porque toda a essencial e simples correspondência já foi editada em livro, bem como as fotografias são de conhecimento público. No leilão também há restos da biblioteca pessoal de Proust e vários croquis, desenhos e intimidades de natureza diversa. É um leilão para colecionadores “fetichistas”. O mais substancial entre as peças são mesmo as cartas e fotografias do escritor, alguns desses registros com amantes como Lucien Daudet e Robert de Flers (imagem). A peça é conhecida mas guarda toda relação íntima dos três homens e o escândalo que foi para os pais de Proust descobri-la entre os registros das relações do filho; sabe-se que queimou – a conselho dos pais – quase tudo referente a Lucien e Robert. Além dessa, há as cartas consideradas escandalosas que trocou com Reynaldo Hahn, pianista e compositor, e o namorado talvez mais marcante na vida do escritor dada a simbólica importância que tem na construção de “Em busca do tempo perdido”. No Tumblr do Letras tem mais.

Quinta-feira, 05/05

>>> Brasil: Eu estou vivo e você está morto

Um francês que escreve a biografia de um peculiar escritor de ficção científica estadunidense. Esse é o feito de Emmanuel Carrère. E o título desta post é o dessa biografia sobre Philip K. Dick. Publicada em 1993, a obra ganha tradução no Brasil por Daniel Luhmann e será publicada agora pela Editora Aleph. Na obra, Carrère desocupa-se de refletir apenas sobre o dado biográfico para apresentar a vida de PKD junto com seus livros, sua escrita e situações triviais. Uma escrita entre o biográfico (forma que prevalece) e o ficcional - o que para um autor do porte de Dick significa um exercício de criação indispensável à sua compreensão.

Sexta-feira, 06/05

 >>> Portugal: A coleção Pessoa das Edições tinta-da-china apresentam dois estudos sobre a obra do poeta

A bibliografia sobre a obra de Fernando Pessoa é tão grandiosa quanto sua literatura. E há mesmo assim, entre tanta diversidade de textos, alguns que se tornam/tornaram canônicos porque acrescentam outros lugares à leitura do poeta. Dois deles ganham edição pela Tinta-da-China portuguesa: A mais incerta das certezas. Itinerário poético de Fernando Pessoa, de Pierre Hourcade e O silêncio das sereias. Ensaio sobre o 'ivro do desassossego. Hourcade foi alguém que conviveu e com quem o poeta manteve uma profunda relação de amizade; ele foi o primeiro tradutor de Pessoa para o francês e o também o primeiro a tratar do extenso valor da obra do português internacionalmente - era 1930. O livro é uma visita segura para o conhecimento da poesia de Fernando Pessoa e dos seus heterônimos. O segundo, é de um professor de literatura da Universidade de Warwick, na Inglaterra, e especialista em estudos pessoanos. O livro aponta novos e intrigantes caminhos para a interpretação do livro maior de Fernando Pessoa. Socorrendo-se dos escritos de autores como Jacques Rancière a Alain Badiou, por exemplo, traça paralelos com outros escritores contemporâneos de Pessoa e contribui para a decifração do «Livro do Desassossego» e do universo mental do poeta.

>>> Brasil: Animalescos, o novo livro de Gonçalo M. Tavares 

"As relações entre homem, animal e máquina, entre civilização, brutalidade, fé, caos e violência, sociedade e instinto: Gonçalo examina o nosso mundo animalesco e o expõe através de textos cheios de reflexão e de significados" - assim descreve a sinopse oferecida pela Dublinense para o livro agora apresentado, o segundo do escritor no catálogo da editora. Antes saiu Short movies. Animalescos o terceiro título da série "Canções" até agora composta por Água, cão, cavalo, cabeça (inédito no Brasil) e Canções mexicanas.

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