"Má conduta", de Matheus Lara
Por Cris
Castilho
MÁC-OND-UTA – assim se lê na capa da primeira edição do livro de contos de Matheus Lara (Arte Editora). A coisa, portanto, já começa na disposição das letras que dão título ao livro. Uma
brincadeira que você pode ler como quiser e o que quiser. Mácula, Onda, Puta,
Mácron, Conde, Bruta. E a intenção de Matheus Lara fica clara a cada página de
seu primeiro livro: ele quer que você olhe de novo.
O escritor paranaense quer que você olhe de novo para o livro e para as
histórias que ele conta. E te provoca a todo tempo para cair na dele.
“Foi isso
mesmo que eu li?”, é um dos sentimentos para quem está lendo. O livro traz seis
contos intensos e vibrantes que te pegam de surpresa: "Barlavento", "Uma tarde na lanchonete", "Nuas em neons", "Dos porcos na rodovia", "Velhos amores nunca morrem" e "O caçador de dramas". Histórias violentas, com
requintes de crueldade, e muito, mas muito bem narradas e amarradas.
Por que? Porque histórias complexas, que perpassam longos períodos de tempo e que se desenrolam nos mais diferentes espaços. Um escritor mediano não conseguiria amarrar bem esses elementos e temas dos contos.
Por que? Porque histórias complexas, que perpassam longos períodos de tempo e que se desenrolam nos mais diferentes espaços. Um escritor mediano não conseguiria amarrar bem esses elementos e temas dos contos.
Será este o caso do escritor que veio pronto? Não. Mesmo que tudo indique que Lara nasceu com o dom de contar histórias e nos transportar para
dentro delas, é notável que ele zela pela outra parte que determina o sucesso de uma obra: o leitor. Seus contos parecem filmes. São visuais. Mais do que isso: são
palpáveis, com uma realidade próxima da nossa sociedade – do que infelizmente
vemos nos jornais diariamente. Lara reforça, com isso, o caráter de peça social da literatura ou dizer o que somos e no que nos tornamos.
Como não se
solidarizar com uma senhora que decida abandonar sua pacata vida para sair em busca de uma
filha desaparecida? Como não querer acabar com a raça do homem que violentou um
parente seu? Como não querer descobrir os desfechos de histórias que ainda não
foram concluídas? Ou dá a elas novas possibilidades?
“Má Conduta”
não é apenas um livro provocador. É também um livro que choca, que desorienta e
que pode incomodar. Um grão de areia nos olhos. Um pedido de atenção: para os
temas, para o gênero contos, para a literatura brasileira contemporânea e, por
que não apostar: “Má Conduta” é também um pedido de atenção para um promissor
novo nome da literatura brasileira.
Cris Castilho é jornalista de cultura e atua como freelancer em
sites de cultura.
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