Dezesseis conselhos de escrita por Gabriel García Márquez
Para Gabriel
García Márquez não havia outra maneira de aprender a escrever que não fosse
lendo os grandes escritores. O escritor manteve durante toda sua vida o mesmo
fascínio pelas pessoas, lugares e situações que à primeira vista pareciam-lhe comuns,
mas logo os transformava e mostrava-os que nada é totalmente simples. E essa complexidade
do mundo aprendeu lendo: Faulkner, sua grande obsessão, Hemingway, Virginia
Woolf, a literatura clássica, com os contos de As mil e uma noites.
Dessas relações,
saíram criações sensíveis e profundas marcadas pela exclusão do pedantismo filosófico
ou da narração marcada pela simples complexidade da forma. Sua obra cria um
mundo à parte do mundo conhecido dos latino-americanos e com ela deu forma a
uma das correntes literárias mais importantes do século XX. O homem que dizia
encontrar inspiração para o realismo mágico dos contos e lendas contados pela
avó quando criança esboçou ao longo de vários textos, cursos e entrevistas
alguns pontos que aqui destacamos como importantes no desenvolvimento sobre uma
teoria da escrita – ou, se preferir, fundamentais aos interessados no manejo com
a palavra literária.
Jornalista,
interessado nas vivências da gente comum, e autor de uma das obras mestras da
literatura universal contemporânea, Cem anos
de solidão, Gabriel García Márquez não escapou do chamado bloqueio criativo;
foi quando concluiu seu célebre romance. O próprio escritor afirmaria que uma
maneira de superar esse período gris e buscar reinventar-se precisaria de
passar por outro exercício além da leitura dos grandes que o antecederam: o de conviver
com a certeza de que a prática da escrita é a outra ponta do fio que conduz à
saída para fora do labirinto, embora, escrever se torne cada vez mais difícil à
medida que se pratica.
Estes são 16
conselhos de García Márquez quem, antes de ser escritor, foi sonhador
empedernido, jornalista curioso, leitor voraz, politicamente incorreto e sempre
próximo à sua realidade; as características suas terão maior validade a
qualquer escritor que mesmo os conselhos a seguir, ou melhor, os conselhos a
seguir precisam encontrar alguém com essas características que fizeram Gabo um
escritor.
1. Uma coisa
é uma história longa e outra uma história alongada.
2. Um escritor
pode escrever o que lhe dá na cabeça, desde que seja capaz de acreditar no que
lhe vem à cabeça.
3. Não acredito
no mito romântico de que o escritor deve passar fome, deve estar fodido para
produzir.
4. É mais fácil
pegar um coelho que um leitor.
5. O final
de uma reportagem é preciso ser escrito quando estás na metade do texto.
6. Há que começar
com a vontade de que aquilo que escrevemos será o melhor que nunca foi escrito,
porque logo e sempre fica algo dessa vontade.
7. Quando você
se cansa escrevendo o leitor se cansa lendo.
8. Não
devemos obrigar o leitor a ler uma frase de novo.
9. O autor lembra
mais como termina um texto que como começa.
10. Escreve-se
melhor tendo comido bem e com uma máquina elétrica.
11. O dever
revolucionário de um escritor é escrever bem.
12.
Simplifiquemos a gramática antes que a gramática termine por simplificar nós
mesmos.
13. Quase
sempre que se evitam os advérbios comuns, na mente se encontram formas belas e
originais de dizer as coisas.
14. Para ser
um bom escritor é importante ler muito, de frente para trás, os grandes autores
que criaram e alimentaram nossa língua e aqueles que segue inventando-a todos
dias. Não há outra maneira de aprender a escrever.
15. O ofício
do escritor é talvez o único que se torna mais difícil à medida que mais se
pratica.
16. Dizem
que é preciso começar, e escrever, e escrever, até que logo se sinta que as coisas
saem por si só, como se alguém as ditasse no ouvido ou como se quem as escreve
fosse outro.
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